domingo, 11 de março de 2012

ROTEIRO HOMILÉTICO DO 3o. DOMINGO DA QUARESMA (ANO B)



Roteiro Homilético

III Domingo da Quaresma 

Ano B

RITOS INICIAIS

Salmo 24, 15-16
ANTÍFONA DE ENTRADA: Os meus olhos estão voltados para o Senhor, porque Ele livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, Senhor, e tende compaixão porque estou só e desamparado.
ou
Ez 36, 23-26
Quando Eu manifestar em vós a minha santidade, hei-de reunir-vos de todos os povos, derramarei sobre vós água pura e ficareis limpos de toda a iniquidade. Eu vos darei um espírito novo, diz o Senhor.
Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

A liturgia da Palavra deste terceiro Domingo da Quaresma convida-nos a reflectir sobre o modo como temos praticado o nosso cristianismo. Por um lado, leva a interrogar-nos se nos servimos da religião para esconder ou justificar conveniências ou regalias, que nada têm a ver com o Evangelho; por outro, e é o ensinamento mais importante, Jesus apresenta-nos a nova casa de Deus, o lugar onde Ele habita: Cristo e com Ele, a comunidade de todos os crentes.
Somos, assim, convidados a purificar a nossa prática religiosa de falsos cultos que não tenham por finalidade o amor pelo homem.
Pensando nas nossas atitudes, recolhamo-nos no nosso íntimo e peçamos perdão ao Senhor.
ORAÇÃO COLECTA: Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura*

Monição: O decálogo, que iremos ouvir, indica-nos os sacrifícios que agradam a Deus. Convida-nos a purificar as inexactas devoções que não têm por objectivo o amor pelo irmão.
* O texto que está entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido
*Forma longa: Êxodo 20, 1-17                            Forma breve: Êxodo 20, 1-3.7-8.12-17
1Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: 2«Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão. 3Não terás outros deuses perante Mim. [4Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. 5Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; 6mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos.] 7Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. 8Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. [9Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas. 10Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. 11Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado.] Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.12Não matarás. 13Não cometerás adultério. 14Não furtarás. 15Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. 16Não cobiçarás a casa do teu próximo; 17não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».
Temos na leitura o Decálogo, uma palavra grega – «Dez Palavras» – segundo o nome que é dado aos Dez Mandamentos (cf. Ex 34, 28; Dt 4, 13; 10, 4). Com efeito, na origem, seriam 10 breves sentenças lapidares (como: «não matarás», «não furtarás»…), que vieram a receber desenvolvimentos explicativos inspirados. Aparece no contexto da teofania do Monte Sinai, como Palavras da Aliança (Ex34, 28). Em Dt 5, 6-21 temos uma formulação muito semelhante. O Decálogo constitui o núcleo de toda a moral bíblica, para o qual Jesus apela (Lc 18, 20) e que Ele completa e leva à perfeição (Mt 5, 17-48). Vem a ser a expressão revelada da Lei escrita no coração de todos os homens, a lei natural (cf. Rom 2, 12-15); todos os preceitos desta lei moral se podem ver incluídos mais ou menos claramente no Decálogo. A sua distribuição por 10 não tem sido feita sempre do mesmo modo: quando o 1º mandamento é desdobrado em dois («adorar um só Deus» e «não esculpir imagens»: vv. 3 e 4), então o 9º e o 10º são englobados num só; a divisão do 1º é a seguida pelos judeus e por algumas confissões cristãs (como os calvinistas), ao passo que a divisão do último é a adoptada pelos católicos e luteranos (desde Sto. Agostinho), tendo em conta o texto de Dt 5, 21, onde se usam dois verbos diferentes, um para «não desejarás» (lóthahmór) a mulher do próximo e outro para «não cobiçarás» (ló thith’avvéh) as suas coisas.
As várias formulações cristãs do Decálogo que há nos catecismos têm em conta, por um lado, o progresso da Revelação, que culminou nos ensinamentos do Novo Testamento; por outro, a caducidade daquilo que não passava de prescrições cultuais próprias dum povo e duma cultura. Assim, o 1º mandamento, que se limitava a proibir a idolatria – «não terás outros deuses» (v. 3) –, é formulado positivamente – «amarás» –, segundo o ensino de Jesus (cf. Mt 22, 37par). No v. 4 nós suprimimos «não farás qualquer imagem…», pois a proibição de fazer imagens é considerada uma lei meramente ritual, própria da cultura daquele povo, com vistas a evitar o perigo de induzir à magia e idolatria (no entanto, para a própria Arca da Aliança, estavam prescritas duas imagens de Querubins: Ex 25, 18). Também a determinação do «Sábado»como o dia a guardar (v. 8) é actualizada, tendo em conta que o 1º dia da semana passou a ser «o dia do Senhor» (Apoc 1, 10), já celebrado nos tempos apostólicos (cf.Act 20, 7; 1 Cor 16, 2); com efeito, a determinação do dia da semana não pertence à lei moral, mas ao culto antigo, que foi abolido (cf. Hebr 10, 9-10) com o Sacrifício Redentor de Cristo, o novo Templo (cf. Evangelho de hoje: Jo 2, 19-21). Por outro lado, os nossos catecismos dizem, para o 6º mandamento: «guardar castidade nas palavras e nas obras» (os espanhóis dizem «não cometerás actos impuros»), em vez de «não cometerás adultério» (v. 13), pois Jesus Cristo não se limitou a condenar o adultério; a revelação cristã fala da castidade como a perfeita regulação da faculdade generativa (cf. Mt 5, 8. 27-32; 1 Tes 4, 3-5; 1 Cor 6, 5 19-20; 1 Tim 5, 22). Também para o 9º mandamento não dizemos «não desejarás a mulher do teu próximo» (v. 17), mas, de acordo com os ensinamentos de Jesus, que põe em pé de igualdade homem e mulher (cf. Mt 19, 9) e ensina a castidade como uma afirmação positiva e em toda a sua extensão, a partir da rectidão interior, do coração (cf. Mt 5, 8.28-30), nós dizemos «guardar castidade nos pensamentos e nos desejos».
2 «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei… dessa casa da escravidão». À maneira dos antigos pactos hititas (na época de Moisés os hititas acabavam de se afastar da Palestina), que começavam com um prólogo histórico, a justificar a imposição das obrigações ao povo vencido, também o Decálogo é introduzido com uma referência histórica. Mas aqui as cláusulas não se fundamentam na derrota do povo, mas num facto salvífico gratuito, procedente do amor do Senhor: a libertação da escravidão do Egipto. As prescrições da Lei aparecem como a expressão de uma aliança (cf. Dt 5,2-3), que não é um pacto para manter um vencido sob controlo e domínio despótico, mas é um vínculo de amor com que Deus assegura a união com Ele, a liberdade e a bênção (cf. Salmo responsorial), àqueles que constituiu em seu Povo (cf. Ex 19, 6). É por isso que transgredir a Lei não é uma mera indisciplina jurídica, é dizer não ao próprio Deus, ao seu Amor, é romper a Aliança, «pecar contra o Céu» (cf. Lc 15, 18). A Lei de Deus é, como diz a Carta de S. Tiago «a lei perfeita, a lei da liberdade»(Tg 1, 25), para que o homem possa encontrar o verdadeiro sentido da sua vida; orienta-o para a verdade e para o bem, fazendo render ao máximo as suas capacidades.
8-11 Note-se que o preceito sabático não inclui qualquer acto religioso de culto; é o próprio descanso que aparece com valor cultual. Neste preceito está implícita a obrigação de trabalhar, pois só o trabalho justifica que se imponha a lei do descanso; o apelo para o trabalho de Deus (v. 11) também sugere a dignidade do trabalho do homem como cooperação com a obra criadora de Deus.

Salmo Responsorial

Salmo 18 (19), 8.9.10.11 (R. Jo 6, 68c)
Monição: A Palavra de Deus cria o entendimento do mundo humano. Ela ensina a humanidade a viver na fraternidade e na justiça.
Refrão: SENHOR, VÓS TENDES PALAVRAS DE VIDA ETERNA.
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.
O temor do Senhor é puro
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.
São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos.

Segunda Leitura

Monição: S. Paulo aponta-nos a purificação da nossa prática religiosa. Aconselha-nos a confiar na Palavra do Evangelho, evitando a sua deturpação para que mais gente possa acreditar; ou o desânimo, por a Palavra ser rejeitada por muitos homens.
Coríntios 1, 22-25
Irmãos: 22Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. 23Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios;24mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. 25Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
A leitura é um pequeno trecho da primeira parte da Carta (1 Cor 1, 10 – 6, 20) onde S. Paulo começa por corrigir as divisões que havia na comunidade (1, 10 – 4, 21), uns grupinhos à volta do prestígio e da eloquência dos diversos pregadores do Evangelho (Paulo, Apolo, Cefas…), havendo cristãos que, fascinados pela sabedoria humana – a dos «judeus» e a dos «gregos» –, corriam o risco de esquecer ou desvirtuar a autêntica sabedoria do Cristo, que os salvou pela Cruz. De facto, o centro da mensagem do cristianismo é particularmente chocante, porque é a pregação da salvação pela Cruz: Cristo crucificado era um «escândalo para os judeus», que esperavam um messias espectacular, glorioso e vencedor dos inimigos e, por outro lado, constituía uma «loucura para os gentios», ciosos de retórica empolada e lisonjeira das vis paixões. «A sabedoria de Deus» é a loucura do seu incompreensível infinito amor, incompatível com a soberba auto-suficiente tanto das expectativas messiânicas judaicas, como do racionalismo grego.

Aclamação ao Evangelho

Jo 3, 16
Monição: Deus não quer que os homens se percam, mas manifesta-nos todo o Seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida por todos.
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito;
quem acredita n’Ele tem a vida eterna.

Evangelho

São João 2, 13-25
13Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. 15Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; 16e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». 17Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». 18Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?» 19Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». 20Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» 21Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. 22Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera. 24Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos 25e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.
Este episódio deverá ser o mesmo relatado pelos Sinópticos, mas com um profundo simbolismo. O actuar de Jesus é à maneira das acções simbólicas dos antigos profetas e não se destina tanto a punir transgressores (os vendilhões actuariam legalmente e de boa fé), como a mostrar a sua suprema autoridade na «Casa de meu Pai»(v. 16) e a veicular ensinamentos que ficassem gravados para sempre. Em S. João, Jesus aparece a cumprir o anunciado no Salmo 69, 11, e o seu gesto visa, mais que purificar, substituir o templo de Jerusalém com todo o seu complexo sistema de comunicação com Deus. Só João refere a expulsão de ovelhas e bois, deixando assim ver que os animais deixam de ter sentido no novo culto centrado, a partir de agora, na pessoa de Jesus. Também se pode ver neste episódio o cumprimento da célebre profecia de Malaquias (3, 1-3); e, se «o Mensageiro da Aliança» (v. 1) designa Yahwéh (como muitos pensam), então teríamos aqui um «deraxe cristológico», isto é, uma aplicação a Jesus do que se diz do próprio Deus no A. T., uma forma subtil de indicar a condição divina de Jesus.
13 «Subiu a Jerusalém». A ida a Jerusalém sempre se chamava uma subida, por a cidade se encontrar nas montanhas de Judá, a mais de 750 metros acima do nível do mar. Era a primeira ida de Jesus à capital, durante a sua vida pública por ocasião da Páscoa.
19 «Destruí este templo…» As palavras do Senhor encerram um sentido misterioso que só a reflexão posterior – «recordaram-se» (v. 22) instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo espírito da Verdade (Dei Verbum 19) – permitiu captar; contêm uma maneira de exprimir o mistério da Incarnação, ao designarem o Corpo de Jesus como um templo em que Deus habita (cf. Col2, 9). Para os inimigos de Jesus esta afirmação era passível da pena de morte: Mt 26, 61; Mc14, 58; ver Mt 27, 40; Mc 15, 29; Act 6, 14.
19 «Eu o levantarei». Dado o sentido figurado das palavras de Jesus, João não põe na boca de Jesus «o reconstruirei». Note-se que quem protesta da atitude de Jesus não são os comerciantes, mas «os judeus», aqui provavelmente dirigentes pertencentes ao sinédrio (cf. Mc 11, 28), que viam usurpada a sua autoridade de velar pela ordem do Templo; a verdade é que todos julgavam permitida a venda de animais para os sacrifícios no átrio exterior, o dos gentios (o nosso adro). Jesus mostra uma autoridade bem superior.
20 «Foram precisos 46 anos…» Esta referência é interessante para a cronologia evangélica. A primeira Páscoa da vida pública de Jesus corresponderia, de acordo com Lc 3, 1, ao ano 28 da nossa era, uma vez que o templo, ainda em obras, começara a ser reedificado por Herodes, o Grande, havia 46 anos. Ora, segundo FlávioJosefo, isto deu-se no ano 18 do seu reinado, isto é, no ano 20/19 a. C. Sendo assim, a Páscoa da Morte de Jesus teria sido a do ano 30, quando Ele andaria pelos 37 anos.
Sugestões para a homilia
O novo templo do Senhor
Convida à purificação das nossas atitudes
Através do amor pelo homem
O novo templo do Senhor
Conforme escutamos no Evangelho de hoje, Jesus adopta uma reacção inconcebível. Jamais nos passaria pela mente que Ele agisse de forma tão violenta perante os vendilhões do templo, quando em toda a sua vida Ele fora manso, pacífico, amável e compreensivo com todos aqueles com quem se encontrava. Tal conduta tem necessariamente uma explicação!
Ao expulsar com tal violência os vendilhões, Jesus anuncia que chegara o reino do Messias e, deste modo, condena absolutamente toda a espécie de confusão entre religião e os interesses económicos que ali ocorrem.
Ainda hoje talvez aconteça algo parecido no nosso meio. Quando a prática da religião serve para encobrir vantagens ou benefícios que nada têm a ver com o Evangelho, ou nos aproveitamos da comunidade para fins diferentes dos enunciados por Jesus, acabamos por perder toda a credibilidade da fé que dizemos admitir…
Todavia, o ensinamento mais importante é o realçado por Jesus quando afirma: «Destruí este templo e em três dias o reconstruirei». Ele não fala do comércio indigno praticado no santuário mas, como nota o evangelista: «Ele fala do templo do seu corpo».
Ao ressuscitar Jesus de entre os mortos, o Pai colocou a pedra angular do novo santuário. De seguida, sobre esta pedra assentou outras pedras vivas, os seus discípulos, a fim de que todos juntos formassem o Corpo de Cristo, o novo templo onde Deus habita. Eis o novo templo: Cristo e com Ele toda a comunidade dos crentes. Deste novo santuário sobem constantemente ao céu o incenso e os sacrifícios que Lhe são agradáveis: as obras de amor pelos homens, que solicitam constantemente a purificação de todas as nossas atitudes.
Convida à purificação das nossas atitudes
Ora, perante o amor arrebatador de Deus, o homem não pode ficar indiferente. Tem de tomar uma atitude.
Paulo, na segunda leitura, diz que os «judeus» esperavam que Deus manifestasse o seu poder resolvendo as dificuldades dos homens com milagres. Jesus, pelo contrário, não se apresentou como vencedor, mas como derrotado. Por seu lado, os «gregos» não acreditavam em milagres, apenas acreditavam na sua competência de dedução e na sua sabedoria. Ora, a morte de Jesus não tem lógica humana, é uma autêntica loucura.
Talvez que ainda nas nossas comunidades existam estas duas maneiras de pensar. Ora agimos como os «judeus» considerando a religião como uma fonte de milagres, de graças, de curas e, por tal motivo, só nos lembramos de Deus quando nos encontramos em sobressalto; ou então comportamo-nos como «gregos», isto é, imaginamos ser provável persuadir as pessoas a aderir à fé mediante o raciocínio, lutando com provas.
A cultura dos homens considera ditosos os que se divertem e pensam em si mesmos, no prazer e no dinheiro. Para o cristão a proposta é uma loucura: a cruz de Cristo, ou seja, o dom desinteressado de si mesmo.
Estaremos atentos a esta lógica do Evangelho que nos purifica através do amor pelo homem?
Através do amor pelo homem
Basta reflectir um pouco e compreenderemos que o amor é muito mais exigente que qualquer lei. Quem segue o caminho apontado por Deus não se submete às próprias paixões e ao próprio egoísmo, não arruína a própria vida e a dos outros, mas torna-se uma pessoa livre e feliz. A lei do amor preceitua a atenção da descoberta em cada instante daquilo que se pode fazer para tornar mais feliz o irmão.
Por isso, como nos aponta a primeira leitura, os dez mandamentos ajudam-nos a delinear os limites mínimos do amor. Indicam-nos os primeiros passos, os mais fundamentais e necessários, porque «só o amor é o pleno cumprimento da lei», como nos diz S. Paulo.
Uma última palavra para os últimos versículos do Evangelho: Jesus, durante a festa, faz milagres e muita gente acredita n’Ele, mas Ele não confia neles porque os conhece a todos.
Essas pessoas acercaram-se d’Ele empolgadas pelos seus milagres e não pela sua mensagem. A autêntica fé em Cristo baseia-se no transformar-se, juntamente com Ele, em pedra viva do novo templo e em dedicar a própria vida aos irmãos.
E fica uma pergunta: será esta a nossa fé ou basear-se-á ela nas graças ou nos milagres que queremos obter com as nossas orações?
Fala o Santo Padre
«Os mandamentos são o instrumento que o Senhor nos concede para defender a nossa liberdade.»
Juntos ouvimos uma famosa e bonita página do Livro do Êxodo, em que o autor sagrado narra a entrega a Israel do Decálogo por parte de Deus. Um pormenor chama imediatamente a nossa atenção: a enunciação dos dez mandamentos é introduzida por uma significativa referência à libertação do povo de Israel. O texto diz: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão» (Êx 20, 2). Por conseguinte, o Decálogo deseja ser uma confirmação da liberdade conquistada. Com efeito, se considerarmos profundamente, os mandamentos são o instrumento que o Senhor nos concede para defender a nossa liberdade, tanto dos interiores condicionamentos das paixões, como dos abusos exteriores dos mal-intencionados. Os «não» dos mandamentos são outros tantos «sim» ao crescimento de uma liberdade autêntica. Há uma segunda dimensão do Decálogo, que deve ser também ressaltada: mediante a Lei dada através de Moisés, o Senhor revela que deseja estabelecer um pacto de aliança com Israel. Portanto, mais do que uma imposição, a Lei é uma dádiva. Mais do que determinar o que o homem deve fazer, ela quer manifestar a todos a opção de Deus: Ele está da parte do povo eleito; libertou-o da escravidão e circunda-o com a sua bondade misericordiosa. O Decálogo é testemunho de um amor de predilecção.
A Liturgia de hoje oferece-nos uma segunda mensagem: a Lei mosaica encontrou o seu pleno cumprimento em Jesus, que revelou a sabedoria e o amor de Deus mediante o mistério da Cruz, «escândalo para os judeus e loucura para os gentios como nos disse São Paulo na segunda leitura mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos… é poder e sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 23-24). É precisamente a este mistério que faz referência a página evangélica que acaba de ser proclamada: Jesus expulsa do templo os vendilhões e os cambistas. O Evangelista oferece a chave de leitura deste episódio significativo, através do versículo de um Salmo: «O zelo da tua casa me consome» (Sl 69 [68], 10). E Jesus é «consumido» por este «zelo» pela «casa de Deus», utilizada para finalidades diferentes daquelas para as quais seria destinada. Diante do pedido dos responsáveis religiosos, que pretendem um sinal da sua autoridade, no meio da admiração dos presentes, Ele afirma: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» (Jo 2, 19). Palavras misteriosas, incompreensíveis naquele momento, mas que João volta a formular para os seus leitores cristãos, observando: «Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo» (Jo 2, 21). Os seus adversários teriam destruído aquele «templo», mas depois de três dias Ele tê-lo-ia reconstruído mediante a ressurreição. A dolorosa e «escandalosa» morte de Cristo seria coroada pelo triunfo da sua gloriosa ressurreição. Enquanto neste período quaresmal nos preparamos para reviver no Tríduo pascal este acontecimento central da nossa salvação, já fixamos o nosso olhar no Crucificado, vislumbrando nele o esplendor do Ressuscitado. (…)
Papa Bento XVI, Vaticano, 19 de Março de 2006

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Concedei, Senhor, por este sacrifício, que, ao pedirmos o perdão dos nossos pecados, perdoemos também aos nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

SANTO

Monição da Comunhão
Que a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo nos ajude, em todo o momento, a elevar para Deus o perfume do incenso que Lhe é mais agradável: todas as obras feitas por amor desinteressado a cada um dos nossos irmãos.
Salmo 83, 4-5
ANTÍFONA DA COMUNHÃO: As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Recebemos o penhor da glória eterna e, vivendo ainda na terra, fomos saciados com o pão do Céu. Nós Vos pedimos, Senhor, a graça de manifestarmos na vida o que celebramos neste sacramento. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
RITOS FINAIS
Monição final
A lei do amor estimula-nos a estarmos atentos à maior felicidade de todos os que mais de perto connosco privam. Que a nossa vida seja transformada no dom desinteressado de nós mesmos, através da purificação da prática da nossa fé.
HOMILIAS FERIAIS
3ª SEMANA
2ª Feira, -III: Sim à vontade de Deus.
Reis 5, 1-15 / Lc 4, 24-30
Vai banhar-te e ficarás purificado. Então, ele (Naamã) desceu e mergulhou sete vezes no Jordão… e ficou purificado.
As leituras de hoje referem o milagre da cura de Naamã. E isto foi possível porque embora ele, ao princípio, se tenha recusado a obedecer, depois rectificou e ficou curado (cfLeit).
Não nos esqueçamos que todos nós fomos igualmente curados pela obediência de Cristo: «Foi em Cristo e pela sua vontade humana que a vontade do Pai se cumpriu perfeitamente. Na oração da sua agonia, Ele conforma-se totalmente com esta vontade. Em virtude dessa mesma vontade é que nós fomos santificados» (CIC, 2824).
3ª Feira, -III: O perdão do próximo.
Dan 3, 25. 34-43 / Mt 18, 21-25
Não nos deixeis ficar envergonhados, mas tratai-nos segundo a vossa brandura e a vossa misericórdia.
Sabemos que os nossos pecados, por muito numerosos e grandes que sejam, recebem o perdão, pela misericórdia de Deus (cf Leit e Ev).
É igualmente indispensável o nosso perdão para a vida familiar e social: «E como é grande a necessidade do perdão e da reconciliação no mundo de hoje, nas nossas comunidades e família, no nosso próprio coração» (João Paulo II). Além disso, se não perdoamos de todo o coração aos nossos irmãos «o nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-se impenetrável ao amor misericordioso do Pai» (CIC, 2840).
4ª Feira,-III: O cumprimento da Lei e a sabedoria.
Deut 4, 1. 5-9 / Mt 5, 17-19
Mas aquele que os praticar e ensinar (os mandamentos) será tido como grande no reino dos Céus.
Moisés também pede ao povo de Deus que cumpra as leis e preceitos de Deus, ao entrar na terra prometida; e que os ensinem aos seus descendentes. Assim darão um grande exemplo aos povos vizinhos (cf Leit).
A importância do cumprimento dos mandamentos é esta: adquirimos sabedoria e entendemos melhor os acontecimentos. E, ao contrário do que muitos pensam, os preceitos de Deus são justos e muito melhores que quaisquer outros. E, finalmente, são a chave que abre a porta para a entrada na vida eterna (cf Leit).
Celebração e Homilia:          ANTÓNIO PORTELA
Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO
Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA


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