quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

DIA A DIA COM A PALAVRA DE DEUS - 29/02/12


Quarta-Feira, 29 de Fevereiro de 2012

1a. Semana do Tempo da QUARESMA
Santo Osvaldo

Leituras do Dia 

1a. Leitura: Jonas (Jn) 3,1-10
Salmo Responsorial (Sl) 50
Evangelho: Lucas (Lc) 11,29-32

I SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)

Antífona da entrada: Lembrai-vos de vossa misericórdia e de vosso amor, pois são eternos. Nossos inimigos não triunfem sobre nós; libertai-nos, ó Deus, de toda angústia! (Sl 24,6.3.22)

Oração do dia
Considerai, ó Deus, com bondade o fervor do vosso povo. E, enquanto mortificamos o corpo, sejamos espiritualmente fortalecidos pelos frutos das boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Leitura (Jonas 3,1-10)
Leitura da profecia de Jonas.

3 1 A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas nestes termos: 
2 "Vai a Nínive, a grande cidade, e faze-lhe conhecer a mensagem que te ordenei". 
3 Jonas pôs-se a caminho e foi a Nínive, segundo a ordem do Senhor. Nínive era, diante de Deus, uma grande cidade: eram precisos três dias para percorrê-la. 
4 Jonas foi pela cidade durante todo um dia, pregando: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída". 
5 Os ninivitas creram (nessa mensagem) de Deus, e proclamaram um jejum, vestindo-se de sacos desde o maior até o menor. 
6 A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. 
7 Em seguida, foi publicado pela cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto: Fica proibido aos homens e aos animais, tanto do gado maior como do menor, comer o que quer que seja, assim como pastar ou beber. 
8 Homens e animais se cobrirão de sacos. Todos clamem a Deus, em alta voz; deixe cada um o seu mau caminho e converta-se da violência que há em suas mãos. 
9 Quem sabe, Deus se arrependerá, acalmará o ardor de sua cólera e deixará de nos perder! 
10 Diante de uma tal atitude, vendo como renunciavam aos seus maus caminhos, Deus arrependeu-se do mal que resolvera fazer-lhes, e não o executou. 
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.

Salmo responsorial 50/51

Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! 
Na imensidão de vosso amor, purificai-me! 
Lavai-me todo inteiro do pecado 
e apagai completamente a minha culpa!

Criai em mim um coração que seja puro, 
dai-me de novo um espírito decidido. 
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face 
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, 
e, se oferto um holocausto, o rejeitais. 
Meu sacrifício é minha alma penitente, 
não desprezeis um coração arrependido!

Aclamação do Evangelho

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai! 
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).

Evangelho (Lucas 11,29-32)

— O Senhor esteja convosco. 
— Ele está no meio de nós. 
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 11 29 quando as multidções se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: "Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará outro sinal senão o sinal do profeta Jonas. 
30 Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração. 
31 A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão. 
32 Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas". 
— Palavra da Salvação.
— Glória a Vós, Senhor!

Sobre as oferendas
Nós vos ofertamos, o Deus, estes dons que nos destes para oferecer-vos. E, assim como os tornais para nós um sacramento, sejam também remédio para a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor.

Antífona da comunhão: Senhor, alegrem-se todos os que em vós confiam e exultem eternamente aqueles que protegeis (Sl 5,12).

Depois da comunhão
Senhor nosso Deus, que não cessais de nos alimentar com os vossos sacramentos, concedei que esta refeição nos alcance a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "A FRÁGIL fé que exige sinais..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Em uma Festa de corpus Christi, uma mulher muito piedosa confidenciou-me que todos os dias rezava para que Jesus mostrasse um sinal eucarístico á seu esposo, que tinha dívidas sobre a presença real do Senhor na Hóstia consagrada. Uma outra Senhora rezava para que Nossa Senhora se manifestasse em algum milagre para o seu vizinho que não a aceitava como mãe de Deus. Uma jovem rezava todos os dias para que Deus lhe desse um sinal de que o seu namorado era a pessoal ideal para casar-se, pois tinha muito medo de casar-se com a pessoa errada. No meio do povo de Deus estão presentes muitas devoções que pedem sinais prodigiosos para poder crer ou acontecer algo miraculoso na vida.

Respeitar todas essas devoções que fazem parte da religiosidade popular, é dever e obrigação de toda Igreja, entretanto, ela não pode se omitir de motivar essas pessoas a abrirem a mente e o coração para acolherem a Força Transformadora do Santo evangelho, que é a essência do Cristianismo. Persistir e acomodar-se nesta Fé dos sinais, sem ter compromisso algum com os valores do evangelho, exigindo de Deus algo que parece que ele nos deve, é um tremendo equívoco... Quantas vezes a gente ouve histórias de novos convertidos que começam, assim "Ah o Senhor realizou um milagre na minha vida e daí eu passei a freqüentar a igreja....". quer dizer, antes nada havia em Jesus de especial e se não fosse o milagre realizado, aquela pessoa nunca iria á comunidade...

Este é um modo perigoso de se Crer em Jesus, pois a qualquer momento ele pode não atender nossas súplicas e a frustração e decepção poderá ser muito grande, porque também o oposto é verdadeiro, a história de pessoas cristãs que abandonaram a Igreja porque se sentiram traídas por Deus quando este permitiu que alguma desgraça caísse sobre sua vida. Para estes, Deus significa garantia e proteção, contra todos os males, e se ele falha ou falta para com a promessa, não há razão para se acreditar e ser um discípulo. Parece bem assustador dizer isso assim na "bucha", mas é a pura verdade...

É isso que Jesus diz ao povo, chamando-o de geração perversa, justamente porque exige um sinal para poder acreditar em seu messianismo. O evangelho mostra exatamente o poder da palavra de Deus, que quando bem acolhida provoca mudança radical naquele que a acolheu, e não é preciso nenhum sinal prodigioso.

Mas o problema maior é que essas maravilhas de Deus estão enraizadas na vida do Homem, em suas ações, suas palavras e ações, Jesus é a revelação do Pai, quem o ouve, é ao Pai que ouve, quem lhe obedece, é ao Pai que obedece. A sua Palavra libertadora estava em Jonas e os Ninivitas acreditaram de imediato, a sua sabedoria que vem do alto estava em Salomão, e a Rainha de Sabá a soube vislumbrar como algo Divino e especial. Ora, Jesus é mais do que Jonas, e do que Salomão, mas os seus não o aceitaram.

2. Jesus próprio é o sinal
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Dirigindo-se às multidões, Jesus menciona a "geração perversa" que "busca um sinal". Refere-se àqueles que, em nome da tradição de Israel e da Lei, o rejeitavam. Em resposta, Jesus declara que basta o sinal de Jonas, que com sua pregação converteu os habitantes de Nínive, e o sinal da rainha do Sul, que, conforme o Primeiro Livro dos Reis (10,1-13), reconheceu a sabedoria de Salomão. Jesus conclui afirmando que ele próprio é o sinal, superando todos outros do Primeiro Testamento. Toda a vida de Jesus, dedicada à libertação e à restauração da vida entre os empobrecidos e excluídos, é a revelação do Pai. Estes atos de amor são sinais da presença de Deus.

Com um olhar de fé, podemos reconhecer os sinais de Deus em todo relacionamento em que a vida é respeitada, dignificada e promovida, em qualquer povo ou nação. Assim os discípulos que vivem o amor, abrindo os seus corações para acolher os irmãos, permanecem em Deus e são, também, sinais para o mundo.

Oração
Pai, torna-me dócil e sensível para acolher as palavras de Jesus, sem exigir sinais espetaculares como pré-requisito para aderir a ele.

3. UMA CHANCE PERDIDA
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

Os contemporâneos de Jesus não fizeram muito caso de sua pregação. Quando confrontados com a exigência de conversão, colocavam em dúvida a pessoa de Mestre, exigindo dele sinais que comprovassem sua autoridade.

No fundo, a geração perversa daquele tempo não estava disposta a abrir mão de seus esquemas, e a acolher a proposta que lhe era apresentada. As exigências de Jesus eram vistas com desprezo por quem se sentia seguro, apegado às próprias idéias, e convencido da própria salvação; por quem havia reduzido Deus aos limites da própria mentalidade, um Deus que já não tinha mais força para questionar; por quem cultuava a tradição, apegando-se ao passado.

A censura de Jesus a seus contemporâneos evidencia que eles tinham perdido uma grande chance oferecida por Deus. Até mesmo os habitantes de Nínive, apesar de serem pagãos, deram ouvido a Jonas; e fizeram penitência, após a pregação do profeta. Mesmo a rainha de Sabá, vinda de longe, fora ter com o rei Salomão - homem extraordinariamente sábio -, a fim de ser instruída por ele. A geração do tempo de Jesus, ao invés disso, fechou-se, decididamente, diante do convite que lhe era feito, chegando até a suspeitar do Mestre.

A prudência nos recomenda a estarmos atentos aos apelos de Deus, para que não tenhamos de lamentar a chance perdida. Diante do convite de Jesus, é necessário converter-se, sem demora.

Oração
Espírito de prudência, faze-me acolher, sem demora, o convite de Jesus, de modo que eu não perca a chance de converter-me ao Evangelho da salvação.

Recomendamos visitar diariamente o site da PAULINAS no seguinte endereço - http://www.paulinas.org.br/diafeliz/evangelho.aspx - para completar o estudo da Palavra de Deus que compõe a Liturgia deste dia. Veja logo abaixo do texto do Evangelho as orientações de como fazer a LEITURA ORANTE, com excelentes reflexões sobre o Evangelho do Dia e como aplicar os ensinamentos de hoje em sua vida. Ideal para Estudos Bíblicos diários.

MENSAGEM DA QUARESMA PELO SUPERIOR GERAL DA CM



CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE
CURIA GENERALIZIA

Via dei Capasso, 30 Tel. (39) 06 661 3061
00164 Roma – Itália Fax (39) 06 666 3831
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 Quaresma 2012

“Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração,
enquanto não repousa em ti”
                                                                                                  
Santo Agostinho de Hipona

A todos os membros da Família Vicentina

Queridos Irmãos e Irmãs,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo preencha vossos corações agora e sempre!

Vivemos num mundo cheio de turbulências. Nos deparamos com as exigências da vida num ritmo frenético e trepidante. Devido as realidades de guerra, pobreza, terrorismo, instabilidades políticas, catástrofes econômicas e ecológicas, somos um povo exausto para a vida. Nossos sentimentos assemelham-se aos do salmista: “Até quando, Senhor, por quanto tempo ainda desviareis de mim a vossa face?” (Sl 13,1).

Em meio a estes desafios, a Igreja nos oferece um precioso presente: o tempo da Quaresma. É um espaço sagrado, um tempo que nos convida a parar, a nos afastar da rotina quotidiana para buscar em profundidade, na história de nossa salvação em Jesus: sua vida, sua paixão e ressurreição. Em outras palavras, a Quaresma é um período sabático para a alma.

Como pessoas cativadas por Cristo e engajadas no carisma de São Vicente de Paulo, a Quaresma pode nos ajudar a viver melhor nossa fé católica à maneira vicentina. Como Vicente, nossa identidade enraíza-se no Cristo. Uma das leituras do primeiro domingo da Quaresma nos diz que Jesus “morreu, uma vez por todas, pelos nossos pecados, o Justo, pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (1Pd 3, 18). Estes quarenta dias de Quaresma não são apenas um tempo de oração, de penitência e de esmola, mas também, um tempo para a reflexão, a relação e a ação. 

Um tempo para a reflexão 

Os Evangelhos dos domingos da Quaresma dão-nos uma ampla matéria para reflexão, porque nos revelam a pessoa e a autoridade de Jesus. Jesus é visto como um místico voltando do deserto, o Messias transfigurado diante dos apóstolos, um profeta impulsionado a denunciar a injustiça no interior do templo, um mestre cheio de sabedoria disposto a dialogar com um Fariseu, e um servo sofredor pronto a glorificar a Deus, abraçando sua Paixão. Nestes Evangelhos, e nas leituras para a Eucaristia de cada dia, durante esta Quaresma, encontram-se os relatos do amor e da misericórdia de Deus por Israel,  as palavras e os atos de Jesus que proclamam o Reino de Deus.

Rezando com as leituras da Quaresma e participando da Eucaristia, abrimo-nos à grande misericórdia de Deus, manifestada na vida, morte e ressurreição de Jesus. Isto foi a razão do zelo de Vicente de Paulo em meditar a vida e os ensinamentos de Jesus e seu entusiasmo para integrá-los em sua própria vida, fazendo dele um “místico da Caridade”. Vicente estava impregnado do desejo de servir os pobres, impulsionando e responsabilizando outras pessoas para fazerem o mesmo. Mas, o que alimentava sua alma inquieta, não eram as ideias nem os sucessos, mas um espírito e um coração que se entregavam à reflexão e a contemplação:

“Não podemos melhor assegurar nossa felicidade eterna, do que vivendo e morrendo no serviço dos pobres, entre os braços da Providência e numa renúncia total de nós mesmos, para seguir Jesus Cristo” (São Vicente, Coste III, pág. 392, Carta 1078 à Jean Barreau, em 4 de dezembro de 1648).

A conversão pessoal de Vicente adaptando-se aos ensinamentos de Jesus e fundar comunidades e organizações para servir os pobres foi o fruto de uma vida consagrada à oração e à reflexão. Dedicando tempo à reflexão, somos como os anciãos gregos que perguntaram ao apóstolo Filipe: “Senhor, queremos ver Jesus” (Jo 12,21);  e a vida de Vicente nos ensina que Deus jamais recusa um convite para se comunicar conosco. A Quaresma é o tempo que nos é dado para agir assim.

Um tempo para a relação

O fruto do tempo dedicado a refletir e a rezar é uma relação mais profunda com Deus, consigo, com o próximo e com os pobres. Num mundo agitado, marcado pela discórdia e a desunião, a Quaresma nos ajuda a aprofundar nosso ser de discípulos com o Cristo e a melhor viver o nosso carisma vicentino. Podemos aprender muito com Vicente, cuja genialidade para colocar as pessoas em relação, em vista do bem comum, perdura até hoje. Os Evangelhos da Quaresma apresentam Jesus como Aquele que realiza  sempre com fervor, a vontade do Pai. Através de sua oração e sua paixão, Jesus estava sempre unido à Deus.

Há alguns anos, uma publicidade popular dos Estados Unidos utilizou como slogan “Estamos todos conectados”. Para a atual era digital, este refrão é ainda mais relevante. Nossa fé e nosso carisma nos impelem a nos dedicarmos à prática dos mandamentos de Jesus: amar a Deus e a servir nosso próximo com maior profundidade. A Quaresma nos chama a discernir mais claramente a presença do Cristo sofredor em nosso mundo para que possamos compreender a miséria dos pobres e ser para eles o Cristo. 

Como Superior geral, tenho o privilégio de visitar a Família Vicentina no mundo inteiro e de testemunhar a maneira como nosso carisma une os pobres ao Cristo. Permitam-me partilhar dois destes encontros. Ambos são serviços coordenados pelas Filhas da Caridade servindo à crianças vulneráveis e em situação de risco que vivem na pobreza.

Por ocasião de uma visita ao Haiti para ver o progresso do nosso Projeto Zafen, visitei uma escola que as Filhas da Caridade abriram para responder à miséria das crianças Restavek. É verdadeiramente uma situação trágica: entre 175.000 a 300.000 dessas crianças vêm de famílias que não podem sustentá-las, e as enviam para trabalhar como domésticas para membros de sua família, de conhecidos ou outras famílias haitianas. Apelidadas de "Restaveks" (do Crioulo -“ficar com”), sua vida não é nada fácil, elas não são consideradas como “parte da família” que servem. Frequentemente maltratadas e vítimas de abusos, as Restaveks não podem ser escolarizadas e falta-lhes alimentação, roupas e assistência. Na escola das Restaveks mantida pelas Filhas da Caridade, elas aprendem a ler e a escrever, são alimentadas e tratadas com uma atenção, um respeito e uma dignidade que jamais conheceram. Para obter mais informações sobre as crianças Restaveks, acesse o site: http://www.restavekfreedom.org  

Em Gana, como em muitos países em desenvolvimento, a exploração de crianças está sempre presente. Em Kumasi, a segunda maior cidade do país, numerosas crianças sem abrigo vivem na rua e sobrevivem da mendicância e do trabalho durante o dia. Muitas vezes espancadas e maltratadas, tornam-se com frequência vítimas do tráfico humano. As Filhas da Caridade, com o Arcebispo de Kumasi, fundaram o “Projeto crianças de rua”, um centro de acolhimento que proporciona durante o dia, uma trégua diante dos perigos da rua. Oferece-lhes um lugar para repousar (embora seja apenas um espaço no chão), com a possibilidade de tomar banho, lavar a roupa, seguir um curso de alfabetização, beneficiar-se dos serviços de acompanhamento e oferecer outras possibilidades a estas crianças. É um lugar tranquilo na rudeza de uma vida de exploração. Para maiores informações sobre esta obra, acesse ao site: http://www.streetchildrenprojectksi.org

Acredito que concordam que estas duas obras vicentinas seriam queridas ao coração de São Vicente e de Santa Luísa e lhes estariam bem próxima. Representam um exemplo maravilhoso dos esforços empreendidos nestes locais para responder pela Boa Nova de Jesus, ao clamor dos pobres e dos esquecidos. A Quaresma é um tempo não somente para meditar sobre a vida de Jesus, mas para estar em relação com os pobres de Deus e de agir em seu nome.


Um tempo para a ação.

“O que devemos fazer?” Essa foi a questão que Madame de Gondi fez a Vicente em 1617 quando ambos foram testemunhas da miséria espiritual dos camponeses de sua vasta propriedade familiar. A resposta de Vicente à esta questão continua ainda hoje no mundo, através dos padres, Irmãos, Irmãs e leigos que são o coração vivo e constitutivo da Família Vicentina. A nossa realidade mundial tem um impacto muito maior que aquele que Vicente e Luísa jamais puderam imaginar.

Mas, o tempo da Quaresma nos lembra que o Cristo sofredor em sua paixão está presente em nosso mundo de inúmeras maneiras. Como discípulos de Jesus, nossa tarefa consiste em agir em seu nome: “Toda as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40). Como portadores do carisma vicentino é nossa tarefa responder com amor e com o serviço, tanto pessoal como coletivamente. Mesmo que estejamos sempre ocupados com muito trabalho, permitam-me sugerir um outro gênero de ação.

Em nossa última Assembleia geral, a Congregação da Missão adotou um plano estratégico quinquenal com objetivos anuais para melhor viver nossa vocação vicentina e o carisma da Família Vicentina. O objetivo sobre o qual centramos nossa atenção este ano é “a mudança sistêmica”, que definimos pelo fato de trabalhar não somente para melhorar as condições de vida dos pobres, mas a mudar as estruturas da sociedade que geram a pobreza. Para encorajar nossos coirmãos a se integrarem na mudança sistêmica em suas províncias e serviços, estratégias são sugeridas. Se algumas são especificamente da Comunidade dos Lazaristas, partilharei várias estratégias que podem ser utilizadas, assim acredito, por outros ramos da Família Vicentina: 

  • Favorecer atividades que promovem mudanças sistêmicas na sociedade: desenvolver o autogoverno local, formação de grupos de entreajuda, programas de microcréditos locais.

  • Proporcionar assistência jurídica para a defesa dos Pobres e a promoção da justiça.
  • Criar programas que impeçam o tráfico de pessoas e que assegurem a promoção da vida, o acesso universal à ajuda social, a proteção do meio ambiente, a dignidade das mulheres e das crianças, os direitos do migrantes e a participação na sociedade.

      Estas estratégias de “mudança sistêmica” extraídas do plano da Congregação oferecem-lhes uma grande diversidade de ideias para agir. A mudança sistêmica é um objetivo importante para a Família Vicentina. Acredito que todos nós podemos encontrar meios para adaptá-la às nossas obras e formar a outros sobre sua importância.

Durante a Quaresma e ao longo de todo este ano, temos a oportunidade de crescer na fé meditando a Palavra de Deus e participando da Eucaristia que aprofunda os laços que nos unem ao serviço dos pobres. É uma tarefa que pode nos intimidar, mas como membros da Família Vicentina, nossa “mística da caridade” inspira-nos para lembrar a quem servimos e porquê: 

“Peço a Nosso Senhor, que possamos morrer para nós mesmos para ressuscitar com Ele, que Ele seja a alegria de vosso coração, o fim e a alma de vossas ações e vossa glória no céu. Assim o será, se de agora em diante, nos humilharmos como Ele se humilhou, se renunciarmos a nossas próprias satisfações para seguí-Lo, carregando nossas pequenas cruzes, e se entregarmos de bom grado nossa vida, como Ele doou a sua, por nosso próximo, que Ele tanto ama e quer que o amemos como a nós mesmos” (São Vicente, Coste III, pág. 629, Carta 1202 à um padre da missão da casa de Saintes, em 27 de março de 1650).

Nosso mundo agitado e a miséria das crianças Restavek e de Kumasi podem, às vezes, nos parecer esmagadores; contudo, nossa fé em Jesus e o carisma vicentino renovam a força e a confiança para enfrentar o futuro com esperança. Por intercessão de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, peço para que esta Quaresma seja um tempo onde a graça e a bondade de Deus sejam manifestadas, com toda a sua plenitude em nossa vida e na de todas as pessoas que servimos.

Seu Irmão em São Vicente,

G. Gregory Gay, C.M.
Superior geral


Fonte: Comunicações internas da Congregação da Missão

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA 2012



Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras
Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2012
umnovocaminho.com
CIDADADE DO VATICANO, 25 de fevereiro de 2012(ZENIT.org) - Apresentamos na íntegra a mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2012

***
«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e às boas obras» (Heb 10, 24)


Irmãos e irmãs!

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.

Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.

O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.

O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.

O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.

Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf.Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).

Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Novembro de 2011
BENEDICTUS PP. XVI
© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

Fonte: www.zenit.org

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

DIA A DIA COM A PALAVRA DE DEUS - 27/02/12




Segunda-Feira, 27 de Fevereiro de 2012

1a. Semana do Tempo da QUARESMA
São Gabriel das Dores

Leituras do Dia 

1a. Leitura: Levítico (Lv) 19,1-2.11-18
Salmo Responsorial (Sl) 18
Evangelho: Mateus (Mt) 25,31-46



I SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)

Antífona da entrada: Como os olhos dos servos estão voltados para as mãos de seu Senhor, assim os nossos para o Senhor nosso Deus, até que se compadeça de nós. Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós! (Sl 122,2s

Oração do dia
Convertei-nos, ó Deus, nosso salvador, e, para que a celebração da Quaresma nos seja útil, iluminai-nos com a doutrina celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Leitura (Levítico 19,1-2.11-18)

Leitura Livro do Levítico.

1O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2“Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. 
11Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros. 12Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor. 
13Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado até o dia seguinte. 14Não amaldiçoes o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. 15Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigies o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça.
16Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. 17Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele.
18Não procures vingança, nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. 

- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.

Salmo responsorial 18/19

— Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!

1. A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma! O testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes.

2. Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz.

3. É puro o temor do Senhor, imutável para sempre. Os julgamentos do Senhor são corretos e justos igualmente.

4. Que vos agrade o cantar dos meus lábios e a voz da minha alma; que ela chegue até vós, ó Senhor, meu Rochedo e Redentor!


Aclamação do Evangelho

Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha! 
Eis o tempo de conversão; eis o dia da salvação (2Cor 6,2).

Evangelho (Mateus 25,31-46)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
31“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’40Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”. 

- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor.

Meditação Diária

 "Eu estava nos mais pequeninos..."

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

O Fator surpresa está presente nos dois grupos diferentes, tanto no que foi acolhido no Reino pelo rei, como no que foi impedido de entrar. Isso significa que nenhum deles sabia o critério que o Rei iria usar para acolhê-los e aceitá-los em sua casa. Entretanto, o primeiro grupo, esse dos "sortudões" que conseguiram entrar após ouvirem a voz do Rei "Vinde Benditos do meu Pai...", viveram uma religião que não se restringia ao culto, atos celebrativos, reuniões e trabalhos pastorais ou nos nossos movimentos. Estes traduziram a Fé em uma vivência capaz de perceber a dignidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus, e tratá-lo com esse respeito nas ocasiões em que foram necessárias.

Toda e qualquer pessoa têm a sua dignidade e merece ser tratada como tal, independente da sua conduta moral, da sua raça ou cor, da sua condição social pois em qualquer homem á imagem e semelhança de Deus, a Divindade se faz presente. Jesus não está em algum compartimento isolado do Ser humano, Ele é o Ser humano em sua essência, destinado a viver a vocação do amor em sua plenitude. Vemos o homem mas não vemos a Divindade presente nele, em suas potencialidades de fazer o bem e de amar, em suas virtudes e gestos de grandiosidade de que é capaz.

Também em nossas comunidades temos esses "pequeninos”, presos em seus pecados, nús porque ainda não se revestiram do Cristo, enfermos porque padecem alguma dor incurável na alma, com sede porque ninguém lhes deu a ÁGUA VIVA que é Jesus e Famintos de amor e esperança! Eles estão em todos os lugares, mas em nossas comunidades estão mais pertos de nós, fácil de serem tocados, abraçados, acolhidos e amados. No fundo no fundo, são eles que nos acolherão um dia na Casa do Pai, quando nossos ouvidos se deliciarão com as boas vindas "Venham Benditos do meu Pai....".

Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, esta oferenda, sinal de nossa dedicação. Fazei que ela santifique a nossa vida e obtenha para nós vosso favor. Por Cristo, nosso Senhor.

Antífona da comunhão: Em verdade eu vos digo, tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes, diz o Senhor. Vinde, benditos do meu Pai: tomai posse do reino preparado para vós desde o princípio do mundo (Mt 25,40.34).

Depois da comunhão
Ó Deus, pela recepção deste sacramento, experimentamos vosso auxílio na alma e no corpo e assim, salvos em todo o nosso ser, nos alegremos com a plenitude da redenção. Por Cristo, nosso Senhor.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

ROTEIRO HOMILÉTICO - 1o. DOMINGO DA QUARESMA


Roteiro Homilético – 

I Domingo da Quaresma – 

Ano B

RITOS INICIAIS

Salmo 90, 15-16
ANTÍFONA DE ENTRADA: Quando me invocar, hei-de atendê-lo; hei-de libertá-lo e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida e lhe mostrarei a minha salvação.
Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

Tudo é provisório nesta vida. As obras dos homens acabarão por ser reduzidas a cinza, pela natural erosão, ou pela sanha demolidora dos que hão-de vir depois de nós. Que monumentos conservamos, daqueles que foram construídos há milhares de anos?
Só as obras de Amor vão perdurar eternamente, resistindo ao desgaste do tempo. Construamos uma vida definitiva, procurando valores que resistem à lei da morte.
A Quaresma iniciada na Quarta-feira de Cinzas, preparando-nos para a Páscoa da Ressurreição do Senhor, é um desafio que a Igreja nos lança para uma revisão de tudo o que fazemos na vida. Queremos responder a este desafio pela conversão pessoal. Procuremos construir para a eternidade.

Acto penitencial

Respondendo ao apelo que nos é dirigido, manifestemos ao Senhor o nosso desejo de nos convertermos, reconhecendo humildemente os nossos pecados e pedindo perdão.
(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)
•   Para a nossa insensibilidade, quando cometemos pecados,
como se eles fossem acontecimentos sem importância,
Senhor, misericórdia!
Senhor, misericórdia!
•   Para a indiferença que manifestamos perante a dor alheia,
evitando mostrar que nos demos conta da sua existência,
Cristo, misericórdia!
Cristo, misericórdia!
•   Para o abandono em que deixamos os que vivem em pecado,
como se tudo fosse normal e não houvesse a vida eterna.
Senhor, misericórdia!
Senhor, misericórdia!
Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
ORAÇÃO COLECTA: Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela observância quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja um digno testemunho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: Como resposta ao sacrifício oferecido por Noé, ao sair da arca depois do dilúvio, o Senhor faz uma aliança com ele e, por ele, com toda a criação.
O arco-íris, que se forma depois da chuva, ficará como sinal sensível desta promessa do Senhor. A Aliança com Noé, a primeira das que vão seguir-se, aparece neste lugar como uma mensagem de reconciliação, tema dominante da Quaresma.
Génesis 9, 8-15
8Deus disse a Noé e a seus filhos: 9«Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência 10e com todos os seres vivos que vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra. 11Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». 12Deus disse ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: 13farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra. 14Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, 15recordarei a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas».
A aliança de que fala o texto não é ainda a que veio a ser feita com o povo escolhido, mas é a chamada «aliança cósmica», com toda a humanidade e com toda a obra da criação. Quando lemos o texto do dilúvio na Igreja – os estudiosos falam de duas fontes fundidas e entrelaçadas, a da tradição javista e a da tradição sacerdotal –, não devemos ficar parados ou perdidos nas questões histórico-literárias e nas interessantes semelhanças com outros relatos, ou mitos, de diversas culturas antigas que falam de cataclismos imemoriais do género. Como se lê em 2 Tim 3, 15-17, o que acima de tudo nos interessa no contacto com «toda a Escritura, inspirada por Deus», é alcançar «a sabedoria que conduz à salvação por meio da fé em Jesus Cristo». É fácil de detectar «o ensino» que no texto nos é oferecido. Quando a humanidade se perde no pecado, transgredindo a lei impressa na obra da criação, a harmonia da própria da natureza transtorna-se, voltando ao caos inicial (cf. Gn 1, 2), e corre sério risco a subsistência do ser humano (lembrar o muito que se tem dito a propósito da Sida, que não é a vingança de Deus, mas é a própria natureza a vingar-se). Na Sagrada Escritura o fenómeno do dilúvio tem a particularidade de não ser apresentado como fruto de caprichos maléficos e invejas dos deuses pagãos – assim era nos mitos sumérios e babilónicos –, mas como consequência do pecado e em ordem ao recomeço de uma nova era de regeneração e harmonia universal. A aliança a que dá lugar o dilúvio revela o verdadeiro interior de Deus para com a sua criatura: Ele é Pai providente que cuida carinhosamente de tudo o que criou, particularmente do homem; Deus, «mesmo quando castiga, não esquece a sua misericórdia» (cf. Habc 3, 2). O fundo mitológico do relato parece claro, mas também nos parece pouco, ao lermos este texto sagrado, deixarmo-nos ficar encerrados no acanhado horizonte do mito, quando o autor inspirado vai mais além: Yahwéh é um Deus ético e transcendente; o «castigo» do pecado (Gn 6, 6.12) não é resultante dum capricho, nem sequer duma ira desenfreada. Neste sentido, o autor já fez um primeiro trabalho de desmitização, apesar de manter a mesma linguagem antropomórfica do mito, chocante para a nossa mentalidade.
12-16 «O arco-íris» – fenómeno natural anterior ao dilúvio – adquire um significado simbólico. Ele é o sinal da benevolência divina, expressa em categorias de aliança, para com toda a criação; não é mais um tremendo arco de guerra (o termo hebraico, quéxet, é o mesmo), mas é sim o abraço de paz do Criador! Ainda que persistam na memória dos povos tremendas catástrofes, como o dilúvio, justo castigo do pecado, o ser humano não deve viver esmagado sob o pesadelo constante dos terrores que não podem deixar de sentir aqueles que ignoram a Revelação divina.
A Liturgia, ao apresentar este texto no começo da Quaresma, além de introduzir a 2.ª leitura, facilita-nos a animadora consideração da misericórdia divina, a qual permite que nos elevemos acima das nossas misérias e saiamos dos nossos pecados pela graça de Cristo, que nos chega particularmente através dos Sacramentos.

Salmo Responsorial

Salmo 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9 (R. cf. 10)
Monição: O salmo responsorial é uma oração cheia de confiança no Senhor que perdoa e guia o homem, ensinando-lhe os Seus caminhos.
O fiel humilde – porque reconhece os seus pecados – apela para a misericórdia de Deus, para que o ajude a reencontrar a paz.
Refrão: TODOS OS VOSSOS CAMINHOS, SENHOR, SÃO AMOR E VERDADE
PARA OS QUE SÃO FIÉIS À VOSSA ALIANÇA.
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

Segunda Leitura

Monição: S. Pedro vem recordar-nos que ser cristão nunca foi nem será, propriamente, uma vida fácil e cómoda. O Baptismo fala-nos em morrer com Jesus Cristo, pela cruz de cada dia, para ressuscitarmos com Ele e podermos entrar na glória.
São Pedro 3, 18-22
Caríssimos: 18Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. 19Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte 20e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água. 21Esta água é figura do Baptismo que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência, pela ressurreição de Jesus Cristo, 22que subiu ao Céu e está à direita de Deus, tendo sob o seu domínio os Anjos, as Dominações e as Potestades.
A 1ª Carta de Pedro, donde é tirada a leitura, parece ter como base uma catequese baptismal; aparece na liturgia de hoje em relação com a 1ª leitura, que fala do dilúvio, o qual é apresentado aqui como figura do Baptismo.
18 «Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito (cf. 1 Pe 2, 21.24; Rom 6, 10; Hbr 9, 28). Foi por este (Espírito) que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte…» A tradução procura oferecer aos fiéis que ouvem a leitura uma forma de entenderem um texto deveras difícil. O v. 18 pode entender-se: «morto» como homem, e «vivo» como Deus (cf. Rom 1, 4; 1 Tm 3, 16.), ou talvez se trate antes de uma formulação primitiva para exprimir que Jesus, ao morrer, abandonou de vez a sua condição mortal para passar a viver no seu estado glorioso e imortal.
19 «Pregar» sempre indica, no NT, a pregação da salvação. Esta pregação de Jesus «aos espíritos que estavam na prisão» é a referência bíblica mais clara à verdade professada no Credo acerca de Jesus que «desceu à mansão dos mortos» (cf. 1 Pe 4, 6; Rom 10, 6-7; Ef 4, 8-9; Apoc 1, 18; Mt 12, 40; Lc23, 43; Act 2, 31) a anunciar-lhes a mensagem da salvação, segundo uns com a sua alma separada do corpo, segundo outros na sua nova condição gloriosa. Lembramos que a «mansão dos mortos» (o Xeol hebraico, o Hades grego, os Infernos em latim) representava o estado dos que tinham morrido, que se pensava ser num espaço interior da Terra. O autor, ao dizer que Jesus pregou (a salvação) também (kai, uma partícula a que o tradutor não valorizou) aos que… tinham sido outrora rebeldes … nos dias de Noé, parece querer dizer que até (kai) àquela gente, que na tradição bíblica era considerada como os maiores pecadores (cf. Gn 6, 5.11-12), chegou a salvação de Jesus. É o alcance universal da Redenção para todos os pecadores arrependidos (cf. 4, 6), por mais pecadores que tenham sido; a salvação é levada por Jesus a todos e não apenas à gente aqui nomeada dos tempos de Noé, como sendo o tipo da gente mais perversa, mas certamente arrependida dos seus pecados (argumentação a fortiore).
No entanto, esta passagem da pregação de Jesus aos espíritos cativos é muito obscura e, para além da interpretação tradicional, que a entende como a descida de Jesus aos Infernos, ou Mansão dos Mortos, para levar para o Céu todas as almas que aguardavam a hora da redenção, deu azo às mais diversas e desacertadas interpretações: a) para uns seria uma referência à salvação de certos condenados que se salvaram com a descida de Cristo ao Inferno (assim pensou Orígenes, mas a Igreja reprovou esta opinião); b) para Sto. Agostinho (fazendo uma violência inaceitável ao texto) refere-se ao Verbo, que, antes da Incarnação, através dos avisos de Noé, se dirigiu àqueles ímpios cativos da ignorância e da perversão; c) para uns poucos (em especial alguns protestantes), estes «espíritos cativos» seriam anjos caídos (cf. v. 22), a quem Cristo teria convencido da sua condenação definitiva; d) até houve quem conjecturasse, mas sem ter tido aceitação, que a expressão «neste também» (em grego: en ô kai), ao admitir a leitura «Henoc também» (em grego: Enôc kai), se referia ao patriarca anterior ao dilúvio, que, segundo Gn 5, 24, não morreu e, segundo a literatura apócrifa, proclamou a condenação aos anjos rebeldes. Na nossa tradução da Nova Bíblia da Difusora Bíblica traduzimos en ô como sendo uma expressão adverbial: «então» (e não «neste», referido a «espírito»,como tem a tradução litúrgica).
20 «Se salvaram através da água»: Noé, a mulher, 3 filhos e 3 noras (8 pessoas, sem contar os netos: cf Gn 6 – 9). Como se vê, a água aqui não é tomada no seu aspecto de castigo e destruição, como uma água mortífera, mas como uma água salvadora, um meio de os sobreviventes se salvarem, navegando através da água. É de notar um deslizamento semântico na preposição grega diá do sentido local – através de – para o sentido instrumental – por meio de –, de maneira a pôr em evidência umsimbolismo oculto: a água do dilúvio é a figura (o tipo) do «Baptismo», o qual é a autêntica realidade (em grego: o antitipo) «que agora vos salva». Com efeito, se o Baptismo salva, não é pelo facto de limpar a sujidade do corpo, mas é «pela ressurreição de Jesus» (v. 21), quando a Ele se adere pela fé concretizada nas promessas do Baptismo, isto é, «o compromisso para com Deus de uma boa consciência» (v. 22).
22: «Subiu ao Céu» é uma clara referência à Ascensão de Jesus, bem atestada no N. T., e frequente nos Escritos Paulinos (Mc 16, 19; Lc 24, 50-51; Jo 6, 62; Act 1, 33-34; Rom 8, 34; ; Ef 1, 20; Col 3, 1; Hebr 1, 3; 8, 1; 10, 12; 12, 2). «E está à direita de Deus» exprime a suma dignidade de Cristo, acima de todas as criaturas, bem como o seu domínio sobre todas elas, incluindo as criaturas mais elevadas e invisíveis, isto é, o mundo dos anjos, «Anjos, Dominações e Potestades», seres que também em S. Paulo englobam vagamente espíritos bons e maus, não sendo fácil estabelecer sempre a distinção. Tendo em conta sobretudo 1 Cor 15, 24 e Col 2, 15,Dominações e Potestades pode ser uma alusão a espíritos maus. As hierarquias angélicas, estabelecidas a partir destes nomes e outros que aparecem no N. T., oferecem pouca segurança e têm mais em conta a literatura apócrifa inter-testamentária do que os dados da Revelação divina.

Aclamação ao Evangelho

Mt 4, 4b
Monição: Viver na fidelidade a Jesus Cristo exige de nós uma luta sem tréguas contra as tentações.
Jesus ensina-nos como havemos de vencer, dando-nos o exemplo da Sua vitória.
Aclamemos o Evangelho nos conforta com esta consoladora certeza.
RefrãoGlória a Vós, Cristo Palavra de Deus.         Repete-se
Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Evangelho

São Marcos 1, 12-15
Naquele tempo, 12o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. 13Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. 14Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: 15«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Todos os anos temos no 1º Domingo da Quaresma o texto evangélico das tentações de Jesus; neste ano B, temo-las na forma mais simples, desprovida de qualquer espécie de encenação, a do Evangelista do ano, S. Marcos.
13 «Esteve no deserto 40 dias». A nossa Quaresma recorda esses dias. S. Marcos não se refere ao jejum do Senhor, mas só ao deserto e às tentações, e apenas dum modo genérico: «Era tentado. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-no» (cf. Mt 4, 1-11). Assim observa Bento XVI o sentido profundo que encerram odeserto e as tentações de Jesus: «A acção (de Jesus) é precedida pelo recolhimento, e este é necessariamente também uma luta interior em prol da sua missão, uma luta contra as deturpações da mesma, que se apresentam como suas verdadeiras realizações. É uma descida aos perigos que ameaçam o homem, porque só assim o homem caído pode ser levantado. Permanecendo fiel ao núcleo originário da sua missão, Jesus deve entrar no drama da existência humana, atravessá-lo até ao fundo, para deste modo encontrar a «ovelha perdida», colocá-la aos seus ombros e reconduzi-la a casa» (Jesus de Nazaré, p. 56).
«Satanás» (em hebraico, «xatan») significa adversário, acusador (em grego, «diábolos», caluniador). As tentações do demónio visavam desviar Jesus da sua missão, com a sedução do protagonismo para vir a ser um messias milagreiro, espectacular e ambicioso. O Evangelho põe em evidência o maravilhoso exemplo do Senhor: um exemplo de humildade, ao sujeitar-se aos ataques do demónio, e de fortaleza, ao resistir decididamente, sem a mais pequena vacilação ou cedência. Vem a propósito mais este belo comentário de Sto. Agostinho, que se lê no Ofício de Leituras: «A nossa vida, enquanto somos peregrinos na terra, não pode estar livre de tentações, e o nosso aperfeiçoamento realiza-se precisamente através das provações. Ninguém se conhece a si mesmo, se não for provado; ninguém pode receber a coroa, se não tiver vencido; ninguém pode vencer, se não combate; e ninguém pode combater, se não tiver inimigos e tentações. Bem poderia Ele ter mantido o demónio longe de Si; mas se não fosse tentado, não nos teria ensinado a vencer a tentação» (Enar. in Ps. 60).
Sugestões para a homilia
• A nossa Aliança baptismal
A conversão pessoal
Confiemos no Senhor
O sinal da fidelidade
• A fidelidade à nossa Aliança
Docilidade ao Espírito Santo
Fidelidade provada
As armas para o combate
1. A nossa Aliança baptismal
Logo que baixaram as águas do dilúvio, Noé, com a sua família, saiu da arca, recebeu a bênção do Senhor, construiu um altar de pedra e ofereceu-Lhe um sacrifício.
Deus estabeleceu então uma aliança com ele e, na pessoa desta santo Patriarca, abençoou toda a criação com a promessa de que nunca mais um dilúvio destruiria a terra.
O sinal permanente desta aliança entre o céu e a terra seria o arco-íris. Esta Aliança foi solenemente renovada no Calvário, pelo único sacrifício aceite pelo Pai. A Cruz levantada sobre a terra é novo arco-íris, mensageiro da paz.
A Quaresma recorda-nos este sinal de Amor que o Pai nos oferece em Jesus Cristo e convida-nos a acolher este dom pela conversão pessoal.
a) A conversão pessoal. «Eu vou estabelecer a Minha Aliança convosco [...].» O dilúvio é uma imagem do Baptismo.
O dilúvio é uma figura do Baptismo. É sepultado nas águas o mundo corrompido, o homem velho, o pecado original dos nossos primeiros pais e eventualmente – quando o Baptismo é administrado a um adulto –, os pecados pessoais para ressuscitar um mundo renovado. Surge um homem novo, incorporado em Jesus Cristo.
Ficou sepultada nas suas águas toda maldade humana que manchava a terra. Depois dele surgiu uma nova terra e uma nova humanidade com a qual fez Deus a Sua aliança.
A Quaresma prepara-nos para, na Vigília pascal, receber o Baptismo ou – para os que já são baptizados – renovar a graça baptismal.
Por isso, ao longo dos seis domingos deste tempo forte, a Liturgia recorda-nos as verdades fundamentais da fé.
Como resposta a este apelo, abrimo-nos à graça pela conversão pessoal. É o nosso estender da mão a Jesus Cristo, para que nos levante da prostração em que nos deixaram os nossos pecados.
Para nos animar a esta mudança, pela conversão, a Igreja recorda-nos o Baptismo. Foi junto da fonte baptismal que iniciámos a nossa caminhada que nos há-de levar ao Céu. Mas temos de ir corrigindo constantemente o rumo dos nossos passos, porque a nossa vida está cheia de desvios da lei de Deus. Quando não nos damos conta deles, é porque não levantamos olhar para o alto.
b) Confiemos no Senhor. «Nenhuma criatura será doravante exterminada pelas águas do dilúvio[...].»
Quando nos propomos esta mudança de vida, podemos ser incomodados pela desconfiança de Deus que nos levará à tentação do desânimo:
– Porque já tentamos muitas vezes, e nunca logramos mudar de vida;
– Porque sentimos na própria carne a fragilidade humana, e não somos capazes de mudar.
É o momento de nos darmos conta de que não estamos sós nesta luta entre o Espírito e a carne. O Senhor, que desperta em nós estes desejos de mudança, está disponível para nos ajudar, ao menor sinal de boa vontade da nossa parte.
Temos necessidade de dar os passos indispensáveis para a conversão pessoal: reconhecer os nossos pecados e defeitos; estar arrependidos e realizar obras de penitência que nos ajudem nesta mudança. Tudo isto se concretiza – se já recebemos o Baptismo – num outro «baptismo doloroso»: uma Confissão bem feita.
Além de nos oferecer todos os meios de cura na Sua Igreja, o Senhor vem em nosso auxílio com a Sua graça, se Lhe manifestarmos o desejo da Sua ajuda.
c) O sinal da fidelidade. «Eis o sinal da Aliança que estabeleço convosco [...]: farei aparecer sobre as nuvens o Meu arco-íris
Deus oferece-nos um sinal material da Sua fidelidade à Aliança de Amor que realizou connosco no Baptismo.
Se Deus é fiel, o menos que podemos fazer é lutar diariamente para sermos também fieis.
Abundam hoje os sinais religiosos nas pessoas, nas casas e nos meios de transporte particulares. Ao mesmo tempo, assistimos a uma «selecção» de deveres assumidos pelo Baptismo.
Assistimos diariamente à contradição de as pessoas se auto-proclamarem católicos praticantes, ao mesmo tempo que rejeitam os mandamentos mais elementares da Lei de Deus. Não é possível separar a fé da vida que vivemos momento a momento.
Uma sociedade conduzida por um laicismo de sinal negativo pretende afastar dos meios que frequentamos – escolas, hospitais, repartições públicas a cruz, sinal desta Aliança eterna. Para quê esconder este arco-íris de esperança? Ninguém está obrigado a olhá-lo.
Mas, para além destes sinais, o Senhor quer de nós um outro o sinal da fidelidade: a conversão contínua, lembrada especialmente neste tempo quaresmal. Não está em questão usar ou não sinais externos que manifestem a nossa fidelidade às promessas do Baptismo. É preciso que elas apareçam realizadas na nossa vida de cada dia.
2. A fidelidade à nossa Aliança
a) Docilidade ao Espírito Santo. «O Espírito impeliu Jesus para o deserto
Temos uma ideia negativa da tentação e sentimos um calafrio ao ouvir falar nela. Afinal, ela é uma prova, um combate no qual somos desafiados a manifestar a nossa fidelidade ao Senhor.
A tentação é uma prova de Amor, uma competição desportiva na qual podemos conquistar louros de vitória. De outro modo, o Espírito (Santo) não iria impelir Jesus para o deserto, e não permitiria que fôssemos tentados, porque é o melhor dos pais.
A prudência neste combate que estamos a travar passa por medidas de prevenção, como em qualquer batalha. Temos de procurar a luz na Palavra de Deus, para que sejamos capazes de desmascarar os desvios subtis do Inimigo das Trevas e fortalecermo-nos com os Sacramentos e a oração.
A docilidade ao Espírito Santo vive-se na medida em que vivemos com docilidade as indicações que a Igreja nos vai oferecendo na vida. Quem teima em guiar-se exclusivamente pela própria cabeça, sairá vencido.
b) Fidelidade provada. «E esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás.» Como lutar: fugindo das ocasiões.
Naturalmente, sem esforço, não seremos nunca virtuosos, porque temos dentro de nós o peso das paixões desordenadas e aliciam-nos constantemente os maus exemplos.
Não devemos cair no desânimo quando não formos bem sucedidos numa batalha. O importante é estarmos interiormente dispostos a recomeçar todas as vezes que for preciso. São os teimosos sobrenaturalmente que chegam à santidade.
Deus permite que a nossa fidelidade seja provada, porque, na provação, nos cobrirmos de merecimentos para a vida eterna.
Ao mesmo tempo, recebemos de Deus a garantia de que Ele está sempre connosco para nos ajudar, e não permitirá que sejamos tentados acima das nossas forças.
As tentações que nos assaltam constantemente nunca podem ser uma prova do desamor de Deus para connosco, mas despertadores que nos alertam para uma contemplação contínua, porque nos levam a recorrer ao Senhor. Se, por exemplo, somos tentados a pensar o falar mal de alguém e rezamos por essa pessoa, convertemos uma tentação contra a caridade num acto da mesma virtude; uma tentação contra a pureza convida-nos a renovar a nossa fidelidade…
c) As armas para o combate. «Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O.» Aferiu a situação pelo que o Pai nos indica na Sagrada Escritura. Preparando-se, fortalecendo-se para a luta (Jesus fez oração e jejuou).
Jesus Cristo submeteu-Se a ser tentado, para nos ensinar a vencer esta luta, indicando-nos as armas indispensáveis. Aprendamos com o Seu exemplo. Ele preparou-Se para este combate singular:
– pela oração: Entregou-Se a ela durante quarenta dias e quarenta noites. A oração leva-nos a querer o que Deus quer, a intensificar a nossa comunhão com Ele.
– Pela mortificação. Esta manifestou-se em Jesus Cristo de muitos modos: pelos incómodos em que viveu, sem uma pedra para reclinar a cabeça, sem abrigo das intempéries – o sol, a chuva e o vento – e uma alimentação condicionada ao que podia encontrar por ali.
Também a cada um de nós o Senhor oferece as armas para vencer a luta desta Quaresma, preparando generosamente a renovação das Promessas do baptismo, na noite da Vigília pascal:
– A Palavra de Deus, proclamada especialmente na Celebração da Eucaristia de cada Domingo.
– Alimento divino – a Sagrada Comunhão – para a qual nos convida quando estamos devidamente preparados.
– A penitência corporal, pelo jejum e abstinência de muitas coisas que poderíamos utilizar.
Torna-se necessário viver esta Quaresma em comunhão: dando esmola das coisas de que nos privamos; e ajudando os que sentem mais dificuldade de o fazer a aproximarem-se do sacramento da Reconciliação e Penitência.
Maria Santíssima, Mãe solícita de todos nós, abençoará os nossos esforços para vivermos e ajudarmos a viver este tempo de bênção que agora nos é oferecido.
Fala o Santo Padre
«A Quaresma constitui um tempo favorável para uma atenta revisão de vida
no recolhimento, na oração e na penitência.»
Iniciámos na quarta-feira passada a Quaresma e hoje celebramos o primeiro domingo deste tempo litúrgico, que estimula os cristãos a comprometerem-se num caminho de preparação para a Páscoa. Hoje, o Evangelho recorda-nos que Jesus, depois de ter sido baptizado no rio Jordão, levado pelo Espírito Santo, que tinha descido sobre Ele revelando-O como Cristo, retirou-se por quarenta dias para o deserto da Judeia, onde venceu as tentações de satanás (cf. Mc 1, 12-13). Seguindo o seu Mestre e Senhor, também os cristãos para enfrentar juntamente com Ele «o combate contra o espírito do mal» entram espiritualmente no deserto quaresmal.
A imagem do deserto é uma metáfora bastante eloquente da condição humana. O Livro do Êxodonarra a experiência do povo de Israel que, tendo saído do Egipto, peregrinou no deserto do Sinai durante quarenta anos antes de chegar à terra prometida. Durante aquela longa viagem, os hebreus conheceram toda a força e insistência do tentador, que os impelia a perder a confiança no Senhor e voltar para trás; mas, ao mesmo tempo, graças à mediação de Moisés, aprenderam a ouvir a voz de Deus, que os chamava a tornarem-se o seu povo santo. Meditando sobre esta página bíblica, compreendemos que para realizar plenamente a vida na liberdade é necessário superar a prova que a própria liberdade exige, isto é, a tentação. Só estando livre da escravidão da mentira e do pecado, a pessoa humana, graças à obediência da fé que a abre à verdade, encontra o sentido pleno da sua existência e alcança a paz, o amor e a alegria.
Precisamente por isto a Quaresma constitui um tempo favorável para uma atenta revisão de vida no recolhimento, na oração e na penitência. (…) Invocamos a protecção materna da Virgem Maria, para que a Quaresma seja para todos os cristãos uma ocasião de conversão e de estímulo mais corajoso à santidade.
Papa Bento XVI, Angelus, I Domingo de Quaresma, 5 de Março de 2006

LITURGIA EUCARÍSTICA

Introdução à Liturgia Eucarística
Cada Missa é a renovação incruenta e misteriosa do Sacrifício do Calvário, divinamente antecipado no Cenáculo, na noite de Quinta-feira Santa.
Depois de termos acolhido com profundo recolhimento, a Palavra de Deus, preparemo-nos agora para participar nestes santos mistérios em que Jesus Cristo Se vai tornar presente sob as aparências do pão e do vinho.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda à oferta das nossas mãos, com a qual damos início à celebração do tempo santo da Quaresma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio
As tentações do Senhor
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.
Jejuando durante quarenta dias, Ele santificou a observância quaresmal e, triunfando das insídias da antiga serpente, ensinou-nos a vencer as tentações do pecado, para que, celebrando dignamente o mistério pascal, passemos um dia à Páscoa eterna.
Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

SANTO

Saudação da Paz
Uma das primeiras tentações contra as quais temos de lutar, é a que nos assalta contra a unidade. O Senhor quer que vivamos em comunhão com Ele e uns com os outros, à imagem da Santíssima Trindade.
Manifestemos, por um rito litúrgico, a disponibilidade para perdoarmos e sermos perdoados.
Saudai-vos na paz de Cristo!
Monição da Comunhão
Nem só de pão vive o homem, diz-nos Jesus. Precisamos do Alimento Divino do Seu Corpo e Sangue, para vencermos nesta luta quotidiana.
Se Jesus Cristo Se nos dá de modo tão acessível, devemos corresponder-Lhe por uma preparação cuidada, com a alma em graça – preparada com uma boa confissão –, uma fé viva externamente manifestada e um Amor agradecido.
Mt 4, 4
ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.
ou
Salmo 90, 4
O Senhor te cobrirá com as suas penas, debaixo das suas asas encontrarás abrigo.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Saciados com o pão do Céu, que alimenta a fé, confirma a esperança e fortalece a caridade, nós Vos pedimos, Senhor: ensinai-nos a ter fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida, e a alimentar-nos de toda a palavra que da vossa boca nos vem. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
RITOS FINAIS
Monição final
A nossa Quaresma há-de ser vivida em duas dimensões essenciais: no plano pessoal e na ajuda às outras pessoas.
Que propósitos concretizei para esta Quaresma, na vida pessoal e apostólica?
CÂNTICO FINAL: É DURA A CAMINHADA, M. Faria, NRMS 6 (II)
HOMILIAS FERIAIS
1ª SEMANA
2ª Feira, 2-III: Os caminhos de vida eterna.
Lev 19, 1-2. 11-18 / Mt 25, 31-46
Vinde benditos de meu Pai, recebei como herança o Reino, que vos está preparado desde a criação do mundo.
Quem quiser alcançar a santidade, há-de esforçar-se por cumprir os mandamentos (cf Leit). «O Decálogo, as dez palavras indicam as condições duma vida, liberta da escravidão do pecado. O Decálogo é um caminho de vida» (CIC, 2057).
A segunda parte do Decálogo refere-se ao amor fraterno (cf Leit e Ev). Durante a Quaresma procuremos viver melhor estas obras indicadas pelo Senhor: as espirituais (instruir, aconselhar, consolar, confortar…) e as corporais (dar de comer a quem tem fome, cuidar dos doentes…).
3ª Feira, 3-III: A vontade de Deus e o perdão.
Is 55, 10-11 / Mt 6, 7-15
Orai, pois, deste modo: Pai-nosso, que estais nos céus…
Devemos rezar confiadamente a oração que o Senhor nos ensinou, o Pai-nosso (cf Ev), que contém tudo o que podemos pedir a Deus, e que é verdadeiramente o resumo de todo o Evangelho (cf CIC, 2761).
As leituras de hoje recordam-nos duas petições desta oração. A primeira «seja feita a vossa vontade», exige que acolhamos a palavra que sai da boca de Deus e que a cumpramos (cf Leit). A segunda «perdoai-nos as nossas ofensas», pois o «perdão é a condição fundamental da reconciliação dos filhos de Deus com o seu Pai e dos homens entre si» (CIC, 2844).
4ª Feira, 4-III: Apelo à conversão e a Confissão.
Jonas 3, 1-10 / Lc 11, 29-32
Ergue-te e vai à grande cidade de Nínive e proclama-lhe a mensagem que te direi.
Os habitantes da cidade de Nínive aceitaram bem o pedido de conversão que lhes foi dirigido pelo Senhor, através do profeta Jonas (cf Leit e Ev). E Jesus invoca a sua autoridade para fazer o mesmo pedido (cf Ev), dirigido igualmente a cada um de nós.
sacramento da Penitência é o sacramento por excelência da conversão, «porque realiza de modo sacramental o apelo de Jesus à conversão e o esforço de regressar à casa do Pai, da qual o pecador se afastou pelo pecado» (CIC, 1423). Preparemo-nos para o receber com muita piedade nesta Quaresma.
5ª Feira, 5-III: A conversão e a oração.
Est 14, 1. 3-5. 12-14 / Mt 7, 7-12
Pedi, e dar-vos-ão. Procurai, e achareis. Batei, e hão-de abrir-vos.
oração é uma das formas de vivermos a penitência quaresmal, juntamente com o jejum e a esmola. «O coração, assim decidido a converter-se, aprende a orar na fé… Ele (Jesus) pode pedir-nos que ‘procuremos’e ‘batamos’ à porta’ (cf Ev), porque Ele é a porta e o caminho» (CIC, 2609).
A rainha Ester é um bom exemplo desta oração: «Vinde socorrer-me, que eu estou só e só em vós tenho auxílio, pois sinto ao alcance da mão o perigo que me espreita» (Leit). Na oração peçamos ao Senhor que nos socorra nas tentações (cf Leit).
6ª Feira, 6-III: O bem da sociedade e a conversão pessoal.
Ez 18, 21-28 / Mt 5, 20-26
Se o pecador se arrepender de todas as faltas que tiver cometido…há-de viver e não morrerá.
A Quaresma é um tempo de conversão, tempo de arrependimento, que nos conduzirá de novo à vida (cf Leit) e à reconciliação com Deus, através da reconciliação com o nosso irmão (cf Ev).
A nossa conversão interior está igualmente ligada ao esforço por introduzir nas instituições e condições de vida as correcções convenientes, quando induzem ao pecado, para que estejam conformes com as normas de justiça e favorecerem o bem em vez de se lhe oporem (cf CIC, 1888). Assim a sociedade se reconciliará com Deus.
Sábado, 7-III: Novas formas de caridade.
Deut 26, 16-19 / Mt 5, 43-48
Pois eu digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus.
Moisés lembrava ao povo que deveria pôr em prática os preceitos e sentenças do Senhor, cumprindo-os com todo o coração e com toda a alma (cf Leit).
Jesus pede aos seus discípulos uma nova forma de viver a caridade: amar os inimigos e rezar por eles (cf Ev). Foi isso que Ele próprio viveu: «No sermão da Montanha o Senhor …acrescenta a proibição da ira, do ódio e da vingança. Mais: Cristo exige do seu discípulo que ofereça a outra face, que ame os seus inimigos (cf Ev). Ele próprio não se defendeu e disse a Pedro que deixasse a espada na bainha» (CIC, 2262).
Celebração e Homilia:          FERNANDO SILVA
Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO
Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA