segunda-feira, 19 de março de 2012

MOVIMENTO JOSEFINO ESTUDA A TEOLOGIA DE SÃO JOSÉ


Movimento josefino estuda há trinta anos
a teologia de São José
A festa de 19 de março ressalta a paternidade de José sobre o filho de Deus
Por José Antonio Varela Vidal

josedenazare.blogspot.com 

ROMA, segunda-feira, 19 de março de 2012 (ZENIT.org) - Os padres Tarciciso Stramare, italiano, e Alberto Santiago, brasileiro, dos Oblatos de São José, foram encarregados pela congregação de comandar o Movimento Josefino. À frente de uma equipo de trabalho, eles estudam José, pai de Jesus, esposo de Maria e padroeiro da Igreja. Neste 19 de março, festa de São José e dia dos pais em vários países de cultura católica, ZENIT conversou com os dois teólogos, peritos em “josefologia”.

Padre Tarcisio, como começou o seu estudo de São José?
-Pe. Tarcisio: Eu era professor de sagrada escritura na Universidade Lateranense. Nos anos 60, criaram a biblioteca ‘Santorum’ com diversas figuras bíblicas e de santos. Quando chegaram a José, o reitor me chamou e disse que, como eu era josefino, devia escrever o fascículo sobre o pai de Jesus. Eu não queria, porque não havia nada para dizer… Ou eu ia inventar? Depois que ele insistiu, comecei a estudá-lo e me dei conta do quanto eu era ignorante, e assim fui me dedicando a ele durante cinquenta anos.

Pode nos falar do centro de pesquisas que você dirige?
-Pe. Tarcisio: É o Movimento Josefino. Foi fundado em 1983 pelo padre Ángelo Renero, com o objetivo de divulgar a figura de São José. É um compromisso da congregação para colocar o próprio carisma à disposição dos outros.

Vamos falar de São José, cuja festa mais conhecida é celebrada neste dia 19 de março. Na Itália é também o dia dos pais. Por que São José é um modelo para os pais de família?
-Pe. Tarcisio: Porque ele é um homem que se coloca a serviço da família. Ele comanda a família, é verdade, mas é ao mesmo tempo o menor, porque serve os outros com amor. Ele não gerou Jesus, mas é seu pai, e, na exortação apostólica Redemptoris Custos, o beato João Paulo II defende a plena autenticidade da paternidade de José.

Temos duas festas mais conhecidas e outras que não se celebram mais…
-Pe. Tarcisio: Certas festas foram criadas por motivos contingentes. Por exemplo, quando havia problemas com os trabalhadores, o papa Pio XII instituiu uma e colocou São José como padroeiro da classe trabalhadora (1º de maio). Mas agora, que desaparece o sentido do trabalho, isso perde interesse e, inclusive, é memória livre... A festa mais importante de São José é o dia 19 de março, estabelecida provavelmente por Gregório XI no século XIV, e fixada como solenidade por Paulo VI em 1969. Nesta festa nós veneramos José como esposo de Maria e, por conseguinte, como pai de Jesus. Nesse dia também celebramos o reconhecimento dele como padroeiro da igreja universal, que é o corpo místico do seu filho Jesus. Tudo está relacionado… Também existia a festa do Casamento de José e Maria, em 23 de janeiro, que não se celebra mais oficialmente, mas podemos aproveitá-la, porque, se queremos falar da família, vale a pena promovê-la.

Olhando para a tradição judaica e para a vida cotidiana de Nazaré, o que Jesus aprendia do pai?
-Pe. Tarcisio: Ele aprendeu a experiência, que é muito diferente do conhecimento especulativo. Aprendia da vida humana, porque foi verdadeiramente criança, jovem, trabalhador. Aprendeu a falar, a rezar, a ler a palavra de Deus ao lado dos pais. E algo muito importante: Jesus o honrou chamando-o de ‘papai’, como chamava o seu pai de ‘Abbá’.

José, assim como Maria, também "guardava tudo em seu coração"?
-Pe. Tarcisio: O evangelho não diz, mas é claro que ele meditava. Estamos fazendo um estudo teológico sobre as representações artísticas que mostram José com um livro, como vemos também no caso de Maria quando ela recebe o anjo, para demonstrar que ela via na vontade de Deus o que tinha que fazer. Também na iconografia vemos José lendo o livro; ele não era só o trabalhador, mas também lia e procurava entender o que tinha que fazer para cumprir a vontade de Deus. A Redemptoris Custos reitera que ele estava "junto" com Maria, então é claro que ele meditava com ela tudo em seu coração.

Nas pinturas e imagens, ele está às vezes com uma flor, outras vezes com um bastão que floresce. É a mesma coisa?
-Pe. Tarcisio: Não. O bastão é o ramo florescente da amendoeira que Deus fez brotar para escolher o sumo sacerdote Aarão como custódio do Tabernáculo, em Números 17,16. Agora, é José que foi escolhido diretamente por Deus como custódio de um tabernáculo mais precioso, que é Jesus. A amendoeira, em hebraico, significa vigilante, é a primeira flor que aparece na primavera e avisa que a estação chegou. Por isso, é José quem nos avisa que a encarnação chegou. Nos quadros do final do século XIX era sempre assim, mas os pintores não entenderam bem e introduziram o lírio ou a açucena, que significam a pureza, mas esqueceram que o mais importante é a escolha.

Temos só os evangelhos da infância ou os padres da Igreja também escreveram sobre São José?
-Pe. Tarcisio: Os padres da Igreja, até São Bernardo, falam com grande respeito de São José. Vamos levar em conta que eles não tinham os manuais de teologia de hoje, só o evangelho, e principalmente Mateus, que era lido na igreja. E o que era lido? Era a genealogia de Jesus, e ninguém podia escapar dela. Por isso, todos a descreviam com uma teologia belíssima, como um elemento essencial na encarnação. Com o tempo, os apócrifos influenciaram muito, com suas lendas e fantasias, que lamentavelmente ficaram. Por exemplo, aqui na Europa, ele é apresentado com um ancião, mais adormecido do que ativo.

E a devoção à boa morte, de onde vem?
-Pe. Tarcisio: Isto surgiu porque as pessoas querem morrer bem. Se ele morreu no meio de Jesus e Maria, o que podia ser melhor? É uma devoção, não é teologia, mas esta devoção tem que nos levar até a mesma fonte.

A fé de São José foi fundamental, mas acredita-se que ele teve dúvidas, especialmente sobre Maria…
-Pe. Tarcisio: Não, pelo contrário, ele era o patriarca por excelência, o esplendor dos patriarcas, mais que Abraão, que era o pai da fé. Ele não tinha crise, mas dificuldade sim, porque se situava diante do mistério, de algo tão grande para ele, e se perguntava: “O que é que eu faço aqui? Se Deus escolheu Maria, eu tenho o direito de tê-la como esposa? Se ele é o filho de Deus, eu tenho direito de dizer que é meu filho? Não estaria enganando a todos?”. Ele pensa em ir embora, mas Deus lhe diz, em sonhos, que ele tem que ficar e ser o pai do menino, o esposo de Maria, sem tocá-la, e dar a ele o nome de Jesus e reconhecê-lo, que era importante porque só o pai podia fazer isso. Deste modo, Jesus também seria da descendência de Davi, graças ao seu pai, não à sua mãe. E não se deve pensar que ele se sentia traído por Maria…

Então, também é um modelo de fé?
-Pe. Tarcisio: Sim, porque ele aceitou e fez a vontade de Deus. Viveu o que chamamos de peregrinação da fé, um caminho que, na medida em que se conhece o que Deus quer, se cumpre. Não é só crer na verdade, mas cumprir através da fé.

Dizem que está sendo estudada a fórmula para dar um grau mais alto a São José, talvez um dogma…
-Pe. Tarcisio: Dizem muitas coisas, mas basta conhecer bem a teologia do matrimônio para entender o nível de José ao lado de Maria como seu esposo…

De tudo o que você já leu e descobriu, o que descreve melhor quem é São José?
-Pe. Tarcisio: Eu descobri a participação que ele teve no plano da salvação, e que ele é um personagem-chave da encarnação. Sem ele, não poderia haver a encarnação nem a redenção, que são muito unidas.

Na paróquia de São José na Via Aurélia, que vocês construíram aqui em Roma, há uma tapeçaria que foi um presente do papa Paulo VI, não é?
-Pe. Tarcisio: Sim, foi feita para um aniversário da proclamação de São José como padroeiro da Igreja, declarado por Pio IX, mas não foi exposta em São Pedro. Eu soube que ela estava guardada, e um dia Paulo VI me perguntou o que ele podia me dar pelo trabalho que eu tinha feito na comissão da Nova Vulgata. Eu pedi o tapete e ele me deu. Nesta bela obra, podemos ver José olhando para cima, porque ele é apresentado como um contemplativo, com dois anjos ao lado: um que mostra o decreto que o nomeia, e outro que lhe apresenta uma igreja para a sua proteção.

Podemos saber que a sua obra continuará, já que o padre Alberto o acompanha já faz alguns anos… Pe. Alberto, por que São José Marello escolhe São José como padroeiro da congregação?
-Pe. Alberto: Era o clima do século XIX, em que uma infinidade de congregações nasceram sob o seu patrocínio com a declaração de Padroeiro Universal. E o fundador viu em São José o caminho para servir à igreja, como modelo de união com Jesus e de serviço à igreja.

E o que ele aconselhou aos seus filhos sobre São José?
-Pe. Alberto: Ele o propôs sempre, em várias circunstâncias. Por exemplo, na área educativa, ele nos dizia para confiar sempre a São José os nossos alunos e nós próprios. E para nós, religiosos, ele dizia que deveríamos viver o nosso ministério como ele, em união íntima com Jesus, servindo e realizando a vontade de Deus. Que ele seja o nosso modelo e protetor e que nós recorramos sempre a São José.

Você vem ajudando o padre Tarcisio. O você encontrou de novo neste trabalho?
-Pe. Alberto: Da importância de São José eu não duvidei nunca. Mas com este trabalho ao lado do padre Tarcisio eu obtenho um aprofundamento. É uma janela que se abre, e eu vejo que ela se abre cada vez mais. Por exemplo, este aspecto teológico de São José… Porque nós, na congregação, sempre rezamos para ele, mas é diferente quando você descobre o fundamento, que não é só pessoal ou sentimental, mas está relacionado com a raiz da fé. Como sacerdote, é algo novo para mim, que me fortalece na fé e na confiança.

Padre Tarcisio, qual é a maior basílica do mundo dedicada a São José? E quantas congregações têm o nome dele?
-Pe. Tarcisio: Uma basílica bem grande é a basílica menor em honra de São José em Montreal, no Canadá, fundada em 1904, graças ao veneradíssimo santo Ir. Andrés Besset, da congregação da Santa Cruz. Este dado, e outros inumeráveis, você pode consultar no nosso site, movimentogiuseppino.wordpress.com.

São José já fez algum milagre com você?
-Pe. Tarcisio: A amizade dele. É o que me mais me toca, porque ele me tem sob a sua proteção e esse é o milagre mais bonito. Eu rezo a ele porque ele é o meu diretor, é ele quem manda, e eu faço as coisas. O trabalho é ele quem me manda. Por exemplo, você, do ZENIT, não fui eu que procurei, foi ele quem mandou até aqui!

Nenhum comentário:

Postar um comentário