segunda-feira, 5 de março de 2012

ESPIRITUALIDADE - SINCERIDADE DE CORAÇÃO



Sinceridade de coração
Os valores da Quaresma

MADRI, sexta-feira 02 de março de 2012 (ZENIT.org). - Oferecemos aos nossos leitores a colaboração regular de Dom Juan del Rio Martin, Arcebispo militar da Espanha. Neste caso veremos os valores que devemos cultivar de forma especial nesta Quaresma.

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+ Juan del Río Martín

As chamadas coloquialmente "virtudes domésticas" são aqueles valores que muitas vezes damos por suposto e que em outras situações estão bem marginalizados. No entanto, sem eles a convivência familiar, social e religiosa faz-se impossível. Bento XVI em muitas ocasiões insistiu sobre a necessidade da sinceridade na vida cristã, porque “a conversão só é possível a partir da sinceridade, do exame de consciência sincero e arrependido". Por esta razão, neste tempo de Quaresma é necessário que nos examinemos sobre como estamos na sinceridade, sem a qual não damos confiança aos outros, não criamos uma atmosfera de cordialidade e familiaridade ao nosso redor.

Dizemos que uma pessoa é sincera quando tem apreço pela verdade e suas ações estão marcadas pelo amor (cf. Rm 12,9). Não é por acaso que numa sociedade onde se valoriza o "esplendor da verdade" e a mesma caridade tenha sido reificada, a sinceridade com Deus, consigo mesmo e com os outros, seja um “bem escasso”. Parece prevalecer mais a mentira, o fingimento, a artificialidade etc., do que a retidão de intenção no que pensamos, falamos, e fazemos, de tal modo que como diria Maughm: “nos tempos de hipocrisia qualquer sinceridade parece cinismo". Mas a necessidade dos mentirosos é acreditar que aquilo que é falado em segredo não será descoberto (cf. Lc 12, 2-3), e aí temos o ditado popular: "é mais rápido pegar um mentiroso que um aleijado”. Assim, terminada as férias das vaidades deste mundo passageiro, só ficará da pessoa a sua clareza simples e suas obras edificadas no amor.

Agora, conseguir um coração sincero supõe: renúncia à mentira e à meias verdades; a constância no esforço diário para manter a verdade na caridade; e a prudência que nos livra de confundir a sinceridade com a ingenuidade inconsciente. A sinceridade consigo mesmo se baseia no conhecimento das qualidade e defeitos de cada um. Isto motiva um duplo sentimento, por um lado de gratidão pelos dons recebidos do Altíssimo, por outro, de aceitação e superação dos defeitos próprios da natureza humana e daqueles que procedem dos erros pessoais. O saber colocar-se diante do próprio espelho, sem extremismos de qualquer tipo, exige uma boa dose de humildade.

Para a pessoa que crê, a sinceridade com Deus está na tomada de consciência da sua dependência radical com Aquele que lhe deu o ser e o sustenta. Da mesma forma, o incrédulo, se quiser ser sincero consigo mesmo, terá que se perguntar alguma vez: "O que você tem que não tenha recebido?, Por que te glorias, como se não tivesse recebido?" (1 Cor 4, 7). Há todo um mundo que nos precede e do qual não podemos prescindir, por isso também somos seres dependentes dos outros, quanto à vida, ambiente, cultura e muitas outras coisas que nos são dadas. Se aceitarmos essa dependência direta e indireta, chegaremos a ser sinceros com Deus, com os outros e nos teremos encontrado conosco mesmos.

A sinceridade tem um rosto que reflete simplicidade, naturalidade, franqueza. A pessoa sincera não se emaranha nem se complica por dentro, não busca o espetacular no exterior, mas faz do momento comum algo fora do comum tocado pela bondade do seu coração. O contrário disso é a afetação, o glamour, a arrogância, a jactância que tanto nos separa dos outros e cria um vazio existencial envolvente.

A raiz da insinceridade está na soberba. Àquele que acredita que pode conseguir tudo pelas suas muitas qualidades e esforços, terá a grande dificuldade de reconhecer o mistério na sua vida e ao mesmo tempo descobrir os pontos positivos que os outros têm. Essa cegueira faz com que ele perca objetividade diante da sua própria história, a culpa dos seus defeitos sempre serão dos outros, não será capaz de submeter-se à verdade, de valorizar o amor e a amizade. Por isso, o soberbo tentará tirar o lugar de Deus, ignorar seus companheiros e seus lábios não dirão nem sequer uma palavra veraz.

[Tradução Thácio Siqueira]

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