segunda-feira, 2 de março de 2009

DEUS É AMOR

Somos chamados a nos amar com o mesmo Amor com que Deus nos ama
(Formação Litúrgico-Espiritual em Quatro Etapas)

Adauto Farias

I - DEUS É AMOR POR NÓS E PARA NÓS E POR ISSO NOS MANDA AMAR


DEFINIÇÃO GENÉRICA DO AMOR

Ø “O Amor é a forma verdadeira de querer o bem para si e para o outro”.

SAGRADAS ESCRITURAS

2.1. DEUS NOS AMOU POR PRIMEIRO

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,7-10).

Ao nos amar e permitir-se ser amado por nós, Deus nos abre a possibilidade de conhecê-lo, pois o amor de Deus gera o conhecimento de Deus. Jesus é a revelação máxima do amor Deus, dito noutras palavras, Ele é a próprio Amor divino feito homem. Alguém poderia perguntar: E por que Deus veio como homem e não de outro modo? Deus veio como homem, para que pudesse resgatar o homem do pecado – pois isso somente poderia ser feito por um homem puro e santo como o Filho Unigênito de Deus – e porque somente desse modo ele nos colocaria em condições de entrar em comunicação com Deus-Pai e, assim, alcançarmos a vida divina que o Santíssimo Pai quer nos comunicar.

2.2. DEUS-PAI NOS AMA ETERNAMENTE EM SEU CRISTO

“Nele [Cristo] ele [Deus-Pai] nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4s → Ef 1,3-14).

No seu Filho amado, Deus que nos elege desde sempre para sermos seus amados e sermos santos, isto é, participarmos de sua vida divina como o Filho participa.

2.3. DEUS AMA O POVO DE ISRAEL (ANTIGO TESTAMENTO)

“Por um pouco de tempo te abandonei, mas agora com grande compaixão torno a recolher-te. Em um momento de cólera escondi de ti meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Iahweh, o teu redentor” (Is 54,7-8).

“Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás a Iahweh” (Os 2,21-22).

“Eu te amei com amor eterno, por isso conservarei para ti o amor” (Jr 31,3).

“Iahweh é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor; (...) Nunca nos trata conforme nossos erros, nem nos devolve segundo nossas culpas. (...) Como um pai é compassivo com seus filhos, Iahweh é compassivo com aqueles que o temem; porque ele conhece a nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós” (Sl 103, 8.10.13-14).

“Celebrai a Iahweh porque ele é bom, porque o seu amor é para sempre! (...) porque o seu amor é para sempre!” (Sl 136, 1. 2-25).

2.4. DEUS NOS AMA, APESAR DE NOSSOS PECADOS, E NOS MANDA AMAR (NOVO TESTAMENTO)

“Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,9-10).

“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,12-13).

“Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: «Amo a Deus», mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. Aquele que ama a Deus, Ame também o seu irmão” (1 Jo 4,19-20).

“Foi, com efeito, quando éramos ainda fracos, que Cristo, no tempo marcado, morreu pelos ímpios. – Dificilmente alguém dá a vida por um justo; por um homem de bem talvez haja alguém que se disponha a morrer. – Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,6-8).

Outras citações: Iahweh conhece a nós mais que nós mesmos (Sl 139); Deus é amor que perdoa, pois conhece as nossas limitações (A mulher pecadora ou adúltera) (Jo 8,1-11); Deus é amor misericordioso. Enquanto há vida, há esperança. Ele sempre nos dá uma nova chance. (O Pai Misericordioso) (Lc 15,11-32).

TRADIÇÃO

“Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram" (Santo Tomás de Aquino, In II Sent., prol.).

"Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão” (Exort. Apost. Sobre a missão da Família cristã no mundo de hoje – João Paulo II, Familiaris Consortio 11 in CIC 2331).

“Aqui está o coração do Evangelho, o núcleo central do Cristianismo. Foi a luz deste amor que abriu os olhos de Agostinho, fazendo-o encontrar a beleza antiga e sempre nova, na qual encontra finalmente paz o coração do homem” (Papa Bento XVI em visita ao túmulo de Santo Agostinho, comentando 1 Jo 4,9-10).

Assim, Santa Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para esta finalidade" [Santa Catarina de Sena, Diálogo sobre a Providência, cap. IV,138, ed. G. Cavallini (Roma, 1995), p.441 in CIC 313].

Num Comentário ao Evangelho de João 15,16, Santo Agostinho aponta para uma escolha eterna de Deus por nós.

"Não vós me escolhesses, eu vos escolhi" [Jo 15,16]. Eis a inefável graça! Que éramos nós quando não tínhamos ainda escolhido a Cristo, e por isso não o amávamos? Como poderia amá-lo aquele que não o escolheu? Acaso já ocorria conosco o que se canta no Salmo: "escolhi, antes, ser humilde na casa do Senhor do que habitar nas moradas dos pecadores" [Sl 83,11]? Não, decerto. Que éramos, senão iníquos e perdidos? Nem sequer tínhamos acreditado nele, para sermos por ele escolhidos. Se nós escolhemos já acreditando nele, eram escolhidos os que escolhia. Ele disse, porém: "não fostes vós que me escolhesses". Porque foi "a sua misericórdia que se antecipou a nós" [Sl 58,11].
Por aí se vê quanto é destituída de razão a maneira de raciocinar dos que defendem a presciência de Deus contra a graça de Deus. Dizem que fomos escolhidos "antes da constituição do mundo" [Ef 1,4], porque Deus previu que havíamos de ser bons, e não que ele mesmo nos haveria de fazer bens. Ora, não é isto e que diz ele, quando diz: "Não fostes vós que me escolhesses". Se nos tivesse escolhido porque previra que havíamos de ser bons, teria igualmente previsto que nós primeiramente o havíamos de escolher. Não podíamos ser bons de outro modo, a não ser que se chamasse bom quem não escolheu o bem.
Que escolheu ele nos que não são bons? Não foram escolhidos por terem sido bons. Nunca seriam bons se não tivessem sido escolhidos. Se sustentarmos que já havia méritos, a graça já não seria graça.
A escolha é obra da graça, como diz o Apóstolo: "no tempo presente subsiste um resto, por causa da escolha da graça" [Rm 11,5]. E acrescenta: "se isto foi pela graça, não foi pelas obras; de outra sorte, a graça já não seria graça".
Ouve-me, ó ingrato, ouve-me! "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi". Não tens razão para dizer: fui escolhido porque já acreditava. Se acreditavas nele, já o tinhas escolhido. Mas ouve: "Não fostes vós que me escolhesses". Não tens razão para dizer: antes de acreditar, já realizava boas ações, e por isso fui escolhido. Se o Apóstolo diz: "o que não procede da fé é pecado" [Rm 14,23], que obras boas podem existir anteriores à fé? Ao ouvir dizer: "Não fostes vós que me escolhesses", que devemos pensar? Que éramos maus e fomos escolhidos para nos tornarmos bons pela graça de quem nos escolheu. A graça não teria razão de ser se os méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons mas escolhe para fazer bons.
"Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça" [Jo 15,16].
Referira-se a esse fruto quando dissera: "sem mim nada podeis fazer". Escolheu, pois, e constituiu-nos para irmos e produzir os frutos. Não tínhamos qualquer fruto que fosse a razão de ser de nossa eleição. “Para que vades e produzais fruto”. Vamos para produzir. Ele é o caminho por onde vamos, e onde nos colocou para que vamos. Em tudo se antecipou a nós a sua misericórdia. "E para que vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda" [Jo 15,16].
Permaneça, pois, o amor. Ele mesmo será a nosso fruto. O amor agora existe em desejo e não em plena abundância, mas pelo próprio desejo que alimentarmos em nós, tudo o que pedirmos em nome do Filho unigênito no-lo concederá o Pai. Não vamos julgar que pedimos em nome do Salvador. Só podermos pedir em nome do Salvador o que convém à nossa salvação.
Constituiu-nos em situação de produzirmos fruto, isto é, de nos amarmos mutuamente. Nunca poderíamos produzir este fruto são a sua cooperação, assim como os ramos nada podem produzir sem a videira. A caridade, portanto, tal como a definiu o Apóstolo: "nascida de um coração puro, da boa consciência e da fé não fingida" [1Tm 1,5] é o nosso fruto. É com ela que nos amamos uns aos outros e que amamos a Deus.
Nunca poderíamos amar-nos mutuamente com verdadeiro amor se não amássemos a Deus. Ama o próximo como a si mesmo aquele que ama a Deus. Se não ama a Deus não se ama a si mesmo.
"Nestes dois mandamentos se compendiam toda a - Lei e os Profetas" [Mt 22,40]. É este nosso fruto, e o Senhor nos deu um preceito quanto a este fruto ao dizer-nos: "o que vos mando é isto: que vos amais uns aos outros" [Jo 15,17].
Quando o apóstolo Paulo queria recomendar os frutos do Espírito em oposição às obras da carne colocou em primeiro lugar, à maneira de cabeça, este: "o fruto do Espírito é a caridade". Só depois enumerou os demais, nascidos e intimamente ligados à cabeça: "a alegria, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fé, a mansidão e a continência".
Como pode alegrar-se convenientemente quem não ama o bem de onde procede a alegria? Como se pode ter verdadeira paz, senão com aquele a quem, verdadeiramente se ama? Como se pode perseverar no bem com longanimidade se não se ama com intensidade? Quem pode ser benigno se não ama aquela a quem corre? Quem pode ser bom se não se torna bem pela prática do amor? Quem pode ter uma fé efetiva se a caridade não faz que a mesma se acompanhe de obras? Quem pode ser utilmente manso, se o amor não moderar a ira? Quem pode conter-se e não praticar a torpeza se a caridade não o levar a amar a honestidade?
Razão tinha o bem Mestre para encarecer tanto a caridade como se fosse o seu único mandamento. Sem a caridade os outros bens não são proveitosos. Mas a caridade, por sua vez, não pode existir sem os outros bens, pelos quais o homem se torna bom” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João p.l. 3, 1851-1853).

Segundo uma antiga Homilia no grande Sábado Santo, Jesus desceu a mansão dos mortos para resgatar nossos primeiros pais: Adão e Eva. As “palavras proferidas por Jesus” exprimem o seu profundo amor pela nossa humanidade decaída no pecado:

“Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam à séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, e agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levante dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!”; e aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra de minhas mãos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra, e fui mesmo sepultado abaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi; para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava voltada contra ti. Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, constituído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade” (Da Liturgia das Horas, Vol.II – Quaresma e Páscoa, pp.439-440).

Ao comentar o texto do diálogo de Jesus com a Samaritana em Jo 4, e ao relacioná-lo com outro texto do Antigo Testamento, eis o que diz Santo Afonso Maria de Ligório:

“Será que Nosso Senhor realmente queria tomar água?Ele que fez através de Moisés, brotar água da pedra (Dt 8,15)? A resposta é não!Pois Ele não se referia a água e sim ao AMOR!Então o texto ficaria assim: "Dai-me de beber do seu amor!Ou seja, 'Ame-me pois fui eu o primeiro a amar você.Você não estava ainda no mundo.O mundo nem existia, e Eu já o amava.Eu amo você desde que sou Deus.Amo você, porque desde que amei a Mim mesmo, amei também você!' (Santo Afonso Maria de ligório - A prática do Amor a Jesus Cristo).

MAGISTÉRIO

“Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4,10), agora o amor já não é apenas um ‘mandamento’, mas a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).

Num mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, essa é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto. Por isso, na minha primeira encíclica, desejo falar do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).

“Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus” (cf. Jo 19, 34) (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 7b).

“O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 10a).

“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. (...) Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária. Por outro lado — como adiante havemos de considerar de modo mais detalhado — o «mandamento» do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 13. 14).

“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17a).

“No desenrolar deste encontro, revela-se com clareza que o amor não é apenas um sentimento. Os sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor. (...) É próprio da maturidade do amor abranger todas as potencialidades do homem e incluir, por assim dizer, o homem na sua totalidade. O encontro com as manifestações visíveis do amor de Deus pode suscitar em nós o sentimento da alegria, que nasce da experiência de ser amados. Tal encontro, porém, chama em causa também a nossa vontade e o nosso intelecto. O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d'Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está « concluído » e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17b).

“Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens[1]. Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor[2]“. (Exort. Apost. Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis 35).

ORAÇÕES

“Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu Amado a quem procuras e desejas?
Ó Senhor, Deus meu! Quem te buscará com amor tão puro e singelo que deixe de te encontrar, conforme o desejo de sua vontade, se és tu o primeiro a mostrar-te e a sair ao encontro daqueles que te desejam?
Quando a pessoa abre e se liberta de todo condicionamento, e une perfeitamente sua vontade à de Deus, transforma-se naquele que lhe comunica o ser sobrenatural, de tal maneira que se parece com o próprio Deus e se deixa possuir totalmente por ele.
O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é ele”. (São João da Cruz)

“Ele é um Deus de amor. Nós não podemos compreender até onde chega seu amor particularmente quando nos prova” (Bem-aventurada Elizabete da Trindade).

“Para poder nos dar a Deus com amor devemos reconhecê-lo como Aquele que ama” (Santa Teresa Benedita da Cruz).

"Oh amor de Deus que não és conhecido nem amado: Como estás ofendido!. (...) Oh meu Jesus, concede-me palavras eficazes para convencer ao mundo que teu amor é grande e verdadeiro e que nosso egoísmo é enganoso e trapaceiro" (Santa Maria Madalena de Pazzi).

“Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro” (São João Maria Vianney, Oração).

II - DEUS NOS AMA: ESCUTEMOS SUA PALAVRA

Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta de fé de seu povo (CIC 1153).

A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário), sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações, salmos de meditação, ladainhas, profissão de fé...) (CIC 1154).


SAGRADAS ESCRITURAS

1.1. Cristo, a Palavra de Deus, existe antes do mundo, no seio de Deus-Pai

· “No princípio era o Verbo [Palavra] e o Verbo [Palavra] estava voltado para Deus e o Verbo [Palavra] era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e se ele nada se fez de tudo o que foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam” (Jo 1,1-5).

· “Iahweh me criou, primícias de sua obra, de seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Eu estava junto com ele como o mestre-de-obras, ...” (Pr 8,22-23. 30 → Pr 8,22-31).

· “Contigo está a Sabedoria que conhece tuas obras, estava presente quando fazias o mundo; ela sabe o que é agradável aos teus olhos e o que é conforme aos teus mandamentos” (Sb 9,9 → Sb 9,9-18).

· “A sabedoria faz o seu próprio elogio, ela se exalta no meio do povo. Criou-me antes dos séculos, desde o princípio, e para sempre não deixarei de existir. Na Tenda santa, em sua presença, oficiei; estabeleci-me em Sião. Enraizei-me num povo cheio de glória, na porção do Senhor, no seu patrimônio (Eclo 24,9-10b.12 → Eclo 24,1-34).

· “Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é a antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Principio, o Primogênito dentre os mortos (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1,15-20).

1.2. Na plenitude do tempo, o Filho de Deus nos comunicou a salvação

“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituístes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os séculos” (Hb 1,1-2).

“Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou, Deus os seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4).

Outra citação: Parábola dos vinhateiros (Mc 12,2-6).
tes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os sele todos os seres

TRADIÇÃO

Lembrai-vos que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as Escrituras, que é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que, sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo" (Santo Agostinho, Em. in Os. 103,4: PL 37,1378 in CIC 102).

“A Palavra de Cristo não é menos [importante] do que o Corpo de Cristo” (Cesário de Arles, in Serm. 78,2) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27 – CNBB 52).

“Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico” (S. Agostinho, Enrr. In PS. 1, 33) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).

“O verdadeiro Cristo está na sua Palavra e na carne” (S. Agostinho, In Ev. Joanis, Tract. 26, 12; CCL. PL 36, 266) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).

“Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.” (Do Prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías, de São Jerônimo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1329-1330).

“A Igreja ‘exorta todos os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo' Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois 'a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (Santo Ambrósio, Off.,. 1,88: PL 16,50A, citado em DV 25 e CIC 2653).

"Procurai pela leitura, e encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação" (Cf. Guigo, o Cartuxo, Scala: PL 184,476C. in CIC 2654).

“Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião da "Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo"” (São Bernardo, Homilia super missus est, 4,11; PL 183,86B in CIC 108).


MAGISTÉRIO

“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor; sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da vida” (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum 21).

“Na celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram sua significação” (SC 24; CIC 1100).

“A Palavra de Deus é um “acontecimento” através do qual o próprio Deus entra no mundo, age, cria, intervém na história do seu povo para orientar sua caminhada. (Canto É como a chuva que lava – Is 55, 10-11). Ela é poder[3] e força criadora de Deus[4] que se dirige pessoalmente a cada um, hoje[5]. Nesta perspectiva, as celebrações da Palavra, sob a ação do Espírito Santo, se constituem em memória reveladora dos acontecimentos maravilhosos da salvação” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.10– CNBB 52).

“O centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda a celebração litúrgica é Jesus Cristo, palavra e sinal do amor com que Deus intervém e age para salvar seu povo: presença divina ativa entre nós. (...) A liturgia é a celebração da obra salvífica de Cristo. É ele quem realiza o projeto do Pai” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.11– CNBB 52).

“Apoiando-se na Palavra de Deus, as pessoas se tornam mais solidárias e fazem dos momentos celebrativos um encontro festivo e comprometido com o próprio Deus da vida, que é Palavra que ama, salva, transforma e liberta” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.25– CNBB 52).


ORAÇÃO

“Eu te bendigo e te dou graças, Senhor Jesus, por todas as tuas misericórdias e por todos os teus benefícios. / Eu te dou graças, ó Filho do Deus vivo, que, no excesso de teu amor por nós, te dignaste fazer-te homem. / Por nós quiseste nascer num estábulo, e suportar a pobreza durante trinta e três anos. / Quiseste ser angustiado até transpirar sangue! Quiseste suportar o patíbulo da cruz e os cravos, e ter por bebida o vinagre. / Tu, que revestes os astros de esplendor, foste suspenso por nós na cruz, nu desprezado, coberto de feridas, e afligido por dores atrozes. / Por nós derramaste teu sangue puríssimo, por nós morreste! / Senhor Jesus, minha única salvação, faze que de agora em diante eu te ame com amor ardente! / Minha alma abraça tua cruz; saúdo tuas chagas, das quais escorre bálsamo e nas quais escreveste meu nome. / Salvador adorável, abandono-me sem reserva a ti, ofereço-me a ti, estou pronto a tudo suportar para a glória de teu nome” (Luís de Blois, abade em Liesse, 1505-1566 in L’Institution spirituelle, DDB-Lethielleux-Maredsous, 1932 em Palavras para rezar: Orações dos Grandes Santos, pp. 135-136).


III – DEUS NOS AMA “ATÉ O FIM”: EM JESUS CRISTO
(EUCARISTIA), DOA A SUA VIDA PLENAMENTE POR NÓS


1. SAGRADAS ESCRITURAS

1.1 Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus

· “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).

· “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

1.2. A Vida de Jesus manifesta que o ser de Deus é Amor-Doação

· “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).

· “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, sendo rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).

1.3. O Amor-Doação permanece na Eucaristia

· “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).

· Outra citação: Narração da Instituição da Eucaristia (1 Cor 11,23-26) e Não vos deixarei órfãos (Jo 14,18-21)


TRADIÇÃO

· “Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico. Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.” (Dos Sermões de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 161-162).

· “Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado, nos alimenta, acreditado, nos vivifica e, consagrado, santifica os que o consagram. (...) Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. É o mesmo pão descido do céu que diz: O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Ele mesmo afirma no Evangelho: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), oferecido como sacramento da paixão” (Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa. pp. 764-765).

· “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo. Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará a sua felicidade, quando Deus for tudo em todos. Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça” (Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 710-712).

· “Eu morro por todos, diz o Senhor, a fim de que por mim todos tenham vida eu morro para resgatar todos pela minha carne! (...) Com isso ele quer dizer que se consagra e se oferece como sacrifício puro de suave perfume. Com efeito, tudo que era oferecido sobre o altar, era santificado ou chamado santo, conforme a Lei. Cristo, portanto, entregou seu corpo em sacrifício pela vida de todos e assim a vida nos foi dada de novo por meio dele” (Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Jerusalém, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 670-672).


MAGISTÉRIO

· “... em Jesus Cristo, o próprio Deus vai atrás da « ovelha perdida », a humanidade sofredora e transviada. Quando Jesus fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida (cf.Lc 15,4-7), da mulher que procura a dracma (cf. Lc 15,8-10), do pai que sai ao encontro do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32) e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).

· Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma mais radical. O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João (cf. 19, 37), compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: « Deus é amor » (1 Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).

· “Jesus deu a este ato de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a sua morte e ressurreição entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos, no pão e no vinho, a Si próprio, ao seu corpo e sangue como novo maná (cf. Jo 6, 31-33)” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 13).

· “A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 16).

· “A Eucaristia é banquete: sentido do convívio = ‘Tomai e comei [...] Depois pegou o cálice e [...]’ (Mt 26,26.27). – Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quis estabelecer conosco e que nós mesmos devemos desenvolver mutuamente” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).

· “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e « realiza-se também a obra da nossa redenção »[6]. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. (...) Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao « extremo » (cf. Jo 13, 1), um amor sem medida” (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 11c).

· “Todavia não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primário e profundamente sacrifical[7]. Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício atuado uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...». Ao mesmo tempo que atualiza o passado, a Eucaristia projeta-nos para o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo da esperança” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).

· “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor" (Jo 15,9-10) (CIC 1822-1824.

· Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimigos" (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres” (CIC 1825).

· “Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se por todos e cada um de nós: "O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gl 2,20). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida ‘em remissão dos pecados’”(Mt 26.28) (CIC 478; 545).

ORAÇÃO

“Bom Pastor, pão da verdade, / Tende de nós piedade, / Conservai-nos na unidade, / Extingui nossa orfandade / E conduzi-nos ao Pai. / Aos mortais dando comida / Dais também o pão da vida: / Que a família assim nutrida / Seja um dia reunida / Aos convivas lá do céu. (Santo Tomás de Aquino)


IV – A NOSSA RESPOSTA AO AMOR DE DEUS:
A PRÁTICA DA CARIDADE


SAGRADAS ESCRITURAS

1.1. A nossa resposta ao Amor de Deus: Amar o próximo como a nós mesmos

“Amarás a Iahweh teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,5).
“E agora, Israel, que é que Iahweh teu Deus te pede? Apenas que temas a Iahweh teu Deus, andando em seus caminhos, e o ames, servindo a Iahweh teu Deus de todo o teu coração e com a tua alma, e que observes os mandamentos de Iahweh e os estatutos que eu te ordeno hoje, para o teu bem” (Dt 10,12-13).

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).

“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo mandamento é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22,37-40).

“Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Este é o meu mandamento: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI. Ninguém tem amor maior que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.12-13).

“Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim. Eu lhes dei a conhecer o teu nome e lhes darei a conhecê-lo, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,23.26).

“Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,8.10).

“Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14).

1.2. Devo amar-servir os que não são amados: os sofredores

“A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).

“‘E quem é o meu próximo?’ Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhes cuidados. ‘Vai, e também tu, faze o mesmo’” (Lc 10,29b.33-34.37b → Lc 10,29-37 = Parábola do Bom Samaritano).

“Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes [gestos concretos de caridade] a um desses meus irmãos mais pequeninos [faminto, sedento, forasteiro, nu, doente, preso], a mim o fizestes” (Mt 25,40).

“Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).

1.3. O Espírito Santo nos foi dado para amar

“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são Filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros e Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rm 8,14-16 → Rm 8,4-16).

Outras citações: (Rm 15,30; Cl 1,8).


TRADIÇÃO

“O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você” (Didaqué ou Catequese dos Doze Apóstolos 1,2).

“O amor de Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor do próximo é o primeiro na ordem da ação. Aquele que te deu o mandamento do amor nestes dois preceitos, não podia preceituar o amor do próximo de preferência ao amor de Deus; mas primeiramente preceituar o amor de Deus e depois o do próximo. Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás contemplá-lo, se amas o próximo. Com o amor do próximo purificas o teu olhar, para que os teus olhos possam contemplar a Deus, como afirma claramente São João: se não amas o teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês?” (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de São João (Tract. 17,7-9; CCL 36,174-175).

“A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. (...) Diz São Gregório: “Há uma lei para o pregador: que faça o que prega”. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras. Os apóstolos, entretanto, falavam conforme o Espírito Santo os inspirava (At2,4). Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas idéias!” (Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, Liturgia das Horas, Vol.III – Tempo Comum – Semanas 13º.-17º., pp. 1357-1358).

“Como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). (...) E amemos os próximos com a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados” (Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis, Liturgia das Horas, Vol. IV – Tempo Comum – Semanas 18º.-34º., pp. 1345-1346).


MAGISTÉRIO

“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 17a).

“... eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O seu amigo é meu amigo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 18).

“O programa do cristão — o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus — é « um coração que vê ». Este coração vê onde há necessidade de amor, e atua em conseqüência. (...) O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. Sabe que Deus é amor (cf. 1 Jo 4, 8) e torna-Se presente precisamente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 31b.c.).

“A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo homem, um amor que se nutre do encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 34).

“Quem se acha em condições de ajudar há de reconhecer que, precisamente deste modo, é ajudado ele próprio também; não é mérito seu nem título de glória o fato de poder ajudar. Esta tarefa é graça. Quanto mais alguém trabalhar pelos outros, tanto melhor compreenderá e assumirá como própria esta palavra de Cristo: « Somos servos inúteis » (Lc 17, 10). (...) Com humildade, fará o que lhe for possível realizar e, com humildade, confiará o resto ao Senhor. É Deus quem governa o mundo, não nós. Prestamos-Lhe apenas o nosso serviço por quanto podemos e até onde Ele nos dá a força” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 35).

“A oração, como meio para haurir continuamente força de Cristo, torna-se aqui uma urgência inteiramente concreta. Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a ação. A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 36).

“Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se « sacramento » para a humanidade[8], sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos.[9] A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»” (Jo 20, 21) (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 22b).

“A Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; é também projeto de solidariedade em prol da humanidade inteira. (...) O cristão, que participa na Eucaristia, dela aprende a tornar-se promotor de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 27).

“Há ainda um ponto para o qual queria chamar a atenção, porque sobre ele se joga em medida notável a autenticidade da participação na Eucaristia, celebrada na comunidade: é o impulso que esta aí recebe para um compromisso real na edificação duma sociedade mais eqüitativa e fraterna” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 28).

· “Com efeito, o culto agradável a Deus nunca é um ato meramente privado, sem conseqüências nas nossas relações sociais: requer o testemunho público da própria fé. Evidentemente isto vale para todos os batizados, mas impõe-se com particular premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas”[10] (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 83).

· “«Não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele»[11]. (...) Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar n'Ele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: «Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária»[12]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 84).

· “A união com Cristo, que se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma novidade de relações sociais: «a ‘‘mística'' do sacramento tem um caráter social, porque (...) a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou hão de tornar Seus»[13]. (...) é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração. (...) «Com efeito, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção econômica e a exploração sexual »...[14]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit. 89a.b.).

“Se vês a caridade, vês a Trindade” (Santo Agostinho, De Trinitate, VIII,8,12: CCL 50,287 in Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 19).

“Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provisor de todos os que se encontram em necessidade” (Justino de Roma, I Apologia, 67: PG 6,429 – Liturgia dominical).

· “Quando damos aos pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles grande generosidade pessoal, mas lhes devolvemos o que é deles. Cumprimos um dever de justiça e não tanto um ato de caridade” [São Gregório Magno, Past. 3,21; SC 382,394 (PL 77,87) in CIC 2446].


ORAÇÕES

“Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo subumano, praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma, ouvirá o clamor dos oprimidos. E o clamor dos oprimidos é a voz de Deus.
Quem vive em países desenvolvidos e ricos, onde existem zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais, ouvirá o clamor silencioso dos sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz é a voz de Deus.
Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição da riqueza, se tiver grandeza d´alma, captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E o protesto dos pobres é a voz de Deus.
Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas, nota que, em nossos tempos, as injustiças já não ocorrem apenas entre indivíduos e indivíduos ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E a voz dos injustiçados é a voz de Deus”.
Para despertar-nos, Deus se serve até dos gestos de radicalização e de violência. Ele sabe tirar o bem do próprio mal. (...)
Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dra-nos ao luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e, não raro, vazias, sem vê-Lo, sem ouvi-Lo, sem tocá-Lo, lá onde Ele está, e nos espera e exige nossa presença: no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós, muitas vezes, coniventes com esta situação? ...” (D.Hélder Câmara, O Deserto é fértil, pp.23-25).

“Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos” (Dos Escritos de São Vicente de Paulo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1305-1306).


BIBLIOGRAFIA

VVAA. Bíblia de Jerusalém. Paulus. São Paulo. 1995.
Documentos do Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes (GS): Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje; Lumen Gentium (LG): Constituição Dogmática sobre a Igreja; Dei Verbum (DV): Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação; Sacrosanctum Concilium (SC): Constituição sobre a Sagrada Liturgia)in www.vatican.va.
João Paulo II. Catecismo da Igreja Católica (CIC). Ed. Loyola. São Paulo. 1992.
Ecclesia de Eucharistia. Carta encíclica sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja - 185. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2003.
Mane Nobiscum Domine. Carta Apostólica para o ano da Eucaristia - 187. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. 2004.
Bento XVI. Deus Caritas est. Carta encíclica sobre o Amor cristão -189. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2005.
Sacramentum Caritatis. Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. 2007.
Liturgia das Horas (4 volumes). Várias editoras. 2000.
CNBB. Orientação para a Celebração da Palavra de Deus -52. Documentos da CNBB. Paulinas. São Paulo. 1994.
Justino de Roma. I Apologia. 2ª. Ed.Coleção Patrística. Paulus. 1995.
Padres Apostólicos. Didaqué: Catequese dos Doze Apóstolos. 3ª. Ed. São Paulo. Paulus. 2002.
Durcase, Jean (org.). Palavras para Rezar: Orações dos grandes orantes. São Paulo. Paulinas. 1993.
Câmara, Dom Hélder. O Deserto é fértil. Civilização Brasileira. 1975.
Demais citações: site de busca – www.google.com.br
[1] Cf. Sermones 1, 7; 11, 10; 22, 7; 29, 76: Sermones dominicales ad fidem codicum nunc denuo editi (Grottaferrata 1977), pp. 135.209s.292s.337; Bento XVI, Mensagem aos Movimentos Eclesiais e às Novas Comunidades (22 de Maio de 2006): AAS 98 (2006), 463.
[2] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.

[3] 2 Cor 6, 7.
[4] Sl 148,5.
[5] Cf. Santo Agostinho, In Ioann. Ev. Tract. 30,7.
[6] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3.
[7] Cf. João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 10: AAS 95 (2003), 439; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004), 38: Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004), 3.

[8] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[9] Cf. ibid., 9.
[10] Cf. João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995): AAS 87 (1995), 401-522; Bento XVI, Discurso à Pontifícia Academia para a Vida (27 de Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 264-265.
[11] Homilia (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 711.
[12] Propositio 42.
[13] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 14.
[14] Propositio 48.

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