EIS A QUESTÃO (I)[1]
Frei
José Ariovaldo da Silva, OFM
O ser humano, “desnorteado”: chamado a retomar o
rumo de Deus
De repente, o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus e vivendo
num paraíso (cf. Gn cap. 1 e 2), se viu sem rumo, sem norte (“desnorteado”!),
desequilibrado, muito inseguro, frágil e, ao mesmo tempo, prepotente, violento
(e até mortalmente violento!), egoísta, dado à corrupção de todo tipo, sem
serenidade na convivência social, muito confuso... É o que transparece já a
partir das primeiras páginas a Sagrada Escritura (cf. Gn cap. 3, 4, 6, 7, 11,
19, 27,12ss etc.).
No meio dessa gente, sempre tem
alguém que se salva, que se mantém no rumo de Deus. É o caso de Noé e sua família, com quem Deus
chega a fazer aliança (cf. Gn cap. 9). É caso de Abraão que deixa sua terra
para seguir o rumo de Deus, e Deus faz uma aliança também com ele (cf. Gn cap.
12 e 17). É o caso, depois, de inúmeros descendentes de Abraão que, no meio de
dificuldades e contratempos, se esforçam por se deixar conduzir pelo Senhor.
Deus, para eles, vai sendo percebido e assumido como o rumo certo de uma vida
realizada e feliz. E Deus os acolhe amorosamente.
Lendo as páginas da Bíblia, vemos como Deus vai se revelando como o
verdadeiro rumo para o ser humano. Mostrou-o quando, “ouvindo o clamor do povo”
(cf. Ex 3,7-10), operou através do seu servo Moisés a libertação da escravidão
do Egito (cf. Ex cap. 12 a 15). Mostrou-o, sustentando o povo na caminhada pelo
deserto (cf. Ex 15,22-18,27). Mostrou-o, por ocasião da aliança do Sinai (cf.
Ex 19 e 20), inclusive prometendo: “Se vocês realmente ouvirem minha voz e
guardarem a minha aliança, serão minha propriedade exclusiva dentre todos os
povos. De fato, é minha toda a terra, mas vocês serão para mim um reino de
sacerdotes e uma nação santa” (cf. Ex 19,3-6). Mostrou-o, quando amorosamente
acolhia de volta o povo que, eventualmente, resolvia tomar outro rumo e depois
se arrependia. E assim por diante...
Sobretudo
através dos sábios e profetas, Deus continuou se mostrando, insistente e
repetidamente, como sendo o rumo mais certo para o futuro mais certo. E sempre
pronto a acolher amorosamente quem se “desnorteou”. Por isso, exclama o
salmista: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor!... Ele perdoa tuas culpas todas, e
cura todas as tuas enfermidades. Ele resgata do fosso tua vida e te coroa de
misericórdia e compaixão... O Senhor é compassivo e clemente, lento para a
cólera e rico em misericórdia” (Sl 103,1.3-4.8).
Na
voz dos profetas vemos constantemente o apelo: Quem tomou outro rumo, volte
para o rumo de Deus, pois ele não rejeita ninguém. E quem está no rumo de Deus,
não tome outro rumo. A experiência mostra que não vale a pena enveredar por
outro. Amor, bondade, perdão, justiça, misericórdia, solidariedade, são algumas
características do rumo de Deus. E Deus
ainda vai dar a prova final (quando vier o Messias) de que o seu é o rumo mais
certo.
Peguem
o rumo de Deus, porque o seu Reino está próximo!
Assim,
aproximando-se o ponto alto da história da salvação de Deus, aparece o profeta
João Batista, pregando sobre Deus lá no deserto. E avisava: “Convertam-se
porque está próximo o reino dos céus” (cf. Mt 3,1-12; Mc 1,1-8; Lc 3,1-20; Jo
1,19-28). Em outras palavras: Mudem de rumo! Peguem o rumo de Deus, porque a
expressão máxima deste rumo está muito próxima de nós: o Messias!
Muita
gente, sobretudo o povo mais humilde, passou a acreditar naquilo que João
ensinava e, realmente, enveredava pelo rumo de Deus, procurando viver uma vida
de solidariedade, honestidade e respeito para com as pessoas. E para simbolizar
esta mudança de rumo (entrando – mergulhando – “de cabeça” no rumo apontado
pelo profeta) com o conseqüente perdão dos pecados, as pessoas eram batizadas
(isto é, mergulhadas) nas águas do rio Jordão. João, no entanto, alertava:
Atenção, pessoal! Eu não sou o Messias, não. Eu mergulho vocês na água. Mas,
aquele que vem depois de mim, muito mais forte do que eu, este vai mergulhar
(batizar) vocês no Espírito Santo. Em outras palavras, ele vai mergulhar vocês
“de cabeça” para dentro do sentido máximo do rumo de Deus, que é o próprio
Espírito de Deus que nos acolhe e nos perdoa.
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1.
Olhando para a
Bíblia, em que momentos as pessoas se desviaram do “rumo” proposto por Deus?
2.
Qual a atitude
de Deus Pai diante dos erros da humanidade?
3.
E hoje? Quando
e como nós nos desviamos do rumo?
[1]
Palestra proferida no Seminário sobre a Reconciliação, realizado em fevereiro
2007, e publicado na coleção Estudos da CNBB, no. 96, Deixai-vos Reconciliar,
Edições CNBB, pág. 23-36.
Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/component/docman/cat_view/236-liturgia-em-mutirao-iii
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