FICHA 06 :
SÍMBOLOS? OU SINAIS?[1]
Ione Buyst
Todos os símbolos são sinais, mas
nem todos os sinais são símbolos. Os sinais não simbólicos recebem sua
significação como que de fora, pela convenção entre os membros de um determinado
grupo cultural. São arbitrários; poderiam ser substituídos por outros. Um sinal
vermelho no trânsito, por exemplo, é um sinal e não um símbolo.
O símbolo tem sua raiz no
inconsciente e expressa uma experiência vivida a um nível anterior à
conceituação. Ou, como o expressa um outro autor: é movido pelo autor: é movido
pelo desejo, que é insaciável e almeja a totalidade do real, ou melhor, almeja
Alguém que possa satisfazer nosso desejo.
Por isso, no símbolo existe
como que uma relação interna que revela a unidade entre sinal sensível e
realidade significada. Por exemplo, água como símbolo de purificação, de vida.
A água em si já contém como que o sentido de purificação, de vida. Não é algo
que é imposto de fora, racionalmente.
Símbolo não é o resultado de
uma transferência de significação além da matéria, mas a própria articulação da
densidade da matéria, que conserva sua totalidade de ser, em vez de ser
escamoteada pelo espírito. (...) A matéria é investida pelo espírito.
Símbolos atingem
o ser humano como um todo
Vamos nos lembrar de alguma
celebração passada... O que ficou gravado em nossa memória? Provavelmente, os
cantos, os símbolos e principalmente as ações simbólicas. Por que isso? Porque
atingem nossa pessoa como um todo; não só a nossa mente, mas também nossa
afetividade, partindo do corpo e, atingindo através dele, as camadas mais
profundas de nosso ser.
Uma especialista em eutonia, Thérèse
Bertherat, nos lembra o seguinte:
Cuidado com o corpo, disse-me há
muito um psicanalista que assistira às minhas aulas. Nosso corpo pertence ao
domínio da mãe. Quando você procura abordar o ser pelo corpo, você entra
diretamente nas camadas arcaicas da personalidade.
E podemos dizer que nos liga não
somente com o domínio da mãe, matriz geradora de nossa vida, mas nos liga ainda
com a matriz geradora de toda vida:
Deus.
A liturgia é feita com “sinais
sensíveis” (SC 7), usados simbolicamente. Partindo de nosso corpo, penetram
nossa afetividade, nossa consciência, nosso inconsciente...
São capazes de ligar, unir, juntar (symbállo):
·
Corpo,
alma, mente, espírito... de cada um de nós;
·
As
várias pessoas participantes, estreitando os laços na assembléia;
·
Cada
um de nós e a comunidade reunida com a realidade (tanto cósmica quanto
histórica) que nos cerca;
·
Cada
um de nós e a comunidade reunida com Aquele que é a fonte da vida;
·
Presente
e passado, céu e terra, “matéria” e “espírito”...
Através de nossa participação
nas ações simbólicas, temos acesso à realidade que existe
para
além do sensível, para a qual os símbolos e ações simbólicas remetem. E qual é
esta realidade? Para nós, cristãos, esta realidade é o próprio Jesus Cristo
glorificado em sua páscoa. Assim, a nossa participação na ação ritual da
liturgia é páscoa de Cristo na páscoa da
gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo.
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1.
Conseguimos
entender a diferença que existe entre “sinal” e “símbolo”?
2.
Vamos elencar
alguns “sinais” e alguns “símbolos” mais presentes em nossa vida para que
possamos fazer bem esta distinção?
3.
Quais as
realidades de nossa vida, de nossa história e de nossa comunidade que um
“símbolo” pode “ligar, unir, juntar”?
[1]
Extraído do livro Celebrar com os Símbolos, Edições
Paulinas, pág. 31.
Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/component/docman/cat_view/236-liturgia-em-mutirao-iii?start=20
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