CELEBRAR A RETOMADA DO RUMO CERTO:
EIS A QUESTÃO (II)[1]
Frei
José Ariovaldo da Silva, OFM
Jesus e sua páscoa: revelação e presença vitoriosa
do rumo reconciliador de Deus
Vimos no artigo anterior que
João Batista pedindo a conversão e batizando. E não há de ver que o próprio
Jesus, solidarizando-se com todo aquele povo, se faz batizar nas águas do
Jordão, (cf. Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 1,29-34)! E o que acontece?
Aquele mergulho simbólico nas águas nos fala de Jesus como alguém nítida e
totalmente mergulhado no Espírito de Deus. Tão mergulhado está, que nele não
podemos ver outro senão o próprio Filho de Deus, o verdadeiro “Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo”. Já no início de sua missão, o próprio Jesus
anuncia: “Completaram-se os tempos, está próximo o reino de Deus, convertam-se
e creiam no Evangelho”.
E como aparece, na prática, que
Jesus é o próprio Filho de Deus e, portanto, a expressão máxima do rumo de
Deus? Pela sua radical solidariedade com o ser humano. Pela sua encarnação,
vida, ações, palavras, sofrimento, morte, ressurreição e dom do Espírito, nós o
vemos mergulhado “de cabeça” no abismo da nossa condição humana cheia de anjos
e demônios, para nos libertar do pecado e da morte e nos reconciliar com Deus.
Assim sendo, ele é o próprio rumo de Deus que nos liberta para a plena
realização do ser humano: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (cf. Jo
14,1-14).
Aos que acreditam nesse Jesus e
o assumem como o rumo mais certo, ele os perdoa e os cura, pois, sendo Filho de
Deus, tem poder para isso (cf. Mc 2,1-12; 2,13-17; Lc 7,36-50; Jo 8,3-11). A
Zaqueu ele anuncia: “Hoje a salvação entrou em sua casa”. É que Zaqueu, “chefe
dos publicanos e rico”, considerado um “pecador”, vendo Jesus e acolhendo-o
“com alegria” em sua casa, resolveu pegar o rumo de Deus, com a promessa de
reparar os danos causados aos outros (cf. Lc 19,1-10). A parábola do Filho
Pródigo representa bem a história de quem (podemos pensar no ouvinte da
Palavra), ao perceber-se de repente “desnorteado” e “sem rumo”, retoma o rumo
da casa do Pai e se vê amorosa e festivamente acolhido pelo Pai (cf. Lc
15,11-32).
A páscoa de Jesus (paixão,
morte, ressurreição, ascensão e dom do Espírito) é a prova mais nítida e
contundente da certeza do rumo reconciliador de Deus. Prova esta que foi
transmitida aos apóstolos no dia da páscoa, para que a passassem adiante. Foi
quando o ressuscitado soprou sobre eles dizendo: “Recebam o Espírito Santo. Se
vocês perdoarem os pecados dos homens, serão perdoados. Se não lhes perdoarem,
não serão perdoados” (Jo 20,22-23). E Pedro (após a “explosão do Espírito
Santo” na festa de Pentecostes), depois daquele longo discurso falando da
ressurreição de Cristo (cf. At 2,1-36), dá uma significativa resposta ao povo
que indagava sobre o que então devia ser feito: “Arrependam-se e cada um de
vocês seja batizado no nome de Jesus para a remissão dos pecados e vocês
receberão o Espírito Santo” (At 2,38). Em outras palavras: Convertam-se, isto
é, mudem de rumo; enveredem pelo novo rumo que definitivamente se instaurou
pela páscoa, o do Reino de Deus. E como símbolo desta decisão de vocês, pelo
qual vocês também são perdoados e admitidos no Reino, sejam batizados
(mergulhados na água) em nome de Jesus Cristo.
Foi o que aconteceu, daí para
frente. Como símbolo da conversão e entrada no rumo de Deus, e o conseqüente
perdão dado por Deus por força da Páscoa, a pessoa era mergulhada na água.
Inclusive, para que a decisão pudesse ser a mais madura possível, logo foi se instituindo
nas comunidades cristãs um tempo de intenso exercício de conversão e acolhida
do dom de Deus (período de catecumenato) antes de a pessoa assumir o rumo de
Cristo dentro da comunidade eclesial.
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1.
Por que Jesus
quis ser batizado?
2.
Qual a atitude
de Jesus para com os pecadores? O que mais lhe chama a atenção?
3.
O que a
realidade da Páscoa de Jesus, sua morte e ressurreição, tem a ver com a nossa
reconcição?
[1]
Palestra proferida no Seminário sobre a Reconciliação, realizado em fevereiro
2007, e publicado na coleção Estudos da CNBB, no. 96, Deixai-vos Reconciliar,
Edições CNBB, pág. 23-36.
Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/component/docman/cat_view/236-liturgia-em-mutirao-iii
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