terça-feira, 8 de janeiro de 2013

LITURGIA EM MUTIRÃO III (14 - CELEBRAR A RETOMADA DO RUMO CERTO: EIS A QUESTÃO - 2) - CNBB



FICHA 14




CELEBRAR A RETOMADA DO RUMO CERTO:

EIS A QUESTÃO  (II)[1]


Frei José Ariovaldo da Silva, OFM


Jesus e sua páscoa: revelação e presença vitoriosa do rumo reconciliador de Deus

Vimos no artigo anterior que João Batista pedindo a conversão e batizando. E não há de ver que o próprio Jesus, solidarizando-se com todo aquele povo, se faz batizar nas águas do Jordão, (cf. Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 1,29-34)! E o que acontece? Aquele mergulho simbólico nas águas nos fala de Jesus como alguém nítida e totalmente mergulhado no Espírito de Deus. Tão mergulhado está, que nele não podemos ver outro senão o próprio Filho de Deus, o verdadeiro “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Já no início de sua missão, o próprio Jesus anuncia: “Completaram-se os tempos, está próximo o reino de Deus, convertam-se e creiam no Evangelho”.

E como aparece, na prática, que Jesus é o próprio Filho de Deus e, portanto, a expressão máxima do rumo de Deus? Pela sua radical solidariedade com o ser humano. Pela sua encarnação, vida, ações, palavras, sofrimento, morte, ressurreição e dom do Espírito, nós o vemos mergulhado “de cabeça” no abismo da nossa condição humana cheia de anjos e demônios, para nos libertar do pecado e da morte e nos reconciliar com Deus. Assim sendo, ele é o próprio rumo de Deus que nos liberta para a plena realização do ser humano: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (cf. Jo 14,1-14).

Aos que acreditam nesse Jesus e o assumem como o rumo mais certo, ele os perdoa e os cura, pois, sendo Filho de Deus, tem poder para isso (cf. Mc 2,1-12; 2,13-17; Lc 7,36-50; Jo 8,3-11). A Zaqueu ele anuncia: “Hoje a salvação entrou em sua casa”. É que Zaqueu, “chefe dos publicanos e rico”, considerado um “pecador”, vendo Jesus e acolhendo-o “com alegria” em sua casa, resolveu pegar o rumo de Deus, com a promessa de reparar os danos causados aos outros (cf. Lc 19,1-10). A parábola do Filho Pródigo representa bem a história de quem (podemos pensar no ouvinte da Palavra), ao perceber-se de repente “desnorteado” e “sem rumo”, retoma o rumo da casa do Pai e se vê amorosa e festivamente acolhido pelo Pai (cf. Lc 15,11-32).

A páscoa de Jesus (paixão, morte, ressurreição, ascensão e dom do Espírito) é a prova mais nítida e contundente da certeza do rumo reconciliador de Deus. Prova esta que foi transmitida aos apóstolos no dia da páscoa, para que a passassem adiante. Foi quando o ressuscitado soprou sobre eles dizendo: “Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados dos homens, serão perdoados. Se não lhes perdoarem, não serão perdoados” (Jo 20,22-23). E Pedro (após a “explosão do Espírito Santo” na festa de Pentecostes), depois daquele longo discurso falando da ressurreição de Cristo (cf. At 2,1-36), dá uma significativa resposta ao povo que indagava sobre o que então devia ser feito: “Arrependam-se e cada um de vocês seja batizado no nome de Jesus para a remissão dos pecados e vocês receberão o Espírito Santo” (At 2,38). Em outras palavras: Convertam-se, isto é, mudem de rumo; enveredem pelo novo rumo que definitivamente se instaurou pela páscoa, o do Reino de Deus. E como símbolo desta decisão de vocês, pelo qual vocês também são perdoados e admitidos no Reino, sejam batizados (mergulhados na água) em nome de Jesus Cristo.

Foi o que aconteceu, daí para frente. Como símbolo da conversão e entrada no rumo de Deus, e o conseqüente perdão dado por Deus por força da Páscoa, a pessoa era mergulhada na água. Inclusive, para que a decisão pudesse ser a mais madura possível, logo foi se instituindo nas comunidades cristãs um tempo de intenso exercício de conversão e acolhida do dom de Deus (período de catecumenato) antes de a pessoa assumir o rumo de Cristo dentro da comunidade eclesial.


 


Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1.         Por que Jesus quis ser batizado?
2.         Qual a atitude de Jesus para com os pecadores? O que mais lhe chama a atenção?
3.         O que a realidade da Páscoa de Jesus, sua morte e ressurreição, tem a ver com a nossa reconcição?


[1] Palestra proferida no Seminário sobre a Reconciliação, realizado em fevereiro 2007, e publicado na coleção Estudos da CNBB, no. 96, Deixai-vos Reconciliar, Edições CNBB, pág. 23-36.


Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/component/docman/cat_view/236-liturgia-em-mutirao-iii

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