Exortação Apostólica Pós -Sinodal Africae Munus
"O compromisso da África", Ouhida, 19 de novembro de 2011
CIDADE DO VATICANO, sábado, 19 de novembro de 2011 (ZENIT.org)
- Apresentamos o texto da Exortação Apostólica "Africae Munus" (O
compromisso da África), fruto da segunda Assembléia Especial pela África
do Sínodo dos bispos, assinado hoje pelo Papa Bento XVI na Basílica da
Imaculada Conceição de Ouhida no Benim.
***
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL AFRICAE MUNUS
DO SANTO PADRE BENTO XVI
AO EPISCOPADO, AO CLERO,
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE A IGREJA NA ÁFRICA
AO SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO DA JUSTIÇA E DA PAZ
«Vós sois o sal da terra …Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 13.14)
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
I PARTE - « EU RENOVO TODAS AS COISAS » (Ap 21,5) [14]
CAPÍTULO I - AO SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO, DA JUSTIÇA E DA PAZ
I. Autênticos servidores da Palavra de Deus [15-16]
II. Cristo no coração das realidades africanas: fonte de reconciliação, de justiça e de paz [17-18]
A. « Reconciliai-vos com Deus » (2 Cor 5, 20) [19-21]
B. Tornar-se justo e construir uma ordem social justa [22-23]
1. Viver da justiça de Cristo [24-25]
2. Criar uma ordem justa na lógica das Bem-aventuranças [26-27]
C. O amor na verdade: fonte de paz [28]
1. Serviço fraterno concreto [29]
2. A Igreja como uma sentinela [30]
CAPÍTULO II - OS CANTEIROS PARA A CONSTRUÇÃO DA RECONCILIAÇÃO,
DA JUSTIÇA E DA PAZ [31]
DA JUSTIÇA E DA PAZ [31]
A. A metanoia: uma autêntica conversão [32]
B. Viver a verdade do sacramento da Penitência e da Reconciliação [33]
C. Uma espiritualidade de comunhão [34-35]
D. A inculturação do Evangelho e a evangelização da cultura [36-38]
E. O dom de Cristo: a Eucaristia e a Palavra de Deus [39-41]
II. Viver unidos
A. A família [42-46]
B. As pessoas idosas [47-50]
C. Os homens [51-54]
D. As mulheres [55-59]
E. Os jovens [60-64]
F. As crianças [65-68]
III. A visão africana da vida [69]
A. A protecção da vida [70-78]
B. O respeito da criação e o ecossistema [79-80]
C. A boa governação dos Estados [81-83]
D. Os emigrantes, deslocados e refugiados [84-85]
E. A globalização e a ajuda internacional [86-87]
IV. O diálogo e a união entre os crentes [88]
A. O diálogo ecuménico e o desafio dos novos movimentos religiosos [89-91]
B. O diálogo inter-religioso
1. As religiões tradicionais africanas [92-93]
2. O Islão [94]
C. Tornar-se « sal da terra » e « luz do mundo » [95-96]
II PARTE - « A CADA UM É DADA A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO,
PARA PROVEITO COMUM » (1 Cor 12, 7) [97-98]
PARA PROVEITO COMUM » (1 Cor 12, 7) [97-98]
CAPÍTULO I - OS MEMBROS DA IGREJA [99]
II. Os sacerdotes [108-112]
III. Os missionários [113-114]
IV. Os diáconos permanentes [115-116]
V. As pessoas consagradas [117-120]
VI. Os seminaristas [121-124]
VII. Os catequistas [125-127]
VIII. Os leigos [128-131]
CAPÍTULO II - PRINCIPAIS CAMPOS DO APOSTOLADO [132]
II. O mundo da educação [134-138]
III. O mundo da saúde [139-141]
IV. O mundo da informação e da comunicação [142-146]
CAPÍTULO III - « LEVANTA-TE, TOMA A TUA ENXERGA E ANDA » (Jo 5, 8)
II. A Palavra de Deus e os Sacramentos
A. A Sagrada Escritura [150-151]
B. A Eucaristia [152-154]
C. A Reconciliação [155-158]
III. A nova evangelização [159]
A. Portadores de Cristo, « luz do mundo » [160-162]
B. Testemunhas de Cristo Ressuscitado [163-166]
C. Missionários seguindo Cristo [167-171]
CONCLUSÃO: « CORAGEM, LEVANTA-TE QUE ELE CHAMA-TE » (Mc 10, 49) [172-177]
INTRODUÇÃO
1. O serviço da África ao Senhor Jesus Cristo é um tesouro precioso
que confio, neste princípio do terceiro milénio, aos bispos, aos
sacerdotes, aos diáconos permanentes, às pessoas consagradas, aos
catequistas e aos leigos daquele amado continente e ilhas adjacentes.
Esta missão leva a África a aprofundar a vocação cristã; convida-a a
viver, em nome de Jesus, a reconciliação entre as pessoas e as
comunidades, e a promover a paz e a justiça na verdade para todos.
2. Quis que a segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos
Bispos, que decorreu de 4 a 25 de Outubro de 2009, se situasse no
prolongamento da Assembleia de 1994, « que se revelou um acontecimento
de esperança e de ressurreição, no momento mesmo em que as vicissitudes
humanas pareciam antes impelir a África para o desânimo e o
desespero ».[1] A Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa do
meu predecessor, o Beato João Paulo II, recolhera as orientações e as
opções pastorais dos Padres sinodais para uma nova evangelização do
continente africano. Convinha, no termo do primeiro decénio deste
terceiro milénio, reavivar a nossa fé e a nossa esperança, contribuindo
assim para a construção duma África reconciliada pelos caminhos da
verdade e da justiça, do amor e da paz (cf. Sl 85/84, 11). Com os Padres
sinodais, recordo que, « se o Senhor não edificar a casa, em vão
trabalham os construtores » (Sl 127/126, 1).
3. Uma vitalidade eclesial excepcional e o desenvolvimento teológico
da Igreja como Família de Deus[2] foram os resultados mais visíveis do
Sínodo de 1994. Para dar à Igreja de Deus presente no continente
africano e ilhas adjacentes um novo impulso, carregado de esperança e de
caridade evangélica, pareceu-me necessário convocar uma segunda
Assembleia Sinodal. Sustentadas pela invocação diária do Espírito Santo e
a oração de inumeráveis fiéis, as Sessões sinodais produziram frutos
que eu desejaria, através deste documento, transmitir à Igreja universal
e, de modo particular, à Igreja na África,[3] para que seja
verdadeiramente « sal da terra » e « luz do mundo » (cf. Mt 5,
13.14).[4] Animada por uma « fé que actua pelo amor » (Gl 5, 6), a
Igreja deseja produzir frutos de amor: a reconciliação, a paz e a
justiça (cf. 1 Cor 13, 4-7). Esta é a sua missão específica.
4. A qualidade das intervenções dos Padres sinodais e das outras
pessoas que intervieram durante as Sessões, impressionou-me. O realismo e
a clarividência dos seus contributos demonstraram a maturidade cristã
do continente. Não tiveram medo de olhar de frente a verdade e
procuraram, sinceramente, pensar nas soluções possíveis para os
problemas que enfrentam as suas Igrejas particulares, e também a Igreja
universal. Constataram também que as bênçãos de Deus, Pai de todos, são
incalculáveis. Deus nunca abandona o seu povo. Não me parece necessário
alongar-me sobre as diversas situações sociopolíticas, étnicas,
económicas ou ecológicas que vivem diariamente os africanos e que não
podem ser ignoradas. Os africanos sabem melhor do que ninguém como
demasiadas vezes, infelizmente, estas situações são difíceis, dramáticas
ou mesmo trágicas. Rendo homenagem aos africanos e a todos os cristãos
daquele continente que as enfrentam com coragem e dignidade. Desejam,
com razão, que esta dignidade seja reconhecida e respeitada. Posso
assegurar-lhes que a Igreja respeita e ama a África.
5. Perante os numerosos desafios que a África deseja vencer para se
tornar cada vez mais uma terra de promessas, a Igreja poderia – como
sucedeu a Israel – ser tentada pelo desânimo, mas os nossos antepassados
na fé mostraram-nos a justa atitude a adoptar; assim Moisés, o servo do
Senhor, « pela fé, (…) manteve-se firme, como se contemplasse o
invisível » (Heb 11, 27). Como no-lo recorda o autor da Carta aos
Hebreus, « a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas
que não se vêem » (11, 1). Ora, é este olhar de fé e esperança que
exorto a Igreja inteira a ter com a África. Jesus Cristo, que nos
convidou a ser « o sal da terra » e « a luz do mundo » (Mt 5, 13.14),
oferece-nos a força do Espírito para realizarmos cada vez melhor este
ideal.
6. Na minha ideia, esta palavra de Cristo – « Vós sois o sal da terra
(…) vós sois a luz do mundo » – devia ser o fio condutor do Sínodo e
também do período pós-sinodal. Em Yaoundée, falando ao conjunto dos
fiéis africanos, disse: « Através de Jesus, já lá vão dois mil anos, o
próprio Deus trouxe o sal e a luz à África. Desde então, a semente da
sua presença está enterrada nas profundezas do coração deste amado
continente e germina pouco a pouco através e para além das vicissitudes
da sua história humana ».[5]
7. A Exortação Ecclesia in Africa assumiu « a ideia-chave » da Igreja
« Família de Deus », tendo os Padres sinodais reconhecido nela « uma
expressão da natureza da Igreja, particularmente apropriada para a
África. Com efeito, a imagem acentua a atenção pelo outro, a
solidariedade, as calorosas relações de acolhimento, de diálogo e de
mútua confiança ».[6] A Exortação convida as famílias cristãs africanas a
tornarem-se « igrejas domésticas »,[7] para ajudar as respectivas
comunidades a reconhecer que pertencem a um único e mesmo Corpo. Esta
imagem é importante não só para a Igreja na África mas também para a
Igreja universal, numa época em que a família é ameaçada por aqueles que
querem uma vida sem Deus. Privar de Deus o continente africano
significaria fazê-lo morrer pouco a pouco, tirando-lhe a sua alma.
8. Na tradição viva da Igreja, correspondendo à solicitação da
Exortação Ecclesia in Africa,[8] ver a Igreja como uma família e uma
fraternidade equivale a restaurar um aspecto do seu património. Nesta
realidade em que Jesus Cristo, « o primogénito de muitos irmãos » (Rm 8,
29), reconciliou todos os homens com Deus Pai (cf. Ef 2, 14-18) e deu o
Espírito Santo (cf. Jo 20, 22), a Igreja torna-se, por sua vez,
portadora desta Boa Nova da filiação divina de cada pessoa humana: é
chamada a transmiti-la a toda a humanidade, proclamando a salvação
realizada por Cristo em nosso favor, celebrando a comunhão com Deus e
vivendo a fraternidade na solidariedade.
9. A memória da África guarda a dolorosa recordação das cicatrizes
deixadas pelas lutas fratricidas entre as etnias, pela escravatura e
pela colonização. Ainda hoje o continente se vê confrontado com
rivalidades, com novas formas de escravatura e de colonização. A
primeira Assembleia Especial comparara-o ao homem que tinha caído vítima
dos salteadores, abandonado moribundo na beira da estrada (cf. Lc 10,
25-37). Por isso se pôde falar da « marginalização » da África. Uma
tradição, nascida em terra africana, identifica o bom Samaritano com o
próprio Senhor Jesus e convida à esperança; de facto, Clemente de
Alexandria deixou escrito: « Quem, mais do que Ele, teve piedade de nós,
que estávamos, por assim dizer, condenados à morte pelas potências do
mundo das trevas, prostrados por uma imensidade de feridas, temores,
cobiças, zangas, angústias, mentiras e devassidões? O único médico
destas feridas é Jesus ».[9] Deste modo, há numerosos motivos de
esperança e de acção de graças. Assim, por exemplo, apesar das grandes
pandemias – como o paludismo, a sida, a tuberculose e outras – que
dizimam a sua população e que a medicina procura cada vez mais
eficazmente extirpar, a África mantém a sua alegria de viver, de
celebrar a vida que provém do Criador no acolhimento dos nascituros para
aumentar a família e a comunidade humana. De igual modo vejo um motivo
de esperança no rico património intelectual, cultural e religioso de que
é depositária a África. Esta deseja preservá-lo, explorá-lo ainda mais e
dá-lo a conhecer ao mundo. Trata-se de um contributo essencial e
positivo.
10. A segunda Assembleia Sinodal para a África deteve-se sobre o tema
da reconciliação, da justiça e da paz. A rica documentação que me foi
entregue depois da Assembleia – os Lineamenta, o Instrumentum laboris,
as Relações redigidas antes e depois dos debates, as intervenções e as
considerações dos grupos de trabalho – convida a « transformar a
teologia em pastoral, isto é, num ministério pastoral muito concreto, no
qual as grandes visões da Sagrada Escritura e da Tradição sejam
aplicadas à acção dos bispos e dos sacerdotes num tempo e num lugar
determinados ».[10]
11. Assim, movido por solicitude paterna e pastoral, dirijo este
documento à África de hoje, que conheceu os traumas e os conflitos que
sabemos. O homem é plasmado pelo seu passado, mas vive e caminha no
presente; e olha para o futuro. Como o resto do mundo, a África vive um
choque cultural que ameaça os alicerces milenários da vida social e, por
vezes, torna difícil o encontro com a modernidade. Nesta crise
antropológica com que se debate, o continente africano poderá encontrar
caminhos de esperança instaurando um diálogo entre os membros dos seus
diversos componentes religiosos, sociais, políticos, económicos,
culturais e científicos. Para isso terá necessidade de encontrar e
promover uma concepção da pessoa e da sua relação com a realidade
assente numa profunda renovação espiritual.
12. Na Exortação Ecclesia in Africa, João Paulo II sublinhava que,
« apesar da civilização contemporânea lembrar uma “aldeia global”, na
África, como aliás noutras partes do mundo, o espírito de diálogo, de
paz e reconciliação está ainda longe de habitar no coração de todos os
homens. As guerras, os conflitos, os comportamentos racistas e xenófobos
ainda dominam demasiadamente o mundo das relações humanas ».[11] A
esperança, que caracteriza uma vida autenticamente cristã, recorda-nos
que o Espírito Santo está em acção por todo o lado, inclusive no
continente africano, e que as forças da vida, que nascem do amor,
prevalecem sempre sobre as forças da morte
(cf. Ct 8, 6-7). Por isso, os Padres sinodais viram que as dificuldades encontradas pelos países e Igrejas particulares da África não constituíam obstáculos intransponíveis; antes, eram um desafio lançado ao que de melhor há em nós: à nossa imaginação, à nossa inteligência, à nossa vocação de seguir sem reservas os passos de Jesus Cristo, de procurar Deus, « Amor eterno e Verdade absoluta ».[12] E a Igreja, com todos os protagonistas da sociedade africana, sente-se chamada a aceitar estes desafios. De certo modo, é um imperativo do Evangelho.
(cf. Ct 8, 6-7). Por isso, os Padres sinodais viram que as dificuldades encontradas pelos países e Igrejas particulares da África não constituíam obstáculos intransponíveis; antes, eram um desafio lançado ao que de melhor há em nós: à nossa imaginação, à nossa inteligência, à nossa vocação de seguir sem reservas os passos de Jesus Cristo, de procurar Deus, « Amor eterno e Verdade absoluta ».[12] E a Igreja, com todos os protagonistas da sociedade africana, sente-se chamada a aceitar estes desafios. De certo modo, é um imperativo do Evangelho.
13. Através deste documento, desejo oferecer os frutos e os estímulos
do Sínodo e convido todos os homens e mulheres de boa vontade a
considerar a África com um olhar de fé e caridade, para a ajudar a
tornar-se, por meio de Cristo e do Espírito Santo, luz do mundo e sal da
terra (cf. Mt 5, 13.14). Um tesouro precioso está presente na alma da
África, onde vislumbro « um imenso “pulmão” espiritual para uma
humanidade que se apresenta em crise de fé e de esperança »,[13] graças
às extraordinárias riquezas humanas e espirituais dos seus filhos, das
suas variadas culturas, do seu solo e subsolo com imensos recursos.
Entretanto, para se manter de pé com dignidade, a África tem necessidade
de ouvir a voz de Cristo que, hoje, proclama o amor pelo outro,
incluindo o inimigo, até ao dom da própria vida e que, hoje, reza pela
unidade e a comunhão de todos os homens em Deus (cf. Jo 17, 20-21).
I PARTE - « EU RENOVO TODAS AS COISAS »(Ap 21, 5)
14. O Sínodo permitiu discernir os pontos fulcrais da missão para uma
África que aspira pela reconciliação, a justiça e a paz. Compete às
Igrejas particulares traduzir estes pontos em « ardorosos propósitos e
directrizes concretas de acção ».[14] Com efeito, é « nas Igrejas locais
que se podem estabelecer as linhas programáticas concretas
– objectivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes, busca dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade, através do testemunho dos valores evangélicos, a sociedade e a cultura »[15] africanas.
– objectivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes, busca dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade, através do testemunho dos valores evangélicos, a sociedade e a cultura »[15] africanas.
Capítulo I - AO SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO, DA JUSTIÇA E DA PAZ
15. Uma África, que avança jubilosa e viva, exprime o louvor de Deus,
como sublinhava Santo Ireneu: « A glória de Deus é o homem vivo ». Mas
acrescenta imediatamente: « A vida do homem é a visão de Deus ».[16] Por
isso, ainda hoje, a tarefa essencial da Igreja é levar a mensagem do
Evangelho ao coração das sociedades africanas, conduzir rumo à visão de
Deus. Como o sal dá sabor aos alimentos, assim esta mensagem faz das
pessoas que a vivem autênticas testemunhas. Todos aqueles que assim
crescerem, tornam-se capazes de se reconciliar em Jesus Cristo;
tornam-se lâmpadas para os seus irmãos. Deste modo, juntamente com os
Padres do Sínodo, convido « a Igreja na África a ser testemunha no
serviço da reconciliação, da justiça e da paz, como “sal da terra” e
“luz do mundo” »,[17] para que a sua vida corresponda a este apelo:
« Igreja na África, família de Deus, levanta-te, porque te chama o Pai
celeste! ».[18]
16. É significativo que Deus tenha permitido que o segundo Sínodo
para a África fosse celebrado imediatamente depois do Sínodo consagrado à
Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Este Sínodo lembrou o
dever imperioso que tem o discípulo de perceber Cristo que chama através
da sua Palavra. Por meio dela, os fiéis aprendem a escutar Cristo e a
deixar-se guiar pelo Espírito Santo que nos revela o sentido de todas as
coisas (cf. Jo 16, 13). Com efeito, « a leitura e a meditação da
Palavra de Deus radicam-nos mais profundamente em Cristo e orientam o
nosso ministério de servidores da reconciliação, da justiça e da
paz ».[19] Como recordava o mesmo Sínodo, « para se tornar seus irmãos e
suas irmãs, é necessário ser daqueles que “ouvem a Palavra de Deus e a
põem em prática” (Lc 8, 21). A escuta autêntica é obedecer e agir, é
fazer desabrochar na vida a justiça e o amor, é oferecer na existência e
na sociedade um testemunho na linha do apelo dos profetas, que unia
constantemente Palavra de Deus e vida, fé e rectidão, culto e
compromisso social ».[20] Escutar e meditar a Palavra de Deus significa
desejar que esta penetre e modele a nossa vida para nos reconciliar com
Deus, para permitir a Deus que nos conduza a uma reconciliação com o
próximo, caminho indispensável para a construção duma comunidade de
pessoas e de povos. Que a Palavra de Deus encarne verdadeiramente nos
nossos corações e nas nossas vidas!
17. Os três conceitos principais do tema sinodal, ou seja, a
reconciliação, a justiça e a paz, fizeram o Sínodo confrontar-se com a
sua « responsabilidade teológica e social »[21] e permitiram
interrogar-se também sobre a função pública da Igreja e o seu lugar no
contexto africano actual.[22] « Poder-se-ia dizer que reconciliação e
justiça sejam os dois pressupostos essenciais da paz e, por conseguinte,
definam em certa medida também a sua natureza ».[23] A tarefa que
devemos especificar não é fácil, porque se situa entre o empenho
imediato em política – que não entra nas competências directas da Igreja
– e a retirada ou a evasão para teorias teológicas e espirituais, com o
risco de constituir uma fuga diante duma responsabilidade concreta na
história humana.
18. « Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz » – diz o Senhor, que
acrescenta – « Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou » (Jo 14, 27). A
paz dos homens, que se obtenha sem a justiça, é ilusória e efémera. A
justiça dos homens, que não tenha a sua fonte na reconciliação através
da verdade na caridade (cf. Ef 4, 15), permanece incompleta; não é
autêntica justiça. É o amor da verdade – « a verdade completa », para a
qual só o Espírito nos pode guiar (cf. Jo 16, 13) – que traça o caminho
que toda a justiça humana deve tomar, para chegar à restauração dos
laços de fraternidade na « família humana, comunidade de paz »,[24]
reconciliada com Deus por Jesus Cristo. A justiça não é desencarnada;
está necessariamente ancorada na coerência humana. Uma caridade, que não
respeite a justiça e o direito de todos, é falsa. Por isso, encorajo os
cristãos a tornarem-se modelos em matéria de justiça e caridade (cf. Mt
5, 19-20).
19. « A reconciliação é um conceito pré-político e uma realidade
pré-política, que, por isso mesmo, se revela da máxima importância para a
própria tarefa política. Se não se criar nos corações a força da
reconciliação, falta o pressuposto interior para o compromisso político
pela paz. No Sínodo, os Pastores da Igreja comprometeram-se em prol
daquela purificação interior do homem que constitui a condição
preliminar essencial para a edificação da justiça e da paz. Mas esta
purificação e maturação interior rumo a uma verdadeira humanidade não
podem existir sem Deus ».[25]
20. Com efeito, é a graça de Deus que nos dá um coração novo e nos
reconcilia com Ele e com os outros.[26] Foi Cristo que restabeleceu a
humanidade no amor do Pai. Consequentemente, a reconciliação tem a sua
fonte neste amor; nasce da iniciativa que o Pai tomou de renovar a
relação com a humanidade, relação rompida com o pecado do homem. Em
Jesus Cristo, « na sua vida e no seu ministério, mas especialmente na
sua morte e ressurreição, o apóstolo Paulo viu Deus Pai que reconcilia o
mundo (todas as coisas no céu e na terra) consigo mesmo, cancelando os
pecados dos homens (cf. 2 Cor 5, 19; Rm 5, 10, Cl 1, 21-22). O Apóstolo
viu Deus reconciliar consigo mesmo judeus e gentios, formando dos dois
povos um só corpo através da cruz (cf. Ef 2, 15; 3, 6). Deste modo, a
experiência da reconciliação estabelece a comunhão a dois níveis: por um
lado, a comunhão entre Deus e os homens e, por outro, dado que a
referida experiência faz de nós (humanidade reconciliada) também
“embaixadores da reconciliação”, ela restabelece igualmente a comunhão
entre os homens ».[27] Portanto « a reconciliação não se limita ao
desígnio que Deus tem de reconduzir a Si, em Cristo, a humanidade
alienada e pecadora, através do perdão dos pecados e por meio do amor. É
também a restauração das relações entre as pessoas mediante a
harmonização das diferenças e a supressão dos obstáculos ao seu
relacionamento através da experiência do amor de Deus ».[28] Bem o
ilustra a parábola do filho pródigo quando o evangelista nos apresenta,
no regresso do filho mais novo, isto é, na sua conversão, a necessidade
de se reconciliar, por um lado, com seu pai e, por outro, com seu irmão
mais velho graças à mediação do pai (cf. Lc 15, 11-32). Testemunhos
comovedores de fiéis africanos, « testemunhos concretos de sofrimento e
de reconciliação nas tragédias da história recente do continente »[29]
mostraram a força do Espírito que transforma os corações das vítimas e
dos seus verdugos para restabelecer a fraternidade.[30]
21. De facto, só uma autêntica reconciliação gera uma paz duradoura
na sociedade. Seus protagonistas são, sem dúvida, as autoridades
governamentais e os chefes tradicionais, mas são-no igualmente os
simples cidadãos. Depois de um conflito, a reconciliação muitas vezes
conduzida e efectuada no silêncio e com discrição restaura a união dos
corações e a serena convivência. Graças a ela, depois de longos períodos
de guerra, as nações reencontram a paz, as sociedades profundamente
feridas pela guerra civil ou pelo genocídio reconstroem a sua unidade.
Foi oferecendo e acolhendo o perdão[31] que as memórias feridas das
pessoas ou das comunidades se puderam curar, e as famílias outrora
divididas reencontraram a harmonia. Como fizeram questão de sublinhar os
Padres do Sínodo, « a reconciliação supera as crises, restaura a
dignidade das pessoas e abre o caminho ao progresso e à paz duradoura
entre os povos, a todos os níveis ».[32]
Esta reconciliação, para se tornar efectiva, deverá ser acompanhada
por um acto corajoso e honesto: a busca dos responsáveis destes
conflitos, daqueles que financiaram os crimes e se dedicam a todo o tipo
de tráficos, e a determinação das suas responsabilidades. As vítimas
têm direito à verdade e à justiça. É importante no presente e para o
futuro purificar a memória, a fim de construir uma sociedade melhor,
onde nunca mais se repitam semelhantes tragédias.
22. A construção duma ordem social justa compete, sem dúvida, à
esfera política.[33] Entretanto, uma das tarefas da Igreja na África é
formar consciências rectas e sensíveis às exigências da justiça, para
que maturem mulheres e homens solícitos e capazes de realizar esta ordem
social justa com a sua conduta responsável. O modelo por excelência, a
partir do qual a Igreja pensa e raciocina e que propõe a todos, é
Cristo.[34] Segundo a sua doutrina social, « a Igreja não tem soluções
técnicas para oferecer e não pretende “de modo algum imiscuir-se na
política dos Estados”; mas tem uma missão ao serviço da verdade para
cumprir (…), uma missão irrenunciável. A sua doutrina social é um
momento singular deste anúncio: é serviço à verdade que liberta ».[35]
23. Graças às Comissões « Justiça e Paz », a Igreja está comprometida
na formação cívica dos cidadãos e no acompanhamento dos processos
eleitorais em diversos países. Contribui assim para a educação das
populações e para o despertar da sua consciência e da sua
responsabilidade civil. Esta peculiar função educativa é apreciada por
um grande número de países que reconhecem a Igreja como artífice de paz,
agente de reconciliação e arauto da justiça. Mas convém não esquecer
jamais que a missão da Igreja, embora distinguindo o papel dos Pastores
daquele que têm os fiéis leigos, não é de ordem política.[36] A sua
função é educar o mundo para o sentido religioso, proclamando Jesus
Cristo. A Igreja quer ser o sinal e a salvaguarda da transcendência da
pessoa humana. Deve igualmente educar os homens para a busca da verdade
suprema a respeito do seu ser e das suas questões, a fim de encontrar
soluções justas para os seus problemas.[37]
24. No plano social, a consciência humana é interpelada por graves
injustiças presentes no nosso mundo em geral, e no seio da África em
particular. O açambarcamento dos bens da terra por uma minoria em
detrimento de povos inteiros é inaceitável porque imoral. A justiça
obriga a « dar o seu a seu dono – ius suum unicuique tribuere ».[38]
Trata-se, portanto, de fazer justiça aos povos. A África é capaz de
garantir a todos os indivíduos e nações do continente as condições
basilares que lhes permitam participar no desenvolvimento.[39] Deste
modo, os africanos poderão colocar os talentos e as riquezas que Deus
lhes deu ao serviço da sua terra e dos seus irmãos. A justiça, praticada
em todas as dimensões da vida – privada e pública, económica e social –
precisa de ser sustentada pela subsidiariedade e a solidariedade e,
mais ainda, de ser animada pela caridade. « Segundo o princípio da
subsidiariedade, nem o Estado nem qualquer sociedade mais abrangente
devem substituir-se à iniciativa e à responsabilidade das pessoas e dos
corpos intermédios ».[40] A solidariedade é garantia da justiça e da paz
e, consequentemente, da unidade, de tal modo que « a abundância de uns
supra a carência dos outros ».[41] E a caridade, que assegura a união
com Deus, ultrapassa a justiça distributiva. Porque, se « a justiça é a
virtude que distribui a cada um o bem que lhe pertence (…), não é
justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus ».[42]
25. O próprio Deus nos mostra a verdadeira justiça, quando, por
exemplo, vemos Jesus entrar na vida de Zaqueu e, deste modo, oferecer ao
pecador a graça da sua presença (cf. Lc 19, 1-10). E qual é então esta
justiça de Cristo? As testemunhas daquele encontro com Zaqueu observam
Jesus (cf. Lc 19, 7); a sua murmuração desabonatória pretende ser uma
expressão do amor pela justiça. Elas, porém, ignoram a justiça do amor
que vai até ao extremo de tomar sobre si a « maldição » devida aos
homens, para estes receberem, em troca, a « bênção » que é o dom de Deus
(cf. Gl 3, 13-14). A justiça divina oferece à justiça humana, sempre
limitada e imperfeita, o horizonte para onde deve tender a fim de se
realizar plenamente. Além disso faz-nos tomar consciência da nossa
indigência, da necessidade do perdão e da amizade de Deus. É aquilo que
vivemos nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, que derivam da
acção de Cristo. Esta acção introduz-nos numa justiça em que recebemos
muito mais do que poderíamos legitimamente esperar, porque, em Cristo, a
caridade é o cumprimento da Lei (cf. Rm 13, 8-10).[43] Por intermédio
de Cristo, modelo único, o justo é convidado a entrar na ordem do
amor-agape.
2. Criar uma ordem justa na lógica das Bem-aventuranças
26. Unido ao seu Mestre, o discípulo de Cristo deve contribuir para
formar uma sociedade justa, onde todos possam participar activamente com
os seus talentos na vida social e económica. Poderão assim ganhar o que
lhes é necessário para viverem de acordo com a sua dignidade humana,
numa sociedade onde a justiça será vivificada pelo amor.[44] Cristo não
propôs uma revolução de tipo social ou político, mas a do amor,
realizada no dom total de Si mesmo com a sua morte na cruz e a sua
ressurreição. É sobre esta revolução do amor que se baseiam as
Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-10). Estas proporcionam um novo horizonte
de justiça inaugurado no mistério pascal e em virtude do qual nos
podemos tornar justos e construir um mundo melhor. A justiça de Deus,
que as Bem-aventuranças nos revelam, eleva os humildes e derruba os que
se exaltam. Na verdade, aquela só alcançará a sua perfeição no Reino de
Deus que se realizará no fim dos tempos; mas a justiça de Deus
manifesta-se já agora, quando os pobres são consolados e admitidos ao
banquete da vida.
27. Segundo a lógica das Bem-aventuranças, deve ser dada uma atenção
preferencial ao pobre, ao faminto, ao doente – por exemplo, com a sida, a
tuberculose ou o paludismo –, ao estrangeiro, ao oprimido, ao
prisioneiro, ao emigrante desprezado, ao refugiado ou ao deslocado (cf.
Mt 25, 31-46). A resposta às suas necessidades, na justiça e na
caridade, depende de todos. A África espera esta solicitude da família
humana inteira, e também de si mesma.[45] Entretanto deverá,
decididamente, começar por introduzir no seu próprio seio a justiça
política, social e administrativa, elementos da cultura política
necessária para o desenvolvimento e a paz. A Igreja, por sua vez,
prestará a sua contribuição específica, apoiando-se na doutrina das
Bem-aventuranças.
28. A perspectiva social, proposta pelo agir de Cristo fundado no
amor, transcende o mínimo que a justiça humana exige, ou seja, dar ao
outro o que lhe é devido. A lógica interna do amor supera esta justiça,
chegando ao ponto de dar o que se possui:[46] « Não amemos com palavras
nem com a boca, mas com obras e com verdade » (1 Jo 3, 18). À semelhança
do seu Mestre, o discípulo de Cristo irá ainda mais longe, chegando ao
dom de si mesmo pelos irmãos (cf. 1 Jo 3, 16). É o preço da paz
autêntica em Deus (cf. Ef 2, 14).
29. Nenhuma sociedade, mesmo desenvolvida, pode prescindir do serviço
fraterno animado pelo amor. « Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se
para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento que
necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre
também situações de necessidade material, para as quais é indispensável
uma ajuda na linha de um amor concreto ao próximo ».[47] É o amor que
acalma os corações feridos, sós, abandonados; é o amor que gera a paz ou
a restabelece no coração humano, e a instaura entre os homens.
2. A Igreja como uma sentinela
30. Na situação actual da África, a Igreja é chamada a fazer ouvir a
voz de Cristo. A sua vontade é dar seguimento à recomendação de Jesus a
Nicodemos, que se interrogava sobre a possibilidade de nascer de novo:
« Vós tendes de nascer do alto » (Jo 3, 7). Os missionários propuseram
aos africanos este novo nascimento « da água e do Espírito » (Jo 3, 5),
uma Boa Notícia que toda a pessoa tem o direito de ouvir, para poder
realizar plenamente a sua vocação.[48] A Igreja na África vive desta
herança; por causa de Cristo e fiel à sua lição de vida, ela sente-se
impelida a estar presente nas situações onde a humanidade conhece o
sofrimento e fazer-se eco do grito silencioso dos inocentes perseguidos
ou dos povos cujos governantes, em nome de interesses pessoais,
hipotecam o presente e o futuro.[49] Com a sua capacidade de reconhecer o
rosto de Cristo no da criança, do doente, do atribulado ou do
necessitado, a Igreja contribui para forjar, lenta mas solidamente, a
nova África. Na sua função profética, sempre que os povos lhe bradam:
« Sentinela, quanto resta da noite? » (Is 21, 11), a Igreja quer estar
pronta para dar razão da esperança que traz em si (cf. 1 Ped 3, 15),
porque uma nova alvorada surge no horizonte (cf. Ap 22, 5). Só a recusa
da desumanização do homem e da abdicação com medo da prova ou do
martírio servirá a causa do Evangelho da verdade. « No mundo – diz
Cristo –, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o
mundo » (Jo 16, 33). A paz autêntica vem de Cristo (cf. Jo 14, 27). Mas
não é comparável à paz do mundo: não é fruto de negociações e de acordos
diplomáticos fundados sobre interesses; é a paz da humanidade
reconciliada consigo mesma em Deus, e cujo sacramento é a Igreja.[50]
Capítulo II - OS CANTEIROS PARA A CONSTRUÇÃO DA RECONCILIAÇÃO,
DA JUSTIÇA E DA PAZ
DA JUSTIÇA E DA PAZ
31. Queria agora indicar alguns canteiros de obras que os Padres
sinodais identificaram para a missão actual da Igreja, na sua solicitude
por ajudar a África a emancipar-se das forças que a paralisam.
Porventura Cristo não começou por dizer ao paralítico: « Os teus pecados
estão perdoados »; e depois: « Levanta-te! » (Lc 5, 20.24)?
I. A atenção à pessoa humana
A. A metanoia: uma autêntica conversão
32. A maior preocupação dos membros do Sínodo, relativamente à
situação do continente, foi ver como colocar no coração dos africanos,
que são discípulos de Cristo, a vontade de se comprometerem
efectivamente a viver o Evangelho na sua existência e na sociedade.
Cristo chama constantemente à metanoia, à conversão.[51] Os cristãos
estão sob o influxo do espírito e dos hábitos do seu tempo e do seu
ambiente; mas, pela graça do seu Baptismo, são convidados a renunciar às
tendências nocivas imperantes e a caminhar contra--corrente. Um tal
testemunho exige um decidido compromisso por « uma conversão contínua ao
Pai, fonte de toda a vida verdadeira, o único capaz de nos libertar do
mal e de toda a tentação e de nos conservar no seu Espírito, mesmo no
meio do combate contra as forças do mal ».[52] Esta conversão só é
possível apoiando-se sobre convicções de fé consolidadas por uma
catequese autêntica; por isso convém « manter viva a passagem do
catecismo memorizado à catequese vivida, para se chegar a uma conversão
profunda e permanente de vida ».[53] A conversão vive-se de modo
particular no sacramento da Reconciliação, ao qual há que prestar uma
singular atenção para fazer dele uma verdadeira « escola do coração ».
Nesta escola, o discípulo de Cristo vê forjar-se pouco a pouco uma vida
cristã adulta, atenta às dimensões teologais e morais dos seus actos, e
deste modo torna-se capaz de « enfrentar as dificuldades da vida social,
política, económica e cultural »,[54] através duma vida permeada pelo
espírito evangélico. A contribuição dos cristãos na África só será
decisiva se a inteligência da fé conduzir à inteligência da
realidade.[55] Por isso, é indispensável a educação para a fé, senão
Cristo não passará de um nome acrescentado às nossas teorias. A palavra e
o testemunho de vida caminham lado a lado.[56] Com efeito, o simples
testemunho não basta, porque « ainda o mais belo testemunho virá a
demonstrar-se com o andar do tempo impotente, se não vier a ser
esclarecido, justificado – aquilo que Pedro chamava dar “a razão da
própria esperança” (1 Ped 3, 15) – explicitado por um anúncio claro e
inequívoco do Senhor Jesus ».[57]
B. Viver a verdade do sacramento da Penitência e da Reconciliação
33. Os membros do Sínodo sublinharam ainda que um grande número de
cristãos na África adoptam uma atitude ambígua relativamente à
celebração do sacramento da Reconciliação, dado que frequentemente estes
mesmos cristãos são muito escrupulosos na aplicação dos ritos
tradicionais de reconciliação. Para ajudar os fiéis católicos a viverem
um autêntico caminho de metanoia na celebração deste sacramento, onde a
mentalidade inteira se orienta novamente para o encontro com Cristo,[58]
seria bom que os bispos fizessem estudar seriamente as cerimónias
tradicionais africanas de reconciliação para avaliar os seus aspectos
positivos e os seus limites. De facto, estas mediações pedagógicas
tradicionais[59] não podem, em caso algum, substituir o sacramento; a
Exortação apostólica pós-sinodal Reconciliatio et Pænitentia, do Beato
João Paulo II, recordou claramente quais são as formas e o ministro do
sacramento da Penitência e da Reconciliação.[60] As mediações
pedagógicas tradicionais podem apenas contribuir para reduzir a
dilaceração sentida e vivida por alguns fiéis, ajudando-os a abrir-se
com maior profundidade e verdade a Cristo, o Único grande Mediador, para
receberem a graça do sacramento da Penitência. Celebrado na fé, este
sacramento é suficiente para nos reconciliar com Deus e com o
próximo.[61] No fim de contas, é Deus que, em seu Filho, nos reconcilia
consigo e com os outros.
C. Uma espiritualidade de comunhão
34. A reconciliação não é um acto isolado, mas um longo processo em
virtude do qual cada um se vê restabelecido no amor; um amor, que cura
por acção da Palavra de Deus. Deste modo a reconciliação torna-se uma
maneira de viver e, ao mesmo tempo, uma missão. A Igreja, para chegar a
uma verdadeira reconciliação e, através da reconciliação, praticar a
espiritualidade de comunhão, precisa de testemunhas que estejam
profundamente radicadas em Cristo e se alimentem da sua Palavra e dos
Sacramentos. Tendendo assim para a santidade, estas testemunhas serão
capazes de se comprometer na obra de comunhão da Família de Deus,
comunicando ao mundo – até ao martírio, se for preciso – o espírito de
reconciliação, de justiça e de paz, a exemplo de Cristo.
35. Queria recordar aqui as condições para uma espiritualidade de
comunhão que o Papa João Paulo II propusera à Igreja inteira: ser capaz
de perceber a luz do mistério da Trindade no rosto dos irmãos que estão
ao nosso redor;[62] mostrar-se solícito com o « irmão de fé na unidade
profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz parte de mim”, para
saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os
seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma
verdadeira e profunda amizade »;[63] conseguir também reconhecer o que
há de positivo no outro, para o acolher e valorizar como um dom que Deus
me concede através daquele que o recebeu para proveito comum,
tornando-se assim um administrador das graças divinas; enfim, « saber
“criar espaço” para o irmão, levando “os fardos uns dos outros” (Gl 6,
2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram
competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes ».[64]
Deste modo amadurecem homens e mulheres de fé e comunhão, que dão
provas de coragem na verdade e na abnegação e irradiam a alegria. Assim
testemunham profeticamenteo uma vida coerente com a sua fé. Maria, Mãe
da Igreja, que soube acolher a Palavra de Deus, é o seu modelo: através
da escuta da Palavra, Ela soube perceber as necessidades dos homens e,
movida de compaixão, interceder por eles.[65]
D. A inculturação do Evangelho e a evangelização da cultura
36. Para realizar esta comunhão, seria bom retomar o estudo profundo
das tradições e culturas africanas, uma necessidade já evocada durante a
primeira Assembleia Sinodal para a África. Os membros do Sínodo
constataram a existência duma dicotomia entre certas práticas
tradicionais das culturas africanas e as exigências específicas da
mensagem de Cristo. A preocupação com a sua pertinência e credibilidade
impõe à Igreja um discernimento aprofundado para identificar tanto os
aspectos da cultura que são de obstáculo à encarnação dos valores do
Evangelho, como aqueles que os promovem.[66]
37. Entretanto convém não esquecer que o autêntico protagonista da
inculturação é o Espírito Santo. É Ele que « preside de modo fecundo ao
diálogo entre a Palavra de Deus, que se revelou em Cristo, e as
solicitações mais profundas que brotam da multiplicidade das pessoas e
das culturas. Continua assim, na história, o evento do Pentecostes que
se enriquece através da diversidade das linguagens e das culturas na
unidade duma única e mesma fé ».[67] O Espírito Santo faz com que o
Evangelho seja capaz de impregnar todas as culturas, sem se deixar
subjugar por nenhuma.[68] Os bispos terão a peito vigiar sobre esta
exigência de inculturação no respeito das normas estabelecidas pela
Igreja. Discernir os elementos culturais e as tradições que são
contrários ao Evangelho tornará possível separar o trigo bom do joio
(cf. Mt 13, 26). Assim o cristianismo, embora permanecendo plenamente o
que é, na fidelidade absoluta ao anúncio evangélico e à tradição
eclesial, revestirá a fisionomia de inumeráveis culturas e dos povos
onde for acolhido e lançar raízes. Então a Igreja tornar-se-á um ícone
do futuro que o Espírito de Deus nos prepara,[69] ícone para o qual a
África dará a sua própria contribuição. Nesta actividade de
inculturação, convém não esquecer a tarefa – também esta essencial – da
evangelização do mundo da cultura contemporânea africana.
38. São conhecidas as iniciativas da Igreja em prol da avaliação
positiva e salvaguarda das culturas africanas. É muito importante
continuar este serviço, dado que a amálgama dos povos, apesar de
constituir um enriquecimento, frequentemente debilita as culturas e as
sociedades. A identidade das comunidades africanas joga-se nestes
encontros entre culturas. Por isso é necessário esforçar-se por
transmitir os valores que o Criador inscreveu nos corações dos africanos
desde tempos imemoriais. Aqueles serviram de matriz para modelar
sociedades que se desenvolvem segundo uma determinada harmonia, porque
contêm em si mesmas modos tradicionais de regulação para uma pacífica
convivência. Trata-se, pois, de valorizar estes elementos positivos,
iluminando-os a partir de dentro (cf. Jo 8, 12), para que o cristão seja
efectivamente atingido pela mensagem de Cristo e, deste modo, a luz de
Deus possa brilhar aos olhos dos homens. Então vendo as boas obras dos
cristãos, os homens e as mulheres poderão glorificar « o Pai, que está
nos céus » (Mt 5, 16).
39. Ultrapassando diferenças de origem ou de cultura, o grande
desafio que nos espera a todos é discernir, na pessoa humana amada por
Deus, o fundamento duma comunhão que respeite e integre as contribuições
particulares das diversas culturas.[70] « Devemos abrir realmente estas
fronteiras entre tribos, etnias, religiões à universalidade do amor de
Deus ».[71] Homens e mulheres diversos por origem, cultura, língua ou
religião podem viver juntos harmoniosamente.
40. Com efeito, o Filho de Deus colocou a sua tenda no meio de nós;
derramou o seu Sangue por nós. De acordo com a sua promessa de
permanecer connosco até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 20), cada dia
dá-Se a nós como alimento na Eucaristia e na Sagrada Escritura. Como
escrevi na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, « Palavra e
Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser
compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne,
sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à
inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e
explica o mistério eucarístico ».[72]
41. Na realidade, a Sagrada Escritura atesta que, através do
Baptismo, o Sangue derramado por Cristo torna-se início e vínculo duma
nova fraternidade. Esta situa-se no pólo oposto da divisão, do
tribalismo, do racismo, do etnocentrismo (cf. Gl 3, 26-28). A Eucaristia
é a força que congrega os filhos de Deus dispersos e os mantém em
comunhão,[73] « dado que, nas nossas veias, circula o mesmo Sangue de
Cristo, que faz de nós filhos de Deus, membros da Família de Deus ».[74]
Tendo recebido Jesus na Eucaristia e na Sagrada Escritura, somos
enviados ao mundo para lhe oferecer Cristo colocando-nos ao serviço dos
outros (cf. Jo 13, 15; 1 Jo 3, 16).[75]
A. A família
42. A família é o « santuário da vida » e célula vital da sociedade e
da Igreja. É nela que « se plasma o rosto de um povo; é nela que os
seus membros adquirem os ensinamentos fundamentais. Nela aprendem a
amar, enquanto são amados gratuitamente; aprendem o respeito por
qualquer outra pessoa, enquanto são respeitados; aprendem a conhecer o
rosto de Deus, enquanto recebem a sua primeira revelação de um pai e de
uma mãe cheios de atenção. Sempre que falham estas experiências
basilares, a sociedade no seu conjunto sofre violência e torna-se, por
sua vez, geradora de múltiplas violências ».[76]
43. A família é, sem dúvida, o lugar propício para a aprendizagem e a
prática da cultura do perdão, da paz e da reconciliação. « Numa vida
familiar sã, experimentam-se algumas componentes fundamentais da paz: a
justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade
manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis
porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da
vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário,
perdoá-lo. Por isso a família é a primeira e insubstituível educadora
para a paz ».[77] Em virtude desta sua importância capital e das ameaças
que gravam sobre a instituição – a distorção do conceito de matrimónio e
mesmo de família, a desvalorização da maternidade e a banalização do
aborto, a facilitação do divórcio e o relativismo duma « nova ética » –,
a família precisa de ser protegida e defendida,[78] para poder prestar à
sociedade o serviço que dela se espera, isto é, dar-lhe homens e
mulheres capazes de construir um tecido social de paz e harmonia.
44. Por isso encorajo vivamente as famílias a haurirem inspiração e
força no sacramento da Eucaristia, para viver a novidade radical trazida
por Cristo ao coração das condições comuns da existência; novidade que
leva cada pessoa a ser uma testemunha capaz de irradiar luz no seu
ambiente de trabalho e na sociedade inteira. « O amor entre o homem e a
mulher, o acolhimento da vida, a missão educadora aparecem como âmbitos
privilegiados onde a Eucaristia pode mostrar a sua capacidade de
transformar e encher de significado a existência ».[79] Vê-se claramente
que a participação na Eucaristia dominical é exigida pela consciência
cristã e, ao mesmo tempo, forma-a.[80]
45. Aliás reservar na família o lugar devido à oração, pessoal e
comunitária, significa respeitar um princípio essencial da visão cristã
da vida: o primado da graça. A oração recorda-nos constantemente o
primado de Cristo e, relacionado com ele, o primado da vida interior e
da santidade. O diálogo com Deus abre o coração ao fluxo da graça e
permite à Palavra de Cristo passar através de nós com toda a sua força!
Para isso é necessária, no seio das famílias, a escuta assídua e a
leitura atenta da Sagrada Escritura.[81]
46. Além disso, « a missão educativa da família cristã é um
verdadeiro ministério, através do qual é transmitido e irradiado o
Evangelho, a tal ponto que toda a vida familiar se torna itinerário de
fé e, em certa medida, iniciação cristã e escola de vida para seguir a
Cristo. Na família consciente deste dom, como escreveu Paulo VI, “todos
os membros evangelizam e são evangelizados”. Em virtude deste ministério
da educação, os pais, através do seu testemunho de vida, são os
primeiros anunciadores do Evangelho junto dos seus filhos. (…) Tornam-se
plenamente pais, no sentido que geram não só para a vida segundo a
carne mas também para aquela que, através do renascimento no Espírito,
brota da Cruz e da Ressurreição de Cristo ».[82]
47. Na África, as pessoas idosas são rodeadas duma veneração
particular. Não são banidas das famílias ou marginalizadas, como sucede
noutras culturas; pelo contrário, são estimadas e perfeitamente
integradas na sua própria família, da qual constituem o vértice. Esta
bela realidade africana deveria inspirar as sociedades ocidentais para
acolherem a velhice com maior dignidade. A Sagrada Escritura fala, com
frequência, das pessoas idosas. « A experiência consumada é coroa dos
anciãos, e o temor do Senhor é a sua glória » (Sir 25, 6). A velhice,
apesar da fragilidade que parece caracterizá-la, é um dom que convém
viver diariamente na serena disponibilidade para com Deus e o próximo. É
também o tempo da sabedoria, porque o tempo vivido ensinou a grandeza e
a precariedade da vida. E, enquanto homem de fé, o velho Simeão
profere, com entusiasmo e sabedoria, não um adeus angustiado à vida mas
uma acção de graças ao Salvador do mundo (cf. Lc 2, 25-32).
48. É por causa desta sabedoria, adquirida por vezes a caro preço,
que as pessoas idosas podem agir de diversas maneiras sobre a família. A
sua experiência leva-as, naturalmente, não só a preencher o fosso entre
as gerações mas também a afirmar a necessidade da interdependência
humana. São um tesouro para todos os componentes da família, sobretudo
para os casais jovens e os filhos que neles encontram compreensão e
amor. Não tendo transmitido apenas a vida, as pessoas idosas contribuem,
pelo seu comportamento, para consolidar a sua família (cf. Tt 2, 2-5)
e, pela sua oração e vida de fé, para enriquecer espiritualmente todos
os membros da sua família e da comunidade.
49. Na África, muitas vezes a estabilidade e a ordem social estão
ainda confiadas a um conselho de anciãos ou a chefes tradicionais.
Através destas formas, as pessoas idosas podem contribuir de maneira
eficaz para a edificação duma sociedade mais justa que progride, não em
virtude de experiências talvez temerárias, mas gradualmente e com um
equilíbrio prudente. As pessoas idosas poderão assim, pela sua sabedoria
e experiência, participar na reconciliação das pessoas e das
comunidades.
50. A Igreja considera com muita estima as pessoas idosas. Com o
Beato João Paulo II, desejo reiterar-vos: « A Igreja precisa de vós. Mas
também a sociedade civil tem necessidade de vós. (…) Sabei empregar com
generosidade o tempo que tendes à disposição e os talentos que Deus vos
concedeu (…). Contribuí para anunciar o Evangelho (…). Dedicai tempo e
energias à oração ».[83]
51. Na família, os homens têm uma missão particular a cumprir. Pela
sua função de maridos e pais, desempenham a nobre responsabilidade de
dar à sociedade os valores de que a mesma tem necessidade, através da
relação conjugal e da educação dos filhos.
52. Com os Padres sinodais, encorajo os homens católicos a
contribuírem verdadeiramente, nas suas famílias, para a educação humana e
cristã dos filhos, o acolhimento e a protecção da vida desde o momento
da sua concepção.[84] Convido-os a estabelecer um estilo cristão de
vida, enraizado e alicerçado no amor (cf. Ef 3, 17). Com São Paulo,
repito-lhes: « Amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se
entregou por ela (…). Os maridos devem amar as suas mulheres, como o seu
próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. De facto,
ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário (…) cuida dele,
como Cristo faz à Igreja » (Ef 5, 25.28-29). Não tenhais medo de tornar
visível e palpável que não há amor maior do que dar a própria vida por
aqueles que se ama (cf. Jo 15, 13), isto é, em primeiro lugar a sua
esposa e os seus filhos. Cultivai uma alegria serena no vosso lar! O
matrimónio – dizia São Fulgêncio de Ruspas[85] – é um « dom do Senhor ».
O testemunho por vós prestado à dignidade inviolável de cada pessoa
humana será um antídoto eficaz para lutar contra algumas práticas
tradicionais que são contrárias ao Evangelho e que oprimem
particularmente as mulheres.
53. Manifestando e vivendo na terra a própria paternidade de Deus
(cf. Ef 3, 15), sois chamados a garantir o desenvolvimento pessoal de
todos os membros da família, sendo esta o berço e o meio mais eficaz
para humanizar a sociedade, o lugar de encontro de várias gerações.[86]
Por meio da dinâmica criadora da própria Palavra de Deus,[87] cresça o
vosso sentido da responsabilidade até vos empenhardes concretamente na
Igreja. Esta tem necessidade de testemunhas convictas e eficazes da fé,
que promovam a reconciliação, a justiça e a paz[88] e prestem a sua
contribuição entusiasta e corajosa para a transformação do ambiente de
vida e da sociedade no seu conjunto. Vós sois estas testemunhas através
do vosso trabalho, que permite assegurar regularmente a vossa
subsistência e a da vossa família. Mais ainda, oferecendo a Deus este
trabalho, sois associados à obra redentora de Jesus Cristo, que conferiu
ao trabalho uma dignidade sublime, trabalhando com as suas próprias
mãos em Nazaré.[89]
54. A qualidade e a capacidade de irradiação da vossa vida cristã
depende duma vida de oração profunda, alimentada pela Palavra de Deus e
pelos Sacramentos. Por isso sede cuidadosos em manter viva esta dimensão
essencial do vosso compromisso cristão; nela, encontram a fonte do seu
dinamismo o vosso testemunho de fé nas tarefas diárias e a vossa
participação nos movimentos eclesiais. Procedendo assim, tornar-vos-eis
também exemplos que os jovens quererão imitar e, deste modo, podeis
ajudá-los a entrar numa vida adulta responsável. Não tenhais medo de
lhes falar de Deus e de os introduzir, com o vosso exemplo, na vida de
fé e no compromisso com as actividades sociais ou caritativas,
levando-os a descobrir verdadeiramente que são criados à imagem e
semelhança de Deus: « Os sinais desta imagem divina no homem podem ser
reconhecidos, não na forma do corpo que se corrompe, mas na prudência da
inteligência, na justiça, na moderação, na coragem, na sabedoria e na
instrução ».[90]
55. Na África, as mulheres prestam um grande contributo à família, à
sociedade e à Igreja com os seus numerosos talentos e os seus dons
insubstituíveis. Como dizia João Paulo II, « a mulher é aquela na qual a
ordem do amor no mundo criado das pessoas encontra um terreno para
deitar a sua primeira raiz ».[91] A Igreja e a sociedade precisam que as
mulheres ocupem o lugar todo que lhes compete no mundo, « para o ser
humano poder viver nele sem se desumanizar totalmente ».[92]
56. Se é inegável que, em alguns países africanos, se realizaram
progressos visando favorecer a promoção e a educação da mulher, no
conjunto dos mesmos, porém, a sua dignidade, os seus direitos e também a
sua contribuição essencial para a família e a sociedade ainda não são
plenamente reconhecidos nem avaliados. Assim a promoção das jovens e das
mulheres muitas vezes é menos favorecida do que a dos jovens e dos
homens. São ainda demasiado numerosas as práticas que humilham as
mulheres e as degradam em nome de antigas tradições. Com os Padres
sinodais, convido veementemente os discípulos de Cristo a combaterem
todo o acto de violência contra as mulheres, denunciando-o e
condenando-o.[93] A este propósito, convém que os comportamentos, no
âmbito da própria Igreja, sejam um modelo para o conjunto da sociedade.
57. Por ocasião da minha visita ao solo africano, lembrei
vigorosamente que é preciso « reconhecer, afirmar e defender a igual
dignidade do homem e da mulher: ambos são pessoas, diversamente dos
outros seres vivos do mundo que os rodeia ».[94] Infelizmente a evolução
das mentalidades neste campo é excessivamente lenta. A Igreja tem o
dever de contribuir para este reconhecimento e esta libertação da
mulher, seguindo o exemplo deixado por Cristo que a valorizava (cf. Mt
15, 21-28; Lc 7, 36-50; 8, 1-3; 10, 38-42; Jo 4, 7-42). Assim, criar
para ela um espaço onde possa tomar a palavra e exprimir os seus
talentos, através de iniciativas que reforcem o seu valor, a estima de
si mesma e a sua especificidade, permitir-lhe-ia ocupar, na sociedade,
um lugar igual ao do homem – sem confusão nem nivelamento da
especificidade de cada um –, porque ambos são « imagem » do Criador (cf.
Gn 1, 27). Possam os bispos encorajar e promover a formação das
mulheres, para que estas assumam « a parte que lhes cabe de
responsabilidade e participação na vida comunitária da sociedade e (…)
da Igreja ».[95] Contribuirão assim para a humanização da sociedade.
58. Vós, mulheres católicas, inseris-vos na tradição evangélica das
mulheres que davam assistência a Jesus e aos apóstolos (cf. Lc 8, 3).
Sois para as Igrejas locais como que a « espinha dorsal »,[96] porque o
vosso elevado número, a vossa presença activa e as vossas organizações
são de grande apoio para o apostolado da Igreja. Quando a paz está
ameaçada e a justiça é denegrida, quando cresce a pobreza, estais
prontas para defender a dignidade humana, a família e os valores da
religião. Possa o Espírito Santo suscitar, incessantemente, na Igreja
mulheres santas e corajosas que prestem a sua valiosa contribuição
espiritual para o crescimento das nossas comunidades.
59. Amadas filhas da Igreja, frequentai com constância a escola de
Cristo como Maria de Betânia, para saberdes reconhecer a sua Palavra
(cf. Lc 10, 39). Instruí-vos no catecismo e na doutrina social da
Igreja, para vos dotardes dos princípios que vos ajudarão a proceder
como verdadeiras discípulas. Deste modo, podereis discernir melhor sobre
o vosso empenhamento nos diversos projectos relativos às mulheres.
Continuai a defender a vida, porque Deus vos constituiu receptáculos da
mesma. A Igreja será sempre o vosso amparo. Ajudai as jovens com os
vossos conselhos e exemplo, para que enfrentem serenamente a vida
adulta. Apoiai-vos mutuamente. Tratai com veneração as mais idosas
dentre vós. A Igreja conta convosco para criar uma « ecologia
humana »[97] através do amor e da ternura, do acolhimento e da
delicadeza, e ainda da misericórdia, valores que sabeis inculcar nos
filhos e de que o mundo tem tanta necessidade. Assim, com a riqueza dos
vossos dons propriamente femininos,[98] favorecereis a reconciliação dos
homens e das comunidades.
60. Na África, os jovens constituem a maioria da população. Esta
juventude é um dom e um tesouro de Deus, pelo qual a Igreja inteira se
sente agradecida ao Senhor da vida.[99] É preciso amar esta juventude,
estimá-la e respeitá-la. « Não obstante possíveis ambiguidades, sente um
anseio profundo daqueles valores autênticos que têm em Cristo a sua
plenitude. Porventura não é Cristo o segredo da verdadeira liberdade e
da alegria profunda do coração? Não é Cristo o maior amigo e,
simultaneamente, o educador de toda a amizade autêntica? Se Cristo lhes
for apresentado com o seu verdadeiro rosto, os jovens reconhecem-No como
resposta convincente e conseguem acolher a sua mensagem, mesmo se
exigente e marcada pela Cruz ».[100]
61. Pensando nos jovens, escrevi na Exortação apostólica pós-sinodal
Verbum Domini: « Na idade da juventude, surgem de modo irreprimível e
sincero as questões sobre o sentido da própria vida e sobre a direcção
que se deve dar à própria existência. A estas questões só Deus sabe dar
verdadeira resposta. Esta solicitude pelo mundo juvenil implica a
coragem de um anúncio claro; devemos ajudar os jovens a ganharem
confidência e familiaridade com a Sagrada Escritura, para que seja como
uma bússola que indica a estrada a seguir. Para isso, precisam de
testemunhas e mestres, que caminhem com eles e os orientem para amarem
e, por sua vez, comunicarem o Evangelho sobretudo aos da sua idade,
tornando-se eles mesmos arautos autênticos e credíveis ».[101]
62. São Bento, na sua Regra, pede ao Abade do Mosteiro que escute os
mais jovens, dizendo: « Muitas vezes é a uma pessoa mais jovem que o
Senhor inspira um parecer melhor ».[102] Por isso não deixemos de
envolver directamente a juventude na vida da sociedade e da Igreja, para
que não se deixe cair em sentimentos de frustração e aversão, ao ver-se
impossibilitada de tomar nas mãos o seu futuro, particularmente nas
situações onde a juventude é vulnerável pela falta de formação, pelo
desemprego, pela exploração política e por toda a espécie de
dependência.[103]
63. Queridos jovens, podem tentar-vos solicitações de todo o género:
ideologias, seitas, dinheiro, droga, sexo fácil, violência…. Estai
atentos! Aqueles que vos fazem estas propostas querem destruir o vosso
futuro. Apesar das dificuldades, não vos deixeis desanimar nem
renuncieis aos vossos ideais, à vossa assídua aplicação na formação
humana, intelectual e espiritual. Para adquirirdes o discernimento, a
força necessária e a liberdade para resistir a tais pressões,
encorajo-vos a colocar Jesus Cristo no centro de toda a vossa vida, não
só através da oração mas também por meio do estudo da Sagrada Escritura,
da frequência dos Sacramentos, da formação na doutrina social da
Igreja, bem como mediante a vossa participação activa e entusiasta nos
grupos e nos movimentos eclesiais. Cultivai em vós a aspiração pela
fraternidade, a justiça e a paz. O futuro está nas mãos de quem sabe
encontrar razões fortes para viver e esperar. Se quiserdes, o futuro
está nas vossas mãos, porque os dons que o Senhor distribuiu a cada um
de vós, revigorados pelo encontro com Cristo, podem proporcionar uma
esperança autêntica ao mundo.[104]
64. Quando se trata da orientação a tomar na vossa escolha de vida,
quando se vos coloca a questão duma consagração total – para o
sacerdócio ministerial ou para a vida consagrada –, apoiai-vos em
Cristo, tomai-O por modelo, escutai a sua Palavra meditando-a com
regularidade. Na homilia da Eucaristia inaugural do meu Pontificado,
exortei-vos com estas palavras que me parece oportuno repetir aqui,
porque permanecem actuais: « Quem faz entrar Cristo na sua vida, nada
perde, nada – absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e
grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida.
Só nesta amizade desabrocham realmente as grandes potencialidades da
condição humana. (…) Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo! Ele
não tira nada, Ele dá tudo. Quem se entrega a Ele, recebe o cêntuplo.
Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida
verdadeira ».[105]
65. Tal como os jovens, também as crianças são um dom de Deus à
humanidade, pelo que devem ser objecto de um cuidado particular por
parte das respectivas famílias, da Igreja, da sociedade e dos
governantes, porque elas são fonte de esperança e de renovamento na
vida. Deus vigia de forma particular por elas, cuja vida é preciosa aos
seus olhos, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis ou
impossíveis (cf. Gn 17, 17-18; 18, 12; Mt 18, 10).
66. Com efeito, « no referente ao direito à vida, cada ser humano
inocente é absolutamente igual a todos os demais. Esta igualdade é a
base de todo o relacionamento social autêntico, o qual, para o ser
verdadeiramente, não pode deixar de se fundar sobre a verdade e a
justiça, reconhecendo e tutelando cada homem e cada mulher como pessoa, e
não como uma coisa de que se possa dispor ».[106]
67. À luz disto, como não deplorar e denunciar vigorosamente os
intoleráveis maus tratos infligidos a tantas crianças na África?[107] A
Igreja é Mãe, e não poderia abandoná-las sejam elas quem for. Temos o
dever de fazer brilhar sobre elas a luz de Cristo, oferecendo-lhes o seu
amor para que O ouçam dizer: « Tu és preciosa aos meus olhos, estimo-te
e amo-te » (Is 43, 4). Deus quer a felicidade e o sorriso de todas as
crianças; estas gozam do seu favor, « porque o Reino de Deus pertence
aos que são como elas » (Mc 10, 14).
68. Jesus Cristo sempre manifestou a sua preferência pelos mais
pequeninos (cf. Mc 10, 13-16). O próprio Evangelho está profundamente
permeado pela verdade da criança. De facto, que quer dizer « se não
voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino dos
Céus » (Mt 18, 3)? Porventura não faz Jesus da criança um modelo também
para os adultos? Na criança, há algo que nunca deveria faltar na pessoa
que quer entrar no Reino dos Céus. O Céu é prometido a todos aqueles que
são simples como as crianças, a quantos estão, como elas, cheios dum
espírito de confiante abandono, são puros e ricos de bondade. Só esses
podem encontrar em Deus um Pai e tornar-se, graças a Jesus, filhos de
Deus. Filhos e filhas dos nossos pais, Deus quer que todos nós sejamos,
por graça, seus filhos adoptivos.[108]
69. Na concepção africana do mundo, a vida é entendida como uma
realidade que engloba e inclui os antepassados, os vivos e as crianças
por nascer, a criação inteira e todos os seres: os que falam e os que
são mudos, os que pensam e os que não são capazes de o fazer. Nela, o
universo visível e invisível é considerado como um espaço de vida dos
homens, mas também como um espaço de comunhão onde as gerações passadas
estão, de maneira invisível, ao lado das gerações presentes, que, por
sua vez, são mães das gerações futuras. Esta ampla abertura do coração e
do espírito da tradição africana predispõe-vos, amados irmãos e irmãs,
para ouvirdes e receberdes a mensagem de Cristo e compreenderdes o
mistério da Igreja, a fim de dar todo o seu valor à vida humana e às
condições para o seu pleno florescimento.
A. A protecção da vida
70. Detendo-se sobre as determinações que visam proteger a vida
humana no continente africano, os membros do Sínodo tomaram em
consideração os esforços feitos pelas instituições internacionais em
prol de alguns aspectos do desenvolvimento.[109] Mas observaram com
preocupação que, durante os encontros internacionais, existe uma falta
de clareza ética e até uma linguagem confusa que transmite valores
contrários à moral católica. A Igreja mantém constante solicitude pelo
desenvolvimento integral – na expressão do Papa Paulo VI –[110] de
« todos os homens e do homem todo ». Por este motivo, os Padres sinodais
quiseram sublinhar os aspectos discutíveis de certos documentos
emanados por organismos internacionais, relativos nomeadamente à saúde
reprodutiva das mulheres. A posição da Igreja não tolera qualquer
ambiguidade quanto ao aborto. A criança no seio materno é uma vida
humana que se deve proteger. O aborto, que consiste na supressão dum
inocente ainda não nascido, é contrário à vontade de Deus, porque o
valor e a dignidade da vida humana devem ser protegidos desde a
concepção até à morte natural. A Igreja na África e ilhas adjacentes
deve comprometer-se a ajudar e a acompanhar as mulheres e os casais
tentados pelo aborto, e a estar ao lado de quantos fizeram a triste
experiência do mesmo, a fim de educá-los para o respeito pela vida. Ela
aprecia a coragem dos governos que legislaram contra a cultura da morte,
da qual o aborto é uma expressão dramática, em benefício da cultura da
vida.[111]
71. A Igreja sabe que aqueles que rejeitam uma sã doutrina a este
respeito são numerosos: indivíduos, associações, departamentos
especializados ou Estados. « Não devemos temer a oposição e a
impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos
conformem com a mentalidade deste mundo (cf. Rm 12, 2). Com a força
recebida de Cristo, que venceu o mundo pela sua morte e ressurreição
(cf. Jo 16, 33), devemos estar no mundo, mas não ser do mundo (cf. Jo
15, 19; 17, 16) ».[112]
72. Graves ameaças pesam sobre a vida humana na África. Aqui, como
aliás noutros lados, é preciso deplorar as devastações da droga e os
abusos do álcool que destroem o potencial humano do continente,
penalizando sobretudo os jovens.[113] O paludismo[114] como também a
tuberculose e a sida dizimam as populações africanas e comprometem
gravemente a sua vida socioeconómica. Concretamente o problema da sida
exige, sem dúvida, uma resposta médica e farmacêutica; mas esta é
insuficiente, porque o problema é mais profundo: é sobretudo ético. A
mudança de comportamento por ele exigida – nomeadamente a abstinência
sexual, a rejeição da promiscuidade sexual, a fidelidade conjugal –, em
última análise, põe a questão do desenvolvimento integral, que requer
uma abordagem e uma resposta global da Igreja. De facto, para ser
eficaz, a prevenção da sida deve apoiar-se numa educação sexual que
esteja, por sua vez, fundada numa antropologia ancorada no direito
natural e iluminada pela Palavra de Deus e o ensinamento da Igreja.
73. Em nome da vida – que é dever da Igreja defender e proteger – e
em união com os Padres sinodais, renovo o meu apoio e faço apelo a todas
as instituições e a todos os movimentos da Igreja que trabalham no
campo da saúde, especialmente da sida. Vós realizais um trabalho
maravilhoso e importante. Peço às agências internacionais que vos
reconheçam e ajudem, no respeito da vossa especificidade e com espírito
de colaboração. Mais uma vez encorajo vivamente os institutos e os
programas de pesquisa terapêutica e farmacêutica em curso para erradicar
as pandemias. Por amor do dom precioso da vida,[115] não vos poupeis a
canseiras para se chegar o mais depressa possível a resultados
concretos. Possais encontrar soluções e, tendo em conta as situações de
precariedade, tornar os tratamentos e os medicamentos acessíveis a
todos. Há muito tempo que a Igreja sustenta a causa de um tratamento
médico de alta qualidade e ao menor custo para todas as pessoas
atingidas.[116]
74. A defesa da vida comporta, de igual forma, a erradicação da
ignorância através da alfabetização das populações e duma educação
qualificada que englobe a pessoa inteira. Ao longo da sua história, a
Igreja Católica prestou particular atenção à educação. Nunca deixou de
sensibilizar, encorajar e ajudar os pais a viverem a sua
responsabilidade de primeiros educadores da vida e da fé dos seus
próprios filhos. Na África, as suas estruturas – tais como escolas,
colégios, liceus, escolas profissionais, universidades – colocam à
disposição da população instrumentos para chegar ao saber, sem
discriminação de origem, possibilidades económicas ou religião. Deste
modo a Igreja oferece a sua contribuição para permitir valorizar e fazer
frutificar os talentos que Deus colocou no coração de cada ser humano.
Numerosas congregações religiosas nasceram com esta finalidade.
Inumeráveis santos e santas compreenderam que santificar o homem
significava, antes de mais, promover a sua dignidade por meio da
educação.
75. Os membros do Sínodo constataram que a África, como aliás o resto
do mundo, conhece uma crise da educação.[117] Sublinharam a necessidade
de um programa educativo que conjugue fé e razão, para preparar as
crianças e os jovens para a vida adulta. Bases e pontos sadios de
referência, assim colocados, permitir-lhes-iam enfrentar as decisões
quotidianas, caracterizando toda a vida adulta no plano afectivo,
social, profissional e político.
76. O analfabetismo constitui um dos maiores freios ao
desenvolvimento. É um flagelo comparável ao das pandemias; é certo que
não mata directamente, mas contribui activamente para a marginalização
da pessoa – que é uma forma de morte social – e impossibilita-a de ter
acesso ao conhecimento. Alfabetizar o indivíduo é fazer dele um membro
de pleno direito da res publica, para cuja construção poderá
contribuir,[118] e permitir ao cristão o acesso ao tesouro inestimável
da Sagrada Escritura, que alimenta a sua vida de fé.
77. Convido as comunidades e as instituições católicas a responderem
generosamente a este grande desafio, que é um real laboratório de
humanização, e a intensificarem os esforços, segundo os meios à
disposição, para desenvolver, por si sós ou em colaboração com outras
organizações, programas eficazes e adaptados às populações. As
comunidades e as instituições católicas só vencerão tal desafio, se
mantiverem a sua identidade eclesial e permanecerem zelosamente fiéis à
mensagem evangélica e ao carisma do fundador. A identidade cristã
constitui um bem precioso que é preciso saber preservar e defender,
temendo que o sal se torne insípido e acabe por ser calcado aos pés (cf.
Mt 5, 13).
78. Convém, sem dúvida, sensibilizar os governos para que aumentem o
seu apoio à escolarização. A Igreja reconhece e respeita o papel do
Estado no campo educativo; mas afirma o legítimo direito que ela tem de
participar no mesmo, oferecendo a sua particular contribuição. Convém
recordar ao Estado que a Igreja tem o direito de educar segundo as suas
regras próprias e em edifícios próprios. Trata-se de um direito que se
insere naquela liberdade de acção « que o seu encargo de salvar os
homens requer ».[119] Numerosos Estados africanos reconhecem o papel
saliente e desinteressado que a Igreja desempenha, através das suas
estruturas educativas, na edificação da sua nação. Por isso encorajo
vivamente os governantes nos seus esforços de apoio a esta obra
educativa.
79. Com os Padres do Sínodo, convido todos os membros da Igreja a
trabalhar e tomar posição a favor duma economia atenta aos pobres e
decididamente contrária a uma ordem injusta que, a pretexto de reduzir a
pobreza, frequentemente contribuiu para a agravar.[120] Deus dotou a
África de importantes recursos naturais. Vendo a pobreza crónica das
suas populações, vítimas de exploração e prevaricações locais e
estrangeiras, a consciência humana sente-se chocada com a opulência de
alguns grupos. Tendo surgido com a finalidade de criar riqueza na sua
própria nação e muitas vezes valendo-se da cumplicidade daqueles que
exercem o poder na África, com demasiada frequência tais grupos
asseguram o seu funcionamento à custa do bem-estar das populações
locais.[121] A Igreja, agindo em colaboração com todos os outros
componentes da sociedade civil, deve denunciar a ordem injusta que
impede os povos africanos de consolidarem a própria economia[122] e « de
atingirem o desenvolvimento em conformidade com os seus traços
culturais próprios ».[123] Além disso, é dever da Igreja lutar para que
« todos os povos possam tornar-se os principais artífices do próprio
desenvolvimento social e económico (…) e todo e qualquer povo, como
membro activo e responsável da sociedade humana, possa cooperar para a
consecução do bem comum com os mesmos direitos dos demais povos ».[124]
80. Homens e mulheres de negócios, governos, grupos económicos
lançam-se em programas de exploração que poluem o ambiente e causam uma
desertificação nunca vista. Graves atentados são praticados contra a
natureza e as florestas, a flora e a fauna, e inúmeras espécies correm o
risco de desaparecer para sempre. Tudo isto ameaça o ecossistema global
e, consequentemente, a sobrevivência da humanidade.[125] Exorto a
Igreja na África a encorajar os governantes para que protejam os bens
fundamentais, como são a terra e a água, para a vida humana das gerações
presentes e futuras[126] e para a paz entre os povos.
C. A boa governação dos Estados
81. Um dos instrumentos mais importantes ao serviço da reconciliação,
da justiça e da paz pode ser a instituição política, cujo dever
essencial é a introdução e a gestão da ordem justa.[127] Por sua vez,
esta ordem está ao serviço da « vocação à comunhão das pessoas ».[128]
Para concretizar semelhante ideal, a Igreja na África deve contribuir
para a edificação da sociedade, em colaboração com as autoridades
governamentais e as instituições públicas e privadas empenhadas na
obtenção do bem comum.[129] Os chefes tradicionais podem contribuir, de
maneira muito positiva, para a boa governação. A Igreja, por seu lado,
compromete-se a promover no seu seio e na sociedade uma cultura que
tenha a peito o primado do direito.[130] A título de exemplo, as
eleições constituem um espaço de expressão da escolha política dum povo e
são o sinal da legitimidade para o exercício do poder. Constituem
momento privilegiado para um debate público sadio e sereno,
caracterizado pelo respeito das diversas opiniões e dos vários grupos
políticos. Favorecer o bom andamento das eleições suscitará e encorajará
uma participação real e activa dos cidadãos na vida política e social. O
desrespeito da Constituição nacional, da lei ou do veredicto das urnas,
quando as eleições foram livres, imparciais e transparentes,
manifestaria uma grave disfunção na governação e significaria uma falta
de competência na gestão da realidade pública.[131]
82. Hoje, muitos daqueles que decidem, tanto políticos como
economistas, pretendem não dever nada a ninguém, a não ser a si mesmos.
« Considerando-se titulares só de direitos, frequentemente deparam-se
com fortes obstáculos para maturar uma responsabilidade no âmbito do
desenvolvimento integral próprio e alheio. Por isso, é importante
invocar uma nova reflexão que faça ver como os direitos pressupõem
deveres, sem os quais o seu exercício se transforma em arbítrio ».[132]
83. O aumento da taxa de criminalidade nas sociedades, cada vez mais
urbanizadas, é um sério motivo de preocupação para todos os responsáveis
e para os governantes. É urgente, portanto, estabelecer sistemas
judiciários e prisionais independentes, para restabelecer a justiça e
reeducar os culpados. É preciso também banir os casos de erro da justiça
e os maus tratos dos prisioneiros, as numerosas ocasiões de não
aplicação da lei, que correspondem a uma violação dos direitos
humanos,[133] e as detenções que só tardiamente ou nunca chegam a um
processo. « A Igreja na África (…) reconhece a sua missão profética
junto de quantos acabam envolvidos pela criminalidade, sabendo da sua
necessidade de reconciliação, de justiça e de paz ».[134] Os presos são
pessoas humanas que, apesar do seu crime, merecem ser tratadas com
respeito e dignidade; precisam da nossa solicitude. Para isso, a Igreja
deve organizar a pastoral do sector carcerário para o bem material e
espiritual dos presos. Esta actividade pastoral é um verdadeiro serviço
que a Igreja presta à sociedade, e que o Estado deve favorecer para o
bem comum. Com os membros do Sínodo, chamo a atenção dos responsáveis da
sociedade para a necessidade de fazer todo o possível a fim de se
chegar à eliminação da pena capital,[135] bem como para a reforma do
sistema penal a fim de que a dignidade humana do preso seja respeitada.
Aos agentes pastorais cabe a tarefa de estudar e propor a justiça
restituitória como meio e processo para favorecer a reconciliação, a
justiça e a paz, e ainda a reinserção nas comunidades das vítimas e dos
transgressores.[136]
D. Os emigrantes, deslocados e refugiados
84. Milhões de emigrantes, deslocados e refugiados procuram uma
pátria e uma terra de paz na África ou noutros continentes. As dimensões
deste êxodo, que envolve todos os países, revelam a amplitude
dissimulada das diversas pobrezas, frequentemente geradas por falhas na
gestão pública. Milhares de pessoas procuraram, e procuram ainda,
atravessar os desertos e os mares à procura de oásis de paz e
prosperidade, duma formação melhor e de maior liberdade. Infelizmente,
numerosos refugiados ou deslocados encontram toda a espécie de violência
e exploração, senão mesmo a prisão e frequentemente a morte. Alguns
Estados responderam a este drama com uma legislação repressiva.[137] A
situação de precariedade de tais pobres deveria suscitar a compaixão e a
solidariedade generosa de todos; muitas vezes, porém, sucede o
contrário, fazendo nascer o medo e a ansiedade, porque muitos consideram
os emigrantes como um fardo e olham-nos com desconfiança, não vendo
neles senão perigo, insegurança e ameaça. Esta visão provoca reacções de
intolerância, xenofobia e racismo, enquanto estes mesmos emigrantes se
vêem constrangidos, por causa da precariedade da sua situação, a
realizar trabalhos mal remunerados e muitas vezes ilegais, humilhantes
ou degradantes. A consciência humana não pode deixar de se indignar à
vista destas situações. Assim a emigração dentro e para fora do
continente torna-se um drama multidimensional, que afecta seriamente o
capital humano da África, provocando a instabilidade ou mesmo a
destruição das famílias.
85. A Igreja recorda-se que a África foi uma terra de refúgio para a
Sagrada Família, que escapava do poder político sanguinário de
Herodes[138] à procura duma terra que lhes prometia a segurança e a paz.
A Igreja continuará a fazer ouvir a sua voz e a empenhar-se por
defender todas as pessoas.[139]
86. Os Padres sinodais manifestaram a sua perplexidade e preocupação
perante a globalização. Já chamei a atenção para esta realidade, como
sendo um desafio a enfrentar. « A verdade da globalização enquanto
processo e o seu critério ético fundamental provêm da unidade da família
humana e do seu desenvolvimento no bem. Por isso é preciso empenhar-se
sem cessar por favorecer uma orientação cultural personalista e
comunitária, aberta à transcendência, do processo de integração
mundial ».[140] A Igreja espera que a globalização da solidariedade
cresça até inscrever, « nas relações comerciais, o princípio de
gratuidade e a lógica do dom, como expressão da fraternidade »,[141]
evitando a tentação do pensamento unidimensional sobre a vida, a
cultura, a política, a economia, em benefício de um constante respeito
ético pelas diversas realidades humanas, para uma efectiva
solidariedade.
87. Esta globalização da solidariedade manifesta-se já, em certa
medida, através das ajudas internacionais. Hoje a notícia duma
catástrofe cruza rapidamente o mundo, suscitando muitas vezes um
movimento de compaixão e acções concretas de generosidade. A Igreja
presta um serviço de grande caridade, defendendo as necessidades reais
do destinatário. Em nome do direito de quantos passam necessidade e não
têm voz e em nome do respeito e solidariedade que é preciso ter para com
eles, a Igreja pede que « os organismos internacionais e as
organizações não governamentais se comprometam a uma plena
transparência ».[142]
88. Como nos manifesta um grande número de movimentos sociais, as
relações inter-religiosas condicionam a paz na África, como aliás
noutros lados. Por conseguinte é importante que a Igreja promova o
diálogo como atitude espiritual, para que os crentes aprendam a
trabalhar juntos, por exemplo, nas associações orientadas para a paz e a
justiça, com um espírito de confiança e de mútua ajuda. As famílias
devem ser educadas para a escuta, a fraternidade e o respeito sem medo
do outro.[143] Uma só coisa é necessária (cf. Lc 10, 42) e capaz de
satisfazer a sede de eternidade de todo o ser humano e o desejo de
unidade da humanidade inteira: o amor e a contemplação de Deus, que
levava Santo Agostinho a exclamar: « Oh eterna verdade, verdadeira
caridade e cara eternidade! ».[144]
A. O diálogo ecuménico e o desafio dos novos movimentos religiosos
89. Com o convite para participarem na assembleia sinodal feito aos
nossos irmãos cristãos ortodoxos, coptas ortodoxos, luteranos,
anglicanos e metodistas – e de modo particular a Sua Santidade Abuna
Paulos, Patriarca da Igreja Ortodoxa Tewahedo da Etiópia, uma da mais
antigas comunidades cristãs do continente africano – quis significar que
o caminho para a reconciliação passa, antes de mais, pela união dos
discípulos de Cristo. Um cristianismo dividido permanece um escândalo,
porque contradiz realmente a vontade do Divino Mestre (cf. Jo 17, 21).
Por isso o diálogo ecuménico visa orientar o nosso caminho comum rumo à
unidade dos cristãos, sendo assíduos na escuta da Palavra de Deus, fiéis
à união fraterna, à fracção do pão e às orações (cf. Act 2, 42). Exorto
toda a família eclesial – as Igrejas particulares, os institutos de
vida consagrada, as associações e movimentos de leigos – a prosseguir de
forma ainda mais convicta por este caminho, no espírito e com base nas
indicações do Directório Ecuménico, e através das diversas associações
ecuménicas existentes. E convido a formar novas, onde elas possam
representar uma ajuda para a missão. Oxalá possamos empreender, juntos,
obras de caridade e proteger os patrimónios religiosos em virtude dos
quais os discípulos de Cristo encontram as forças espirituais de que
necessitam para a edificação da família humana.[145]
90. Ao longo destes últimos decénios, a Igreja na África tem-se
interrogado, com insistência, sobre o nascimento e a expansão de
comunidades não católicas, por vezes chamadas também autóctones
africanas (African Independent Churches). Frequentemente derivam de
Igrejas e Comunidades eclesiais cristãs tradicionais e adoptam aspectos
das culturas tradicionais africanas. Recentemente estes grupos fizeram a
sua aparição no panorama ecuménico. Os pastores da Igreja Católica
deverão ter em conta esta nova realidade para a promoção da unidade dos
cristãos na África e, consequentemente, deverão encontrar uma resposta
adaptada ao contexto, tendo em vista uma evangelização mais profunda
para fazer chegar, de maneira eficaz, a Verdade de Cristo aos africanos.
91. Numerosos movimentos sincretistas e seitas surgiram na África
durante os últimos decénios. Por vezes não é fácil discernir se são de
inspiração autenticamente cristã ou simplesmente fruto de um entusiasmo
por um líder com a pretensão de possuir dons excepcionais. A sua
denominação e o seu vocabulário prestam-se facilmente a confusão e podem
enganar fiéis em boa fé. Aproveitando-se de estruturas estatais ainda
não estáveis, do desmoronamento das solidariedades familiares
tradicionais e duma catequese insuficiente, estas numerosas seitas
exploram a credulidade e oferecem uma caução religiosa a crenças
multiformes e heterodoxas não cristãs. Destroem a paz dos casais e das
famílias, por causa de falsas profecias ou visões. Seduzem mesmo
responsáveis políticos. A teologia e a pastoral da Igreja devem
individuar as causas deste fenómeno, não só para deter « a hemorragia »
dos fiéis que saem das paróquias para elas, mas também para estabelecer
as bases duma condigna resposta pastoral à atracção que estes movimentos
e seitas exercem sobre aqueles. Por outras palavras, é preciso
evangelizar em profundidade a alma africana.
B. O diálogo inter-religioso
1. As religiões tradicionais africanas
92. A Igreja vive diariamente com os adeptos das religiões
tradicionais africanas. Estas religiões, que fazem referência aos
antepassados e a uma forma de mediação entre o homem e a Imanência, são o
húmus cultural e espiritual donde provém a maior parte dos cristãos
convertidos e com o qual mantêm um contacto diário. Convém escolher, de
entre os convertidos, algumas pessoas bem informadas que possam servir
de guia para a Igreja ter um conhecimento cada vez mais profundo e
exacto das tradições, da cultura e das religiões tradicionais. Deste
modo tornar-se-á mais fácil a identificação dos verdadeiros pontos de
ruptura; e chegar-se-á também à necessária distinção entre o cultural e o
cultual, eliminando-se os elementos de magia, que são causa de divisão e
ruína para as famílias e as sociedades. Neste sentido, o Concílio
Vaticano II especificou que a Igreja « exorta os seus filhos a que, com
prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os seguidores
doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristãs, reconheçam,
conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores
socioculturais que entre eles encontram ».[146] Para que os tesouros da
vida sacramental e da espiritualidade da Igreja possam ser descobertos
em toda a sua profundidade e melhor transmitidos na catequese, a Igreja
poderia examinar, num estudo teológico, alguns elementos das culturas
tradicionais africanas que estejam de acordo com a doutrina de Cristo.
93. Apoiando-se nas religiões tradicionais, a feitiçaria conhece
actualmente uma certa recrudescência. Renascem temores, que criam laços
de sujeição paralisadores. As preocupações com a saúde, o bem-estar, os
filhos, o clima, a protecção contra os maus espíritos levam de vez em
quando a recorrer a práticas das religiões tradicionais africanas que
estão em desacordo com a doutrina cristã. O problema da « dupla
pertença » – ao cristianismo e às religiões tradicionais africanas –
permanece um desafio. Para a Igreja que está na África, é necessário
guiar as pessoas, através de uma catequese e uma inculturação profundas,
para a descoberta da plenitude dos valores do Evangelho. Convém
determinar o significado profundo de tais práticas de feitiçaria,
identificando as implicações teológicas, sociais e pastorais que esta
calamidade acarreta.
94. Os Padres do Sínodo puseram em evidência a complexidade da
realidade muçulmana no continente africano. Nalguns países, reina bom
entendimento entre cristãos e muçulmanos; noutros, os cristãos locais
gozam apenas duma cidadania de segunda classe, e os católicos
estrangeiros, religiosos ou leigos, têm dificuldade em obter vistos ou
autorizações de residência; noutros, os elementos religiosos e políticos
não estão ainda suficientemente separados; noutros, enfim, existe a
hostilidade. Exorto a Igreja, em toda e qualquer situação, a perseverar
na estima dos muçulmanos; « adoram eles o Deus único, vivo e
subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra,
que falou aos homens ».[147] Se todos nós, crentes em Deus, queremos
servir a reconciliação, a justiça e a paz, devemos trabalhar juntos para
banir todas as formas de discriminação, intolerância e fundamentalismo
confessional. Na sua obra social, a Igreja não faz distinção religiosa;
ajuda quem se encontra em necessidade, seja ele cristão, muçulmano ou
animista. Testemunha assim o amor de Deus, criador de todos, e encoraja
os seguidores das outras religiões a uma atitude respeitadora e a uma
reciprocidade na estima. Exorto a Igreja inteira a procurar, através de
um diálogo paciente com os muçulmanos, o reconhecimento jurídico e
prático da liberdade religiosa, de modo que, na África, cada cidadão
possa gozar não apenas do direito a uma livre escolha da sua
religião[148] e ao exercício do culto, mas também do direito à liberdade
de consciência.[149] A liberdade religiosa é o caminho da paz.[150]
95. A missão evangelizadora da Igreja na África bebe em várias
fontes: a Sagrada Escritura, a Tradição e a vida sacramental. Como um
grande número de Padres sinodais fez questão de sublinhar, o ministério
da Igreja encontra um apoio eficaz no Catecismo da Igreja Católica. Por
outro lado, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja é um guia para a
missão da Igreja como « Mãe e Educadora » no mundo e na sociedade e, por
isso mesmo, um instrumento pastoral de primeira grandeza.[151] Um
cristão, que se sacia na fonte autêntica, Cristo, é por Ele transformado
em « luz do mundo » (Mt 5, 14) e transmite Aquele que é « a luz do
mundo » (Jo 8, 12). O seu conhecimento deve ser animado pela caridade.
Com efeito o saber, « se quer ser sapiência capaz de orientar o homem à
luz dos princípios primeiros e dos seus fins últimos, deve ser
“temperado” com o “sal” da caridade ».[152]
96. Para cumprir a tarefa a que fomos chamados, façamos nossa a
exortação do próprio São Paulo: « Mantende-vos, portanto, firmes, tendo
cingido os vossos rins com a verdade, vestido a couraça da justiça e
calçado os pés com a prontidão para anunciar o Evangelho da paz; acima
de tudo, tomai o escudo da fé, com o qual tereis a capacidade de apagar
todas as setas incendiadas do maligno. Recebei ainda o capacete da
salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Servindo-vos
de toda a espécie de orações e preces, orai em todo o tempo no
Espírito » (Ef 6, 14-18).
II Parte - « A CADA UM É DADA A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO,
PARA PROVEITO COMUM » (1 Cor 12, 7)
97. As directrizes da missão, que acabo de indicar, só se tornarão
realidade, se a Igreja agir, por um lado, sob a guia do Espírito Santo
e, por outro, como um só corpo, para usar uma imagem de São Paulo que
apresenta, de maneira articulada, estas duas condições. Com efeito, numa
África marcada por contrastes, a Igreja deve indicar claramente o
caminho para Cristo; deve mostrar como se vive, na fidelidade a Jesus
Cristo, a unidade na diversidade ensinada pelo Apóstolo: « Há
diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de
serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o
mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do
Espírito, para proveito comum » (1 Cor 12, 4-7). Ao exortar cada membro
da família eclesial a ser « o sal da terra » e « a luz do mundo » (Mt
5, 13.14), pretendo insistir sobre este « ser », que, pelo Espírito,
deveria agir para proveito comum. Nunca se é cristão, sozinho. Os dons
concedidos pelo Senhor a cada um – bispos, sacerdotes, diáconos,
religiosos e religiosas, catequistas, leigos – devem contribuir para a
harmonia, a comunhão e a paz na própria Igreja e na sociedade.
98. É bem conhecido o caso daquele homem paralítico que foi levado a
Jesus, para que o curasse (cf. Mc 2, 1-12). Hoje, para nós, tal homem
simboliza todos os nossos irmãos e irmãs da África e doutros lugares,
paralisados de diversas maneiras e muitas vezes, infelizmente, num
abatimento profundo. Diante dos desafios, que esbocei brevemente na
sequência das intervenções dos Padres sinodais, meditemos sobre a
atitude dos portadores do paralítico. Este só pôde aproximar-se de Jesus
com a ajuda daquelas quatro pessoas de fé que superaram o obstáculo
físico da multidão, dando provas de solidariedade e de confiança
absoluta em Jesus. Ele « viu a fé daqueles homens »; então tira o
obstáculo espiritual, dizendo ao paralítico: « Os teus pecados estão
perdoados ». Cristo elimina aquilo que impede o homem de levantar-se.
Este exemplo incita-nos a crescer na fé e a darmos, nós também, provas
de solidariedade e criatividade para elevar aqueles que carregam fardos
pesados, abrindo-os assim à plenitude da vida em Cristo (cf. Mt 11, 28).
Perante os obstáculos, físicos ou espirituais, que se levantam à nossa
frente, mobilizemos as energias espirituais e os recursos materiais de
todo o corpo que é a Igreja, seguros de que Cristo agirá pelo Espírito
Santo em cada um dos seus membros.
Capítulo I - OS MEMBROS DA IGREJA
99. Amados filhos e filhas da Igreja, e de modo particular vós
queridos fiéis da África, o amor de Deus cumulou-vos de toda a espécie
de bênçãos e fez-vos capazes de agir como o sal da terra. Todos vós,
como membros da Igreja, deveis estar conscientes de que a paz e a
justiça nascem, em primeiro lugar, da reconciliação do ser humano
consigo mesmo e com Deus. Cristo é o verdadeiro e único « Príncipe da
paz ». O seu nascimento é o penhor da paz messiânica, tal como fora
anunciada pelos profetas (cf. Is 9, 5-6; 57, 19; Miq 5, 4; Ef 2, 14-17).
Esta paz não vem dos homens, mas de Deus; é o dom messiânico por
excelência. Esta paz leva àquela justiça do Reino que é preciso
procurar, em tempo propício e fora dele, em tudo o que se faz (cf. Mt 6,
33), para que em todas as circunstâncias seja dada glória a Deus (cf.
Mt 5, 16). Ora nós sabemos que o justo é fiel à lei de Deus, porque se
converteu
(cf. Lc 15, 7; 18, 14). Esta nova fidelidade é trazida por Cristo para nos tornar « irrepreensíveis e íntegros » (cf. Flp 2, 15).
(cf. Lc 15, 7; 18, 14). Esta nova fidelidade é trazida por Cristo para nos tornar « irrepreensíveis e íntegros » (cf. Flp 2, 15).
100. Amados irmãos no episcopado, a santidade a que é chamado o bispo
exige a prática das virtudes, a começar pelas teologais, e a prática
dos conselhos evangélicos.[153] A vossa santidade pessoal deve refulgir
em benefício de quantos foram confiados ao vosso cuidado pastoral e que
deveis servir. A vossa vida de oração irrigará, a partir de dentro, o
vosso apostolado. Um bispo deve ser um enamorado de Cristo. A autoridade
moral e a credibilidade, que sustentam o exercício do vosso poder
jurídico, poderão derivar apenas da santidade da vossa vida.
101. Como dizia São Cipriano, a meados do século III em Cartago, « a
Igreja assenta sobre os bispos, e toda a sua conduta obedece às
indicações destes mesmos chefes ».[154] A comunhão, a unidade e a
colaboração com o presbyterium é que servirão de antídoto contra os
germes de divisão e ajudarão a colocar-vos, todos juntos, à escuta do
Espírito Santo. Ele conduzir-vos-á pelo justo caminho (cf. Sl 23/22, 3).
Amai e respeitai os vossos sacerdotes, que são os colaboradores
preciosos do vosso ministério episcopal. Imitai a Cristo, que criou ao
seu redor um clima de amizade, estima fraterna e comunhão que Ele
extraiu das profundezas do mistério trinitário. « Exorto-vos a
perseverar com toda a solicitude na ajuda aos vossos sacerdotes para
viverem em união íntima com Cristo. A sua vida espiritual é o fundamento
da sua vida apostólica. Por isso haveis de exortá-los, com suavidade, à
oração diária e a uma digna celebração dos sacramentos, sobretudo da
Eucaristia e da Reconciliação, como fazia São Francisco de Sales com os
seus sacerdotes. (…) Estes têm necessidade da vossa estima,
encorajamento e solicitude ».[155]
102. Permanecei unidos ao Sucessor de Pedro com os vossos sacerdotes e
o conjunto dos vossos fiéis. Não desperdiceis as vossas energias
humanas e pastorais na busca ilusória de respostas para questões que não
são de vossa directa competência, ou nos meandros de um nacionalismo
que pode cegar. Seguir este ídolo, tal como o da absolutização da
cultura africana, é mais fácil do que seguir as exigências de Cristo.
Estes ídolos são quimeras. Mais ainda, são uma tentação: a tentação de
crer que se possa, com as simples forças humanas, estabelecer na terra o
Reino da felicidade eterna.
103. O vosso primeiro dever é levar a Boa Nova da Salvação a todos, e
dar aos fiéis uma catequese que contribua para um conhecimento mais
profundo de Jesus Cristo. Preocupai-vos com dar aos leigos um verdadeiro
conhecimento da sua missão eclesial e exortai-os a realizá-la com
sentido de responsabilidade, procurando sempre o bem comum. Os programas
de formação permanente dos leigos, particularmente responsáveis
políticos e económicos, deverão insistir sobre a conversão como condição
necessária para transformar o mundo. É bom começar sempre pela oração,
prosseguindo com a catequese que deverá, por sua vez, conduzir à acção
concreta. A criação de estruturas virá depois, se houver verdadeiramente
necessidade, porque estas nunca substituem a força da oração.
104. No seguimento de Cristo Bom Pastor, sede, amados irmãos no
episcopado, bons pastores e servidores do rebanho que vos está confiado,
exemplares pela vossa vida e conduta. A boa administração das vossas
dioceses requer a vossa presença. Para que a vossa mensagem seja
credível, fazei com que as vossas dioceses se tornem modelos no
comportamento das pessoas, na transparência e boa gestão financeira. Não
temais recorrer à competência de peritos de contabilidade, para servir
de exemplo tanto aos fiéis como à sociedade inteira. Favorecei o bom
funcionamento dos organismos eclesiais diocesanos e paroquiais, tal como
estão previstos pelo direito da Igreja. É a vós, em primeiro lugar, que
compete a busca da unidade, da justiça e da paz, porque tendes a
responsabilidade das Igrejas particulares.
105. O Sínodo lembrou que « a Igreja é uma comunhão que gera uma
solidariedade pastoral orgânica. Os bispos, em união com o Bispo de
Roma, são os primeiros promotores da comunhão e da colaboração no
apostolado da Igreja ».[156] As Conferências Episcopais nacionais e
regionais têm a missão de consolidar esta comunhão eclesial e promover
esta solidariedade pastoral.
106. Para uma maior visibilidade, coerência e eficácia na pastoral
social da Igreja, o Sínodo sentiu a necessidade duma acção mais
solidária a todos os níveis. Será bom que as Conferências Episcopais
regionais e nacionais e também a Assembleia da Hierarquia Católica do
Egipto (A.H.C.E.) renovem o seu compromisso de solidariedade
colegial.[157] Isto implica, concretamente, uma participação palpável
nas actividades destas estruturas, tanto no que diz respeito ao pessoal
como aos meios financeiros. Assim a Igreja dará testemunho daquela
unidade pela qual Cristo rezou (cf. Jo 17, 20-21).
107. De igual modo parece-me desejável que os bispos se comprometam,
antes de mais, a promover e sustentar, efectiva e afectivamente, o
Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagáscar
(S.C.E.A.M.), enquanto estrutura continental de solidariedade e comunhão
eclesial.[158] Convém também cultivar boas relações com a Confederação
das Conferências dos Superiores Maiores da África e de Madagáscar
(CO.S.M.A.M.), as Associações das Universidades Católicas e outras
estruturas eclesiais do continente.
108. Colaboradores estreitos e indispensáveis do bispo, os
sacerdotes[159] têm o encargo de continuar a obra de evangelização. A
segunda Assembleia para a África do Sínodo dos Bispos foi celebrada
durante o ano que eu dedicara ao sacerdócio, lançando um apelo
particular à santidade. Amados sacerdotes, lembrai-vos de que o vosso
testemunho de vida pacífica, ultrapassando fronteiras tribais e raciais,
pode tocar os corações.[160] O apelo à santidade é um convite para vos
tornardes pastores segundo o coração de Deus,[161] que apascentam o
rebanho com justiça (cf. Ez 34, 16). Ceder à tentação de vos
transformardes em guias políticos[162] ou em agentes sociais seria trair
a vossa missão sacerdotal e prestar um mau serviço à sociedade, que
espera de vós palavras e gestos proféticos. Já dizia São Cipriano:
« Aqueles que possuem a honra do sacerdócio divino (…), devem prestar o
seu ministério somente no altar e no sacrifício, e dedicar-se unicamente
à oração ».[163]
109. Consagrando-vos sobretudo àqueles que o Senhor vos confia para
os formar nas virtudes cristãs e conduzir à santidade, não só os
ganhareis para a causa de Cristo mas fareis deles também os
protagonistas duma sociedade africana renovada. Face à complexidade das
situações com que vos defrontais, convido-vos a aprofundar a vida de
oração e a formação permanente. Que isto se verifique tanto a nível
espiritual como intelectual. Familiarizai-vos com a Sagrada Escritura,
com a Palavra de Deus que meditais cada dia e explicais aos fiéis.
Aprofundai também o vosso conhecimento do Catecismo, dos documentos do
Magistério bem como da doutrina social da Igreja. Deste modo sereis
capazes, por vossa vez, de formar os membros da comunidade cristã, de
que sois os responsáveis imediatos, para que se tornem autênticos
discípulos e testemunhas de Cristo.
110. Vivei, com simplicidade, humildade e amor filial, a obediência
ao bispo da vossa diocese. « Por respeito Àquele que nos amou, convém
obedecer sem qualquer hipocrisia; porque não é deste bispo visível que
se abusa, mas é do Bispo invisível que se procura burlar. Porque, neste
caso, não é de um ser de carne que se trata, mas de Deus que conhece as
realidades ocultas ».[164] No quadro da formação permanente dos
sacerdotes, parece-me oportuno que sejam relidos e meditados
determinados documentos, como o Decreto conciliar sobre o ministério e a
vida dos sacerdotes Presbyterorum ordinis, a Exortação apostólica
pós-sinodal Pastores dabo vobis, de 1992, o Directório para o Ministério
e a Vida dos Presbíteros, de 1994, e ainda a Instrução O Presbítero,
Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, de 2002.
111. Edificai as comunidades cristãs por meio do vosso exemplo,
vivendo com verdade e alegria os vossos compromissos sacerdotais: o
celibato na castidade e o desapego dos bens materiais. Se vividos com
maturidade e serenidade, estes sinais, que vos conformam particularmente
com o estilo de vida de Jesus, exprimem a « dedicação total e exclusiva
a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus ».[165] Colocai todas as vossas
forças na actuação da pastoral diocesana para a reconciliação, a justiça
e a paz, sobretudo através da celebração dos sacramentos da Penitência e
da Eucaristia, da catequese, da formação dos leigos e do acompanhamento
dos responsáveis da sociedade. Cada sacerdote deve poder sentir-se
feliz por servir a Igreja.
112. Seguir Cristo pelo caminho do sacerdócio exige fazer opções.
Estas nem sempre são fáceis de viver. As exigências evangélicas, que o
ensinamento do Magistério foi codificando ao longo dos séculos,
apresentam-se como radicais aos olhos do mundo. Às vezes é difícil
segui-las, mas não impossível. Cristo ensina-nos que não é possível
servir a dois senhores (cf. Mt 6, 24). Nesta passagem bíblica aludia
Ele, sem dúvida, ao dinheiro, aquele tesouro temporal que pode ocupar o
nosso coração (cf. Lc 12, 34); mas, noutras passagens, faz referência
também a muitos outros bens que possuímos, como, por exemplo, a nossa
vida, a nossa família, a nossa educação, as nossas relações pessoais.
Trata-se de bens preciosos e admiráveis que fazem parte de nós mesmos.
Pois bem! Àquele que é chamado, Cristo exige que se abandone totalmente à
Providência; pede uma opção radical (cf. Mt 7, 13-14), que por vezes se
nos torna difícil de compreender e viver. Mas, se Deus é o nosso
verdadeiro tesouro – aquela pérola rara que só se pode adquirir vendendo
tudo o que se possui (cf. Mt 13, 45-46), ou seja, mesmo à custa de
grandes sacrifícios – então desejaremos que o nosso coração e o nosso
corpo, o nosso espírito e a nossa inteligência sejam reservados só para
Ele. Este acto de fé permitir-nos-á ver, sob outra perspectiva, aquilo
que nos parece importante e viver a relação com o nosso corpo e as
nossas relações humanas de família ou de amizade à luz da vocação de
Deus e da sua exigência ao serviço da Igreja. É preciso reflectir
profundamente nisto; esta reflexão há-de começar nos Seminários e
continuar durante toda a vida sacerdotal. De certo modo para nos
encorajar, porque conhece as forças e as fraquezas do nosso coração,
Cristo diz: « Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o
mais ser-vos-á dado por acréscimo » (Mt 6, 33).
113. Os missionários não africanos, respondendo ao apelo do Senhor
com generoso e ardente zelo apostólico, vieram partilhar a alegria da
Revelação. Seguindo os seus passos, há hoje africanos que são
missionários noutros continentes. Como não prestar-lhes aqui uma
homenagem particular? Os missionários vindos para a África – sacerdotes,
religiosos, religiosas e leigos – construíram igrejas, escolas e
dispensários e contribuíram imenso para a visibilidade actual das
culturas africanas, mas principalmente edificaram o Corpo de Cristo e
enriqueceram a casa de Deus. Souberam partilhar o sabor do sal da
Palavra e fizeram resplandecer a luz dos Sacramentos; e, acima de tudo,
deram à África aquilo que possuíam de mais precioso: Cristo. Graças a
eles, numerosas culturas tradicionais foram libertadas de medos
ancestrais e dos espíritos imundos (cf. Mt 10, 1). Do bom grão por eles
semeado (cf. Mt 13, 24), surgiram numerosos santos africanos, que
aparecem agora como modelos aos quais é preciso inspirar-se mais
largamente. Seria desejável que o seu culto fosse reavivado e promovido.
O seu compromisso pela causa do Evangelho atingiu por vezes as raias do
heroísmo, a preço da sua própria vida. Uma vez mais se verificou ser
verdadeira a afirmação de Tertuliano: « O sangue dos mártires torna-se
semente de cristãos ».[166] Dou graças ao Senhor por estes santos e
santas, sinais da vitalidade da Igreja na África.
114. Encorajo os Pastores das Igrejas particulares a individuar,
entre os servidores africanos do Evangelho, aqueles que poderiam,
segundo as normas da Igreja, ser canonizados, não só para aumentar o
número dos santos africanos mas também para obter novos intercessores no
Céu, que acompanhem a Igreja na sua peregrinação terrena e intercedam
junto de Deus pelo continente africano. A Nossa Senhora da África e aos
santos deste amado continente confio a Igreja que nele se encontra.
115. A grandeza da vocação recebida pelos diáconos permanentes merece
ser assinalada. Na fidelidade à missão que há séculos lhes é atribuída,
convido-os a trabalhar em humilde e estreita colaboração com os
bispos.[167] Com amizade, peço-lhes para continuarem a propor aquilo que
Jesus nos ensina no Evangelho: a seriedade no trabalho bem feito,[168] a
força moral no respeito dos valores, a honestidade, o respeito pela
palavra dada, a alegria de contribuir com o próprio tijolo para a
edificação da sociedade e da Igreja, a protecção da natureza, o sentido
do bem comum. Ajudai a sociedade africana, em todas as suas componentes,
a valorizar a responsabilidade dos homens como maridos e pais, a
respeitar a mulher que é igual ao homem em dignidade, a cuidar das
crianças abandonadas a si mesmas e sem educação.
116. Não deixeis de prestar uma atenção particular às pessoas mental
ou fisicamente doentes,[169] às pessoas mais frágeis e aos mais pobres
das vossas comunidades. Que a vossa caridade se faça criativa! Na
pastoral paroquial, recordai-vos de que uma sã espiritualidade permite
ao Espírito de Cristo libertar o ser humano, para que este actue
eficazmente na sociedade. Os bispos terão o cuidado de completar a vossa
formação, o que não deixará de contribuir para o exercício do vosso
carisma.[170] Como Santo Estêvão, São Lourenço e São Vicente, diáconos e
mártires, esforçai-vos por reconhecer e encontrar Cristo na Eucaristia e
nos pobres. Este serviço do altar e da caridade levar-vos-á a amar o
encontro com o Senhor presente no altar e nos pobres. Então estareis
preparados para dar a vossa vida por Ele até à morte.
117. Através dos votos de castidade, pobreza e obediência, a vida das
pessoas consagradas tornou-se um testemunho profético. Podem assim ser
exemplos em matéria de reconciliação, justiça e paz, mesmo em
circunstâncias de fortes tensões[171]. A vida comunitária manifesta que é
possível viver como irmãos ou como irmãs e permanecer unidos, mesmo
quando as origens étnicas e raciais são diferentes (cf. Sl 133/132, 1).
Aquela pode e deve fazer ver e crer que hoje, na África, quem segue
Jesus Cristo encontra n’Ele o segredo da alegria de viver juntos: o amor
mútuo e a comunhão fraterna, diariamente consolidados pela Eucaristia e
a Liturgia das Horas.
118. Possais vós, amadas pessoas consagradas, continuar a viver o
vosso carisma com zelo verdadeiramente apostólico nos diversos âmbitos
indicados pelos vossos fundadores. Neste sentido, redobrai de cuidados
em conservar acesa a vossa lâmpada. Os vossos fundadores quiseram seguir
Cristo a sério, respondendo ao seu apelo. Diversas obras, que
constituem os seus frutos, são jóias que adornam a Igreja;[172] é
preciso, pois, desenvolvê-las seguindo o mais fielmente possível o
carisma dos fundadores, o seu pensamento e os seus projectos. Gostaria
de sublinhar aqui o papel importante das pessoas consagradas na vida
eclesial e missionária: não só constituem uma ajuda necessária e
preciosa na actividade pastoral, mas são também uma manifestação da
natureza íntima da vocação cristã.[173] Por isso, convido-vos, amadas
pessoas consagradas, a permanecer em estreita comunhão com a Igreja
particular e com o seu primeiro responsável, o bispo. Convido-vos também
a fortalecer a vossa união com o Bispo de Roma.
119. A África é o berço da vida contemplativa cristã. Esta, sempre
presente no Norte da África, particularmente no Egipto e na Etiópia,
lançou raízes na África subsariana no último século. O Senhor abençoe os
homens e as mulheres que decidiram segui-Lo incondicionalmente! A sua
vida escondida é como o fermento na massa. A sua oração contínua
sustentará o esforço apostólico dos bispos, dos sacerdotes, das outras
pessoas consagradas, dos catequistas e da Igreja inteira.
120. Os encontros das várias Conferências Nacionais dos Superiores
Maiores e os da Confederação das Conferências dos Superiores Maiores da
África e de Madagáscar (CO.S.M.A.M.) permitem unir as reflexões e as
forças não só para assegurar as finalidades de cada um dos institutos,
preservando sempre a sua autonomia, carácter e espírito próprios, mas
também para tratar das questões comuns num clima de fraternidade e
solidariedade. É bom cultivar um espírito eclesial, garantindo uma sã
coordenação e uma recta cooperação com as Conferências dos Bispos.
121. Os Padres sinodais prestaram uma atenção particular aos
seminaristas. Sem menosprezar a formação teológica e espiritual,
evidentemente prioritária, sublinharam a importância do crescimento
psicológico e humano de cada candidato. Os futuros sacerdotes devem
desenvolver em si mesmos uma recta compreensão das respectivas culturas,
sem se fechar nas suas fronteiras étnicas e culturais.[174] De igual
forma, hão-de radicar-se nos valores evangélicos para reforçar, na
fidelidade e lealdade, o seu compromisso com Cristo. A fecundidade da
sua missão futura dependerá muito da sua profunda união com Cristo, da
qualidade da vida de oração e da vida interior, dos valores humanos,
espirituais e morais que tiverem assimilado durante a formação. Oxalá
cada seminarista se torne um homem de Deus, procurando e vivendo « a
justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão » (1 Tm 6,
11).
122. « Os seminaristas devem aprender de tal modo a vida comunitária,
que a vida fraterna entre eles se torne, sucessivamente, a fonte duma
autêntica experiência de sacerdócio como íntima fraternidade
sacerdotal ».[175] Seguindo as indicações dos bispos, os directores e os
formadores do Seminário trabalharão conjuntamente para garantir uma
formação integral aos seminaristas que lhes estão confiados. Na selecção
dos candidatos, será necessário realizar um cuidadoso discernimento e
um qualificado acompanhamento, para que sejam verdadeiros discípulos de
Cristo e autênticos servidores da Igreja aqueles que forem admitidos ao
sacerdócio. Ter-se-á a peito introduzi-los nas inúmeras riquezas do
património bíblico, teológico, espiritual, litúrgico, moral e jurídico
da Igreja.
123. Dirigi-me aos seminaristas, escrevendo-lhes uma Carta depois do
Ano Sacerdotal que terminou em Junho de 2010.[176] Nela insisti sobre a
identidade, a espiritualidade e o apostolado do sacerdote. Recomendo
vivamente a cada seminarista que leia e medite este breve documento, que
lhe é pessoalmente destinado e que os formadores hão-de colocar à sua
disposição. O Seminário é um tempo de preparação para o sacerdócio, um
tempo de estudo; é um tempo de discernimento, formação e amadurecimento
humano e espiritual. Possam os seminaristas utilizar, sabiamente, este
tempo que lhes é oferecido para acumular reservas espirituais e humanas,
a que poderão recorrer durante a sua vida sacerdotal.
124. Amados seminaristas, sede apóstolos junto dos jovens da vossa
geração, convidando-os a seguir Cristo na vida sacerdotal. Não tenhais
medo! A oração de inúmeras pessoas vos acompanha e apoia (cf. Mt 9,
37-38).
125. Os catequistas são preciosos agentes pastorais na missão
evangelizadora. O seu papel foi muito importante na primeira
evangelização, no acompanhamento catecumenal, na animação e apoio das
comunidades. « Com naturalidade, realizaram uma eficaz inculturação, que
deu maravilhosos frutos (cf. Mc 4, 20). São os catequistas que
permitiram que “a luz brilhasse diante dos homens” (Mt 5, 16), para que,
vendo o bem que faziam, populações inteiras pudessem dar glória ao
nosso Pai que está nos céus. São africanos que evangelizaram
africanos ».[177] Importante no passado, o seu papel continua essencial
para o presente e o futuro da Igreja. Agradeço-lhes o seu amor à Igreja.
126. Exorto os bispos e os sacerdotes a cuidarem com desvelo da
formação humana, intelectual, doutrinal, moral, espiritual e pastoral
dos catequistas, prestando grande atenção às suas condições de vida para
que a sua dignidade seja salvaguardada. Não esqueçam as suas legítimas
necessidades materiais,[178] porque o trabalhador fiel da vinha do
Senhor tem direito a uma justa retribuição (cf. Mt 20, 1-16), à espera
daquela que lhe há-de dar de maneira equitativa o Senhor, porque só Ele é
justo e conhece os corações.
127. Amados catequistas, lembrai-vos de que sois, para um grande
número de comunidades, o rosto concreto e imediato do discípulo
diligente e o modelo da vida cristã. Encorajo-vos a proclamar, com o
exemplo, que a vida familiar merece uma consideração enorme, que a
educação cristã prepara os filhos para serem, na sociedade, honestos e
dignos de confiança nas suas relações com os outros. Acolhei a todos sem
discriminação: pobres e ricos, naturais e estrangeiros, católicos e não
católicos (cf. Tg 2, 1). Não façais acepção de pessoas (cf. Act 10, 34;
Rm 2, 11;
Gl 2, 6; Ef 6, 9). Se vós próprios assimilardes a Sagrada Escritura e os ensinamentos do Magistério, conseguireis oferecer uma catequese sólida, animar grupos de oração e propor a lectio divina às comunidades que cuidais. Então a vossa acção tornar-se-á coerente, perseverante e fonte de inspiração. Ao mesmo tempo que evoco, com gratidão, a memória gloriosa dos vossos antecessores, saúdo-vos e encorajo-vos a trabalhar hoje com a mesma abnegação, coragem apostólica e fé. Procurando ser fiéis à vossa missão, não só crescereis na vossa santidade pessoal mas contribuireis também de modo eficaz para a edificação do Corpo Místico de Cristo, a Igreja.
Gl 2, 6; Ef 6, 9). Se vós próprios assimilardes a Sagrada Escritura e os ensinamentos do Magistério, conseguireis oferecer uma catequese sólida, animar grupos de oração e propor a lectio divina às comunidades que cuidais. Então a vossa acção tornar-se-á coerente, perseverante e fonte de inspiração. Ao mesmo tempo que evoco, com gratidão, a memória gloriosa dos vossos antecessores, saúdo-vos e encorajo-vos a trabalhar hoje com a mesma abnegação, coragem apostólica e fé. Procurando ser fiéis à vossa missão, não só crescereis na vossa santidade pessoal mas contribuireis também de modo eficaz para a edificação do Corpo Místico de Cristo, a Igreja.
128. A Igreja torna-se presente e activa na vida do mundo através dos
seus membros leigos. Estes têm uma grande função a desempenhar na
Igreja e na sociedade. Para que possam assumir bem esta função, é
preciso que se organizem, nas dioceses, escolas ou centros de formação
bíblica, espiritual, litúrgica e pastoral. É meu vivo desejo que os
leigos com responsabilidades de ordem política, económica e social sejam
dotados dum sólido conhecimento da doutrina social da Igreja, que
proporciona princípios de acção conformes com o Evangelho. De facto, os
fiéis leigos são « embaixadores de Cristo » (2 Cor 5, 20) no espaço
público, no coração do mundo.[179] O seu testemunho cristão só será
credível, se forem profissionais competentes e honestos.
129. Os leigos, homens e mulheres, são chamados antes de mais à
santidade, e a viver esta santidade no mundo. Amados fiéis, cultivai com
solicitude a vossa vida interior e a vossa relação com Deus, de modo
que o Espírito Santo vos ilumine em todas as circunstâncias. Para que a
pessoa humana e o bem comum estejam, efectivamente, no centro da acção
humana, política, económica ou social, uni-vos profundamente a Cristo a
fim de O conhecerdes e amardes, reservando tempo para Deus na oração e
abeirando-vos dos Sacramentos. Deixai-vos iluminar e instruir por Deus e
pela sua Palavra.
130. Queria deixar uma palavra mais sobre o carácter particular da
vida profissional do cristão. Em suma, trata-se de testemunhar Cristo no
mundo, mostrando, pelo exemplo, que o trabalho não é primariamente um
meio de granjeio mas pode ser também um espaço muito positivo de
realização pessoal. O trabalho consente que tomeis parte na obra da
criação e estejais ao serviço dos vossos irmãos e irmãs. Agindo assim,
sereis « o sal da terra » e « a luz do mundo », como nos pede o Senhor.
Qualquer que seja a vossa posição na sociedade, na vida diária, praticai
a opção preferencial pelos pobres, segundo o espírito das
Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12), para verdes neles concretamente o
rosto de Jesus que vos chama a servi-Lo (cf. Mt 25, 31-46).
131. Pode ser útil organizar-vos em associações para continuardes a
formação da vossa consciência cristã e vos apoiardes mutuamente na luta
pela justiça e a paz. As « pequenas comunidades cristãs » – small
christian communities (S.C.C.) ou communautés ecclésiales vivantes
(C.E.V.) – e as « Comunidades novas »[180] são estruturas basilares para
alimentar a chama viva do vosso Baptismo. Ponde as vossas capacidades a
render também na animação das universidades católicas, que não cessam
de desenvolver-se na linha das recomendações da Exortação apostólica
Ecclesia in Africa.[181] De igual modo queria encorajar-vos a ter uma
presença activa e corajosa no mundo da política, da cultura, das artes,
dos media e das diversas associações. Seja uma presença sem complexos
nem acanhamento, mas pundonorosa e consciente da preciosa contribuição
que pode prestar ao bem comum.
Capítulo II - PRINCIPAIS CAMPOS DE APOSTOLADO
132. O Senhor confiou-nos uma missão particular, não nos deixando
desprovidos de meios para a cumprir. Não só enriqueceu cada um de nós
com dons pessoais para a edificação do seu Corpo que é a Igreja, mas
entregou também a toda a comunidade eclesial dons particulares para lhe
permitir continuar a sua missão. O dom por excelência é o Espírito
Santo. É graças a Ele que formamos um só corpo e, « só na força do
Espírito Santo, podemos encontrar aquilo que é recto e depois pô-lo em
prática ».[182] Embora necessários para nos permitir agir, os meios
permanecem insuficientes, se, através das « nossas capacidades de
pensar, falar, sentir, agir »,[183] não for o próprio Deus que nos
predispõe a colaborar na sua obra de reconciliação. É graças ao Espírito
Santo que nos tornamos verdadeiramente « o sal da terra » e « a luz do
mundo » (Mt 5, 13.14).
133. A Igreja, « em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género
humano ».[184] Enquanto comunidade de discípulos de Cristo, podemos
tornar visível e comunicar o amor de Deus. O amor « é a luz –
fundamentalmente, a única – que ilumina incessantemente um mundo às
escuras e nos dá a coragem de viver e agir ».[185] Esta realidade
transparece na Igreja universal, diocesana, paroquial, nas « pequenas
comunidades cristãs » (S.C.C./C.E.V.),[186] nos movimentos e
associações, e enfim na família cristã, « chamada a ser “uma Igreja
doméstica”, lugar de fé, de oração e de amorosa solicitude pelo bem
verdadeiro e duradouro de cada um dos seus membros »,[187] uma
comunidade onde se vive o gesto da paz.[188] As « pequenas comunidades
cristãs », os movimentos e as associações podem ser, no seio das
paróquias, lugares propícios para acolher e viver o dom da reconciliação
oferecida por Cristo, nossa paz. Cada membro da comunidade deve
tornar-se o guardião do outro: é um dos significados do gesto da paz na
celebração da Eucaristia.[189]
134. As escolas católicas são instrumentos preciosos para se
aprender, desde a infância, a tecer laços de paz e harmonia na
sociedade, através da educação nos valores africanos assumidos pelos do
Evangelho. Encorajo os bispos e os institutos de pessoas consagradas a
trabalhar para que as crianças em idade escolar possam frequentar uma
escola: é uma questão de justiça para com toda a criança; mais ainda,
disso depende o futuro da África. Que os cristãos, particularmente os
jovens, se dediquem às ciências da educação tendo em vista transmitir um
saber impregnado pela verdade, um saber-fazer e um saber-ser animados
por uma consciência cristã formada à luz da doutrina social da Igreja.
Um ponto a que se deverá prestar atenção é assegurar uma justa
remuneração ao pessoal das instituições educativas da Igreja e ao
conjunto do pessoal das estruturas eclesiais, para reforçar a
credibilidade da Igreja.
135. No contexto actual de grande mistura de populações, de culturas e
de religiões, o papel das universidades e instituições académicas
católicas é essencial na busca paciente, rigorosa e humilde da luz que
deriva da Verdade. Só uma verdade que transcende a medida humana,
condicionada pelos seus limites, satisfaz as pessoas e reconcilia as
sociedades entre si. Com esta finalidade, é oportuno criar novas
universidades católicas, onde ainda não existam. Amados irmãos e irmãs
empenhados nas universidades e demais instituições académicas católicas,
é tarefa vossa, por um lado, educar a inteligência e o espírito das
jovens gerações à luz do Evangelho e, por outro, ajudar as sociedades
africanas a compreenderem melhor os desafios que se colocam hoje à
África, oferecendo-lhes a luz necessária através das vossas pesquisas e
análises.
136. A missão confiada pela Exortação apostólica Ecclesia in Africa
às instituições universitárias católicas conserva toda a sua
pertinência. O meu Beato Predecessor deixou lá escrito: « As
universidades e os institutos superiores católicos na África desempenham
um papel importante na proclamação da Palavra salvífica de Deus. Eles
são sinal do crescimento da Igreja, enquanto, nas suas investigações,
integram as verdades e as experiências da fé, e ajudam a
interiorizá-las. Assim, estes centros de estudo servem a Igreja,
fornecendo-lhe pessoal bem preparado, estudando importantes questões
teológicas e sociais, desenvolvendo a teologia africana, promovendo o
trabalho de inculturação (…), publicando livros e divulgando o
pensamento católico, realizando as pesquisas que lhes são confiadas
pelos bispos, contribuindo para o estudo científico das culturas. (…) Os
centros culturais católicos oferecem à Igreja singulares possibilidades
de presença e acção no campo das mudanças culturais. Na realidade,
constituem uma espécie de fórum público que permite fazer conhecer
largamente, num diálogo criativo, as convicções cristãs sobre o homem, a
mulher, a família, o trabalho, a economia, a sociedade, a política, a
vida internacional, o meio ambiente. Tornam-se assim um lugar de escuta,
respeito e tolerância ».[190] Os bispos vigiarão para que estas
instituições universitárias mantenham a sua natureza católica, assumindo
sempre orientações fiéis à doutrina do Magistério da Igreja.
137. Para os estudantes poderem oferecer à sociedade africana uma
contribuição forte e qualificada, é indispensável formá-los na doutrina
social da Igreja. Isto ajudará a Igreja na África a preparar,
serenamente, uma pastoral que atinja o ser do africano e o reconcilie
consigo mesmo na adesão a Cristo. Uma vez mais, cabe aos bispos
sustentar uma pastoral da inteligência e da razão que crie o hábito de
um diálogo racional e de uma análise crítica na sociedade e na Igreja.
Como disse em Yaoundé, « talvez este século permita, com a graça de
Deus, o renascimento no vosso continente da prestigiosa Escola de
Alexandria, certamente porém sob um forma diversa e nova. Porque não
esperar dela que possa fornecer aos africanos de hoje e à Igreja
universal grandes teólogos e mestres espirituais que hão-de contribuir
para a santificação dos habitantes deste continente e da Igreja
inteira? ».[191]
138. É bom que os bispos apoiem as capelanias dentro das
universidades e das instituições educativas da Igreja, e as criem nas
estruturas educativas públicas. A capela será de certo modo o seu
coração. Permitirá ao estudante encontrar Deus e colocar-se sob o seu
olhar. De igual modo o capelão – que há-de ser escolhido com cuidado
pelas suas virtudes sacerdotais – terá possibilidade de exercer o seu
ministério pastoral de ensino e santificação.
139. Em todos os tempos, a Igreja se preocupou com a saúde. O exemplo
vem-lhe do próprio Cristo, que, depois de ter proclamado a Palavra e
curado os doentes, confiou aos seus discípulos o mesmo poder de « curar
todas as enfermidades e doenças » (Mt 10, 1; cf. 14, 35; Mc 1, 32.34; 6,
13.55). É esta mesma solicitude pelos doentes que a Igreja continua a
manifestar através das suas instituições sanitárias. Como sublinharam os
Padres sinodais, a Igreja está decididamente empenhada na luta contra
as doenças, as moléstias e as grandes pandemias.[192]
140. As instituições sanitárias da Igreja e todas as pessoas que, por
diverso título, nelas trabalham, esforcem-se por ver em cada doente um
membro sofredor do Corpo de Cristo. No vosso caminho, surgem
dificuldades de todo o género: o número crescente de doentes, a escassez
dos meios materiais e financeiros, a deserção dos organismos que vos
apoiaram durante muito tempo e agora vos abandonam. Tudo isto por vezes
vos dá a impressão dum trabalho sem resultados palpáveis. Amados agentes
sanitários, sede portadores do amor compassivo de Jesus às pessoas que
sofrem. Sede pacientes, sede fortes e tende coragem! Relativamente às
pandemias, os meios financeiros e materiais são indispensáveis mas
empenhai-vos também, sem descanso, a informar e formar a população,
sobretudo os jovens.[193]
141. É preciso que as instituições sanitárias sejam administradas
segundo as normas éticas da Igreja, assegurando os serviços de acordo
com a sua doutrina e exclusivamente a favor da vida. Que elas não se
tornem uma fonte de enriquecimento para os particulares. A gestão dos
fundos concedidos deve ter em vista a transparência e servir sobretudo o
bem do doente. Entretanto cada instituição sanitária deverá ter uma
capela; a sua presença recordará aos profissionais (direcção,
funcionários, médicos e enfermeiros…) e ao doente que só Deus é o Senhor
da vida e da morte. Ao mesmo tempo é preciso multiplicar, na medida do
possível, os pequenos dispensários que asseguram localmente tratamentos e
primeiros socorros.
142. A Exortação apostólica Ecclesia in Africa considera os media
modernos não apenas como instrumentos de comunicação, mas também como um
mundo a evangelizar.[194] Devem oferecer uma comunicação verdadeira,
que é uma prioridade na África, pois são uma alavanca importante para o
desenvolvimento do continente[195] e para a evangelização. Os « media
podem constituir uma válida ajuda para fazer crescer a comunhão da
família humana e o bom costume da sociedade, quando se tornam
instrumentos de promoção da participação universal na busca comum
daquilo que é justo ».[196]
143. Todos sabemos que as novas tecnologias de informação podem
tornar-se instrumentos poderosos de coesão e paz ou, pelo contrário,
promotores eficazes de destruição e divisão. Podem favorecer ou
prejudicar a nível moral, difundir tanto a verdade como o erro, propor
tanto o feio como o belo. A enorme quantidade de notícias ou de
contra-notícias e ainda de imagens pode ter o seu interesse, mas pode
igualmente conduzir a uma forte manipulação. A informação pode com
grande facilidade tornar-se desinformação; e a formação, uma deformação.
Os media tanto podem promover uma autêntica humanização, como, pelo
contrário, comportar uma desumanização.
144. Os media evitarão este escolho se estiverem « organizados e
orientados à luz duma imagem da pessoa e do bem comum que traduza os
seus valores universais. Os meios de comunicação social não favorecem a
liberdade nem globalizam o desenvolvimento e a democracia para todos
simplesmente porque multiplicam as possibilidades de interligação e
circulação das ideias; para alcançar tais objectivos, é preciso que
estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos,
animados expressamente pela caridade e colocados ao serviço da verdade,
do bem e da fraternidade natural e sobrenatural ».[197]
145. A Igreja deve estar mais presente nos media, para fazer deles
não apenas um instrumento de difusão do Evangelho mas também um meio
útil de formação dos povos africanos para a reconciliação na verdade,
para a promoção da justiça e da paz. Por isso, uma sólida formação dos
jornalistas na ética e no respeito pela verdade ajudá-los-á a evitar a
sedução do sensacional e também a tentação de manipular a informação e
do enriquecimento fácil. Os jornalistas cristãos não tenham medo de
manifestar a sua fé; antes, sintam ufania dela. É bom também encorajar a
presença e a actividade de fiéis leigos competentes no mundo das
comunicações públicas e privadas. Como o fermento na massa, continuarão a
dar testemunho do contributo positivo e construtivo que a doutrina de
Cristo e da Igreja traz ao mundo.
146. Além disso, a opção adoptada pela primeira Assembleia Especial
para a África de considerar a comunicação como um pilar essencial da
evangelização demonstrou-se frutuosa para o desenvolvimento dos media
católicos; mas conviria talvez coordenar as estruturas existentes, como
já se faz em algumas partes. Uma tal melhoria na utilização dos media
contribuirá para uma maior promoção dos valores defendidos pelo Sínodo: a
paz, a justiça e a reconciliação na África,[198] e permitirá a este
continente participar no desenvolvimento actual do mundo.
Capítulo III - « LEVANTA-TE, TOMA A TUA ENXERGA E ANDA » (Jo 5, 8)
I. O ensinamento de Jesus na piscina de Betzatá
147. Amados irmãos no episcopado, queridos filhos e filhas da África,
depois de ter passado em revista as principais acções e alguns meios
propostos pela Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos
para a realização da missão da Igreja, desejo voltar a alguns pontos já
abordados antes de modo genérico.
148. São João, no capítulo V do seu evangelho, apresenta-nos um
episódio comovente. Passa-se na piscina de Betzatá, que tinha cinco
pórticos. « Neles jaziam numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos »
(v. 3), que esperavam a agitação da água, isto é, o momento da cura.
Entre eles, encontrava-se « um homem que padecia da sua doença há trinta
e oito anos » (v. 5), mas não tinha ninguém para o ajudar a mergulhar
na piscina. Sucede então que Jesus entra na sua vida. Tudo muda, quando
Jesus lhe diz: « Levanta-te, toma a tua enxerga e anda » (v. 8). « E, no
mesmo instante – diz o evangelista –, aquele homem ficou são » (v. 9).
Já não precisava da água da piscina.
149. O acolhimento de Jesus proporciona à África uma cura mais
profunda e eficaz do que todas as outras. Como declarou o apóstolo Pedro
nos Actos dos Apóstolos (3, 6), repito que não é de ouro nem de prata
que a África tem primariamente necessidade; o que ela mais deseja é
pôr-se de pé como o homem da piscina de Betzatá, deseja ter confiança em
si mesma, na sua dignidade de povo amado pelo seu Deus. Por isso, é
este encontro com Jesus que a Igreja deve oferecer aos seus corações
dilacerados e feridos, ardentemente desejosos de reconciliação e de paz,
sedentos de justiça. Devemos oferecer e anunciar a Palavra de Cristo
que cura, liberta e reconcilia.
A. A Sagrada Escritura
150. Segundo São Jerónimo, « a ignorância das Escrituras é ignorância
de Cristo ».[199] A leitura e a meditação da Palavra de Deus não só nos
proporcionam « a maravilha que é o conhecimento de Jesus Cristo » (Flp
3, 8), mas também nos radicam mais profundamente em Cristo e orientam o
nosso serviço de reconciliação, de justiça e de paz. A celebração da
Eucaristia, cuja primeira parte é a liturgia da Palavra, constitui a
fonte e o ápice de tal leitura e meditação. Por isso recomendo que se
promova o apostolado bíblico em cada comunidade cristã, na família e nos
movimentos eclesiais.
151. Possa cada fiel de Cristo ganhar o hábito da leitura diária da
Bíblia. Uma leitura atenta da recente Exortação apostólica Verbum Domini
fornecerá úteis indicações pastorais. Ter-se-á, pois, o cuidado de
iniciar os fiéis na venerável e frutuosa tradição da lectio divina. É a
Palavra de Deus que pode contribuir para o conhecimento de Jesus Cristo e
realizar as conversões que levam à reconciliação, pois aquela discerne
« os sentimentos e as intenções do coração » (Heb 4, 12). Os Padres
sinodais encorajam as paróquias, as pequenas comunidades cristãs
(S.C.C./C.E.V.), as famílias, as associações e os movimentos eclesiais a
terem momentos de partilha da Palavra de Deus.[200] Assim tornar-se-ão
antes de mais lugares onde a Palavra de Deus, que edifica a comunidade
dos discípulos de Cristo, é lida em conjunto, meditada e celebrada. Esta
Palavra regenera continuamente a comunhão fraterna (cf. 1 Ped 1,
22-25).
152. Para edificar uma sociedade reconciliada, justa e pacífica, o
meio mais eficaz é uma vida de íntima comunhão com Deus e com os outros.
Com efeito, ao redor da mesa do Senhor, reúnem-se homens e mulheres de
origem, cultura, raça, língua e etnia diversas. Formam uma só e idêntica
unidade, graças ao Corpo e Sangue de Cristo. Através de
Cristo-Eucaristia, tornam-se consanguíneos e, por conseguinte,
autenticamente irmãos e irmãs, graças à Palavra, ao Corpo e Sangue do
próprio Jesus Cristo. Este vínculo de fraternidade é mais forte do que o
das nossas famílias humanas, do que o das nossas tribos. « Porque
àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem
uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito
de muitos irmãos » (Rm 8, 29). O exemplo de Jesus torna-os capazes de se
amarem, de darem a vida uns pelos outros, pois o amor com que cada um é
amado deve comunicar-se em obras e verdade.[201] Por isso é
indispensável celebrar em comunidade o domingo, Dia do Senhor, bem como
as festas de preceito.
153. Não quero fazer aqui uma exposição teológica sobre a Eucaristia;
na Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, delineei as
suas grandes linhas. Limito-me, aqui, a exortar toda a Igreja na África a
cuidar de modo particular a celebração da Eucaristia, memorial do
Sacrifício de Jesus Cristo, sinal de unidade e vínculo de caridade,
banquete pascal e penhor da vida eterna. A Eucaristia deve ser celebrada
com dignidade e beleza, seguindo as normas estabelecidas. A Adoração
Eucarística, pessoal e comunitária, permitirá aprofundar este grande
mistério. Nesta linha, poder-se-ia celebrar um Congresso Eucarístico
Continental; este sustentaria o esforço dos cristãos na sua solicitude
por testemunhar os valores fundamentais de comunhão em todas as
sociedades africanas.[202]
154. Para que o mistério eucarístico seja respeitado, os Padres
sinodais recordam que as igrejas e as capelas são lugares sagrados que
se hão-de reservar unicamente para as celebrações litúrgicas, evitando,
na medida do possível, que se tornem simplesmente espaços de
socialização ou espaços culturais. Convém promover a sua função
primária: ser um lugar privilegiado de encontro entre Deus e o seu povo,
entre Deus e a sua criatura fiel. Além disso convém velar para que a
arquitectura dos edifícios de culto seja digna do mistério celebrado e
de acordo com a legislação eclesial e o estilo local. Estas construções
devem ser feitas sob a responsabilidade dos bispos, depois de terem
ouvido o parecer de pessoas competentes em liturgia e arquitectura.
Oxalá se possa dizer ao transpor o seu limiar: « O Senhor está realmente
neste lugar (…). Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu » (Gn 28,
16.17). De igual forma se pode afirmar que estes lugares atingirão o
seu objectivo, se forem uma ajuda para a comunidade – regenerada na
Eucaristia e demais sacramentos – prolongar a celebração na vida social,
perpetuando o exemplo do próprio Cristo (cf. Jo 13, 15).[203] Esta
« coerência eucarística »[204] interpela toda a consciência cristã (cf. 1
Cor 11, 17-34).
155. Para ajudar as sociedades africanas a curarem-se das feridas da
divisão e do ódio, os Padres sinodais convidam a Igreja a lembrar-se de
que traz dentro de si as mesmas feridas e amarguras. Por isso precisa
que o Senhor a cure a fim de testemunhar, de maneira credível, que o
sacramento da Reconciliação restabelece e cura os corações feridos. Este
sacramento renova os vínculos quebrados entre a pessoa humana e Deus, e
restaura os laços na sociedade. Educa também os nossos corações e as
nossas mentes para aprendermos a ter « o mesmo pensar e os mesmos
sentimentos, o amor de irmãos, a misericórdia e a humildade » (1 Ped 3,
8).
156. Lembro a confissão individual, que é tão importante que nenhum
outro acto de Reconciliação nem qualquer outra paraliturgia a podem
substituir. Por isso encorajo todos os fiéis da Igreja – clero, pessoas
consagradas e leigos – a darem de novo o verdadeiro lugar ao sacramento
da Reconciliação, na sua dupla dimensão pessoal e comunitária.[205] As
comunidades, que não têm sacerdotes por causa das distâncias ou por
outras razões, podem viver o carácter eclesial da penitência e da
reconciliação através de formas não sacramentais. Também deste modo se
podem unir ao caminho penitencial da Igreja os cristãos em situação
irregular. Como indicaram os Padres sinodais, a forma não sacramental
pode ser considerada como um meio de preparação dos fiéis para uma
recepção frutuosa do sacramento,[206] mas não poderá tornar-se uma norma
habitual e menos ainda substituir o próprio sacramento. Com todo o
coração exorto os sacerdotes a viverem pessoalmente este sacramento e a
tornarem-se verdadeiramente disponíveis para a sua celebração.
157. Para encorajar a reconciliação, a nível comunitário, recomendo
vivamente – como desejaram os Padres sinodais – que se celebre todos os
anos, em cada país africano, « um dia ou uma semana de reconciliação,
particularmente durante o Advento ou a Quaresma ».[207] O Simpósio das
Conferências Episcopais da África e de Madagáscar (S.C.E.A.M.) poderá
contribuir para a sua realização e, de acordo com a Santa Sé, promover
um Ano da Reconciliação a nível continental para pedir a Deus um perdão
especial para todos os males e feridas que os seres humanos se
infligiram uns aos outros na África, e para que se reconciliem as
pessoas e os grupos que foram ofendidos na Igreja e no conjunto da
sociedade.[208] Tratar-se-á de um Ano Jubilar extraordinário « durante o
qual a Igreja na África e nas ilhas adjacentes dá graças com a Igreja
universal e pede para receber os dons do Espírito Santo »,[209]
especialmente o dom da reconciliação, da justiça e da paz.
158. Para tais celebrações, será útil seguir este conselho dos Padres
sinodais: « Oxalá a memória das grandes testemunhas que gastaram a sua
vida ao serviço do Evangelho e do bem comum ou em defesa da verdade e
dos direitos humanos seja guardada e recordada fielmente ».[210] A este
respeito, lembro que os santos são as verdadeiras estrelas da nossa
vida, « as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de
esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol
erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele,
precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da
luz d’Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia ».[211]
159. Antes de concluir este documento, quero voltar uma vez mais à tarefa da Igreja na África que é a de se empenhar na evangelização, na missio ad gentes, e também na nova evangelização, para que a fisionomia do continente africano se modele cada vez mais pelo ensinamento sempre actual de Cristo, verdadeira « luz do mundo » e autêntico « sal da terra ».
A. Portadores de Cristo, « luz do mundo »
160. A obra premente da evangelização realiza--se de maneira
diversificada segundo a situação específica de cada país. « Em sentido
próprio, temos a missio ad gentes dirigida àqueles que não conhecem
Cristo. Em sentido lato, fala-se de “evangelização” para referir o
aspecto ordinário da pastoral, e de “nova evangelização” para a pastoral
com aqueles que abandonaram a praxis cristã ».[212] Somente a
evangelização que é animada pela força do Espírito Santo se torna a
« lei nova do Evangelho » e produz frutos espirituais.[213] O âmago de
toda a actividade evangelizadora é o anúncio da Pessoa de Jesus, o Verbo
de Deus encarnado (cf. Jo 1, 14), morto e ressuscitado, presente para
sempre na comunidade dos fiéis, na sua Igreja (cf. Mt 28, 20). Trata-se
duma tarefa urgente, e não só para a África mas para o mundo inteiro,
porque a missão que Cristo redentor confiou à sua Igreja ainda não
alcançou a plena realização.
161. O « Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus » (Mc 1, 1) é o
caminho seguro para encontrar a Pessoa do Senhor Jesus. Perscrutar as
Escrituras permite-nos descobrir cada vez mais o verdadeiro rosto de
Jesus, revelação de Deus Pai (cf. Jo 12, 45), e a sua obra de salvação.
« Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida cristã faz-nos
encontrar o sentido mais profundo daquilo que João Paulo II
incansavelmente lembrou: continuar a missio ad gentes e empreender com
todas as forças a nova evangelização ».[214]
162. Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja na África deve anunciar –
vivendo-o – o mistério da salvação àqueles que ainda não o conhecem. O
Espírito Santo, que os cristãos receberam no Baptismo, é o fogo de amor
que impele à acção evangelizadora. Depois do Pentecostes, os discípulos,
« cheios do Espírito Santo » (Act 2, 4), saíram do Cenáculo – onde, por
medo, se tinham trancado – para proclamar a Boa Notícia de Jesus
Cristo. O acontecimento do Pentecostes permite-nos compreender melhor a
missão dos cristãos, « luz do mundo » e « sal da terra », no continente
africano. É próprio da luz difundir-se e iluminar os numerosos irmãos e
irmãs que ainda estão nas trevas. A missio ad gentes compromete todos os
cristãos da África. Animados pelo Espírito, devem ser portadores de
Jesus Cristo, « luz do mundo », ao continente inteiro, em todos os
domínios da vida pessoal, familiar e social. Os Padres sinodais
assinalaram « a urgência e a necessidade da evangelização, que é a
missão e a verdadeira identidade da Igreja ».[215]
B. Testemunhas de Cristo Ressuscitado
163. O Senhor Jesus continua hoje a exortar os cristãos da África a
pregarem, em seu Nome, « a conversão para o perdão dos pecados a todos
os povos » (Lc 24, 47). Por isso, são chamados a ser testemunhas do
Senhor ressuscitado (cf. Lc 24, 48). Os Padres sinodais sublinharam que a
evangelização « consiste essencialmente em dar testemunho de Cristo com
a força do Espírito através da vida, e depois por meio da palavra, num
espírito de abertura aos outros, de respeito e diálogo com eles,
atendo-se aos valores do Evangelho ».[216] No caso específico da Igreja
na África, este testemunho deve estar ao serviço da reconciliação, da
justiça e da paz.
164. O anúncio do Evangelho deve reencontrar o ardor dos primórdios
da evangelização do continente africano, atribuída ao evangelista
Marcos, ao qual se seguiu uma « falanje inumerável de santos, mártires,
confessores, virgens ».[217] Com gratidão, é preciso aprender o
entusiasmo dos numerosos missionários que, durante vários séculos,
sacrificaram a vida para levar a Boa Notícia aos seus irmãos e irmãs
africanos. Ao longo destes últimos anos, a Igreja comemorou em diversos
países significativas efemérides jubilares da evangelização,
comprometendo-se, justamente, a difundir o Evangelho no meio daqueles
que ainda não conhecem o nome de Jesus Cristo.
165. Para que este esforço se torne cada vez mais eficaz, a missio ad
gentes deve caminhar lado a lado com a nova evangelização. Não são
raras, mesmo na África, as situações que requerem uma nova apresentação
do Evangelho, « nova no seu entusiasmo, nos seus métodos e nas suas
expressões ».[218] De modo particular, a nova evangelização deve
integrar a dimensão intelectual da fé na experiência viva do encontro
com Jesus Cristo presente e operante na comunidade eclesial, porque, na
origem do facto de ser cristão, não está uma decisão ética nem uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que
dá à vida um novo horizonte e consequentemente a sua orientação
decisiva. Por isso a catequese deve integrar a parte teórica,
constituída por noções aprendidas de memória, com a parte prática,
vivida ao nível litúrgico, espiritual, eclesial, cultural e caritativo, a
fim de que a semente da Palavra de Deus, caída num terreno fértil,
lance profundas raízes e possa crescer e chegar à maturação.
166. Mas, para que isto aconteça, é indispensável empregar os novos
métodos que hoje temos à nossa disposição. Quando se trata dos meios de
comunicação social, de que já falei, é preciso não esquecer um ponto por
mim sublinhado recentemente na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum
Domini: « São Tomás de Aquino, mencionando Santo Agostinho, insiste
vigorosamente: “A letra do Evangelho também mata, se faltar a graça
interior da fé que cura” ».[219] Cientes desta exigência, é preciso ter
sempre presente que nenhum meio pode nem deve substituir o contacto
pessoal, o anúncio verbal, bem como o testemunho de uma vida cristã
autêntica. Este contacto pessoal e este anúncio verbal devem exprimir a
fé viva, que compromete e transforma a existência, e o amor de Deus, que
alcança e toca cada um tal como é.
167. A Igreja que caminha na África é chamada a contribuir também
para a nova evangelização dos países secularizados, donde outrora
provinham numerosos missionários e que hoje, infelizmente, carecem de
vocações sacerdotais e para a vida consagrada. Entretanto há já um
grande número de africanos e africanas que acolheram o convite do Senhor
da messe (cf. Mt 9, 37-38) para trabalhar na sua vinha (cf. Mt 20,
1-16). Sem diminuir o zelo missionário ad gentes nos respectivos países,
e mesmo no continente inteiro, os bispos da África devem acolher com
generosidade o apelo dos seus irmãos dos países que carecem de vocações e
acudir aos fiéis privados de sacerdote. Esta colaboração, que deve ser
regulada através de acordos entre a Igreja que envia e aquela que
recebe, torna-se um sinal concreto de fecundidade da missio ad gentes.
Esta, abençoada pelo Senhor, Bom Pastor (cf. Jo 10, 11-18), fornece
assim um precioso apoio à nova evangelização nos países de antiga
tradição cristã.
168. O anúncio da Boa Nova faz nascer na Igreja novas expressões,
apropriadas às necessidades dos tempos, das culturas e às expectativas
dos homens. O Espírito Santo não deixa de suscitar, também na África,
homens e mulheres, que, reunidos em várias associações, movimentos e
comunidades, consagram a sua vida à difusão do Evangelho de Jesus
Cristo. Segundo a exortação do Apóstolo dos gentios – « não apagueis o
Espírito; não desprezeis as profecias. Examinai tudo, guardai o que é
bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal » (1 Ts 5, 19-22) –, os
Pastores têm o dever de velar para que estas novas expressões da perene
fecundidade do Evangelho se integrem na acção pastoral das paróquias e
dioceses.
169. Amados irmãos e irmãs, à luz do tema da segunda Assembleia
Especial para a África, a nova evangelização diz respeito
particularmente ao serviço da Igreja a favor da reconciliação, da
justiça e da paz. Por conseguinte, é necessário acolher a graça do
Espírito Santo, que nos convida: « Reconciliai-vos com Deus » (2 Cor 5,
20). Deste modo os cristãos são todos convidados a reconciliar-se com
Deus; sereis então capazes de vos tornar obreiros da reconciliação
dentro das comunidade eclesiais e sociais onde viveis e trabalhais. A
nova evangelização supõe a reconciliação dos cristãos com Deus e consigo
mesmo; aquela exige a reconciliação com o próximo, a superação de todo o
tipo de barreiras, como por exemplo as da língua, da cultura e da raça.
Somos todos filhos de um único Deus e Pai, que « faz com que o sol se
levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os
pecadores » (Mt 5, 45).
170. Deus abençoará um coração reconciliado, concedendo-lhe a sua
paz. Assim o cristão tornar-se-á um obreiro da paz (cf. Mt 5, 9), na
medida em que, radicado na graça divina, colabore com o seu Criador para
a construção e a promoção do dom da paz. Reconciliado, o fiel
tornar-se-á também promotor da justiça em toda a parte, sobretudo nas
sociedades africanas divididas, à mercê da violência e da guerra, que
têm fome e sede da verdadeira justiça. O Senhor convida-nos: « Procurai
primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por
acréscimo » (Mt 6, 33).
171. A nova evangelização é uma tarefa urgente para os cristãos na
África, porque também eles devem reavivar o seu entusiasmo de pertencer à
Igreja. Sob a inspiração do Espírito do Senhor ressuscitado, são
chamados a viver, a nível pessoal, familiar e social, a Boa Nova e a
anunciá-
-la, com renovado zelo, às pessoas vizinhas e distantes, empregando para a sua difusão os novos métodos que Providência divina põe à nossa disposição. Louvando a Deus Pai pelas maravilhas que continua a realizar em cada um dos membros da sua Igreja, os fiéis são convidados a vivificar a sua vocação cristã na fidelidade à Tradição eclesial viva. Abertos à inspiração do Espírito Santo, que continua a suscitar diferentes carismas na Igreja, os cristãos devem continuar ou iniciar com determinação o caminho da santidade, para se tornarem cada dia mais apóstolos da reconciliação, da justiça e da paz.
-la, com renovado zelo, às pessoas vizinhas e distantes, empregando para a sua difusão os novos métodos que Providência divina põe à nossa disposição. Louvando a Deus Pai pelas maravilhas que continua a realizar em cada um dos membros da sua Igreja, os fiéis são convidados a vivificar a sua vocação cristã na fidelidade à Tradição eclesial viva. Abertos à inspiração do Espírito Santo, que continua a suscitar diferentes carismas na Igreja, os cristãos devem continuar ou iniciar com determinação o caminho da santidade, para se tornarem cada dia mais apóstolos da reconciliação, da justiça e da paz.
CONCLUSÃO « CORAGEM, LEVANTA-TE QUE ELE CHAMA-TE » (Mc 10, 49)
172. Amados irmãos e irmãs, a última palavra do Sínodo foi um apelo à
esperança, lançado à África. Mas tal apelo será vão, se não se radicar
no amor trinitário. De Deus, Pai de todos, recebemos a missão de
transmitir à África o amor com que Cristo, o Filho primogénito, nos
amou, a fim de que a nossa acção, animada pelo seu Espírito Santo, seja
sustentada pela esperança e, ao mesmo tempo, se torne fonte de
esperança. No desejo de facilitar a concretização das orientações do
Sínodo em assuntos tão incisivos como são a reconciliação, a justiça e a
paz, peço que os « teólogos continuem a sondar a profundidade do
mistério trinitário e o seu significado para o hoje africano ».[220]
Dado que é única a vocação de todo o homem, não deixemos apagar-se em
nós o impulso vital da reconciliação da humanidade com Deus através do
mistério da nossa salvação em Cristo. A redenção é a razão da
credibilidade e firmeza da nossa esperança, « graças à qual podemos
enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode
ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros
desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do
caminho ».[221]
173. Volto a dizê-lo: « Levanta-te, Igreja na África, (…) porque te
chama o Pai celeste que os teus antepassados invocavam como Criador,
antes de conhecer a sua proximidade misericordiosa, revelada no seu
Filho unigénito, Jesus Cristo. Empreende o caminho duma nova
evangelização, com a coragem que provém do Espírito Santo ».[222]
174. O rosto que assume hoje a evangelização é o da reconciliação,
« condição indispensável para instaurar na África relações de justiça
entre os homens e para construir uma paz equitativa e duradoura no
respeito de cada indivíduo e de todos os povos; uma paz que (…) se abre à
contribuição de todas as pessoas de boa vontade, independentemente das
respectivas afiliações religiosas, étnicas, linguísticas culturais e
sociais ».[223] Que a Igreja Católica inteira acompanhe, com a sua
amizade, os irmãos e irmãs do continente africano. Que os santos da
África os amparem com a sua intercessão.[224]
175. « São José, como bom dono de casa que pessoalmente conhece bem o
que significa ponderar, em atitude de solicitude e de esperança, os
caminhos futuros da família, [e que] amorosamente nos escutou e
acompanhou até ao próprio Sínodo »,[225] proteja e acompanhe a Igreja na
sua missão ao serviço da África, terra onde encontrou refúgio e
protecção para a Sagrada Família (cf. Mt 2, 13-15). A bem-aventurada
Virgem Maria, Mãe do Verbo de Deus e Nossa Senhora da África, continue a
acompanhar toda a Igreja com a sua intercessão e os seus apelos a fazer
tudo o que o seu Filho disser (cf. Jo 2, 5). Que a oração de Maria,
Rainha da Paz, cujo coração está sempre orientado para a vontade de
Deus, sustente todo o esforço de conversão, consolide toda a iniciativa
de reconciliação e torne eficaz todo o esforço a favor da paz num mundo
que tem fome e sede de justiça (cf. Mt 5, 6).[226]
176. Amados irmãos e irmãs, o Senhor bom e misericordioso, através da
segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, lembra
de maneira premente que « vós sois o sal da terra (…), a luz do mundo »
(Mt 5, 13.14). Que estas palavras vos recordem a dignidade da vossa
vocação de filhos de Deus, membros da Igreja una, santa, católica e
apostólica. Tal vocação consiste em difundir, num mundo muitas vezes
tenebroso, a claridade do Evangelho, o esplendor de Jesus Cristo,
verdadeira luz que « a todo o homem ilumina » (Jo 1, 9). Além disso, os
cristãos devem oferecer aos homens o gosto de Deus Pai, a alegria da sua
presença criadora no mundo. São chamados também a colaborar com a graça
do Espírito Santo, para que continue o milagre do Pentecostes no
continente africano, e cada um se torne sempre mais apóstolo da
reconciliação, da justiça e da paz.
177. Possa a Igreja Católica na África ser sempre um dos pulmões
espirituais da humanidade e tornar-se cada dia mais uma bênção para o
nobre continente africano e para o mundo inteiro.
Dado em Ouidah, Benim, no dia 19 de Novembro do ano 2011, sétimo do meu Pontificado.
BENEDICTUS PP. XVI
[1] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 1: AAS 88 (1996), 5.
[2] Cf. I Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (6 de Maio de 1994), 24-25: L’Osservatore Romano (ed. port. de 14/V/1994), 6; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 63: AAS 88 (1996), 39-40.
[3] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Propositio 1.
[4] Cf. Propositio 2.
[5] Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 310.
[6] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 63: AAS 88 (1996), 39-40.
[7] Cf. n. 92: AAS 88 (1996), 57-58; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11; Idem, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 11; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 21: AAS 74 (1982), 104-106.
[8] Cf. n. 63: AAS 88 (1996), 39-40.
[9] Quis dives salvetur, 29, 2-3: PG 9, 633.
[10] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 35.
[11] N. 79: AAS 88 (1996), 51.
[12] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 1: AAS 101 (2009), 641.
[13] Bento XVI, Homilia na Missa de abertura da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (4 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 907.
[14] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 3: AAS 93 (2001), 267.
[15] Ibid., 29: o.c., 286.
[16] Adversus hæreses, IV, 20, 7: PG 7, 1037.
[17] Propositio 34.
[18] Bento XVI, Homilia na Missa de encerramento da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (25 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 918.
[19] Propositio 46.
[20] XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (24 de Outubro de 2008), 10: L’Osservatore Romano (ed. port. de 01/XI/2008), 8.
[21] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal(21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 35.
[22] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 5-9: AAS 101 (2009), 643-647.
[23] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 35.
[24] Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008: AAS 100 (2008), 38-45.
[25] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 37.
[26] Cf. Propositio 5.
[27] II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Relação do Cardeal Turkson antes do debate geral (5 de Outubro de 2009) II,a: L’Osservatore Romano (ed. port. de 10/X/2009), 16.
[28] Ibid., II,a: o.c., 16.
[29] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 35.
[30] Cf. Bento XVI, Homilia na Missa de encerramento da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (25 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 916.
[31] Cf. João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, n. 1: AAS 89 (1997), 1.
[32] Propositio 5.
[33] Cf. Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 28: AAS 98 (2006), 238-240.
[34] Cf. Propositio 14.
[35] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 9: AAS 101 (2009), 646-647.
[36] Cf. Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 28-29: AAS 98 (2006), 238-240; Comissão Teológica Internacional, Algumas questões sobre a Teologia da Redenção (29 de Novembro de 1994), 14-20: Enchiridion Vaticanum, 14, 1844-1850.
[37] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 40; Pont. Cons. « Justiça e Paz », Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 49-51.
[38] Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, IIa-IIae, q. 58, a.1.
[39] Cf. João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus (1 de Maio de 1991), 35: AAS 83 (1991), 837.
[40] Catecismo da Igreja Católica, 1894.
[41] II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Lineamenta, 44: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/VII/2006 – Suplemento), pág. VI.
[42] Santo Agostinho, De civitate Dei, 19, 21: PL 41, 649.
[43] Cf. Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2010 (30 de Outubro de 2009): L’Osservatore Romano (ed. port. de 06/II/2010), 3.
[44] Cf. ibid.: o.c., 3.
[45] Cf. Propositio 17.
[46] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 6: AAS 101 (2009), 644.
[47] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 28: AAS 98 (2006), 240.
[48] Cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 53.80: AAS 68 (1976), 41-42.73-74; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 46: AAS 83 (1991), 293.
[49] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 36: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 9.
[50] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[51] Cf. Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre alguns aspectos da Evangelização (3 de Dezembro de 2007), 9: AAS 100 (2008), 497-498.
[52] II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Lineamenta, 48: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/VII/2006 – Suplemento), pág. VII.
[53] Propositio 43.
[54] Ibidem.
[55] Cf. Bento XVI, Discurso ao Pontifício Conselho para os Leigos (21 de Maio de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 29/V/2010), 5.
[56] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 15.
[57] Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 22: AAS 68 (1976), 20.
[58] Cf. Propositio 9.
[59] Cf. Propositio 8.
[60] Cf. nn. 28-34: AAS 77 (1985), 250-273. Esta doutrina foi confirmada pela Carta apostólica sob forma de Motu proprio Misericordia Dei (2 de Maio de 2002): AAS 94 (2002), 452-459.
[61] Cf. Propositio 7.
[62] Cf. Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 43: AAS 93 (2001), 297.
[63] Ibid., 43: o.c., 297.
[64] Ibid., 43: o.c., 297.
[65] Cf. Propositio 9.
[66] Cf. Propositio 33.
[67] Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre alguns aspectos da Evangelização (3 de Dezembro de 2007), 6: AAS 100 (2008), 494.
[68] Cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 19-20: AAS 68 (1976), 18-19.
[69] Cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 40: AAS 93 (2001), 295.
[70] Cf. Propositio 32.
[71] Bento XVI, Meditação durante a Hora Tércia ao início dos trabalhos da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 924.
[72] N. 55: AAS 102 (2010), 734-735.
[73] Cf. Propositio 45.
[74] Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 313.
[75] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 51: AAS 99 (2007), 144.
[76] Congr. para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo (31 de Maio de 2004), 13: AAS 96 (2004), 682.
[77] Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008, n. 3: AAS 100 (2008), 38-39.
[78] Cf. Propositio 38.
[79] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 79: AAS 99 (2007), 165-166.
[80] Cf. ibid., 73: o.c., 162.
[81] Cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 38-39: AAS 93 (2001), 293-294.
[82] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 39: AAS 74 (1982), 130-131; cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 71: AAS 68 (1976), 60-61.
[83] João Paulo II, Homilia por ocasião do Jubileu da « Terceira Idade » (17 de Setembro de 2000), 5: AAS 92 (2000), 876; cf. Idem, Carta aos Anciãos (1 de Outubro de 1999): AAS 92 (2000), 186-204.
[84] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 26: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[85] Epistula 1, 11: PL 65, 306C.
[86] Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 25.43: AAS 74 (1982), 110-111.134-135.
[87] Cf. Propositio 45.
[88] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 26: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[89] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 67.
[90] Orígenes, Tratado dos Princípios, IV, 4, 10: SC 268 (1980), 427.
[91] Carta ap. Mulieris dignitatem (15 de Agosto de 1988), 29: AAS 80 (1988), 1722; cf. Bento XVI, Encontro com as Associações Católicas para a Promoção da Mulher (Luanda, 22 de Março de 2009): L’Osservatore Romano (ed. port. de 28/III/2009), 11.
[92] Bento XVI, Encontro com as Associações Católicas para a Promoção da Mulher (Luanda, 22 de Março de 2009): L’Osservatore Romano (ed. port. de 28/III/2009), 11.
[93] Cf. Propositio 47.
[94] Bento XVI, Encontro com as Associações Católicas para a Promoção da Mulher (Luanda, 22 de Março de 2009): L’Osservatore Romano (ed. port. de 28/III/2009), 11.
[95] II Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Doc. Justitia in mundo (30 de Novembro de 1971), 45: AAS 63 (1971), 933; cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 121: AAS 88 (1996), 71-72.
[96] II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 25: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[97] Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2010, n. 11: AAS 102 (2010), 49; cf. Idem, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 51: AAS 101 (2009), 687.
[98] Cf. João Paulo II, Carta ap. Mulieris dignitatem (15 de Agosto de 1988), 31: AAS 80 (1988), 1727-1729; Idem, Carta às Mulheres (29 de Junho de 1995), 12: AAS 87 (1995), 812.
[99] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 27-28: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[100] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 9: AAS 93 (2001), 271-272.
[101] N. 104: AAS 102 (2010), 772.
[102] Regra, III, 3; cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 45: AAS 93 (2001), 298-299.
[103] Cf. Propositio 48.
[104] Cf. Bento XVI, Mensagem para a XXV Jornada Mundial da Juventude (22 de Fevereiro de 2010), 7: AAS 102 (2010), 253-254; Idem, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini (30 de Setembro de 2010), 104: AAS 102 (2010), 772-773.
[105] Homilia (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 712.
[106] João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995), 57: AAS 87 (1995), 466.
[107] Os Padres sinodais referiram-se a diversas situações como, por exemplo, as crianças assassinadas antes de nascer, as crianças indesejadas, os órfãos, os albinos, os meninos da rua, as crianças abandonadas, as crianças-soldado, as crianças prisioneiras, as crianças forçadas a trabalhar, as crianças maltratadas por causa de deficiência física ou mental, as crianças consideradas como feiticeiras, as crianças ditas serpentes, os adolescentes vendidos como escravos sexuais, os adolescentes traumatizados sem qualquer perspectiva de futuro… Cf. Propositio 49.
[108] Cf. João Paulo II, Carta às Crianças (13 de Dezembro de 1994): L’Osservatore Romano (ed. port. de 17/XII/1994), 4.
[109] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 30: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[110] Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 14: AAS 59 (1967), 264; cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 18: AAS 101 (2009), 653-654.
[111] Cf. Propositio 20.
[112] João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995), 82: AAS 87 (1995), 495.
[113] Cf. Propositio 53.
[114] Cf. Propositio 52.
[115] Cf. Propositio 51.
[116] Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 31: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[117] Cf. Propositio 19.
[118] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 21: AAS 101 (2009), 655-656.
[119] Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanæ, 13.
[120] Cf. Propositiones 17 e 29.
[121] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 32: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[122] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 42: AAS 101 (2009), 677-678; Propositio 15.
[123] II Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Doc. Justitia in mundo (30 de Novembro de 1971), proposição 8a: AAS 63 (1971), 941.
[124] Ibid., proposições 8b e 8c: o.c., 941.
[125] Cf. Propositio 22.
[126] Cf. Propositio 30.
[127] Cf. Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política (24 de Novembro de 2002): AAS 96 (2004), 359-370.
[128] Catecismo da Igreja Católica, 2419.
[129] Cf. Propositio 24; Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 58.60.67: AAS 101 (2009), 693-694.695.700-701; Catecismo da Igreja Católica, 1883 e 1885.
[130] Cf. Propositio 25.
[131] Cf. Propositio 26.
[132] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 43: AAS 101 (2009), 679.
[133] Cf. Propositio 54.
[134] Ibid., 54.
[135] Cf. Propositio 55.
[136] Cf. Propositio 54.
[137] Cf. Propositio 28.
[138] Cf. Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 310.
[139] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 62: AAS 101 (2009), 696-697.
[140] Ibid., 42: o.c., 677.
[141] Ibid., 36: o.c., 672.
[142] Ibid., 47: o.c., 684; cf. Propositio 31.
[143] Cf. Propositiones 10, 11, 12 e 13.
[144] Confissões, VII, 10, 16: PL 32, 742.
[145] Cf. Propositio 10.
[146] Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra ætate, 2; cf. Propositio 13.
[147] Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra ætate, 3.
[148] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 41: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 9.
[149] Cf. Propositio 12.
[150] Cf. Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2011: AAS 103 (2011), 46-47.
[151] Cf. Propositio 18.
[152] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 30: AAS 101 (2009), 665.
[153] Cf. Congr. para os Bispos, Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos « Apostolorum successores » (22 de Fevereiro de 2004), 33-48: Enchiridion Vaticanum, 22, 1650-1676.
[154] Epistula 33, 1: PL 4, 297.
[155] Bento XVI, Discurso aos Bispos de França (Lourdes, 14 de Setembro de 2008): L’Osservatore Romano (ed. port. de 20/IX/2008), 14.
[156] Propositio 3.
[157] Cf. Propositio 4.
[158] Cf. ibid., 4.
[159] Cf. Propositio 39.
[160] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 20: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 7.
[161] Cf. Propositio 39.
[162] Cf. Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 35.
[163] Epistula 66, 1: PL 4, 398.
[164] Santo Inácio de Antioquia, Ad Magnesios, III, 2: ed. F.X. FUNK, 233.
[165] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 24: AAS 99 (2007), 125.
[166] Apologeticum, 50, 13: PL 1, 603.
[167] Cf. Congr. para a Educação Católica, Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes (22 de Fevereiro de 1998), 8: Enchiridion Vaticanum, 17, 167; Congr. para o Clero, Directório para o Ministério e a Vida dos Diáconos Permanentes (22 de Fevereiro de 1998), 6.8.48: Enchiridion Vaticanum, 17, 291.294-297.376-378.
[168] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Lineamenta, 89: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/VII/2006 – Suplemento), págs. X-XI.
[169] Cf. Propositio 50.
[170] Cf. Propositio 41.
[171] Cf. Propositio 42.
[172] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 46.
[173] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 18.
[174] Cf. Propositio 40.
[175] Ibid. 40.
[176] Cf. Carta aos Seminaristas (18 de Outubro de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 23/X/2010), 4-5.
[177] Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 311-312.
[178] Cf. Propositio 44; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 91: AAS 88 (1996), 57.
[179] Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 15.17: AAS 81 (1989), 413-416.418-421.
[180] Propositio 37.
[181] Cf. n. 103: AAS 88 (1996), 62-63.
[182] Bento XVI, Meditação durante a Hora Tércia ao início dos trabalhos da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 920.
[183] Ibid.: o.c., 921.
[184] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[185] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 39: AAS 98 (2006), 250.
[186] Cf. Propositio 35.
[187] Bento XVI, Homilia em Nazaré (14 de Maio de 2009): AAS 101 (2009), 480.
[188] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 49: AAS 99 (2007), 143.
[189] Cf. Propositio 36.
[190] N. 103: AAS 88 (1996), 62-63.
[191] Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 312.
[192] Cf. II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Mensagem Final (23 de Outubro de 2009), 31: L’Osservatore Romano (ed. port. de 31/X/2009), 8.
[193] Cf. ibid., 31: o.c., 8.
[194] N. 124: AAS 88 (1996), 72-73.
[195] Cf. Propositio 56.
[196] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 73: AAS 101 (2009), 705.
[197] Ibid., 73: o.c., 704-705.
[198] Cf. Propositio 56.
[199] Commentariorum in Isaiam prophetam, Prologus: PL 24, 17.
[200] Cf. Propositio 46.
[201] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 82: AAS 99 (2007), 168-169; Idem, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 14: AAS 98 (2006), 228-229.
[202] Cf. Propositio 8.
[203] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 51: AAS 99 (2007), 144.
[204] Ibid., 83: o.c., 169.
[205] Cf. Propositio 5.
[206] Cf. Propositio 6; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et Pænitentia (2 de Dezembro de 1984), 23: AAS 77 (1985), 233-235.
[207] Propositio 8.
[208] Cf. ibid. 8.
[209] Ibid. 8.
[210] Propositio 9.
[211] Bento XVI, Carta enc. Spe salvi (30 de Novembro de 2007), 49: AAS 99 (2007), 1025.
[212] Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre alguns aspectos da Evangelização (3 de Dezembro de 2007), 9: AAS 100 (2008), 501.
[213] Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiæ, Ia-IIæ, q. 106, a. 1.
[214] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini (30 de Setembro de 2010), 122: AAS 102 (2010), 785.
[215] Propositio 34.
[216] Ibid., 34; cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 21: AAS 68 (1976), 19-20.
[217] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 31: AAS 88 (1996), 21.
[218] João Paulo II, Discurso aos Bispos membros do Conselho Episcopal Latino-Americano (Porto Príncipe, 9 de Março de 1983): AAS 75 (1983), 778.
[219] N. 29: AAS 102 (2010), 708.
[220] Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos (Yaoundé, 19 de Março de 2009): AAS 101 (2009), 312.
[221] Bento XVI, Carta enc.Spe salvi (30 de Novembro de 2007), 1: AAS 99 (2007), 985.
[222] Bento XVI, Homilia na Missa de encerramento da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos (25 de Outubro de 2009): AAS 101 (2009), 918.
[223] Ibid.: o.c., 919.
[224] Cf. ibid.: o.c., 919.
[225] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos de Natal (21 de Dezembro de 2009): AAS 102 (2010), 34.
[226] Cf. Propositio 57.
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