A Pergunta que não foi feita
09 Mar 2009
Dom Orani João Tempesta (1387 leituras)
Na semana passada estivemos, junto com todo o presbitério da Arquidiocese de Belém, no “deserto” do retiro espiritual e as informações nos chegavam poucas e entrecortadas. O retiro sempre é um tempo de reflexão e aprofundamento da vida espiritual, em vista de uma caminhada de conversão e maior aproximação de Deus.
Ao retornar para a missão diária vi a discussão em torno do caso da criança que teve outra criança abortada na região Nordeste e o destaque que algumas emissoras de comunicação deram, principalmente aquelas mandadas por grupos religiosos independentes.
Não posso acreditar que os direitos humanos sejam só para um lado, assim como não sei como cristãos conseguem defender o assassinato de inocentes. É realmente interessante o fato e o destaque que foi dado!
Mesmo considerando que para Igreja, segundo o Direito Canônico, o fato da morte de um inocente indefeso é um ato que tira da comunhão eclesial a pessoa que o pratica, porém depende também da liberdade de consciência com que a pessoa está ao fazê-lo.
Quando uma pessoa que, tendo seus desequilíbrios emocionais, é capaz de usar sexualmente e brutalmente de uma criança a sociedade deveria se perguntar: “porque chegamos a isso?”
Do modo que coisas se movem no mundo, é bem capaz que o que hoje é crime amanhã seja virtude, como já aconteceu em muitas outras situações – veja-se nesse caso toda a campanha pró-aborto.
Na sexta-feira passada, a Caritas Metropolitana assinou, em nome da Comissão de Defesa da Vida da Arquidiocese, um convênio com um hospital que passará a ajudar a acolher mulheres em situação de risco devido a esse tipo de problema.
Diante de um fato deparado por nós nesse mesmo dia, a magistratura só soube oferecer um tipo de ajuda: a de matar a criança por nascer e ainda ameaçando a mãe da menor que estava nessa situação. Fala-se tanto de direitos para todos e critica-se a Igreja por defender a todos.
Interessante é o depoimento da mãe da adolescente, que testemunhou que o único lugar em que não foi maltratada e sim respeitada foi o escritório da Caritas. Em todos os demais lugares só recebeu acusações e maus tratos. Interessante e confuso esse nosso mundo!
Mas a pergunta ainda continua: por que essas coisas acontecem? A nossa resposta está na mudança de época e de cultura que ora vivemos. A desvalorização da vida, da família, dos valores, da fé acabou conduzindo-nos a um estilo de vida hedonista, subjetivista, consumista e laxista, que parece não ter volta. Mas nós acreditamos que o nosso mundo tem jeito! É essa nossa esperança e nossa luta!
As situações degradantes e complexas irão aumentar enquanto não avançarmos para uma sociedade moderna, onde as pessoas se respeitam, respeitam a vida e sabem cultivar valores. Enquanto vivermos na “idade da pedra”, resolvendo as coisas matando os inocentes e criando violência em nossa frágil sociedade, o homem sempre terá saúde da utopia do “mundo novo”.
Gostaria muito que pensássemos sobre esses caminhos por onde hoje andamos enquanto vivemos a Quaresma e a Campanha da Fraternidade, que questiona justamente as bases de nossa sociedade.
Da resposta que dermos a essas interrogações dependerá o nosso futuro.
Este BLOG é um importante instrumento de Evangelização da Fé Católica, com o objetivo de ajudar a um verdadeiro encontro com Cristo!
sábado, 21 de março de 2009
CASO DE RECIFE... A VIDA É DOM DE DEUS!
No dia 25 de fevereiro, nossa cidade foi tomada de surpresa por uma trágica notícia de um acontecimento que chocou o país: uma menina de nove anos de idade, tendo sofrido violência sexual por parte de seu padrasto, engravidou de dois gêmeos. Além dela, também sua irmã, de treze anos, com necessidade de cuidados especiais, foi vitima do mesmo crime. Aos olhos de muitos, o caso pareceu absurdo, como de fato assim também o entendemos, dada a gravidade e a forma como há três anos isso vinha acontecendo dentro da própria casa, onde moravam a mãe, as duas garotas e o acusado.
O Conselho Tutelar de Alagoinha, ciente do fato, tomou as devidas providências no sentido de apossar-se do caso para os devidos fins e encaminhamentos. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, sob ordem judicial, levou as crianças ao IML e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), ambos em Recife a fim de serem submetidas a exames sexológicos e psicológicos. Chegando ao IMIP, em contato com a Assistente Social Karolina Rodrigues, a Conselheira Tutelar Maria José Gomes, foi convidada a assinar um termo em nome do Conselho Tutelar que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a Conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina Rodrigues um pedido escrito de próprio punho da mesma que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha no sentido de mostrar-se favorável à interrupção gestatória da menina, com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e na gravidade do fato”. A Conselheira guardou o papel para ser apreciado pelos demais Conselheiros colegas em Alagoinha e darem um parecer sobre o mesmo com prazo até a segunda-feira dia 2 de março. Os cinco Conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto, assinado pelos mesmos. Uma cópia deste parecer foi entregue à assistente social Karolina Rodrigues que o recebeu na presença de mais duas psicólogas do IMIP, bem como do pai da criança e do Pe. Edson Rodrigues, Pároco da cidade de Alagoinha.
No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto à conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa Paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe, sob pena de que se o Conselho não entregasse o parecer desfavorável até o dia dois de março, prazo determinado pela assistente social, o caso se complicaria. Chegamos ao IMIP por volta das quinze horas. Subimos ao quarto andar onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. Ao apartamento apenas tinham acesso membros do Conselho Tutelar, e nem todos. Além desses, pessoas ligadas ao hospital. Assim sendo, à área reservada tiveram acesso naquela tarde as conselheiras Jeanne Oliveira, de Recife, e Maria José Gomes, de nossa cidade.
Com a proibição de acesso ao apartamento onde menina estava me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.
Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se se um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. Essa palavra também foi ouvida por Robson José de Carvalho, membro de nosso Conselho Paroquial que nos acompanhou naquele dia até o hospital. Perguntei pelo estado da menina. A mãe me informou que ela estava bem e que brincava no apartamento com algumas bonecas que ganhara de pessoas lá no hospital. Mostrava-se também muito preocupada com a outra filha que estava em Alagoinha sob os cuidados de uma família. Enquanto isso, as duas conselheiras acompanhavam a menina no apartamento. Saímos, portanto do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos, alegando inclusive que “ninguém tinha o direito de matar ninguém, só Deus”.
Na segunda-feira, retornamos ao hospital e a história ganhou novo rumo. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subirmos ao quarto andar onde estava a menina. Tomamos o elevador e quando chegamos ao primeiro andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da Assistente Social em outro prédio. Chegando lá fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, Conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, Conselheira de Recife e o pai da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. Apresentamo-nos à Assistente e, ao saber que ali estava um padre, ela de imediato fez questão de alegar que não se tratava de uma questão religiosa e sim clínica, ainda que este padre acredite que se trata de uma questão moral.
Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMI dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada tivesse sido nos apresentado por escrito.
Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los em “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado. Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala os deixassem a sós para a essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”, afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao quarto andar sozinha com ele e pediu que eu e os Conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala. Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues, em dado momento da conversa, reclamou da Conselheira porque tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha favorável ao aborto e rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. A conversa se estendeu até o final da tarde quando, ao sair da sala, a assistente nos perguntava se tinha ainda alguma dúvida. Durante todo o tempo de permanência no IMIP não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. Despedimo-nos e voltamos para nossas casas com a promessa da assistente social de que a documentação sobre a menina dos 9 anos com o parecer médico e os encaminhamentos para o aborto seriam enviados ao Conselho Tiutelar de Alagoinha até a quarta-feira, dia 4 de março, o que até hoje no Conselho Tutelar se espera. Foram enviados apenas os documentos relativos às informações sobre a menina irmã de 14 anos, também violentada.
Aos nossos olhos, tudo estava consumado e nada mais havia a fazer, pois estava claro para nós que em pouco tempo seria iniciado o processo abortivo.
Dada a repercussão do fato, o Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se deu. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a forma como tudo se seu. Nessa reunião, que se deu na terça-feira, dia 3, pela manhã, no Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, também estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós e especialmente para com o pai, ligou ao IMIP e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez por volta das 8 horas da manhã.
Outro encontro de grande importância na luta pela vida dos bebês aconteceu. Desta vez foi no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, na tarde da terça-feira, dia 3. Para este, eu e mais dois Conselheiros, bem como o pai da menina fomos convidados naquela tarde. Lá no Tribunal, ficamos na sala de espera, mas o desembargador Jones Figueiredo, junto a demais magistrados presentes, se mostrou disposto a tomar as devidas e possíveis providências para que as vidas das três crianças pudessem ser salvas. Neste encontro, que se deu na Sala da Presidência do TJPE, também estava presente o pai da criança, o Sr. Erivaldo. Depois de cerca de 1 hora de reunião, deixamos o Tribunal esperançosos de que as vidas das crianças ainda pudessem ser salvas, com base na orientação dada pelo diretor do IMIP para cancelamento de toda e qualquer iniciativa pró-aborto naquele dia.
Já a caminho do Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso Sobrinho recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceitado. Sem saber do fato, cheguei ao IMIP por volta das 18 horas, acompanhado dos Conselheiros Tutelares de Alagoinha para visitar a criança e a mãe. A Conselheira Maria José Gomes subiu ao quarto andar para ver a criança. Eu e o Conselheiro Hélio ficamos embaixo esperando a volta de Maria José. Ela, na recepção do quarto andar, identificou-se e a atendente, certamente ciente que a criança não estava mais na unidade, pediu que a Conselheira sentasse e aguardasse um pouco, porque naquele momento “estava havendo troca de plantão de enfermagem”. A Conselheira sentiu um clima meio estranho, visto que todos faziam questão de manter um silêncio sigiloso no ambiente. Ninguém ousava tecer um comentário sequer sobre a menina.
No andar térreo, fui informado do que a criança e sua mãe não estavam mais lá, pois teriam sido levadas a um outro hospital há pouco tempo acompanhadas de uma senhora chamada Vilma Guimarães. Nenhum funcionário sabia dizer para qual hospital a criança teria sido levada. Tentamos entrar em contato com a Sra. Vilma Guimarães, visto que nos lembramos que em uma de nossas primeiras visitas ao IMIP para ver a criança, quando do assédio de jornalistas querendo subir ao apartamento reservado exclusivamente para a menina e a sua mãe, uma balconista (enfermeira atendente) chamada Sandra afirmou meio irritada em alta voz que só seria permitida a entrada de jornalistas com a devida autorização do Sr. Antonio Figueiras ou da Sra. Vilma Guimarães, o que nos leva a crer que se trata de alguém influente na casa.
Ficamos então a nos perguntar o seguinte: lá no IMIP nos foi afirmado que a criança estava correndo “risco de morte” e que, por isso, deveria ser submetida urgentemente aos procedimentos abortivos para que a situação não se agravasse mais ainda. A pergunta é: como alguém correndo risco de morte poderia ter alta de um hospital. A credibilidade do IMIP não estaria em jogo se liberasse uma paciente que corre risco de morte? Como explicar isso? Como um quadro pode mudar tão repentinamente e a criança ter condições de ser removida a um outro hospital? O que teriam dito as militantes do grupo Curumins à mãe para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai, que depois de cerca de vinte e cinco minutos de conversa, a sós, com a Assistente Social, a portas fechadas, saiu da sala totalmente convicto de que a sua filha deveria abortar os seus netos, desfazendo sua opinião primeira favorável à vida das crianças? Por que ninguém no IMIP informou ao Conselho Tutelar para onde teria sido transferida a criança? Por que tanto silêncio e tanto mistério? Estariam, por acaso, fazendo algo errado que não pudesse ser conhecido?
De lá do IMIP voltamos ao Palácio dos Manguinhos sem saber muito que fazer, uma vez que nenhuma pista nós tínhamos de onde a menina e a sua mãe se encontravam. Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha naquela noite.
Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, já em Alagoinha, ficamos sabendo, por meio da imprensa, que a criança estava internada no CISAM, acompanhada de sua mãe. O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) é um hospital especializado em gravidez de risco, localizado no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho e luta para salvar as duas crianças se foi, baseado num ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana como se de nada estivéssemos falando.
Tudo isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram. Nada mais que isso houve. Porém, lamentamos profundamente que as pessoas se deixem mover por uma mentalidade formada pela mídia que está a favor de uma cultura de morte. Espero que casos como este não se repitam mais.
Ao IMIP, temos que agradecer pela acolhida da criança lá dentro e até onde pode cuidar dela. Mas por outro lado não podemos deixar de lamentar a sua negligência e indiferença ao caso quando, no momento em que, sabendo do verdadeiro quadro clínico das crianças, permitiu a saída da menina de lá, mesmo com o consentimento da mãe, parecendo ato visível de quem quer se ver livre de um problema.
Aos que se solidarizaram conosco, nossa gratidão eterna em nome dos bebês que a esta hora, diante de Deus, rezam por nós. “Vinde a mim as crianças”, disse Jesus. E é com a palavra dele mesmo que continuaremos a soltar nossa voz em defesa da vida onde quer que ela esteja ameaçada: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo. 10,10).Nisso cremos, nisso apostamos e por isso nos gastaremos sempre.
Acima de tudo, a Vida, dom de Deus para todos!
Pe. Edson RodriguesPároco de Alagoinha-PE padreedson@hotmail.com
Postado por Padre Edson Rodrigues às 15:47
O Conselho Tutelar de Alagoinha, ciente do fato, tomou as devidas providências no sentido de apossar-se do caso para os devidos fins e encaminhamentos. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, sob ordem judicial, levou as crianças ao IML e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), ambos em Recife a fim de serem submetidas a exames sexológicos e psicológicos. Chegando ao IMIP, em contato com a Assistente Social Karolina Rodrigues, a Conselheira Tutelar Maria José Gomes, foi convidada a assinar um termo em nome do Conselho Tutelar que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a Conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina Rodrigues um pedido escrito de próprio punho da mesma que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha no sentido de mostrar-se favorável à interrupção gestatória da menina, com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e na gravidade do fato”. A Conselheira guardou o papel para ser apreciado pelos demais Conselheiros colegas em Alagoinha e darem um parecer sobre o mesmo com prazo até a segunda-feira dia 2 de março. Os cinco Conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto, assinado pelos mesmos. Uma cópia deste parecer foi entregue à assistente social Karolina Rodrigues que o recebeu na presença de mais duas psicólogas do IMIP, bem como do pai da criança e do Pe. Edson Rodrigues, Pároco da cidade de Alagoinha.
No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto à conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa Paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe, sob pena de que se o Conselho não entregasse o parecer desfavorável até o dia dois de março, prazo determinado pela assistente social, o caso se complicaria. Chegamos ao IMIP por volta das quinze horas. Subimos ao quarto andar onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. Ao apartamento apenas tinham acesso membros do Conselho Tutelar, e nem todos. Além desses, pessoas ligadas ao hospital. Assim sendo, à área reservada tiveram acesso naquela tarde as conselheiras Jeanne Oliveira, de Recife, e Maria José Gomes, de nossa cidade.
Com a proibição de acesso ao apartamento onde menina estava me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.
Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se se um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. Essa palavra também foi ouvida por Robson José de Carvalho, membro de nosso Conselho Paroquial que nos acompanhou naquele dia até o hospital. Perguntei pelo estado da menina. A mãe me informou que ela estava bem e que brincava no apartamento com algumas bonecas que ganhara de pessoas lá no hospital. Mostrava-se também muito preocupada com a outra filha que estava em Alagoinha sob os cuidados de uma família. Enquanto isso, as duas conselheiras acompanhavam a menina no apartamento. Saímos, portanto do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos, alegando inclusive que “ninguém tinha o direito de matar ninguém, só Deus”.
Na segunda-feira, retornamos ao hospital e a história ganhou novo rumo. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subirmos ao quarto andar onde estava a menina. Tomamos o elevador e quando chegamos ao primeiro andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da Assistente Social em outro prédio. Chegando lá fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, Conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, Conselheira de Recife e o pai da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. Apresentamo-nos à Assistente e, ao saber que ali estava um padre, ela de imediato fez questão de alegar que não se tratava de uma questão religiosa e sim clínica, ainda que este padre acredite que se trata de uma questão moral.
Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMI dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada tivesse sido nos apresentado por escrito.
Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los em “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado. Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala os deixassem a sós para a essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”, afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao quarto andar sozinha com ele e pediu que eu e os Conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala. Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues, em dado momento da conversa, reclamou da Conselheira porque tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha favorável ao aborto e rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. A conversa se estendeu até o final da tarde quando, ao sair da sala, a assistente nos perguntava se tinha ainda alguma dúvida. Durante todo o tempo de permanência no IMIP não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. Despedimo-nos e voltamos para nossas casas com a promessa da assistente social de que a documentação sobre a menina dos 9 anos com o parecer médico e os encaminhamentos para o aborto seriam enviados ao Conselho Tiutelar de Alagoinha até a quarta-feira, dia 4 de março, o que até hoje no Conselho Tutelar se espera. Foram enviados apenas os documentos relativos às informações sobre a menina irmã de 14 anos, também violentada.
Aos nossos olhos, tudo estava consumado e nada mais havia a fazer, pois estava claro para nós que em pouco tempo seria iniciado o processo abortivo.
Dada a repercussão do fato, o Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se deu. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a forma como tudo se seu. Nessa reunião, que se deu na terça-feira, dia 3, pela manhã, no Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, também estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós e especialmente para com o pai, ligou ao IMIP e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez por volta das 8 horas da manhã.
Outro encontro de grande importância na luta pela vida dos bebês aconteceu. Desta vez foi no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, na tarde da terça-feira, dia 3. Para este, eu e mais dois Conselheiros, bem como o pai da menina fomos convidados naquela tarde. Lá no Tribunal, ficamos na sala de espera, mas o desembargador Jones Figueiredo, junto a demais magistrados presentes, se mostrou disposto a tomar as devidas e possíveis providências para que as vidas das três crianças pudessem ser salvas. Neste encontro, que se deu na Sala da Presidência do TJPE, também estava presente o pai da criança, o Sr. Erivaldo. Depois de cerca de 1 hora de reunião, deixamos o Tribunal esperançosos de que as vidas das crianças ainda pudessem ser salvas, com base na orientação dada pelo diretor do IMIP para cancelamento de toda e qualquer iniciativa pró-aborto naquele dia.
Já a caminho do Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso Sobrinho recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceitado. Sem saber do fato, cheguei ao IMIP por volta das 18 horas, acompanhado dos Conselheiros Tutelares de Alagoinha para visitar a criança e a mãe. A Conselheira Maria José Gomes subiu ao quarto andar para ver a criança. Eu e o Conselheiro Hélio ficamos embaixo esperando a volta de Maria José. Ela, na recepção do quarto andar, identificou-se e a atendente, certamente ciente que a criança não estava mais na unidade, pediu que a Conselheira sentasse e aguardasse um pouco, porque naquele momento “estava havendo troca de plantão de enfermagem”. A Conselheira sentiu um clima meio estranho, visto que todos faziam questão de manter um silêncio sigiloso no ambiente. Ninguém ousava tecer um comentário sequer sobre a menina.
No andar térreo, fui informado do que a criança e sua mãe não estavam mais lá, pois teriam sido levadas a um outro hospital há pouco tempo acompanhadas de uma senhora chamada Vilma Guimarães. Nenhum funcionário sabia dizer para qual hospital a criança teria sido levada. Tentamos entrar em contato com a Sra. Vilma Guimarães, visto que nos lembramos que em uma de nossas primeiras visitas ao IMIP para ver a criança, quando do assédio de jornalistas querendo subir ao apartamento reservado exclusivamente para a menina e a sua mãe, uma balconista (enfermeira atendente) chamada Sandra afirmou meio irritada em alta voz que só seria permitida a entrada de jornalistas com a devida autorização do Sr. Antonio Figueiras ou da Sra. Vilma Guimarães, o que nos leva a crer que se trata de alguém influente na casa.
Ficamos então a nos perguntar o seguinte: lá no IMIP nos foi afirmado que a criança estava correndo “risco de morte” e que, por isso, deveria ser submetida urgentemente aos procedimentos abortivos para que a situação não se agravasse mais ainda. A pergunta é: como alguém correndo risco de morte poderia ter alta de um hospital. A credibilidade do IMIP não estaria em jogo se liberasse uma paciente que corre risco de morte? Como explicar isso? Como um quadro pode mudar tão repentinamente e a criança ter condições de ser removida a um outro hospital? O que teriam dito as militantes do grupo Curumins à mãe para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai, que depois de cerca de vinte e cinco minutos de conversa, a sós, com a Assistente Social, a portas fechadas, saiu da sala totalmente convicto de que a sua filha deveria abortar os seus netos, desfazendo sua opinião primeira favorável à vida das crianças? Por que ninguém no IMIP informou ao Conselho Tutelar para onde teria sido transferida a criança? Por que tanto silêncio e tanto mistério? Estariam, por acaso, fazendo algo errado que não pudesse ser conhecido?
De lá do IMIP voltamos ao Palácio dos Manguinhos sem saber muito que fazer, uma vez que nenhuma pista nós tínhamos de onde a menina e a sua mãe se encontravam. Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha naquela noite.
Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, já em Alagoinha, ficamos sabendo, por meio da imprensa, que a criança estava internada no CISAM, acompanhada de sua mãe. O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) é um hospital especializado em gravidez de risco, localizado no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho e luta para salvar as duas crianças se foi, baseado num ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana como se de nada estivéssemos falando.
Tudo isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram. Nada mais que isso houve. Porém, lamentamos profundamente que as pessoas se deixem mover por uma mentalidade formada pela mídia que está a favor de uma cultura de morte. Espero que casos como este não se repitam mais.
Ao IMIP, temos que agradecer pela acolhida da criança lá dentro e até onde pode cuidar dela. Mas por outro lado não podemos deixar de lamentar a sua negligência e indiferença ao caso quando, no momento em que, sabendo do verdadeiro quadro clínico das crianças, permitiu a saída da menina de lá, mesmo com o consentimento da mãe, parecendo ato visível de quem quer se ver livre de um problema.
Aos que se solidarizaram conosco, nossa gratidão eterna em nome dos bebês que a esta hora, diante de Deus, rezam por nós. “Vinde a mim as crianças”, disse Jesus. E é com a palavra dele mesmo que continuaremos a soltar nossa voz em defesa da vida onde quer que ela esteja ameaçada: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo. 10,10).Nisso cremos, nisso apostamos e por isso nos gastaremos sempre.
Acima de tudo, a Vida, dom de Deus para todos!
Pe. Edson RodriguesPároco de Alagoinha-PE padreedson@hotmail.com
Postado por Padre Edson Rodrigues às 15:47
sexta-feira, 13 de março de 2009
PRIMEIRAS MISSAS
Pe. Adauto Farias Pereira,CM
Local: Paróquia São Pedro e São Paulo – Matriz
Fortaleza-CE
Data: 18 de abril de 2009, às 19:00h
Local: Paróquia São Francisco da Cruz – Matriz
Cruz-CE
Data: 26 de abril de 2009, às 08:00h
Local: Paróquia Santo Antonio de Pádua - Matriz
Quixeramobim-CE
Data: 03 de maio de 2009, às 19:00h
UM POUCO DA MINHA HISTÓRIA VOCACIONAL
ADAUTO FARIAS PEREIRA, CM
Filho de Pedro Alves Pereira e Rita Letícia de Farias Pereira, nasceu no dia 24 de setembro de 1979 em Fortaleza, CE. Foi batizado no dia 28 de setembro de 1980, na Paróquia São Francisco da Cruz, na cidade de Cruz, CE, pelo Pe. Valderi.
Fez a 1ª. Eucaristia no dia 08 de dezembro de 1991, recebendo o Cristo Eucarístico pela 1avez das mãos de Pe. Teodoro, fundador da Paróquia São Pedro e São Paulo, em 1970, e recebeu o Crisma no dia em que completou 18 anos, dia 24 de setembro de 1997, de Dom José Coutinho, bispo auxiliar da Arquidiocese de Fortaleza. ambos os sacramentos realizados na mesma Igreja de São Pedro e São Paulo, aonde também será ordenado Padre.
Estudou na Escola Soares Moreno (Alfabetzação); as 1a., 2a. e 3as. Séries no Colégio Júlio Muniz; as 4a. e 5a. séries na Escola de 1o. e 2o. Graus Quintino Cunha (Grupo); as 6a. e 7a. séries no Colégio Delmiro Gouveia; a 8a. série, o 1o. e 2o. ano do 2o. Grau foram feitos na Escola de 1o. e 2o. Graus José Bezerra de Menezes (Colégio Polivalente); e o 3o. ano do 2o. Grau, a conclusão do Ensino Médio no Colégio dom Quintino. Iniciou o curso de Ciências Religiosas no Instituto de Ciências Religiosas (ICRE) em 1999 após o 8o. lugar no Vestibular.
Cursou Filosofia no Instituto Teológico e Pastoral do Ceará (ITEP), em Fortaleza, entre 2001-03. Entrou para o Seminário Interno (Noviciado) Interprovincial da Congregação da Missão no dia 15 de janeiro de 2004, em Petrópólis, RJ. Cursou Teologia em Ananindeua, PA, no Instituto Regional para Formação Presbiteral (IRFP), entre 2005 e 2008.
No Seminário São Vicente de Paulo em Belém fez o seu Bom propósito (primeiros votos) dia 26 de abril de 2005. No mesmo local, professou seus Votos Perpétuos, no dia 31 de março de 2008, na Festa da Anunciação de nosso Senhor Jesus Cristo, aonde no mesmo ano e lugar foi admitido ás ordens sacras no dia 21de junho, recebendo os ministérios de Leitor e Acólito. Em 22 de novembro do ano passado, no dia de Santa Cecília, a padroeira da música, foi ordenado Diácono, pela imposição das mãos e Oração Consecratória de Dom Orani João Tempesta, quando Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará.
Atualmente trabalha na Paróquia Santo Antonio de Pádua, em Quixeramobim, sertão Central do Ceará, auxiliando o Pároco e seu primeiro orientador espiritual, Pe. Francisco Sérgio de Oliveira.
Cursou Filosofia no Instituto Teológico e Pastoral do Ceará (ITEP), em Fortaleza, entre 2001-03. Entrou para o Seminário Interno (Noviciado) Interprovincial da Congregação da Missão no dia 15 de janeiro de 2004, em Petrópólis, RJ. Cursou Teologia em Ananindeua, PA, no Instituto Regional para Formação Presbiteral (IRFP), entre 2005 e 2008.
No Seminário São Vicente de Paulo em Belém fez o seu Bom propósito (primeiros votos) dia 26 de abril de 2005. No mesmo local, professou seus Votos Perpétuos, no dia 31 de março de 2008, na Festa da Anunciação de nosso Senhor Jesus Cristo, aonde no mesmo ano e lugar foi admitido ás ordens sacras no dia 21de junho, recebendo os ministérios de Leitor e Acólito. Em 22 de novembro do ano passado, no dia de Santa Cecília, a padroeira da música, foi ordenado Diácono, pela imposição das mãos e Oração Consecratória de Dom Orani João Tempesta, quando Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará.
Atualmente trabalha na Paróquia Santo Antonio de Pádua, em Quixeramobim, sertão Central do Ceará, auxiliando o Pároco e seu primeiro orientador espiritual, Pe. Francisco Sérgio de Oliveira.
ORDENAÇÃO PRESBITERAL DO DIÁCONO ADAUTO FARIAS,CM
A Província de Fortaleza da Congregação da Missão, a Paróquia São Pedro e São Paulo e a minha família têm a alegria de convidar V.Sa. e sua família (comunidade) para a Celebração Eucarística na qual serei ordenado Presbítero pelo gesto sacramental da Imposição das mãos e Oração Consecratória de Dom Ângelo Pignoli – Bispo da Diocese de Quixadá-CE.
Conto desde já com sua presença e orações, para servir com amor e fidelidade o Povo de Deus .
Data: 17 de abril de 2009
Horário: 19: 00h
Local: Paróquia S. Pedro e S. Paulo
R. Pe. Teodoro, 996 – Q. Cunha
Fortaleza- CE
Horário: 19: 00h
Local: Paróquia S. Pedro e S. Paulo
R. Pe. Teodoro, 996 – Q. Cunha
Fortaleza- CE
segunda-feira, 2 de março de 2009
EUCARISTIA - MISTÉRIO DO AMOR DE DEUS POR NÓS
EUCARISTIA:
Mistério do Amor de Deus por nós
1. SAGRADAS ESCRITURAS
1.1 Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus
· “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
· “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
1.2. A Vida de Jesus manifesta que o ser de Deus é Amor-Doação
· “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).
· “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, sendo rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).
1.3. O Amor-Doação permanece na Eucaristia
· “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
· Outra citação: Narração da Instituição da Eucaristia (1 Cor 11,23-26) e Não vos deixarei órfãos (Jo 14,18-21)
TRADIÇÃO
· Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.” (Dos Sermões de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 161-162).
MAGISTÉRIO
· “Jesus deu a este ato de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a sua morte e ressurreição entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos, no pão e no vinho, a Si próprio, ao seu corpo e sangue como novo maná (cf. Jo 6, 31-33)” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 13).
· “A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 16).
“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. (...) Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária. Por outro lado — como adiante havemos de considerar de modo mais detalhado — o «mandamento» do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 13. 14).
Mistério do Amor de Deus por nós
1. SAGRADAS ESCRITURAS
1.1 Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus
· “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
· “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
1.2. A Vida de Jesus manifesta que o ser de Deus é Amor-Doação
· “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).
· “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, sendo rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).
1.3. O Amor-Doação permanece na Eucaristia
· “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
· Outra citação: Narração da Instituição da Eucaristia (1 Cor 11,23-26) e Não vos deixarei órfãos (Jo 14,18-21)
TRADIÇÃO
· Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.” (Dos Sermões de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 161-162).
MAGISTÉRIO
· “Jesus deu a este ato de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a sua morte e ressurreição entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos, no pão e no vinho, a Si próprio, ao seu corpo e sangue como novo maná (cf. Jo 6, 31-33)” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 13).
· “A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 16).
“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. (...) Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária. Por outro lado — como adiante havemos de considerar de modo mais detalhado — o «mandamento» do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 13. 14).
QUARESMA
Penha Carpanedo Para viver
a quaresma
O caminho de fé-conversão implica em etapas sucessivas e em movimento progressivo. O ano litúrgico, com seu ritmo anual, semanal e diário, que se repete, corresponde a essa pedagogia. Os tempos e as festas que voltam a cada ano, com as mesmas leituras, os mesmos cantos e orações, não é um monótono repetir-se das coisas, nem simples reprodução dramática da vida terrena de Cristo; é memória ritual da salvação que se realizou em Jesus ‘uma vez por todas' e à qual, em diferentes momentos da vida, damos nossa renovada adesão. O ano litúrgico é representação sacramental do mistério de Cristo que nos permite avançar no processo pascal de nossa identificação com Ele, até atingirmos “o pleno conhecimento do Filho de Deus” (cf. Ef 4,13).
Na prática, trata-se de fazer da própria celebração uma experiência espiritual que transforma e anima todo o nosso ser (corpo, mente e coração) e que se prolonga na vida cotidiana e em nossa missão no mundo. Concretamente, o que se propõe é fazer bem a ação ritual e prestar atenção em cada gesto e palavra, acompanhando com a nossa mente e o nosso coração aquilo que a boca proclama e o corpo realiza. Tomemos como exemplo as celebrações no tempo da quaresma.
A ação ritual
Primeiro domingo da quaresma! O espaço da celebração está sensivelmente vazio, sem flores e sem ornamento, apenas ostentando a cor roxa e discreta iluminação. A celebração foi preparada cuidadosamente, tudo está pronto. Nenhum ruído ou sinal de ansiedade por parte de cantores, tocadores e demais ministros e ministras da celebração. Nenhuma improvisação de última hora. O que predomina é o silêncio, como um convite à oração. Sem quebrar esse clima contemplativo, o animador do canto ensaia alguns refrãos... e, após mais um pequeno período de silêncio, a celebração começa.
Em tom solene, mas com pouco instrumento musical, dá-se início ao canto de abertura ‘João Batista clamou no deserto', cantado fervorosamente por toda a assembléia, enquanto ministros e ministras entram em procissão, trazendo em destaque a cruz (processional). No lugar do ato penitencial, o rito da aspersão da água ‘recordando o batismo' e pedindo a Deus que ‘nos livre de todos os males'.
À medida que a celebração avança, cantos e orações se sucedem, conduzindo-nos ao coração do mistério que celebramos na quaresma. A primeira oração pede a Deus que ao longo desta quaresma ‘possamos progredir no conhecimento de Jesus e corresponder ao seu amor por uma vida santa'. O evangelho traz o relato de Jesus guiado pelo Espírito ao deserto e a primeira leitura é o credo da comunidade judaica, centrado na memória do Êxodo. O prefácio louva ao Pai porque Jesus, ‘desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade'. E assim, nos domingos seguintes, uma riqueza imensa de orações, imagens, personagens, Palavra e símbolos pedem a nossa atenção, e vai propondo um caminho progressivo de mudança e crescimento que nos conduz à vigília pascal.
A atuação de ministros e ministras – conscientes e interiormente centrados no mistério – permite à assembléia participar ativamente, prestar atenção em cada palavra e gesto, apropriar-se e deixar-se impregnar dos elementos que compõem a liturgia quaresmal com seu sentido próprio.
O sentido teológico-litúrgico
Se toda celebração cristã é memorial da páscoa de Jesus Cristo, o ciclo pascal, consagra, com mais intensidade, um tempo especial para celebrar a memória da vida, morte e ressurreição de Jesus, para que as comunidades cristãs possam fazer da vida uma páscoa contínua. A quaresma, tempo que prepara as festas pascais, faz memória do Cristo, em seus 40 dias pelo deserto revivendo na própria experiência os 40 anos do povo de Deus. É tempo de preparação para a Vigília Pascal, não apenas cuidando da exterioridade da festa, mas retomando profundamente a vida batismal.
Assim, a quaresma nos é dada como ‘sinal sacramental da nossa conversão' em Cristo. É ele que nos converte e faz ‘arder o nosso coração' com a sua palavra. A conversão não é resultado do nosso esforço voluntarista, mas obra do Espírito de Deus que realiza em nós a transformação pascal, reavivando nossa adesão a Jesus Cristo. A austeridade e as diversas ausências que se verificam na liturgia da quaresma remete-nos ao necessário vazio do coração a ser preenchido com a Palavra que julga nossos corações e nos converte. As ‘vestes de penitência', apontam para a necessidade de tomar consciência do mal que está instalado no coração humano, assim como nas relações interpessoais e sociais. Se não fosse assim, não existiria a guerra, a violência, a destruição da natureza... Por isso, o grande apelo da quaresma é mudar de vida.
Viver conforme a quaresma
Durante a liturgia quaresmal, leituras bíblicas, cânticos e orações, gestos e silêncios ressoam em nós como convite à conversão. Fazendo memória da salvação que já se realizou em Cristo pelo batismo, somos chamados/as a perceber o que nos falta para viver de acordo com essa salvação.
No plano pessoal, o primeiro passo é conhecer a nós mesmos com nossas ambigüidades e sombras, reconhecer e aceitar nossa fragilidade, acolher nela a salvação de Deus que nos torna capazes de perdoar a nós mesmos e aos outros. Somos chamados a abrir-nos ao Espírito Santo que nos faz abraçar o perdão como possibilidade de não aprisionar a si e aos outros nas conseqüências negativas das próprias escolhas. Somos chamados a superar o mal pelo exercício constante do bem: o amor concreto não será uma conseqüência, mas um caminho de conversão; à medida que ousamos amar, mesmo conhecendo toda a nossa fragilidade, opondo a violência com a tolerância e o perdão, estamos em movimento de nascer de novo para uma vida nova.
Agindo dessa maneira, estamos começando em nós o que desejamos para o mundo, a sociedade, a terra. O Dalai Lama afirma a esse propósito: ‘A mensagem que ouvimos de todas as Fontes espirituais é clara: Somos Todos Um Só. O esquecimento dessa Verdade é a única causa do ódio e da guerra, e, para nos relembrarmos disso, é simples: Ame, neste momento e no próximo. O gesto concreto positivo, ainda que pequeno e isolado, tem repercussão para a humanidade, para o universo, e o mal que fazemos aos outros atinge a nós também'.
Não é um caminho fácil; as imagens que aparecem na liturgia quaresmal falam de renascer, o que implica morrer, à maneira do grão de trigo que para dar fruto terá que morrer no chão. Por isso a cruz é o segredo do amor que se torna capaz de dar a vida. O ‘sacrifício' por si mesmo não pode gerar transformação, sem amor até pode soar como provocação; o amor sim, a qualquer preço, é um testemunho capaz de gerar vida.
a quaresma
O caminho de fé-conversão implica em etapas sucessivas e em movimento progressivo. O ano litúrgico, com seu ritmo anual, semanal e diário, que se repete, corresponde a essa pedagogia. Os tempos e as festas que voltam a cada ano, com as mesmas leituras, os mesmos cantos e orações, não é um monótono repetir-se das coisas, nem simples reprodução dramática da vida terrena de Cristo; é memória ritual da salvação que se realizou em Jesus ‘uma vez por todas' e à qual, em diferentes momentos da vida, damos nossa renovada adesão. O ano litúrgico é representação sacramental do mistério de Cristo que nos permite avançar no processo pascal de nossa identificação com Ele, até atingirmos “o pleno conhecimento do Filho de Deus” (cf. Ef 4,13).
Na prática, trata-se de fazer da própria celebração uma experiência espiritual que transforma e anima todo o nosso ser (corpo, mente e coração) e que se prolonga na vida cotidiana e em nossa missão no mundo. Concretamente, o que se propõe é fazer bem a ação ritual e prestar atenção em cada gesto e palavra, acompanhando com a nossa mente e o nosso coração aquilo que a boca proclama e o corpo realiza. Tomemos como exemplo as celebrações no tempo da quaresma.
A ação ritual
Primeiro domingo da quaresma! O espaço da celebração está sensivelmente vazio, sem flores e sem ornamento, apenas ostentando a cor roxa e discreta iluminação. A celebração foi preparada cuidadosamente, tudo está pronto. Nenhum ruído ou sinal de ansiedade por parte de cantores, tocadores e demais ministros e ministras da celebração. Nenhuma improvisação de última hora. O que predomina é o silêncio, como um convite à oração. Sem quebrar esse clima contemplativo, o animador do canto ensaia alguns refrãos... e, após mais um pequeno período de silêncio, a celebração começa.
Em tom solene, mas com pouco instrumento musical, dá-se início ao canto de abertura ‘João Batista clamou no deserto', cantado fervorosamente por toda a assembléia, enquanto ministros e ministras entram em procissão, trazendo em destaque a cruz (processional). No lugar do ato penitencial, o rito da aspersão da água ‘recordando o batismo' e pedindo a Deus que ‘nos livre de todos os males'.
À medida que a celebração avança, cantos e orações se sucedem, conduzindo-nos ao coração do mistério que celebramos na quaresma. A primeira oração pede a Deus que ao longo desta quaresma ‘possamos progredir no conhecimento de Jesus e corresponder ao seu amor por uma vida santa'. O evangelho traz o relato de Jesus guiado pelo Espírito ao deserto e a primeira leitura é o credo da comunidade judaica, centrado na memória do Êxodo. O prefácio louva ao Pai porque Jesus, ‘desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade'. E assim, nos domingos seguintes, uma riqueza imensa de orações, imagens, personagens, Palavra e símbolos pedem a nossa atenção, e vai propondo um caminho progressivo de mudança e crescimento que nos conduz à vigília pascal.
A atuação de ministros e ministras – conscientes e interiormente centrados no mistério – permite à assembléia participar ativamente, prestar atenção em cada palavra e gesto, apropriar-se e deixar-se impregnar dos elementos que compõem a liturgia quaresmal com seu sentido próprio.
O sentido teológico-litúrgico
Se toda celebração cristã é memorial da páscoa de Jesus Cristo, o ciclo pascal, consagra, com mais intensidade, um tempo especial para celebrar a memória da vida, morte e ressurreição de Jesus, para que as comunidades cristãs possam fazer da vida uma páscoa contínua. A quaresma, tempo que prepara as festas pascais, faz memória do Cristo, em seus 40 dias pelo deserto revivendo na própria experiência os 40 anos do povo de Deus. É tempo de preparação para a Vigília Pascal, não apenas cuidando da exterioridade da festa, mas retomando profundamente a vida batismal.
Assim, a quaresma nos é dada como ‘sinal sacramental da nossa conversão' em Cristo. É ele que nos converte e faz ‘arder o nosso coração' com a sua palavra. A conversão não é resultado do nosso esforço voluntarista, mas obra do Espírito de Deus que realiza em nós a transformação pascal, reavivando nossa adesão a Jesus Cristo. A austeridade e as diversas ausências que se verificam na liturgia da quaresma remete-nos ao necessário vazio do coração a ser preenchido com a Palavra que julga nossos corações e nos converte. As ‘vestes de penitência', apontam para a necessidade de tomar consciência do mal que está instalado no coração humano, assim como nas relações interpessoais e sociais. Se não fosse assim, não existiria a guerra, a violência, a destruição da natureza... Por isso, o grande apelo da quaresma é mudar de vida.
Viver conforme a quaresma
Durante a liturgia quaresmal, leituras bíblicas, cânticos e orações, gestos e silêncios ressoam em nós como convite à conversão. Fazendo memória da salvação que já se realizou em Cristo pelo batismo, somos chamados/as a perceber o que nos falta para viver de acordo com essa salvação.
No plano pessoal, o primeiro passo é conhecer a nós mesmos com nossas ambigüidades e sombras, reconhecer e aceitar nossa fragilidade, acolher nela a salvação de Deus que nos torna capazes de perdoar a nós mesmos e aos outros. Somos chamados a abrir-nos ao Espírito Santo que nos faz abraçar o perdão como possibilidade de não aprisionar a si e aos outros nas conseqüências negativas das próprias escolhas. Somos chamados a superar o mal pelo exercício constante do bem: o amor concreto não será uma conseqüência, mas um caminho de conversão; à medida que ousamos amar, mesmo conhecendo toda a nossa fragilidade, opondo a violência com a tolerância e o perdão, estamos em movimento de nascer de novo para uma vida nova.
Agindo dessa maneira, estamos começando em nós o que desejamos para o mundo, a sociedade, a terra. O Dalai Lama afirma a esse propósito: ‘A mensagem que ouvimos de todas as Fontes espirituais é clara: Somos Todos Um Só. O esquecimento dessa Verdade é a única causa do ódio e da guerra, e, para nos relembrarmos disso, é simples: Ame, neste momento e no próximo. O gesto concreto positivo, ainda que pequeno e isolado, tem repercussão para a humanidade, para o universo, e o mal que fazemos aos outros atinge a nós também'.
Não é um caminho fácil; as imagens que aparecem na liturgia quaresmal falam de renascer, o que implica morrer, à maneira do grão de trigo que para dar fruto terá que morrer no chão. Por isso a cruz é o segredo do amor que se torna capaz de dar a vida. O ‘sacrifício' por si mesmo não pode gerar transformação, sem amor até pode soar como provocação; o amor sim, a qualquer preço, é um testemunho capaz de gerar vida.
DEUS É AMOR
Somos chamados a nos amar com o mesmo Amor com que Deus nos ama
(Formação Litúrgico-Espiritual em Quatro Etapas)
Adauto Farias
I - DEUS É AMOR POR NÓS E PARA NÓS E POR ISSO NOS MANDA AMAR
DEFINIÇÃO GENÉRICA DO AMOR
Ø “O Amor é a forma verdadeira de querer o bem para si e para o outro”.
SAGRADAS ESCRITURAS
2.1. DEUS NOS AMOU POR PRIMEIRO
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,7-10).
Ao nos amar e permitir-se ser amado por nós, Deus nos abre a possibilidade de conhecê-lo, pois o amor de Deus gera o conhecimento de Deus. Jesus é a revelação máxima do amor Deus, dito noutras palavras, Ele é a próprio Amor divino feito homem. Alguém poderia perguntar: E por que Deus veio como homem e não de outro modo? Deus veio como homem, para que pudesse resgatar o homem do pecado – pois isso somente poderia ser feito por um homem puro e santo como o Filho Unigênito de Deus – e porque somente desse modo ele nos colocaria em condições de entrar em comunicação com Deus-Pai e, assim, alcançarmos a vida divina que o Santíssimo Pai quer nos comunicar.
2.2. DEUS-PAI NOS AMA ETERNAMENTE EM SEU CRISTO
“Nele [Cristo] ele [Deus-Pai] nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4s → Ef 1,3-14).
No seu Filho amado, Deus que nos elege desde sempre para sermos seus amados e sermos santos, isto é, participarmos de sua vida divina como o Filho participa.
2.3. DEUS AMA O POVO DE ISRAEL (ANTIGO TESTAMENTO)
“Por um pouco de tempo te abandonei, mas agora com grande compaixão torno a recolher-te. Em um momento de cólera escondi de ti meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Iahweh, o teu redentor” (Is 54,7-8).
“Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás a Iahweh” (Os 2,21-22).
“Eu te amei com amor eterno, por isso conservarei para ti o amor” (Jr 31,3).
“Iahweh é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor; (...) Nunca nos trata conforme nossos erros, nem nos devolve segundo nossas culpas. (...) Como um pai é compassivo com seus filhos, Iahweh é compassivo com aqueles que o temem; porque ele conhece a nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós” (Sl 103, 8.10.13-14).
“Celebrai a Iahweh porque ele é bom, porque o seu amor é para sempre! (...) porque o seu amor é para sempre!” (Sl 136, 1. 2-25).
2.4. DEUS NOS AMA, APESAR DE NOSSOS PECADOS, E NOS MANDA AMAR (NOVO TESTAMENTO)
“Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,9-10).
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,12-13).
“Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: «Amo a Deus», mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. Aquele que ama a Deus, Ame também o seu irmão” (1 Jo 4,19-20).
“Foi, com efeito, quando éramos ainda fracos, que Cristo, no tempo marcado, morreu pelos ímpios. – Dificilmente alguém dá a vida por um justo; por um homem de bem talvez haja alguém que se disponha a morrer. – Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,6-8).
Outras citações: Iahweh conhece a nós mais que nós mesmos (Sl 139); Deus é amor que perdoa, pois conhece as nossas limitações (A mulher pecadora ou adúltera) (Jo 8,1-11); Deus é amor misericordioso. Enquanto há vida, há esperança. Ele sempre nos dá uma nova chance. (O Pai Misericordioso) (Lc 15,11-32).
TRADIÇÃO
“Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram" (Santo Tomás de Aquino, In II Sent., prol.).
"Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão” (Exort. Apost. Sobre a missão da Família cristã no mundo de hoje – João Paulo II, Familiaris Consortio 11 in CIC 2331).
“Aqui está o coração do Evangelho, o núcleo central do Cristianismo. Foi a luz deste amor que abriu os olhos de Agostinho, fazendo-o encontrar a beleza antiga e sempre nova, na qual encontra finalmente paz o coração do homem” (Papa Bento XVI em visita ao túmulo de Santo Agostinho, comentando 1 Jo 4,9-10).
Assim, Santa Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para esta finalidade" [Santa Catarina de Sena, Diálogo sobre a Providência, cap. IV,138, ed. G. Cavallini (Roma, 1995), p.441 in CIC 313].
Num Comentário ao Evangelho de João 15,16, Santo Agostinho aponta para uma escolha eterna de Deus por nós.
"Não vós me escolhesses, eu vos escolhi" [Jo 15,16]. Eis a inefável graça! Que éramos nós quando não tínhamos ainda escolhido a Cristo, e por isso não o amávamos? Como poderia amá-lo aquele que não o escolheu? Acaso já ocorria conosco o que se canta no Salmo: "escolhi, antes, ser humilde na casa do Senhor do que habitar nas moradas dos pecadores" [Sl 83,11]? Não, decerto. Que éramos, senão iníquos e perdidos? Nem sequer tínhamos acreditado nele, para sermos por ele escolhidos. Se nós escolhemos já acreditando nele, eram escolhidos os que escolhia. Ele disse, porém: "não fostes vós que me escolhesses". Porque foi "a sua misericórdia que se antecipou a nós" [Sl 58,11].
Por aí se vê quanto é destituída de razão a maneira de raciocinar dos que defendem a presciência de Deus contra a graça de Deus. Dizem que fomos escolhidos "antes da constituição do mundo" [Ef 1,4], porque Deus previu que havíamos de ser bons, e não que ele mesmo nos haveria de fazer bens. Ora, não é isto e que diz ele, quando diz: "Não fostes vós que me escolhesses". Se nos tivesse escolhido porque previra que havíamos de ser bons, teria igualmente previsto que nós primeiramente o havíamos de escolher. Não podíamos ser bons de outro modo, a não ser que se chamasse bom quem não escolheu o bem.
Que escolheu ele nos que não são bons? Não foram escolhidos por terem sido bons. Nunca seriam bons se não tivessem sido escolhidos. Se sustentarmos que já havia méritos, a graça já não seria graça.
A escolha é obra da graça, como diz o Apóstolo: "no tempo presente subsiste um resto, por causa da escolha da graça" [Rm 11,5]. E acrescenta: "se isto foi pela graça, não foi pelas obras; de outra sorte, a graça já não seria graça".
Ouve-me, ó ingrato, ouve-me! "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi". Não tens razão para dizer: fui escolhido porque já acreditava. Se acreditavas nele, já o tinhas escolhido. Mas ouve: "Não fostes vós que me escolhesses". Não tens razão para dizer: antes de acreditar, já realizava boas ações, e por isso fui escolhido. Se o Apóstolo diz: "o que não procede da fé é pecado" [Rm 14,23], que obras boas podem existir anteriores à fé? Ao ouvir dizer: "Não fostes vós que me escolhesses", que devemos pensar? Que éramos maus e fomos escolhidos para nos tornarmos bons pela graça de quem nos escolheu. A graça não teria razão de ser se os méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons mas escolhe para fazer bons.
"Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça" [Jo 15,16].
Referira-se a esse fruto quando dissera: "sem mim nada podeis fazer". Escolheu, pois, e constituiu-nos para irmos e produzir os frutos. Não tínhamos qualquer fruto que fosse a razão de ser de nossa eleição. “Para que vades e produzais fruto”. Vamos para produzir. Ele é o caminho por onde vamos, e onde nos colocou para que vamos. Em tudo se antecipou a nós a sua misericórdia. "E para que vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda" [Jo 15,16].
Permaneça, pois, o amor. Ele mesmo será a nosso fruto. O amor agora existe em desejo e não em plena abundância, mas pelo próprio desejo que alimentarmos em nós, tudo o que pedirmos em nome do Filho unigênito no-lo concederá o Pai. Não vamos julgar que pedimos em nome do Salvador. Só podermos pedir em nome do Salvador o que convém à nossa salvação.
Constituiu-nos em situação de produzirmos fruto, isto é, de nos amarmos mutuamente. Nunca poderíamos produzir este fruto são a sua cooperação, assim como os ramos nada podem produzir sem a videira. A caridade, portanto, tal como a definiu o Apóstolo: "nascida de um coração puro, da boa consciência e da fé não fingida" [1Tm 1,5] é o nosso fruto. É com ela que nos amamos uns aos outros e que amamos a Deus.
Nunca poderíamos amar-nos mutuamente com verdadeiro amor se não amássemos a Deus. Ama o próximo como a si mesmo aquele que ama a Deus. Se não ama a Deus não se ama a si mesmo.
"Nestes dois mandamentos se compendiam toda a - Lei e os Profetas" [Mt 22,40]. É este nosso fruto, e o Senhor nos deu um preceito quanto a este fruto ao dizer-nos: "o que vos mando é isto: que vos amais uns aos outros" [Jo 15,17].
Quando o apóstolo Paulo queria recomendar os frutos do Espírito em oposição às obras da carne colocou em primeiro lugar, à maneira de cabeça, este: "o fruto do Espírito é a caridade". Só depois enumerou os demais, nascidos e intimamente ligados à cabeça: "a alegria, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fé, a mansidão e a continência".
Como pode alegrar-se convenientemente quem não ama o bem de onde procede a alegria? Como se pode ter verdadeira paz, senão com aquele a quem, verdadeiramente se ama? Como se pode perseverar no bem com longanimidade se não se ama com intensidade? Quem pode ser benigno se não ama aquela a quem corre? Quem pode ser bom se não se torna bem pela prática do amor? Quem pode ter uma fé efetiva se a caridade não faz que a mesma se acompanhe de obras? Quem pode ser utilmente manso, se o amor não moderar a ira? Quem pode conter-se e não praticar a torpeza se a caridade não o levar a amar a honestidade?
Razão tinha o bem Mestre para encarecer tanto a caridade como se fosse o seu único mandamento. Sem a caridade os outros bens não são proveitosos. Mas a caridade, por sua vez, não pode existir sem os outros bens, pelos quais o homem se torna bom” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João p.l. 3, 1851-1853).
Segundo uma antiga Homilia no grande Sábado Santo, Jesus desceu a mansão dos mortos para resgatar nossos primeiros pais: Adão e Eva. As “palavras proferidas por Jesus” exprimem o seu profundo amor pela nossa humanidade decaída no pecado:
“Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam à séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, e agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levante dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!”; e aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra de minhas mãos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra, e fui mesmo sepultado abaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi; para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava voltada contra ti. Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, constituído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade” (Da Liturgia das Horas, Vol.II – Quaresma e Páscoa, pp.439-440).
Ao comentar o texto do diálogo de Jesus com a Samaritana em Jo 4, e ao relacioná-lo com outro texto do Antigo Testamento, eis o que diz Santo Afonso Maria de Ligório:
“Será que Nosso Senhor realmente queria tomar água?Ele que fez através de Moisés, brotar água da pedra (Dt 8,15)? A resposta é não!Pois Ele não se referia a água e sim ao AMOR!Então o texto ficaria assim: "Dai-me de beber do seu amor!Ou seja, 'Ame-me pois fui eu o primeiro a amar você.Você não estava ainda no mundo.O mundo nem existia, e Eu já o amava.Eu amo você desde que sou Deus.Amo você, porque desde que amei a Mim mesmo, amei também você!' (Santo Afonso Maria de ligório - A prática do Amor a Jesus Cristo).
MAGISTÉRIO
“Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4,10), agora o amor já não é apenas um ‘mandamento’, mas a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).
Num mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, essa é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto. Por isso, na minha primeira encíclica, desejo falar do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).
“Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus” (cf. Jo 19, 34) (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 7b).
“O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 10a).
“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. (...) Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária. Por outro lado — como adiante havemos de considerar de modo mais detalhado — o «mandamento» do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 13. 14).
“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17a).
“No desenrolar deste encontro, revela-se com clareza que o amor não é apenas um sentimento. Os sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor. (...) É próprio da maturidade do amor abranger todas as potencialidades do homem e incluir, por assim dizer, o homem na sua totalidade. O encontro com as manifestações visíveis do amor de Deus pode suscitar em nós o sentimento da alegria, que nasce da experiência de ser amados. Tal encontro, porém, chama em causa também a nossa vontade e o nosso intelecto. O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d'Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está « concluído » e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17b).
“Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens[1]. Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor[2]“. (Exort. Apost. Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis 35).
ORAÇÕES
“Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu Amado a quem procuras e desejas?
Ó Senhor, Deus meu! Quem te buscará com amor tão puro e singelo que deixe de te encontrar, conforme o desejo de sua vontade, se és tu o primeiro a mostrar-te e a sair ao encontro daqueles que te desejam?
Quando a pessoa abre e se liberta de todo condicionamento, e une perfeitamente sua vontade à de Deus, transforma-se naquele que lhe comunica o ser sobrenatural, de tal maneira que se parece com o próprio Deus e se deixa possuir totalmente por ele.
O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é ele”. (São João da Cruz)
“Ele é um Deus de amor. Nós não podemos compreender até onde chega seu amor particularmente quando nos prova” (Bem-aventurada Elizabete da Trindade).
“Para poder nos dar a Deus com amor devemos reconhecê-lo como Aquele que ama” (Santa Teresa Benedita da Cruz).
"Oh amor de Deus que não és conhecido nem amado: Como estás ofendido!. (...) Oh meu Jesus, concede-me palavras eficazes para convencer ao mundo que teu amor é grande e verdadeiro e que nosso egoísmo é enganoso e trapaceiro" (Santa Maria Madalena de Pazzi).
“Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro” (São João Maria Vianney, Oração).
II - DEUS NOS AMA: ESCUTEMOS SUA PALAVRA
Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta de fé de seu povo (CIC 1153).
A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário), sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações, salmos de meditação, ladainhas, profissão de fé...) (CIC 1154).
SAGRADAS ESCRITURAS
1.1. Cristo, a Palavra de Deus, existe antes do mundo, no seio de Deus-Pai
· “No princípio era o Verbo [Palavra] e o Verbo [Palavra] estava voltado para Deus e o Verbo [Palavra] era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e se ele nada se fez de tudo o que foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam” (Jo 1,1-5).
· “Iahweh me criou, primícias de sua obra, de seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Eu estava junto com ele como o mestre-de-obras, ...” (Pr 8,22-23. 30 → Pr 8,22-31).
· “Contigo está a Sabedoria que conhece tuas obras, estava presente quando fazias o mundo; ela sabe o que é agradável aos teus olhos e o que é conforme aos teus mandamentos” (Sb 9,9 → Sb 9,9-18).
· “A sabedoria faz o seu próprio elogio, ela se exalta no meio do povo. Criou-me antes dos séculos, desde o princípio, e para sempre não deixarei de existir. Na Tenda santa, em sua presença, oficiei; estabeleci-me em Sião. Enraizei-me num povo cheio de glória, na porção do Senhor, no seu patrimônio (Eclo 24,9-10b.12 → Eclo 24,1-34).
· “Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é a antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Principio, o Primogênito dentre os mortos (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1,15-20).
1.2. Na plenitude do tempo, o Filho de Deus nos comunicou a salvação
“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituístes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os séculos” (Hb 1,1-2).
“Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou, Deus os seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4).
Outra citação: Parábola dos vinhateiros (Mc 12,2-6).
tes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os sele todos os seres
TRADIÇÃO
Lembrai-vos que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as Escrituras, que é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que, sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo" (Santo Agostinho, Em. in Os. 103,4: PL 37,1378 in CIC 102).
“A Palavra de Cristo não é menos [importante] do que o Corpo de Cristo” (Cesário de Arles, in Serm. 78,2) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27 – CNBB 52).
“Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico” (S. Agostinho, Enrr. In PS. 1, 33) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).
“O verdadeiro Cristo está na sua Palavra e na carne” (S. Agostinho, In Ev. Joanis, Tract. 26, 12; CCL. PL 36, 266) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).
“Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.” (Do Prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías, de São Jerônimo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1329-1330).
“A Igreja ‘exorta todos os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo' Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois 'a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (Santo Ambrósio, Off.,. 1,88: PL 16,50A, citado em DV 25 e CIC 2653).
"Procurai pela leitura, e encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação" (Cf. Guigo, o Cartuxo, Scala: PL 184,476C. in CIC 2654).
“Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião da "Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo"” (São Bernardo, Homilia super missus est, 4,11; PL 183,86B in CIC 108).
MAGISTÉRIO
“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor; sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da vida” (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum 21).
“Na celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram sua significação” (SC 24; CIC 1100).
“A Palavra de Deus é um “acontecimento” através do qual o próprio Deus entra no mundo, age, cria, intervém na história do seu povo para orientar sua caminhada. (Canto É como a chuva que lava – Is 55, 10-11). Ela é poder[3] e força criadora de Deus[4] que se dirige pessoalmente a cada um, hoje[5]. Nesta perspectiva, as celebrações da Palavra, sob a ação do Espírito Santo, se constituem em memória reveladora dos acontecimentos maravilhosos da salvação” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.10– CNBB 52).
“O centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda a celebração litúrgica é Jesus Cristo, palavra e sinal do amor com que Deus intervém e age para salvar seu povo: presença divina ativa entre nós. (...) A liturgia é a celebração da obra salvífica de Cristo. É ele quem realiza o projeto do Pai” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.11– CNBB 52).
“Apoiando-se na Palavra de Deus, as pessoas se tornam mais solidárias e fazem dos momentos celebrativos um encontro festivo e comprometido com o próprio Deus da vida, que é Palavra que ama, salva, transforma e liberta” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.25– CNBB 52).
ORAÇÃO
“Eu te bendigo e te dou graças, Senhor Jesus, por todas as tuas misericórdias e por todos os teus benefícios. / Eu te dou graças, ó Filho do Deus vivo, que, no excesso de teu amor por nós, te dignaste fazer-te homem. / Por nós quiseste nascer num estábulo, e suportar a pobreza durante trinta e três anos. / Quiseste ser angustiado até transpirar sangue! Quiseste suportar o patíbulo da cruz e os cravos, e ter por bebida o vinagre. / Tu, que revestes os astros de esplendor, foste suspenso por nós na cruz, nu desprezado, coberto de feridas, e afligido por dores atrozes. / Por nós derramaste teu sangue puríssimo, por nós morreste! / Senhor Jesus, minha única salvação, faze que de agora em diante eu te ame com amor ardente! / Minha alma abraça tua cruz; saúdo tuas chagas, das quais escorre bálsamo e nas quais escreveste meu nome. / Salvador adorável, abandono-me sem reserva a ti, ofereço-me a ti, estou pronto a tudo suportar para a glória de teu nome” (Luís de Blois, abade em Liesse, 1505-1566 in L’Institution spirituelle, DDB-Lethielleux-Maredsous, 1932 em Palavras para rezar: Orações dos Grandes Santos, pp. 135-136).
III – DEUS NOS AMA “ATÉ O FIM”: EM JESUS CRISTO
(EUCARISTIA), DOA A SUA VIDA PLENAMENTE POR NÓS
1. SAGRADAS ESCRITURAS
1.1 Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus
· “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
· “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
1.2. A Vida de Jesus manifesta que o ser de Deus é Amor-Doação
· “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).
· “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, sendo rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).
1.3. O Amor-Doação permanece na Eucaristia
· “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
· Outra citação: Narração da Instituição da Eucaristia (1 Cor 11,23-26) e Não vos deixarei órfãos (Jo 14,18-21)
TRADIÇÃO
· “Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico. Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.” (Dos Sermões de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 161-162).
· “Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado, nos alimenta, acreditado, nos vivifica e, consagrado, santifica os que o consagram. (...) Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. É o mesmo pão descido do céu que diz: O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Ele mesmo afirma no Evangelho: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), oferecido como sacramento da paixão” (Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa. pp. 764-765).
· “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo. Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará a sua felicidade, quando Deus for tudo em todos. Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça” (Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 710-712).
· “Eu morro por todos, diz o Senhor, a fim de que por mim todos tenham vida eu morro para resgatar todos pela minha carne! (...) Com isso ele quer dizer que se consagra e se oferece como sacrifício puro de suave perfume. Com efeito, tudo que era oferecido sobre o altar, era santificado ou chamado santo, conforme a Lei. Cristo, portanto, entregou seu corpo em sacrifício pela vida de todos e assim a vida nos foi dada de novo por meio dele” (Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Jerusalém, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 670-672).
MAGISTÉRIO
· “... em Jesus Cristo, o próprio Deus vai atrás da « ovelha perdida », a humanidade sofredora e transviada. Quando Jesus fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida (cf.Lc 15,4-7), da mulher que procura a dracma (cf. Lc 15,8-10), do pai que sai ao encontro do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32) e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).
· Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma mais radical. O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João (cf. 19, 37), compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: « Deus é amor » (1 Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).
· “Jesus deu a este ato de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a sua morte e ressurreição entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos, no pão e no vinho, a Si próprio, ao seu corpo e sangue como novo maná (cf. Jo 6, 31-33)” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 13).
· “A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 16).
· “A Eucaristia é banquete: sentido do convívio = ‘Tomai e comei [...] Depois pegou o cálice e [...]’ (Mt 26,26.27). – Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quis estabelecer conosco e que nós mesmos devemos desenvolver mutuamente” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).
· “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e « realiza-se também a obra da nossa redenção »[6]. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. (...) Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao « extremo » (cf. Jo 13, 1), um amor sem medida” (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 11c).
· “Todavia não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primário e profundamente sacrifical[7]. Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício atuado uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...». Ao mesmo tempo que atualiza o passado, a Eucaristia projeta-nos para o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo da esperança” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).
· “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor" (Jo 15,9-10) (CIC 1822-1824.
· Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimigos" (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres” (CIC 1825).
· “Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se por todos e cada um de nós: "O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gl 2,20). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida ‘em remissão dos pecados’”(Mt 26.28) (CIC 478; 545).
ORAÇÃO
“Bom Pastor, pão da verdade, / Tende de nós piedade, / Conservai-nos na unidade, / Extingui nossa orfandade / E conduzi-nos ao Pai. / Aos mortais dando comida / Dais também o pão da vida: / Que a família assim nutrida / Seja um dia reunida / Aos convivas lá do céu. (Santo Tomás de Aquino)
IV – A NOSSA RESPOSTA AO AMOR DE DEUS:
A PRÁTICA DA CARIDADE
SAGRADAS ESCRITURAS
1.1. A nossa resposta ao Amor de Deus: Amar o próximo como a nós mesmos
“Amarás a Iahweh teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,5).
“E agora, Israel, que é que Iahweh teu Deus te pede? Apenas que temas a Iahweh teu Deus, andando em seus caminhos, e o ames, servindo a Iahweh teu Deus de todo o teu coração e com a tua alma, e que observes os mandamentos de Iahweh e os estatutos que eu te ordeno hoje, para o teu bem” (Dt 10,12-13).
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).
“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo mandamento é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22,37-40).
“Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Este é o meu mandamento: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI. Ninguém tem amor maior que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.12-13).
“Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim. Eu lhes dei a conhecer o teu nome e lhes darei a conhecê-lo, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,23.26).
“Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,8.10).
“Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14).
1.2. Devo amar-servir os que não são amados: os sofredores
“A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).
“‘E quem é o meu próximo?’ Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhes cuidados. ‘Vai, e também tu, faze o mesmo’” (Lc 10,29b.33-34.37b → Lc 10,29-37 = Parábola do Bom Samaritano).
“Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes [gestos concretos de caridade] a um desses meus irmãos mais pequeninos [faminto, sedento, forasteiro, nu, doente, preso], a mim o fizestes” (Mt 25,40).
“Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).
1.3. O Espírito Santo nos foi dado para amar
“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são Filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros e Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rm 8,14-16 → Rm 8,4-16).
Outras citações: (Rm 15,30; Cl 1,8).
TRADIÇÃO
“O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você” (Didaqué ou Catequese dos Doze Apóstolos 1,2).
“O amor de Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor do próximo é o primeiro na ordem da ação. Aquele que te deu o mandamento do amor nestes dois preceitos, não podia preceituar o amor do próximo de preferência ao amor de Deus; mas primeiramente preceituar o amor de Deus e depois o do próximo. Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás contemplá-lo, se amas o próximo. Com o amor do próximo purificas o teu olhar, para que os teus olhos possam contemplar a Deus, como afirma claramente São João: se não amas o teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês?” (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de São João (Tract. 17,7-9; CCL 36,174-175).
“A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. (...) Diz São Gregório: “Há uma lei para o pregador: que faça o que prega”. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras. Os apóstolos, entretanto, falavam conforme o Espírito Santo os inspirava (At2,4). Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas idéias!” (Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, Liturgia das Horas, Vol.III – Tempo Comum – Semanas 13º.-17º., pp. 1357-1358).
“Como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). (...) E amemos os próximos com a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados” (Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis, Liturgia das Horas, Vol. IV – Tempo Comum – Semanas 18º.-34º., pp. 1345-1346).
MAGISTÉRIO
“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 17a).
“... eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O seu amigo é meu amigo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 18).
“O programa do cristão — o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus — é « um coração que vê ». Este coração vê onde há necessidade de amor, e atua em conseqüência. (...) O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. Sabe que Deus é amor (cf. 1 Jo 4, 8) e torna-Se presente precisamente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 31b.c.).
“A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo homem, um amor que se nutre do encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 34).
“Quem se acha em condições de ajudar há de reconhecer que, precisamente deste modo, é ajudado ele próprio também; não é mérito seu nem título de glória o fato de poder ajudar. Esta tarefa é graça. Quanto mais alguém trabalhar pelos outros, tanto melhor compreenderá e assumirá como própria esta palavra de Cristo: « Somos servos inúteis » (Lc 17, 10). (...) Com humildade, fará o que lhe for possível realizar e, com humildade, confiará o resto ao Senhor. É Deus quem governa o mundo, não nós. Prestamos-Lhe apenas o nosso serviço por quanto podemos e até onde Ele nos dá a força” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 35).
“A oração, como meio para haurir continuamente força de Cristo, torna-se aqui uma urgência inteiramente concreta. Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a ação. A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 36).
“Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se « sacramento » para a humanidade[8], sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos.[9] A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»” (Jo 20, 21) (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 22b).
“A Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; é também projeto de solidariedade em prol da humanidade inteira. (...) O cristão, que participa na Eucaristia, dela aprende a tornar-se promotor de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 27).
“Há ainda um ponto para o qual queria chamar a atenção, porque sobre ele se joga em medida notável a autenticidade da participação na Eucaristia, celebrada na comunidade: é o impulso que esta aí recebe para um compromisso real na edificação duma sociedade mais eqüitativa e fraterna” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 28).
· “Com efeito, o culto agradável a Deus nunca é um ato meramente privado, sem conseqüências nas nossas relações sociais: requer o testemunho público da própria fé. Evidentemente isto vale para todos os batizados, mas impõe-se com particular premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas”[10] (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 83).
· “«Não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele»[11]. (...) Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar n'Ele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: «Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária»[12]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 84).
· “A união com Cristo, que se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma novidade de relações sociais: «a ‘‘mística'' do sacramento tem um caráter social, porque (...) a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou hão de tornar Seus»[13]. (...) é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração. (...) «Com efeito, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção econômica e a exploração sexual »...[14]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit. 89a.b.).
“Se vês a caridade, vês a Trindade” (Santo Agostinho, De Trinitate, VIII,8,12: CCL 50,287 in Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 19).
“Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provisor de todos os que se encontram em necessidade” (Justino de Roma, I Apologia, 67: PG 6,429 – Liturgia dominical).
· “Quando damos aos pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles grande generosidade pessoal, mas lhes devolvemos o que é deles. Cumprimos um dever de justiça e não tanto um ato de caridade” [São Gregório Magno, Past. 3,21; SC 382,394 (PL 77,87) in CIC 2446].
ORAÇÕES
“Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo subumano, praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma, ouvirá o clamor dos oprimidos. E o clamor dos oprimidos é a voz de Deus.
Quem vive em países desenvolvidos e ricos, onde existem zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais, ouvirá o clamor silencioso dos sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz é a voz de Deus.
Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição da riqueza, se tiver grandeza d´alma, captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E o protesto dos pobres é a voz de Deus.
Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas, nota que, em nossos tempos, as injustiças já não ocorrem apenas entre indivíduos e indivíduos ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E a voz dos injustiçados é a voz de Deus”.
Para despertar-nos, Deus se serve até dos gestos de radicalização e de violência. Ele sabe tirar o bem do próprio mal. (...)
Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dra-nos ao luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e, não raro, vazias, sem vê-Lo, sem ouvi-Lo, sem tocá-Lo, lá onde Ele está, e nos espera e exige nossa presença: no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós, muitas vezes, coniventes com esta situação? ...” (D.Hélder Câmara, O Deserto é fértil, pp.23-25).
“Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos” (Dos Escritos de São Vicente de Paulo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1305-1306).
BIBLIOGRAFIA
VVAA. Bíblia de Jerusalém. Paulus. São Paulo. 1995.
Documentos do Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes (GS): Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje; Lumen Gentium (LG): Constituição Dogmática sobre a Igreja; Dei Verbum (DV): Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação; Sacrosanctum Concilium (SC): Constituição sobre a Sagrada Liturgia)in www.vatican.va.
João Paulo II. Catecismo da Igreja Católica (CIC). Ed. Loyola. São Paulo. 1992.
Ecclesia de Eucharistia. Carta encíclica sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja - 185. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2003.
Mane Nobiscum Domine. Carta Apostólica para o ano da Eucaristia - 187. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. 2004.
Bento XVI. Deus Caritas est. Carta encíclica sobre o Amor cristão -189. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2005.
Sacramentum Caritatis. Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. 2007.
Liturgia das Horas (4 volumes). Várias editoras. 2000.
CNBB. Orientação para a Celebração da Palavra de Deus -52. Documentos da CNBB. Paulinas. São Paulo. 1994.
Justino de Roma. I Apologia. 2ª. Ed.Coleção Patrística. Paulus. 1995.
Padres Apostólicos. Didaqué: Catequese dos Doze Apóstolos. 3ª. Ed. São Paulo. Paulus. 2002.
Durcase, Jean (org.). Palavras para Rezar: Orações dos grandes orantes. São Paulo. Paulinas. 1993.
Câmara, Dom Hélder. O Deserto é fértil. Civilização Brasileira. 1975.
Demais citações: site de busca – www.google.com.br
[1] Cf. Sermones 1, 7; 11, 10; 22, 7; 29, 76: Sermones dominicales ad fidem codicum nunc denuo editi (Grottaferrata 1977), pp. 135.209s.292s.337; Bento XVI, Mensagem aos Movimentos Eclesiais e às Novas Comunidades (22 de Maio de 2006): AAS 98 (2006), 463.
[2] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
[3] 2 Cor 6, 7.
[4] Sl 148,5.
[5] Cf. Santo Agostinho, In Ioann. Ev. Tract. 30,7.
[6] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3.
[7] Cf. João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 10: AAS 95 (2003), 439; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004), 38: Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004), 3.
[8] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[9] Cf. ibid., 9.
[10] Cf. João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995): AAS 87 (1995), 401-522; Bento XVI, Discurso à Pontifícia Academia para a Vida (27 de Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 264-265.
[11] Homilia (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 711.
[12] Propositio 42.
[13] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 14.
[14] Propositio 48.
(Formação Litúrgico-Espiritual em Quatro Etapas)
Adauto Farias
I - DEUS É AMOR POR NÓS E PARA NÓS E POR ISSO NOS MANDA AMAR
DEFINIÇÃO GENÉRICA DO AMOR
Ø “O Amor é a forma verdadeira de querer o bem para si e para o outro”.
SAGRADAS ESCRITURAS
2.1. DEUS NOS AMOU POR PRIMEIRO
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,7-10).
Ao nos amar e permitir-se ser amado por nós, Deus nos abre a possibilidade de conhecê-lo, pois o amor de Deus gera o conhecimento de Deus. Jesus é a revelação máxima do amor Deus, dito noutras palavras, Ele é a próprio Amor divino feito homem. Alguém poderia perguntar: E por que Deus veio como homem e não de outro modo? Deus veio como homem, para que pudesse resgatar o homem do pecado – pois isso somente poderia ser feito por um homem puro e santo como o Filho Unigênito de Deus – e porque somente desse modo ele nos colocaria em condições de entrar em comunicação com Deus-Pai e, assim, alcançarmos a vida divina que o Santíssimo Pai quer nos comunicar.
2.2. DEUS-PAI NOS AMA ETERNAMENTE EM SEU CRISTO
“Nele [Cristo] ele [Deus-Pai] nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4s → Ef 1,3-14).
No seu Filho amado, Deus que nos elege desde sempre para sermos seus amados e sermos santos, isto é, participarmos de sua vida divina como o Filho participa.
2.3. DEUS AMA O POVO DE ISRAEL (ANTIGO TESTAMENTO)
“Por um pouco de tempo te abandonei, mas agora com grande compaixão torno a recolher-te. Em um momento de cólera escondi de ti meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Iahweh, o teu redentor” (Is 54,7-8).
“Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás a Iahweh” (Os 2,21-22).
“Eu te amei com amor eterno, por isso conservarei para ti o amor” (Jr 31,3).
“Iahweh é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor; (...) Nunca nos trata conforme nossos erros, nem nos devolve segundo nossas culpas. (...) Como um pai é compassivo com seus filhos, Iahweh é compassivo com aqueles que o temem; porque ele conhece a nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós” (Sl 103, 8.10.13-14).
“Celebrai a Iahweh porque ele é bom, porque o seu amor é para sempre! (...) porque o seu amor é para sempre!” (Sl 136, 1. 2-25).
2.4. DEUS NOS AMA, APESAR DE NOSSOS PECADOS, E NOS MANDA AMAR (NOVO TESTAMENTO)
“Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,9-10).
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,12-13).
“Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: «Amo a Deus», mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. Aquele que ama a Deus, Ame também o seu irmão” (1 Jo 4,19-20).
“Foi, com efeito, quando éramos ainda fracos, que Cristo, no tempo marcado, morreu pelos ímpios. – Dificilmente alguém dá a vida por um justo; por um homem de bem talvez haja alguém que se disponha a morrer. – Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,6-8).
Outras citações: Iahweh conhece a nós mais que nós mesmos (Sl 139); Deus é amor que perdoa, pois conhece as nossas limitações (A mulher pecadora ou adúltera) (Jo 8,1-11); Deus é amor misericordioso. Enquanto há vida, há esperança. Ele sempre nos dá uma nova chance. (O Pai Misericordioso) (Lc 15,11-32).
TRADIÇÃO
“Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram" (Santo Tomás de Aquino, In II Sent., prol.).
"Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão” (Exort. Apost. Sobre a missão da Família cristã no mundo de hoje – João Paulo II, Familiaris Consortio 11 in CIC 2331).
“Aqui está o coração do Evangelho, o núcleo central do Cristianismo. Foi a luz deste amor que abriu os olhos de Agostinho, fazendo-o encontrar a beleza antiga e sempre nova, na qual encontra finalmente paz o coração do homem” (Papa Bento XVI em visita ao túmulo de Santo Agostinho, comentando 1 Jo 4,9-10).
Assim, Santa Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para esta finalidade" [Santa Catarina de Sena, Diálogo sobre a Providência, cap. IV,138, ed. G. Cavallini (Roma, 1995), p.441 in CIC 313].
Num Comentário ao Evangelho de João 15,16, Santo Agostinho aponta para uma escolha eterna de Deus por nós.
"Não vós me escolhesses, eu vos escolhi" [Jo 15,16]. Eis a inefável graça! Que éramos nós quando não tínhamos ainda escolhido a Cristo, e por isso não o amávamos? Como poderia amá-lo aquele que não o escolheu? Acaso já ocorria conosco o que se canta no Salmo: "escolhi, antes, ser humilde na casa do Senhor do que habitar nas moradas dos pecadores" [Sl 83,11]? Não, decerto. Que éramos, senão iníquos e perdidos? Nem sequer tínhamos acreditado nele, para sermos por ele escolhidos. Se nós escolhemos já acreditando nele, eram escolhidos os que escolhia. Ele disse, porém: "não fostes vós que me escolhesses". Porque foi "a sua misericórdia que se antecipou a nós" [Sl 58,11].
Por aí se vê quanto é destituída de razão a maneira de raciocinar dos que defendem a presciência de Deus contra a graça de Deus. Dizem que fomos escolhidos "antes da constituição do mundo" [Ef 1,4], porque Deus previu que havíamos de ser bons, e não que ele mesmo nos haveria de fazer bens. Ora, não é isto e que diz ele, quando diz: "Não fostes vós que me escolhesses". Se nos tivesse escolhido porque previra que havíamos de ser bons, teria igualmente previsto que nós primeiramente o havíamos de escolher. Não podíamos ser bons de outro modo, a não ser que se chamasse bom quem não escolheu o bem.
Que escolheu ele nos que não são bons? Não foram escolhidos por terem sido bons. Nunca seriam bons se não tivessem sido escolhidos. Se sustentarmos que já havia méritos, a graça já não seria graça.
A escolha é obra da graça, como diz o Apóstolo: "no tempo presente subsiste um resto, por causa da escolha da graça" [Rm 11,5]. E acrescenta: "se isto foi pela graça, não foi pelas obras; de outra sorte, a graça já não seria graça".
Ouve-me, ó ingrato, ouve-me! "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi". Não tens razão para dizer: fui escolhido porque já acreditava. Se acreditavas nele, já o tinhas escolhido. Mas ouve: "Não fostes vós que me escolhesses". Não tens razão para dizer: antes de acreditar, já realizava boas ações, e por isso fui escolhido. Se o Apóstolo diz: "o que não procede da fé é pecado" [Rm 14,23], que obras boas podem existir anteriores à fé? Ao ouvir dizer: "Não fostes vós que me escolhesses", que devemos pensar? Que éramos maus e fomos escolhidos para nos tornarmos bons pela graça de quem nos escolheu. A graça não teria razão de ser se os méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons mas escolhe para fazer bons.
"Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça" [Jo 15,16].
Referira-se a esse fruto quando dissera: "sem mim nada podeis fazer". Escolheu, pois, e constituiu-nos para irmos e produzir os frutos. Não tínhamos qualquer fruto que fosse a razão de ser de nossa eleição. “Para que vades e produzais fruto”. Vamos para produzir. Ele é o caminho por onde vamos, e onde nos colocou para que vamos. Em tudo se antecipou a nós a sua misericórdia. "E para que vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda" [Jo 15,16].
Permaneça, pois, o amor. Ele mesmo será a nosso fruto. O amor agora existe em desejo e não em plena abundância, mas pelo próprio desejo que alimentarmos em nós, tudo o que pedirmos em nome do Filho unigênito no-lo concederá o Pai. Não vamos julgar que pedimos em nome do Salvador. Só podermos pedir em nome do Salvador o que convém à nossa salvação.
Constituiu-nos em situação de produzirmos fruto, isto é, de nos amarmos mutuamente. Nunca poderíamos produzir este fruto são a sua cooperação, assim como os ramos nada podem produzir sem a videira. A caridade, portanto, tal como a definiu o Apóstolo: "nascida de um coração puro, da boa consciência e da fé não fingida" [1Tm 1,5] é o nosso fruto. É com ela que nos amamos uns aos outros e que amamos a Deus.
Nunca poderíamos amar-nos mutuamente com verdadeiro amor se não amássemos a Deus. Ama o próximo como a si mesmo aquele que ama a Deus. Se não ama a Deus não se ama a si mesmo.
"Nestes dois mandamentos se compendiam toda a - Lei e os Profetas" [Mt 22,40]. É este nosso fruto, e o Senhor nos deu um preceito quanto a este fruto ao dizer-nos: "o que vos mando é isto: que vos amais uns aos outros" [Jo 15,17].
Quando o apóstolo Paulo queria recomendar os frutos do Espírito em oposição às obras da carne colocou em primeiro lugar, à maneira de cabeça, este: "o fruto do Espírito é a caridade". Só depois enumerou os demais, nascidos e intimamente ligados à cabeça: "a alegria, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fé, a mansidão e a continência".
Como pode alegrar-se convenientemente quem não ama o bem de onde procede a alegria? Como se pode ter verdadeira paz, senão com aquele a quem, verdadeiramente se ama? Como se pode perseverar no bem com longanimidade se não se ama com intensidade? Quem pode ser benigno se não ama aquela a quem corre? Quem pode ser bom se não se torna bem pela prática do amor? Quem pode ter uma fé efetiva se a caridade não faz que a mesma se acompanhe de obras? Quem pode ser utilmente manso, se o amor não moderar a ira? Quem pode conter-se e não praticar a torpeza se a caridade não o levar a amar a honestidade?
Razão tinha o bem Mestre para encarecer tanto a caridade como se fosse o seu único mandamento. Sem a caridade os outros bens não são proveitosos. Mas a caridade, por sua vez, não pode existir sem os outros bens, pelos quais o homem se torna bom” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João p.l. 3, 1851-1853).
Segundo uma antiga Homilia no grande Sábado Santo, Jesus desceu a mansão dos mortos para resgatar nossos primeiros pais: Adão e Eva. As “palavras proferidas por Jesus” exprimem o seu profundo amor pela nossa humanidade decaída no pecado:
“Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam à séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, e agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levante dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!”; e aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra de minhas mãos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra, e fui mesmo sepultado abaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi; para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava voltada contra ti. Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, constituído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade” (Da Liturgia das Horas, Vol.II – Quaresma e Páscoa, pp.439-440).
Ao comentar o texto do diálogo de Jesus com a Samaritana em Jo 4, e ao relacioná-lo com outro texto do Antigo Testamento, eis o que diz Santo Afonso Maria de Ligório:
“Será que Nosso Senhor realmente queria tomar água?Ele que fez através de Moisés, brotar água da pedra (Dt 8,15)? A resposta é não!Pois Ele não se referia a água e sim ao AMOR!Então o texto ficaria assim: "Dai-me de beber do seu amor!Ou seja, 'Ame-me pois fui eu o primeiro a amar você.Você não estava ainda no mundo.O mundo nem existia, e Eu já o amava.Eu amo você desde que sou Deus.Amo você, porque desde que amei a Mim mesmo, amei também você!' (Santo Afonso Maria de ligório - A prática do Amor a Jesus Cristo).
MAGISTÉRIO
“Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4,10), agora o amor já não é apenas um ‘mandamento’, mas a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).
Num mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, essa é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto. Por isso, na minha primeira encíclica, desejo falar do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 1).
“Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus” (cf. Jo 19, 34) (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 7b).
“O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 10a).
“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. (...) Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária. Por outro lado — como adiante havemos de considerar de modo mais detalhado — o «mandamento» do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 13. 14).
“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17a).
“No desenrolar deste encontro, revela-se com clareza que o amor não é apenas um sentimento. Os sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor. (...) É próprio da maturidade do amor abranger todas as potencialidades do homem e incluir, por assim dizer, o homem na sua totalidade. O encontro com as manifestações visíveis do amor de Deus pode suscitar em nós o sentimento da alegria, que nasce da experiência de ser amados. Tal encontro, porém, chama em causa também a nossa vontade e o nosso intelecto. O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d'Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está « concluído » e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 17b).
“Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens[1]. Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor[2]“. (Exort. Apost. Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis 35).
ORAÇÕES
“Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu Amado a quem procuras e desejas?
Ó Senhor, Deus meu! Quem te buscará com amor tão puro e singelo que deixe de te encontrar, conforme o desejo de sua vontade, se és tu o primeiro a mostrar-te e a sair ao encontro daqueles que te desejam?
Quando a pessoa abre e se liberta de todo condicionamento, e une perfeitamente sua vontade à de Deus, transforma-se naquele que lhe comunica o ser sobrenatural, de tal maneira que se parece com o próprio Deus e se deixa possuir totalmente por ele.
O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é ele”. (São João da Cruz)
“Ele é um Deus de amor. Nós não podemos compreender até onde chega seu amor particularmente quando nos prova” (Bem-aventurada Elizabete da Trindade).
“Para poder nos dar a Deus com amor devemos reconhecê-lo como Aquele que ama” (Santa Teresa Benedita da Cruz).
"Oh amor de Deus que não és conhecido nem amado: Como estás ofendido!. (...) Oh meu Jesus, concede-me palavras eficazes para convencer ao mundo que teu amor é grande e verdadeiro e que nosso egoísmo é enganoso e trapaceiro" (Santa Maria Madalena de Pazzi).
“Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro” (São João Maria Vianney, Oração).
II - DEUS NOS AMA: ESCUTEMOS SUA PALAVRA
Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta de fé de seu povo (CIC 1153).
A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário), sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações, salmos de meditação, ladainhas, profissão de fé...) (CIC 1154).
SAGRADAS ESCRITURAS
1.1. Cristo, a Palavra de Deus, existe antes do mundo, no seio de Deus-Pai
· “No princípio era o Verbo [Palavra] e o Verbo [Palavra] estava voltado para Deus e o Verbo [Palavra] era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e se ele nada se fez de tudo o que foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam” (Jo 1,1-5).
· “Iahweh me criou, primícias de sua obra, de seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Eu estava junto com ele como o mestre-de-obras, ...” (Pr 8,22-23. 30 → Pr 8,22-31).
· “Contigo está a Sabedoria que conhece tuas obras, estava presente quando fazias o mundo; ela sabe o que é agradável aos teus olhos e o que é conforme aos teus mandamentos” (Sb 9,9 → Sb 9,9-18).
· “A sabedoria faz o seu próprio elogio, ela se exalta no meio do povo. Criou-me antes dos séculos, desde o princípio, e para sempre não deixarei de existir. Na Tenda santa, em sua presença, oficiei; estabeleci-me em Sião. Enraizei-me num povo cheio de glória, na porção do Senhor, no seu patrimônio (Eclo 24,9-10b.12 → Eclo 24,1-34).
· “Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é a antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Principio, o Primogênito dentre os mortos (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1,15-20).
1.2. Na plenitude do tempo, o Filho de Deus nos comunicou a salvação
“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituístes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os séculos” (Hb 1,1-2).
“Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou, Deus os seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4).
Outra citação: Parábola dos vinhateiros (Mc 12,2-6).
tes herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os sele todos os seres
TRADIÇÃO
Lembrai-vos que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as Escrituras, que é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que, sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo" (Santo Agostinho, Em. in Os. 103,4: PL 37,1378 in CIC 102).
“A Palavra de Cristo não é menos [importante] do que o Corpo de Cristo” (Cesário de Arles, in Serm. 78,2) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27 – CNBB 52).
“Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico” (S. Agostinho, Enrr. In PS. 1, 33) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).
“O verdadeiro Cristo está na sua Palavra e na carne” (S. Agostinho, In Ev. Joanis, Tract. 26, 12; CCL. PL 36, 266) in Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.27– CNBB 52).
“Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.” (Do Prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías, de São Jerônimo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1329-1330).
“A Igreja ‘exorta todos os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo' Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois 'a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (Santo Ambrósio, Off.,. 1,88: PL 16,50A, citado em DV 25 e CIC 2653).
"Procurai pela leitura, e encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação" (Cf. Guigo, o Cartuxo, Scala: PL 184,476C. in CIC 2654).
“Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião da "Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo"” (São Bernardo, Homilia super missus est, 4,11; PL 183,86B in CIC 108).
MAGISTÉRIO
“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor; sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da vida” (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum 21).
“Na celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram sua significação” (SC 24; CIC 1100).
“A Palavra de Deus é um “acontecimento” através do qual o próprio Deus entra no mundo, age, cria, intervém na história do seu povo para orientar sua caminhada. (Canto É como a chuva que lava – Is 55, 10-11). Ela é poder[3] e força criadora de Deus[4] que se dirige pessoalmente a cada um, hoje[5]. Nesta perspectiva, as celebrações da Palavra, sob a ação do Espírito Santo, se constituem em memória reveladora dos acontecimentos maravilhosos da salvação” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.10– CNBB 52).
“O centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda a celebração litúrgica é Jesus Cristo, palavra e sinal do amor com que Deus intervém e age para salvar seu povo: presença divina ativa entre nós. (...) A liturgia é a celebração da obra salvífica de Cristo. É ele quem realiza o projeto do Pai” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.11– CNBB 52).
“Apoiando-se na Palavra de Deus, as pessoas se tornam mais solidárias e fazem dos momentos celebrativos um encontro festivo e comprometido com o próprio Deus da vida, que é Palavra que ama, salva, transforma e liberta” (Orientações para Celebrações da Palavra de Deus n.25– CNBB 52).
ORAÇÃO
“Eu te bendigo e te dou graças, Senhor Jesus, por todas as tuas misericórdias e por todos os teus benefícios. / Eu te dou graças, ó Filho do Deus vivo, que, no excesso de teu amor por nós, te dignaste fazer-te homem. / Por nós quiseste nascer num estábulo, e suportar a pobreza durante trinta e três anos. / Quiseste ser angustiado até transpirar sangue! Quiseste suportar o patíbulo da cruz e os cravos, e ter por bebida o vinagre. / Tu, que revestes os astros de esplendor, foste suspenso por nós na cruz, nu desprezado, coberto de feridas, e afligido por dores atrozes. / Por nós derramaste teu sangue puríssimo, por nós morreste! / Senhor Jesus, minha única salvação, faze que de agora em diante eu te ame com amor ardente! / Minha alma abraça tua cruz; saúdo tuas chagas, das quais escorre bálsamo e nas quais escreveste meu nome. / Salvador adorável, abandono-me sem reserva a ti, ofereço-me a ti, estou pronto a tudo suportar para a glória de teu nome” (Luís de Blois, abade em Liesse, 1505-1566 in L’Institution spirituelle, DDB-Lethielleux-Maredsous, 1932 em Palavras para rezar: Orações dos Grandes Santos, pp. 135-136).
III – DEUS NOS AMA “ATÉ O FIM”: EM JESUS CRISTO
(EUCARISTIA), DOA A SUA VIDA PLENAMENTE POR NÓS
1. SAGRADAS ESCRITURAS
1.1 Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus
· “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
· “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
1.2. A Vida de Jesus manifesta que o ser de Deus é Amor-Doação
· “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).
· “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, sendo rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).
1.3. O Amor-Doação permanece na Eucaristia
· “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
· Outra citação: Narração da Instituição da Eucaristia (1 Cor 11,23-26) e Não vos deixarei órfãos (Jo 14,18-21)
TRADIÇÃO
· “Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico. Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.” (Dos Sermões de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 161-162).
· “Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado, nos alimenta, acreditado, nos vivifica e, consagrado, santifica os que o consagram. (...) Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. É o mesmo pão descido do céu que diz: O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Ele mesmo afirma no Evangelho: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), oferecido como sacramento da paixão” (Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa. pp. 764-765).
· “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo. Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará a sua felicidade, quando Deus for tudo em todos. Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça” (Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 710-712).
· “Eu morro por todos, diz o Senhor, a fim de que por mim todos tenham vida eu morro para resgatar todos pela minha carne! (...) Com isso ele quer dizer que se consagra e se oferece como sacrifício puro de suave perfume. Com efeito, tudo que era oferecido sobre o altar, era santificado ou chamado santo, conforme a Lei. Cristo, portanto, entregou seu corpo em sacrifício pela vida de todos e assim a vida nos foi dada de novo por meio dele” (Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Jerusalém, Liturgia das Horas, Vol. II – Quaresma e Páscoa, pp. 670-672).
MAGISTÉRIO
· “... em Jesus Cristo, o próprio Deus vai atrás da « ovelha perdida », a humanidade sofredora e transviada. Quando Jesus fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida (cf.Lc 15,4-7), da mulher que procura a dracma (cf. Lc 15,8-10), do pai que sai ao encontro do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32) e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).
· Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma mais radical. O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João (cf. 19, 37), compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: « Deus é amor » (1 Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 12).
· “Jesus deu a este ato de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a sua morte e ressurreição entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos, no pão e no vinho, a Si próprio, ao seu corpo e sangue como novo maná (cf. Jo 6, 31-33)” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 13).
· “A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 16).
· “A Eucaristia é banquete: sentido do convívio = ‘Tomai e comei [...] Depois pegou o cálice e [...]’ (Mt 26,26.27). – Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quis estabelecer conosco e que nós mesmos devemos desenvolver mutuamente” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).
· “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e « realiza-se também a obra da nossa redenção »[6]. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. (...) Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao « extremo » (cf. Jo 13, 1), um amor sem medida” (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 11c).
· “Todavia não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primário e profundamente sacrifical[7]. Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício atuado uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...». Ao mesmo tempo que atualiza o passado, a Eucaristia projeta-nos para o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo da esperança” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 15).
· “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor" (Jo 15,9-10) (CIC 1822-1824.
· Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimigos" (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres” (CIC 1825).
· “Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se por todos e cada um de nós: "O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gl 2,20). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida ‘em remissão dos pecados’”(Mt 26.28) (CIC 478; 545).
ORAÇÃO
“Bom Pastor, pão da verdade, / Tende de nós piedade, / Conservai-nos na unidade, / Extingui nossa orfandade / E conduzi-nos ao Pai. / Aos mortais dando comida / Dais também o pão da vida: / Que a família assim nutrida / Seja um dia reunida / Aos convivas lá do céu. (Santo Tomás de Aquino)
IV – A NOSSA RESPOSTA AO AMOR DE DEUS:
A PRÁTICA DA CARIDADE
SAGRADAS ESCRITURAS
1.1. A nossa resposta ao Amor de Deus: Amar o próximo como a nós mesmos
“Amarás a Iahweh teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,5).
“E agora, Israel, que é que Iahweh teu Deus te pede? Apenas que temas a Iahweh teu Deus, andando em seus caminhos, e o ames, servindo a Iahweh teu Deus de todo o teu coração e com a tua alma, e que observes os mandamentos de Iahweh e os estatutos que eu te ordeno hoje, para o teu bem” (Dt 10,12-13).
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).
“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo mandamento é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22,37-40).
“Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Este é o meu mandamento: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI. Ninguém tem amor maior que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.12-13).
“Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim. Eu lhes dei a conhecer o teu nome e lhes darei a conhecê-lo, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,23.26).
“Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,8.10).
“Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14).
1.2. Devo amar-servir os que não são amados: os sofredores
“A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).
“‘E quem é o meu próximo?’ Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhes cuidados. ‘Vai, e também tu, faze o mesmo’” (Lc 10,29b.33-34.37b → Lc 10,29-37 = Parábola do Bom Samaritano).
“Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes [gestos concretos de caridade] a um desses meus irmãos mais pequeninos [faminto, sedento, forasteiro, nu, doente, preso], a mim o fizestes” (Mt 25,40).
“Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).
1.3. O Espírito Santo nos foi dado para amar
“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são Filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros e Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rm 8,14-16 → Rm 8,4-16).
Outras citações: (Rm 15,30; Cl 1,8).
TRADIÇÃO
“O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você” (Didaqué ou Catequese dos Doze Apóstolos 1,2).
“O amor de Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor do próximo é o primeiro na ordem da ação. Aquele que te deu o mandamento do amor nestes dois preceitos, não podia preceituar o amor do próximo de preferência ao amor de Deus; mas primeiramente preceituar o amor de Deus e depois o do próximo. Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás contemplá-lo, se amas o próximo. Com o amor do próximo purificas o teu olhar, para que os teus olhos possam contemplar a Deus, como afirma claramente São João: se não amas o teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês?” (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de São João (Tract. 17,7-9; CCL 36,174-175).
“A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. (...) Diz São Gregório: “Há uma lei para o pregador: que faça o que prega”. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras. Os apóstolos, entretanto, falavam conforme o Espírito Santo os inspirava (At2,4). Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas idéias!” (Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, Liturgia das Horas, Vol.III – Tempo Comum – Semanas 13º.-17º., pp. 1357-1358).
“Como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). (...) E amemos os próximos com a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados” (Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis, Liturgia das Horas, Vol. IV – Tempo Comum – Semanas 18º.-34º., pp. 1345-1346).
MAGISTÉRIO
“Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 17a).
“... eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O seu amigo é meu amigo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 18).
“O programa do cristão — o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus — é « um coração que vê ». Este coração vê onde há necessidade de amor, e atua em conseqüência. (...) O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. Sabe que Deus é amor (cf. 1 Jo 4, 8) e torna-Se presente precisamente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 31b.c.).
“A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo homem, um amor que se nutre do encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 34).
“Quem se acha em condições de ajudar há de reconhecer que, precisamente deste modo, é ajudado ele próprio também; não é mérito seu nem título de glória o fato de poder ajudar. Esta tarefa é graça. Quanto mais alguém trabalhar pelos outros, tanto melhor compreenderá e assumirá como própria esta palavra de Cristo: « Somos servos inúteis » (Lc 17, 10). (...) Com humildade, fará o que lhe for possível realizar e, com humildade, confiará o resto ao Senhor. É Deus quem governa o mundo, não nós. Prestamos-Lhe apenas o nosso serviço por quanto podemos e até onde Ele nos dá a força” (Carta enc. Deus caritas est sobre o Amor cristão 35).
“A oração, como meio para haurir continuamente força de Cristo, torna-se aqui uma urgência inteiramente concreta. Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a ação. A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo” (Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 36).
“Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se « sacramento » para a humanidade[8], sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos.[9] A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»” (Jo 20, 21) (Cart. apost. sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja Ecclesia de Eucharistia 22b).
“A Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; é também projeto de solidariedade em prol da humanidade inteira. (...) O cristão, que participa na Eucaristia, dela aprende a tornar-se promotor de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 27).
“Há ainda um ponto para o qual queria chamar a atenção, porque sobre ele se joga em medida notável a autenticidade da participação na Eucaristia, celebrada na comunidade: é o impulso que esta aí recebe para um compromisso real na edificação duma sociedade mais eqüitativa e fraterna” (Carta apost. para o ano da Eucaristia Mane nobiscum Domine 28).
· “Com efeito, o culto agradável a Deus nunca é um ato meramente privado, sem conseqüências nas nossas relações sociais: requer o testemunho público da própria fé. Evidentemente isto vale para todos os batizados, mas impõe-se com particular premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas”[10] (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 83).
· “«Não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele»[11]. (...) Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar n'Ele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: «Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária»[12]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit 84).
· “A união com Cristo, que se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma novidade de relações sociais: «a ‘‘mística'' do sacramento tem um caráter social, porque (...) a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou hão de tornar Seus»[13]. (...) é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração. (...) «Com efeito, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção econômica e a exploração sexual »...[14]” (Exort. apost. pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja Sacram. Carit. 89a.b.).
“Se vês a caridade, vês a Trindade” (Santo Agostinho, De Trinitate, VIII,8,12: CCL 50,287 in Carta enc. sobre o Amor cristão Deus caritas est 19).
“Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provisor de todos os que se encontram em necessidade” (Justino de Roma, I Apologia, 67: PG 6,429 – Liturgia dominical).
· “Quando damos aos pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles grande generosidade pessoal, mas lhes devolvemos o que é deles. Cumprimos um dever de justiça e não tanto um ato de caridade” [São Gregório Magno, Past. 3,21; SC 382,394 (PL 77,87) in CIC 2446].
ORAÇÕES
“Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo subumano, praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma, ouvirá o clamor dos oprimidos. E o clamor dos oprimidos é a voz de Deus.
Quem vive em países desenvolvidos e ricos, onde existem zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais, ouvirá o clamor silencioso dos sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz é a voz de Deus.
Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição da riqueza, se tiver grandeza d´alma, captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E o protesto dos pobres é a voz de Deus.
Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas, nota que, em nossos tempos, as injustiças já não ocorrem apenas entre indivíduos e indivíduos ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E a voz dos injustiçados é a voz de Deus”.
Para despertar-nos, Deus se serve até dos gestos de radicalização e de violência. Ele sabe tirar o bem do próprio mal. (...)
Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dra-nos ao luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e, não raro, vazias, sem vê-Lo, sem ouvi-Lo, sem tocá-Lo, lá onde Ele está, e nos espera e exige nossa presença: no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós, muitas vezes, coniventes com esta situação? ...” (D.Hélder Câmara, O Deserto é fértil, pp.23-25).
“Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos” (Dos Escritos de São Vicente de Paulo, Liturgia das Horas, Vol.IV – Semanas 18º.-34º. pp. 1305-1306).
BIBLIOGRAFIA
VVAA. Bíblia de Jerusalém. Paulus. São Paulo. 1995.
Documentos do Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes (GS): Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje; Lumen Gentium (LG): Constituição Dogmática sobre a Igreja; Dei Verbum (DV): Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação; Sacrosanctum Concilium (SC): Constituição sobre a Sagrada Liturgia)in www.vatican.va.
João Paulo II. Catecismo da Igreja Católica (CIC). Ed. Loyola. São Paulo. 1992.
Ecclesia de Eucharistia. Carta encíclica sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja - 185. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2003.
Mane Nobiscum Domine. Carta Apostólica para o ano da Eucaristia - 187. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. 2004.
Bento XVI. Deus Caritas est. Carta encíclica sobre o Amor cristão -189. Coleção A Voz do Papa. Paulinas. São Paulo. 2005.
Sacramentum Caritatis. Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. 2007.
Liturgia das Horas (4 volumes). Várias editoras. 2000.
CNBB. Orientação para a Celebração da Palavra de Deus -52. Documentos da CNBB. Paulinas. São Paulo. 1994.
Justino de Roma. I Apologia. 2ª. Ed.Coleção Patrística. Paulus. 1995.
Padres Apostólicos. Didaqué: Catequese dos Doze Apóstolos. 3ª. Ed. São Paulo. Paulus. 2002.
Durcase, Jean (org.). Palavras para Rezar: Orações dos grandes orantes. São Paulo. Paulinas. 1993.
Câmara, Dom Hélder. O Deserto é fértil. Civilização Brasileira. 1975.
Demais citações: site de busca – www.google.com.br
[1] Cf. Sermones 1, 7; 11, 10; 22, 7; 29, 76: Sermones dominicales ad fidem codicum nunc denuo editi (Grottaferrata 1977), pp. 135.209s.292s.337; Bento XVI, Mensagem aos Movimentos Eclesiais e às Novas Comunidades (22 de Maio de 2006): AAS 98 (2006), 463.
[2] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
[3] 2 Cor 6, 7.
[4] Sl 148,5.
[5] Cf. Santo Agostinho, In Ioann. Ev. Tract. 30,7.
[6] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3.
[7] Cf. João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 10: AAS 95 (2003), 439; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004), 38: Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004), 3.
[8] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[9] Cf. ibid., 9.
[10] Cf. João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995): AAS 87 (1995), 401-522; Bento XVI, Discurso à Pontifícia Academia para a Vida (27 de Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 264-265.
[11] Homilia (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 711.
[12] Propositio 42.
[13] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 14.
[14] Propositio 48.
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