segunda-feira, 18 de maio de 2009

A ORAÇÃO NO PENSAMENTO DE SÃO VICENTE DE PAULO


São Vicente de Paulo e a Oração

Ouvir falar de oração no pensamento de São Vicente de Paulo não é muito comum para nós. Sempre pensamos nele como o Pai da Caridade. Contudo, a minha pesquisa e reflexão descobriu que São Vicente só conseguiu realizar tudo o que conhecemos (e muito mais) porque estava fundamentado numa rocha firme: Jesus Cristo; e num Deus Misericordioso e Amoroso, o Deus da Vida.
O que aqui escrevo é apenas uma partilha de alguém que estudou e crê na importância deste tema para os dias atuais e principalmente como vicentinos: “enviados para evangelizar os pobres”.[1]

São Vicente: homem e mestre de oração
Para os conhecedores deste santo da Caridade, que é São Vicente de Paulo, diversas são as virtudes e diversos são os adjetivos com os quais podemos identificar este padre que amou profundamente a Igreja e amou profundamente os pobres. Porém, dentre estes adjetivos quero destacar dois: o homem de oração e o mestre da oração que foi São Vicente de Paulo.
Naquilo que me foi possível conhecer sobre o santo, percebi que não continha muita originalidade em seu conteúdo sobre a oração, mas existe, e isso é próprio dele, uma forma bem específica de transmitir os ensinamentos sobre como dialogar com Deus. Suas marcas são a convicção e a devoção, ou melhor, a fé e a piedade sincera naquilo que transmitia ao povo. Ele somente pregava o Evangelho, porque antes acreditava piamente nele como Palavra de Deus e expressa a vontade de d’Ele. São Vicente é considerado mestre de oração porque muito ensinou sobre esta prática, mas não só por isso, muito mais porque ensinava e animava os humildes – que, segundo o Evangelho, são os preferidos de Deus – e, ensinava-lhes com uma linguagem acessível aos mesmos, assim como fez Jesus ao expressar sua doutrina aos apóstolos em forma de parábolas.

Oração segundo São Vicente
A oração como compreendia São Vicente e muitos outros teólogos de sua época, e até hoje é assim compreendida, é “um colóquio da alma com Deus, uma mútua comunicação em que Deus diz à alma o que quer que ela saiba e faça e em que a alma pede a Deus o que Ele lhe faz conhecer que deve pedir”[2] Atualizando as palavras, a oração é diálogo interpessoal com Deus, aonde a pessoa ouve a Deus e lhe comunica sobre como fazer a vontade de Deus em sua vida. A oração pode ser feita por meio de palavras, sendo assim chamada vocal, ou de forma mental, sendo a meditação (uma reflexão de algum texto espiritual à luz de Deus) e a contemplação (“passividade” e acolhimento diante da revelação divina).
A oração é, para São Vicente, algo fundamental na vida missionária, a ponto de o mesmo afirmar que “não se deve esperar nada de quem não dialoga com Deus” e ainda “dai-me um homem de oração e ele será capaz de tudo”[3]. Ela é, então, uma relação de amor que dá sustento e conforto à vida do missionário. Ela tem ainda um caráter de autoconhecimento, de “conhecer bem nossas inclinações”[4] e de auxílio na perseverança vocacional, “se perseveramos em nossa vocação, é graças à oração”[5]. Por estas razões e por outras razões que é a oração fundamental, segundo São Vicente, para a vida do missionário servidor dos pobres. Como falar de Deus se não estivermos unidos a Deus? Como realizar na terra o mesmo ofício de Nosso Senhor, se não estivermos conformados a Ele? É ao buscar seguir os mesmos passos de Jesus, Evangelizador e Servidos dos pobres, que conseguiremos ter força para realizar a missão a que cada um de nós é chamado, e em especial, como vicentinos.

O método da oração de São Vicente de Paulo
Em busca da melhor realização da prática da oração, São Vicente formulou um método simples para tratar com Nosso Senhor, e o ensinou às irmãs, irmãos e aos padres. O método consiste em três simples passos: 1) Preparação para pôr-se na presença de Deus; 2) Escolha de um tema e meditação deste para se chegar atitudes práticas (oração propriamente dita); 3) Agradecimento a Deus pelas luzes dadas por Deus na oração. No primeiro ponto é preciso preparar-se para o encontro com Deus, que está “no Santíssimo Sacramento, no céu, em todas as partes e no coração”[6], colocando-se diante d’Ele com confiança e humildade. Para o segundo ponto, é necessário especificar um tema e dispor-se a rezá-lo visando uma resolução concreta de tentar vivenciar uma virtude ou evitar um vício. Já o terceiro, é uma espécie de ação de graças pela iluminação recebida de Deus na oração.
O método é simples porque, segundo São Vicente, Deus é simples e, fundamentado no evangelho, sua palavra é destinada aos simples e humildes.[7]
Com relação ao método ainda, vale destacar que a forma como São Vicente o transmite às irmãs, é diferente da forma que orienta aos padres. Enquanto para estes ele solicita menos razão e mais coração – certamente porque em sua época (séc. XVII), na França, o racionalismo estava no auge com Descartes e devido à formação filosófico-racional dos padres, para as irmãs ele se utiliza de uma linguagem mais simples e pormenorizada – isso devido a grande maioria das moças (da época) , futuras Filhas da Caridade, serem oriundas do campo.
Enfim, posso afirmar que a oração foi de fundamental importância para São Vicente, em sua experiência do Cristo, Evangelizador e Servidor dos pobres e, continua a ser para os atuais missionários e missionárias que visam doar a sua vida a causa dos pobres, em meio a uma realidade complexa de capitalismo selvagem, de individualismo e consumismo, mas também de muita esperança porque foram, de acordo com a história, nos tempos de mais crises e tribulações que o Espírito de Deus revelou os maiores e as maiores santos(as) e profetas. Oxalá Deus envie sua luz para que surjam pessoas verdadeiramente comprometidas com a causa do Reino de Amor, Justiça e Liberdade para todos. Deus conta com cada um de nós! Que sejamos mensageiros da Esperança!

Adauto Farias
Seminário Interno Interprovincial
07/12/04
[1] Cf. Lc 4, 18.
[2] SV. Conferência sobre a oração de 31 de maio de 1648 in Conferências às Filhas da Caridade. p.275.
[3] SV ES. XI, 778.
[4] Idem. XI, 527-528.
[5] Idem. XI, 285.
[6] Idem, IX, 1118-1120.
[7] Lc 10, 21.

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